Naquele 5 de maio de 1917, ao invocar a intercessão da Santíssima Virgem Maria, suplicando-lhe pela paz, certamente o Papa Bento XV não fazia ideia de que seu pedido seria prontamente atendido apenas oito dias depois.
Quando o Papa suplicou, a Santíssima Virgem respondeu.
Valendo-se de seus direitos conferidos pelo Senhor (“apascenta minhas ovelhas”, Jo 21,15-17), em sua carta ao Secretário de Estado, Cardeal Gasparri, o Santo Padre rogou com veemência o auxílio do Céu, por meio da Mãe de Deus. Seu ardor filial ficou expressamente documentado, conforme podemos constatar em trechos de sua comovente oração:
Portanto, em pleno uso de sua autêntica autoridade concedida por Deus, quando o Papa suplicou à Mãe de Deus e da Igreja, prontamente Ela atendeu e respondeu ao seu pedido.
Poucos católicos se dão conta desse fato. Aliás, muitos o ignoram. E, por o ignorarem, e muito mais ainda o mundo laico, não conseguem ver sentido na resposta que a Senhora de Fátima deu ao Santo Padre em consagrar a Rússia ao seu Imaculado Coração, numa incumbência que somente o Vigário de Cristo na Terra poderia desempenhar:
A consagração da Rússia: um problema que se estende até os dias de hoje
Verdadeiramente, a Santíssima Virgem volta para pedir a Consagração ao Santo Padre.
Relata irmã Lúcia a revelação particular ocorrida no dia 13 de junho de 1929 [bem antes da II Guerra], ocasião em que a Santíssima Virgem lhe diz:
Bento XV não atendeu ao pedido de Nossa Senhora e não consagrou a Rússia. Pio XI também não.
Em 31 de Outubro e 8 de Dezembro, 1942, o Papa Pio XII, sozinho, consagra o mundo (mas não a Rússia) ao Imaculado Coração de Maria. Algumas semanas depois, Winston Churchill observa que “a roda da fortuna” tinha virado a seu favor; e os aliados começaram a ganhar a maior parte das batalhas contra os exércitos de Hitler. Na primavera de 1943, Nosso Senhor diz à Irmã Lúcia que a Paz no mundo não virá desta consagração (embora a guerra tivesse sido abreviada): a Segunda Guerra Mundial continuará ainda por mais dois anos.
Em 7 de julho de 1952, finalmente Pio XII fez a consagração citando nominalmente a Rússia [Sacro Vergente Anno(http://religiosita.blogspot.com/2013/07/sacro-vergente-anno.html), Pio XII]. Porém não fez a consagração exatamente como solicitada pela Santíssima Virgem, ou seja, “em união com todos os Bispos do Mundo”. Sim, porque a súplica pela paz, feita por Bento XV, fora uma conclamação feita a toda a Igreja e dirigida a todos os Bispos do mundo inteiro.
“Não quiseram atender ao Meu pedido...”, lamenta a Santíssima Virgem.
Em 1958, morre Pio XII. Neste mesmo ano é publicada uma importante entrevista de Irmã Lúcia com o padre Fuentes, que lhe revela o desaparecimento de muitas nações da face da Terra e de muitas almas que se perderão, como resultado de ser ignorada a Mensagem de Nossa Senhora de Fátima. O novo papa, João XXIII, é inspirado a convocar um Concílio. Estranhamente, inicia-se uma ofensiva à mensagem proveniente do mais alto vértice da Igreja.
Em 1960, fontes vaticanas informam que o Papa, após ler o Segredo, decide não revelá-lo como previsto, num claro sinal de oposição à resposta de Paz proposta pelo Céu, por meio da Senhora de Fátima. Em 1957, na entrevista ao Pe. Fuentes, Lúcia dissera que, a partir de 1960, o Terceiro Segredo ficaria evidente. O que nos leva a concluir sua ligação com a crise pós-conciliar da Igreja.
No ano de 1962, João XXIII inaugura o Concílio Vaticano II, distanciando-se dos “profetas da desventura” (numa clara alusão aos Pastorzinhos de Fátima) e abre a Igreja para o mundo.
Em 1965, seu sucessor, o Papa Paulo VI, encerra o Concílio que proclamou Maria Mãe da Igreja, mas recusa atenção aos pedidos e avisos de Fátima.
Em 1967, Paulo VI vai a Fátima na comemoração do cinquentenário das aparições. Ainda não são atendidos os pedidos de Nossa Senhora, e Lúcia é vista chorar ao lado do Sumo Pontífice.
Em 1969, as transformações e euforias conciliares atingem o rito da Missa e a tradicional pastoral católica. O papa fala em autodemolição.
Em meio a uma crise espiritual sem precedentes na história da Igreja, em 1978 morre Paulo VI, que afirmara ter visto a fumaça de Satanás entrar por uma fresta na Casa de Deus. Morre também João Paulo I, 33 dias após suceder a Paulo VI. Sua morte é envolta em mistérios, num momento em que altos prelados responsáveis pelas finanças do Vaticano são expostos em criminosas conexões com a Máfia, com a Maçonaria e o Comunismo. É eleito Karol Wojtyla, cardeal da Polônia comunista.
Em 13 de maio de 1983, João Paulo II sofre um atentado na praça de São Pedro, em Roma. Reconhece um aviso relativo a Fátima.
Em 1982, João Paulo II vai a Fátima, onde faz uma consagração do mundo incompleta, segundo o Pedido da Santíssima Virgem. Encontra e fala com irmã Lúcia.
Em 1983, João Paulo II repete a consagração do mundo a Maria Santíssima no Sínodo dos Bispos reunidos em Roma. Uma grande oportunidade perde-se, pois todos os Bispos do mundo estão reunidos em Roma naquela ocasião.
Em 1984, João Paulo II repete pela terceira vez a consagração do mundo a Maria Santíssima, sem conseguir pronunciar o nome da Rússia.
Nossa Senhora pedira a consagração específica da Rússia, e não a do mundo, como relata o Padre McGlynn, em seu livro “Vision of Fatima”, onde o reverendíssimo expõe o fato de a Irmã Lúcia fazer questão de corrigir “Consagração do mundo” para “Consagração da Rússia”: “Não! O mundo não! A Rússia! A Rússia!”, dizia Irmã Lúcia [Padre Thomas McGlynn, “Vision of Fatima”, 1949, pág. 80.]
Em 1985, agora com os Bispos reunidos no Sínodo Extraordinário de novembro a dezembro de 1985, a lembrança dos pedidos e da mensagem de Fátima são totalmente omitidos. Em plena crise da Igreja, é feita a exaltação do Concílio como “nova Pentecostes”. Em 27 de outubro de 1986, a Igreja promove o encontro das “grandes religiões” do mundo em Assis, convocadas por João Paulo II para orarem pela paz, segundo os princípios da religião planetária que vem sendo esboçada pela ONU. Uma imagem de Nossa Senhora trazida por devotos não foi recebida. Inacreditavelmente, todos os crucifixos foram removidos dos recintos, e uma imagem de Buda é venerada sobre o Sacrário. Fatos que deixam transparecer que Cristo, Nosso Senhor, e Sua Mãe Santíssima, ficaram de fora no esquema “ecumênico” de Assis.
Em 1987 - setenta anos das aparições - as palavras da mensagem de Fátima caíram em total esquecimento. A seara do Senhor está devastada. Mons. Lefebvre vai, peregrino, a Fátima e diz que Roma perdeu a fé e persegue os que querem conservá-la.
Em 30 de junho de 1988, Roma excomunga Mons. Lefebvre e os bispos por ele consagrados em Ecône. De Roma partem instruções dirigidas à irmã Lúcia e aos padres do Apostolado de Fátima, declarando que a consagração da Rússia já fora efetuada, não se devendo mais falar nisso. Alega-se que a conversão da Rússia já estaria iniciada com a “Perestroika”, que, na verdade, nada mais significou senão mera mudança estratégica nos planos dos globalistas que, na penumbra dos bastidores da história, dão prosseguimento à sua agenda para a implantação de sua pretendida ditadura planetária.
Finalmente, em 13 de Maio de 2000, durante as cerimônias de Beatificação dos Pastorzinhos Jacinta e Francisco, o Cardeal Sodano anuncia que o Terceiro Segredo de Fátima será revelado. Todavia, o “Terceiro Segredo” que é revelado é uma versão incompleta, pois o Cardeal Sodano afirma que ele consiste numa visão na qual “o Papa cai por terra, como morto”. Ora, o verdadeiro texto da visão (que será revelado no mês seguinte) afirma que o Papa é assassinado. O Cardeal Sodano está claramente a preparar o caminho para uma “interpretação” errada, segundo a qual (1) o culminar do Terceiro Segredo se deu em 1981, com o atentado (frustrado) contra a vida do Papa, e que (2) todos os acontecimentos profetizados no Segredo – e passo a citar: “pertencem agora ao passado”.
Este ato de guerra é uma prova cabal de que a Consagração da Rússia, que Nossa Senhora prometeu traria a Paz ao mundo, ainda não foi feita – embora o establishment anti-Fátima insista que a Mensagem de Fátima já foi plenamente cumprida com a consagração do mundo em 1984, e que o triunfo do Imaculado Coração de Maria está iminente.
CONCLUSÃO
Aos olhos da tradicional Fé católica, até algum tempo antes, a solicitude do Céu feita pela Mãe do Verbo, em Fátima, não seria motivo para tamanhos embaraços para aquele que foi determinado por Cristo como o Pastor do rebanho terreno. Muito menos para seus Bispos, a quem devem prestar-lhe obediência.
No entanto, despercebida e furtivamente, um sopro de inquietude acendeu estranhas cogitações no pensar de inúmeros sacerdotes. Um espírito de contradição e negação parece incitá-los cada vez mais a se afastarem das altas dignidades de sua sublime vocação e se prenderem às coisas do mundo. Nebulosas e empoladas teologias parecem eclipsar-lhes, pouco a pouco, a compreensão aos sinais e às verdades da Fé, para as quais foram chamados a ser testemunhas e o próprio “sal da terra” (Mt 5,13).
Ainda assim, a mensagem de Fátima continua sendo o grande sinal de esperança para os nossos tempos. Porque, em essência, a despeito desses nossos dias tão amargos, sua profecia reporta para um futuro tempo de paz. E, talvez, um futuro tempo de paz não muito tempo distante.
Além disso, militando em silêncio, sem alarde, sob o manto dAquela que esmaga as forças do mal unicamente com a luz de seu Imaculado Coração de Mãe do Verbo, mestra e educadora dos verdadeiros filhos da Igreja, dando continuidade ao heroísmo de um “pequeno resto”, uma nova geração de jovens sacerdotes e fiéis católicos permanece fiel, guardando a Fé. A Fé de sempre, que se sustenta na oração perseverante, na conduta modesta e desprendida das seduções do século. E, sobretudo, na súplica pela graça do testemunho e da fortaleza, neste último embate, para a glória da Santíssima Trindade.
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Fontes de consulta:
- Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, edição do Pe. António Maria Martins S.J., Porto 1973. O negrito é nosso.
- Frère Michel de la Sainte Trinité; Toute la Vérité sur Fatima, Volume III.
- Sobre a consagração da Rússia, em http://sursumcordablog.blogspot.com/2009/05/sobre-la-consagracion-de-rusia.html - O negrito é próprio do artigo.
- Sacro Vergente Anno, Pio XII.
- Padre Thomas McGlynn, Vision of Fatima, 1949, pág. 80.
- Mensagem de Nossa Senhora a Irmã Lúcia, em 13 de julho de 1917.
- A ASSOCIAÇÃO DE FÁTIMA. Cronologia de um encobrimento. Padre Paul Kramer, B.Ph., S.T.B., M. Div., S.T.L. (Cand.). http://www.fatima.org/port/essentials/opposed/croncvrport.asp – acesso em 03/10/07.
- O Derradeiro Combate do Demônio: http://www.devilsfinalbattle.com/port/ch14.htm – acesso em 03/10/07.
- http://christifidei.blogspot.com/2011/05/sobre-consagracao-da-russia-ao.html
- Entre Fátima e o Abismo. A. Daniele. Edições Excelsior.
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