O sacerdote repete-os quotidianamente; os fiéis recitam-nos freqüentes vêzes, sendo por isto a parte mais vulgarizada e mais conhecida da Sagrada Escritura, o que importa a necessidade de ser a mais estudada para ser melhor compreendida. por esta razão disse Santo Agostinho: Si sacerdos psauterium ignorat, nomen sacerdotis nise constabit in eo; e o Cardel Belarmino, no seu comentário aos Salmos, queixava-se ao Papa Paulo V da falta de estudo do Saltério nestes têrmos: Liber Psalmorum quem Ecclesiastici omnes legunt pauci admedum intelligunt, recordando ao mesmo tempo as palavras de S. jerônimo: Nemquam de manu et oculituis recedat liber discatus Psalterium ad verbum.
Tudo isto obriga-nos a um trabalho mais desenvolvido e a um estudo mais acurado desta importantíssima parte das Sagradas Escrituras.
Nomes dos Salmos - Ignora-se o nome com que os hebreus designavam a coleção dos Salmos. Modernamente na Bíblia hebraica aparecem sob a designação de Thehillim, que significa os louvores. Os Setenta é que deram a denominação de Salmos.
Autenticidade - A Igreja recebeu das mãos dos judeus o Saltério, não só como fazendo parte da Bíblia, mas como livro litúrgico usado nas sinagogas.
Números dos Salmos - Segundo o testemunho constante dos autores antigos, o número dos Salmos é de cento e cinqüenta. Notam-se algumas diferenças resultantes da desigualdade das divisões dos manuscritos. A versão grega, reproduzida pela Vulgata, reúne os Salmos 9 e 10, 114 e 115 do hebreu: divide o Salmo 116 em dois, aos quais deu respectivamente os números 114 e 115. A versão siríaca afasta-se do hebreu e do grego; reúne, como o grego; como o grego, os Salmos 114 e 115 e divide o Salmo 147. Estas pequenas variantes, que se referem apenas às divisões dos poemas, não têm importância, porque não afetam a integridade do texto.
Divisão do Saltério - A tradição judaica divide os Salmos em cinco livros. os Padres da Igreja aceitaram esta divisão. S. Epifânio diz Nec illud latere te debet, honestarum rerum, studiose, Psalterium ad Hebreis quinque in libros esse partitum, nova ut indidem Pentateuchus oriatur, (Libri de mensario et ponderibus). O fim dos quatros primeiros livros está indicado no texto por uma doxologia colocada no fim dos Salmos 40, 14; 81, 19; 88, 53 e 105, 48.
Os cinco livros distinguem-se pelo diferente emprêgo do nome de Deus. No primeiro livro encontra-se 272 vêzes o nome de Jahvéh, sòmente 150 de Eloim (neste número não se incluem os casos em que Eloim é empregado com sufixos ou pronomes, nem títulos nem os doxológicos). No segundo vemos 164 vêzes Eloim e 34 Jahvéh. No terceiro livro está em 33 lugares Eloim e 44 Jahvéh. No quarto e no quinto emprega-se exclusivamente Jahvéh, exceção feita a duas passagens insignificantes do último.
Títulos dos Salmos - Nos Salmos há uma característica de suma importãncia. Todos os Salmos, à exceção de 34 em hebreu (vinte na Vulgata), têm um título, em que indica o nome do autor, a maneira como deviam ser cantados, as circunstâncias em que foram compostos. Advirta-se, porém, que êste título diverge no texto hebreu dos Setenta e da Vulgata. Êstes títulos consideram-se como fazendo parte integrante do Saltério, não havendo dúvida que remontam à mais alta antigüidade, do que é prova sua forma obscura e por vêzes enigmática.
Autores dos Salmos - Alguns Padres atribuíram todos os Salmos a Davi, porém o estilo, a linguagem e as indicações dos títulos, provam que são de autores diferentes, e compostos em épocas diversas. Davi é, sem dúvida alguma o principal autor desta coleção, em que se revela como maior poeta lírico de Israel. O Concílio Tridentino, Cânon das Escrituras, nº 35, indica o Psalterium Davidium, mas não entende por isto que todos os Salmos sejam de Davi, In excepiendis divinis libris... optabant aliqui ne Psalmi generatim Psalmi Davidis appellarentur, cum ex multorum sententia, ille non omnium auctor fuerit. Episcopus Feltriensis, qui Decretum per ea verba conceperat, respondebat: Illa ex Florentino Concilio a se excepta; addebatque Bituntinus: Totius appellationem desumi a majoris partis ratione. Pallavicini, Historia Concilii Tridentini. L. 4 e 14. Os salmos de Davi distinguem-se pelo sentimento e delicadeza de expressão. Na maior parte começam por uma descrição dos seus sofrimentos e terminam por uma profunda confiança em Deus. São composição sua, quase dois terços dos Salmos, pelo que com justiça merece ser antomonàsticamente chamado Salmista, como lhe chama o Eclesiástico, 47, 8~10, Egregius Psaltes Israel.
A darmos crédito que merecem os títulos, temos doze Salmos como o nome de Asaf, mestre de música de Davi, se bêm que êstes Salmos foram compostos ou por um dos seus descendentes, ou por um outro salmista de igual nome. Cfr. Vigouroux, Manuel Biblique, pág. 246, nº 653. São os Salmos 49, 72 a 82.
Outros onze são atribuídos aos filhos de Coré. O autor não é designado individualmente, exceto no Salmo 88, obra de Heman o Ezraíta. São os Salmos 41 com 42~48, 83, 84, 86, 87.
O Salmo 88 tem por autor Etan o Ezraíta, um dos cantores de Davi. Os outros pertencem a autores vários e desconhecidos.
Data da composição dos Salmos e da colecionação - Não sendo todos os Salmos do mesmo autor, segue-se naturalmente que também não são do mesmo tempo. O mais antigo é o Salmo 89, que atribui a Moisés, e o mais recentes são do tempo de Esdras; os de Davi datam do século 11, antes da Era Cristã; aos que não têm autor conhecido não se lhes pode fixar uma data. Os Salmos 1, 2, 10, ainda que não tenham título, são de Davi. Os Salmos 74 e 75 são do tempo da invasão de Senaquerib; 91, 99, que tem um acentuado caráter histórico, pertencem à época que decorre entre Salomão e o cativeiro; o 106 foi composto depois do regresso do cativeiro; 110~115 pela mesma época; e 116~117 foram escritos para a festa da dedicação do segundo Templo. A maior parte dos salmos graduais, 119~133, são posteriores ao cativeiro. Os Salmos 146~150 foram provàvelmente escritos para a restauração dos muros de Jerusalém, no tempo de Neemias. Pretenderam alguns críticos reconhecer nos últimos livros dos Salmos, cânticos da época dos Macabeus; mas esta asserção não assenta em bases sólidas. Vigouroux, Manuel Biblique, 654, nº 247.
O primeiro dos cinco livros dos Salmos é exclusivamente Davídico, e foi, segundo tôdas as probabilidades, composto pelo Rei Profeta. O segundo, em parte Davídico, em parte Levítico, foi compilado, segundo muitos críticos, no tempo de Ezequias. O terceiro e o quarto foram colecionados antes de Esdras, em cujo tempo foi coordenado o quinto.
Objeto ordinário dos Salmos - O assunto dos Salmos resume-se em duas palavras: Deus e o homem. Deus na sua Infinita Grandeza, Onipotência, Onisciência, Bondade e Justiça; e o homem na sua fraqueza, abatimento, miséria, infelicidades e carência absoluta de socorro do Criador.
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