2, 8, 15, 18, 21, 39, 44, 67, 68, 71, 96, 101, 109, 117. Nestes se compreendem os chamados salmos Messiânicos, de altíssima importância no estudo da teologia. Como o seu próprio nome indica, salmos messiânicos são aquêles que se referem ao Messias. Uns temo-los por messiânicos, porque assim foram considerados pelos Autores do Novo Testamento e consenso unânime da Igreja. São os salmos, 2, 8, 15, 18, (?), 21, 34, (?), 39, 40, 44, 67, 68, 71, 77, 96, 101, 108, 109, 116, 117. Outros têm traços particulares, mais ou menos claros, referentes a Jesus Cristo 20, 23, 46, 84, 86, 88, 95, 98, 131. Outros são aplicados ao Messias por acomodação 3, 17, 48, (16), 54, 58, 66, 69, 70, 110. Advirta-se desde já que se não enumeram entre os salmos messiânicos aquêles que a liturgia aplica, num sentido acomodatício, a Jesus Cristo na sua Igreja per nudam accomodationem. Também se deve aqui dizer que entre os salmos messiânicos uns referem-se ao Messias no próprio sentido literal, outros em sentido figurado. Os primeiros só se podem entender referidos ao Messias; os segundos em seu sentido próprio, referem-se a personagens ou a acontecimentos do Antigo Testamento, mas essas pessoas e fatos são figuras da Lei nova, de Jesus Cristo e da sua Igreja. Os principais salmos exclusivamente messiânicos, geralmente reconhecidos como tais, são os salmos 2, 15, 21, 44, 68, (?), 71, 109 e os que, em sentido figurado se aplicam ao Messias, são, segundo as citações do Novo Testamento, os salmos 8, 18, 34, 39, 40, 67, 77, 96, 101, 108, 116, 117. O Antigo Testamento é citado no Novo 283 vêzes; pois dessas citações 116 são tiradas do saltério, por causa do sentido profético dos salmos. À Igreja aplicam-se os salmos 45, 47, 78, 79, 86, 121, 126, 147.
V SALMOS EM HONRA DE JERUSALÉM E DO TEMPLO:
14, 23, 67, 80, 86, 131, 133, 134.
VI RESUMO DA HISTÓRIA DO POVO DE DEUS:
Tradução dos Salmos - Pela sua importância devem ser conhecidas as diversas versões, que ministram conhecimentos de grande alcance no estudo exegético dos salmos. A mais antiga é a versão dos Setenta, feita no ano 130 antes de Jesus Cristo, Vigouroux Manuel Biblique, nº 659, pág. 255. Esta tradução, embora tenha em seu favor a sua antiguidade, não pode ser julgada de todo o ponto correta. Há algumas inexatidões, sobretudo na versão dos verbos, que foram traduzidos à letra, empregando-se na tradução o futuro quando o sentido exigia o presente, e o pretérito quando devia ser empregado o futuro; nalgumas passagens não foram percebidas as palavras hebraicas, havendo divergências entre o hebreu e a versão. Cf. Talhofer, Erklarung des Psalmen, 1881. Não obstante estas imperfeições, a versão dos Setenta tema a maior importância: 1º. porque é a mais antiga; 2º. porque dela são as citações dos salmos feitas no Novo testamento, 3º. porque a Vulgata, que conservou para os salmos a antiga versão Ítala, não é mais do que uma tradução latina desta versão grega.
Sendo assim, podemos com Vigouroux chamar à nossa tradução latina dos salmos uma tradução em segunda mão. Ob. cit. S. Jerônimo, a instância do papa S. Damasco, fêz algumas correções nesta versão latina; porém foram em pequeno número, porque o Santo Doutor receava perturbar os fiéis que sabiam os salmos de cor. Nos emendantes olim Psalterium ubicumque sensus, idem est veterum interpretum consuetudinem mutare noluimus, ne nimia novitate lectoris studium terremus. Ep. CVI, ad Sumariam et Fretelam. É esta revisão de S. Jerônimo que tem o nome de Saltério romano. Posteriormente, pelos anos de 387 a 391, o mesmo S. Jerônimo empreendeu uma nova revisão do saltério, correta e modificada, feita sôbre a versão Ítala. esta segunda edição foi adotada pela Igreja dos Gálios, de onde lhe veio o nome de Saltério galicano.
A biblioteca de Lião possui um manuscrito do VI século em que estão estas duas revisões. Journal Officiel, séance de l'Academie des Inscriptions, 12 de agôsto de 1879. Mabillon, na sua obra Litrugia galicana, apresenta uma larga notícia sôbre o Saltério galicano. depois foi feita uma nova versão sôbre o texto hebreu: é o chamado Saltério hebraico. Porém os fiéis estavam tão familiarizados com a versão Ítala, que a Igreja entendeu dever conservar esta nas edições da Vulgata.
Visto que assim é, torna-se necessário concluir que a versão da Vulgata participa das imperfeições dos Setenta. A êste propósito escreve o eminente escritor padre Destacques, S. J.: "Notre vieux sautier latin a des défauts...il est souvent d'un style incorrect, obscur en plusiers endroits, et même quelquefois il ne rend pas exactemente le sens de l'original" - Estudes religieuses, março 1878, p. 359. Porém estas diferenças, que são numerosas, entre o texto hebreu e o texto latino, não afetam a doutrina nêles contida, nem alteram o sentido moral que os Salmos se encerra. "Has diversitates, escreve o douto Bossuet, nihil ad fidei morunque ornam pertinere; namque in originali textu, in que interpretationibus Ecclesiarum non celebrais, atque ideo in Vulgata nostra eandem esse doctrinae summam, ne ino quidem opice deracto; tum confrutandis erroribus ac stabiliendis asserendisque dogmatibus idem robur: denique auctoritatem summam veramque pietatem". Bossuet Dissertatio de Psalmis CV. CEuvres Ed. Lebel.
Também os críticos são concordantes em confessar que a versão da Vulgata tem uma força e concisão admiráveis, uma forma elegante, que impressiona o espírito e fàcilmente se grava e retém na memória.
Advirta-se porém que, para conseguir um conhecimento sólido e uma compreensão perfeita dos Salmos, é necessário recorrer ao original, ou pelo menos a uma tradução feita sôbre o texto hebraico. Com esta preparação dissipam-se muitas obscuridades da nossa versão, e aprecia-se melhor o sabor literário dêste belo monumento de literatura sagrada. E o já egrégio doutor S. Jerônimo o recomendava Sciendum quid hebraica veritas habeat. Ob. cit.
Particularidades de construção - Devemos advertir que a construção hebraica difere totalmente da grega e da latina. Entre os Salmos, como já foi dito, há alguns proféticos, que como tais se devem entender. É sabido que na gramática hebraica há apenas o perfeito e o imperfeito, com os quais se exprime o pretérito, presente e futuro. Por significar uma ação futura, mas de cuja realização há certeza, empregam os hebraicos o perfeito. Cfr. Strack, Grammaire hebraique. Ora, os Setenta consideraram o perfeito como um pretérito, e o imperfeito como futuro, e como tais os traduziram. Da mesma maneira procedeu o tradutor latino dos Salmos. Daqui resulta que o pretérito e futuro latinos são empregados indiferentemente na Vulgata para exprimir os três tempos. Por exemplo: Confetibor tibi, está no futuro, e deve traduzir-se: Eu vos louvo. Dominus regnavit, Deus reina.
Sentido literal e espiritual dos Salmos - No estudo dos Salmos é indispensável perscrutar o pensamento do autor, conhecer as circunstâncias em que escreveu, fim que se propôs, reunir os antecedentes, juntar os conseqüentes e estabelecer a seqüência lógica das idéias e fatos. O estudo da poética hebraica, e a divisão das estrofes, contribuem muito para se apurar êste sentido. Conhecido o sentido literal, deve-se estudar o seu sentido espiritual e moral. Êstes versos têm esta particularidade, os seus ensinamentos não são para um povo, são para todos os homens, menos para um determinado país, são cosmopolitas, não pertencem a uma certa época, são de todos os tempos. A voz do salmista não é só a voz de Davi, é a voz de Deus falando a tôda humanidade. Psalmus vox Ecclesioe, lhe chamou S. Ambrósio Proef. in Psal. Uma vez que tenhamos percebido o sentido espiritual e moral dos Salmos, êstes são o compêndio ensinando todo o fiel a bem querer, bem pedir, bem praticar e bem receber.
Lá encontramos tudo o que devemos saber relativamente à criação, redenção e santificação do homem, afervorando-nos a fé.
Pelos Salmos aprendemos a rogar o socorro do céu em nossas aflições, alentando-nos a esperança na proteção do céu. E ainda nos Salmos encontramos como havemos de praticar a virtude, como devemos justificar para receber os sacramentos. Ensinam-nos a amar a Deus, e a amar o próximo pelo amor de Deus. São uma bela lição de caridade, no que esta virtude tem de mais santo e de mais sublime.
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