“Vi, então, um grande trono branco e aquele que nele se
assentava. Os céus e a terra fugiram de sua face... Vi os mortos, grandes e
pequenos, de pé, diante do trono. Abriram-se livros, e ainda outro livro, que é
o livro da vida. E os mortos foram julgados conforme o que estava escrito nesse
livro, segundo as suas obras... Todo o que não foi encontrado no livro da vida
foi lançado ao fogo” (APC 20, 11-15).
Marcos
Delson da Silveira
Escutei
um Sacerdote de uma rede de Televisão católica perguntar a uma cantora da
emissora: “As pessoas confundem muito o pessoal com o profissional?” Diante a
resposta da cantora, questionei: “Mas como é possível uma mulher que canta os
ensinamentos de Jesus cantar um Jesus e viver outro Jesus?” Acredito que, neste
caso, o profissional e o pessoal esboçam a mesma pessoa, não é concebível uma
crise de identidades. Acredito, mais ainda, que não tem como eu ser cristão
somente por questões profissionais. Ou se é cristão ou não se é cristão.
Afinal, essa pergunta não foi dirigida a um “artista” da Rede Globo de
televisão que vive um personagem em uma das novelas profanas da emissora. Nesse
último caso é admissível que a “artista” não seja semelhança ao papel que
executa na trama da novela. O primeiro caso é totalmente diferente: a mulher
que canta os ensinamentos de Cristo deve primeiramente viver Cristo. O saudoso
Dom Manoel Pestana dizia que as palavras emocionam, mas é o testemunho que
arrasta. Cristianismo não é profissão ou um meio de ascensão social, é caminho
à salvação.
O
sociólogo Zygmunt Bauman fez um retrato da sociedade chamada de pós-moderna. A
sociedade pós-moderna é líquida, não tem firmeza, é fluida, não é sólida. A
sociedade líquida produz valores líquidos, que se adaptam a necessidade, ao
momento, ao “oba, oba”. Resta a esta sociedade um sonho de pureza, um sonho de
santidade, um sonho dos antigos valores que garantiam a segurança da salvação.
Paulatinamente é possível perceber que infelizmente no meio religioso os
valores cristãos estão em avançado processo de desintegração, putrefação.
Muitos religiosos são comunistas, materialista, permissivos, pragmáticos,
avarentos e, assim como afirmou Herber Setastian Agar “a verdade que torna os
homens livres é, na maioria dos casos, a verdade que os homens preferem não
ouvir”. Muitos religiosos preferem discursos políticos, midiáticos, revolucionários,
feministas, abortistas, discursos líquidos do que a solidez da salvação contida
no Evangelho de Jesus Cristo.
Cristo
é solido! Os valores profanos cochichados por Satanás, e aderidos por líderes
religiosos em nome da liberdade mundana, está transvestindo o cristianismo de
paganismo, está deturpando os valores perenes que conduzem a salvação. George
Simmel afirmou que “qualquer valor só é um valor graças à perda de outros
valores que se tem de sofrer a fim de obtê-los”. Os “novos valores cristão”
estão substituindo “outros valores cristãos” emergindo o cristianismo numa
incoerência de princípio. Isto tudo
acontece em nome de uma revolução cultural que ganhou forças com a
globalização. Na luta ardilosa pela expansão do capital, irrefletidamente, o
que tinha valor vai ganhando preço. A salvação do cristão virou um status enriquecedor a ser bradado nas
Assembleias e comercializado em 10 vezes sem juros ou à vista, nesse caso com
desconto. Há um Jesus para cada desejo, para cada necessidade. Há sempre uma interpretação
que se adapta ao que eu penso ser bom pra mim, que me gera prazer, alegria. Dentro
desse campo assombroso de interpretações, o cristão líquido afirma
veementemente que religião não se discute. “Não vou discutir opiniões
religiosas”. “Religião cada um tem a sua”. E assim vai interpretando a religião
como se ela fosse um processo subjetivo. Ele adora falar do seu próprio Jesus. Nesse
clima psicológico do “derretimento dos valores sólidos” tudo que é sagrado
tende a ser profanado.
Dentro
dessa sucinta percepção, concluo, embora sem palavras para fazê-lo. Como
concluir esse insigne movimento destrutivo? Como dar forma ao amorfo? Como
falar de um cristianismo sem Deus, sem natureza e sem essência? O homem sempre
vai além do Bem e do Mal na busca do Bem e do Mal. Estamos fadados a caminhar
dentro dessa sociedade e a sentir esse forte vento do deserto humano bater na
face. Ventos humanos clamando socorro, vazios humanos que refletem os nossos
próprios vazios. Esse cristianismo imperfeito que vivenciamos e vivemos é o
retrato dos mesmos homens que o apregoaram na cruz. Somos, eternamente, nós a
gritar: “Crucifique-o”, “Crucifique-o”. Essa rejeição humana ao Cristo
Crucificado só tem sentido quando esse mesmo Cristo, do alto da cruz, diz:
“Pai, perdoai-vos, eles não sabem o que fazem”. Esse pedido de Cristo é um
memorial que se repete diante essa nova sociedade que reinventa o bezerro de
ouro no deserto dos corações. Infelizmente, o coração humano criou ídolos e os
colocou no lugar do crucificado. A cruz virou loucura para os cristãos. O erro
“transformou-se” em verdade, a loucura em sobriedade, as trevas em luz. Que
Deus tenha misericórdia de nós. Santa
Maria das Vitórias, que nos trouxe a vitória em Jesus, ajude-nos a dizer “sim”
ao chamado de Cristo. É a ti que recorremos nas angústias do dia a dia. Vem ao
nosso encontro como fostes ao encontro de tua parenta, traga até nós seu filho,
como o levou a João Batista. Ajude-nos, jovens líquidos. Não aprendemos! Parece
que não queremos ouvir. Venha em nosso auxílio, Virgem soberana. Ajude a Jesus
nascer em nossas almas. Nós também precisamos de ti para caminhar em seu
exemplo, seguir seu testemunho, ser verdadeiramente santos. Acalme a tempestade
em nosso ser, cure nossas doenças espirituais. Maria, mãe de Jesus, rogai por
nós!
*
Licenciado em Filosofia; pós-graduado em Docência Universitária (Católica);
Filosofia do Direito (Moderna); Direitos Humanos da Criança e do Adolescente
(UFG); Filosofia Clínica (Católica) e pós-graduando em Arte-Educação
Intermidiática Digital (UFG). Possui Curso Complementar Superior em Gestão de
Segurança e colaborador do blog Salve Regina!.
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