“O Santo
Sacrifício da Missa é o mesmo Sacrifício da Cruz e, por isso mesmo, a
sua celebração permite aplicar aos fiéis os méritos da Cruz, perpetuar esta
fonte de graças no tempo e no espaço”
Apresentamos a nossos
leitores mais um trabalho de Francisco Lafayette de Moraes escrito na intenção
de todos os católicos que, tendo tomado conhecimento da Missa de São Pio V,
voltaram a frequentá-la, a estudá-la e a fazer do Santo Sacrifício da Missa uma
fonte de vida espiritual.
Como o modernismo instalado na Igreja deturpa as almas com seus erros, com seus
ritos heretizantes, parece necessário devolver a elas a base que já não recebem
mais no catecismo. Por isso o autor apresenta de modo suscinto o essencial
sobre a Santa Missa, frizando seu duplo caráter, de verdadeiro sacrifício e de
sacramento instituido para a nossa salvação.
O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA
PELAS ORIGENS DA SANTA MISSA
Francisco Lafayette de Moraes
- APRESENTAÇÃO -
Este
trabalho é a ordenação de trechos de várias obras, de vários autores (ver
Bibliografia), que mostraram e provaram que a Missa enquanto sacrifício estava
predita desde o Antigo Testamento, e, ainda, que Jesus anunciou - prometeu - e
- instituiu o sacrifício-sacramento, tendo os Santos Padres da Igreja, desde os
primórdios do Cristianismo, sempre ensinado aquilo que hoje é dogma de fé:
Missa é sacrifício com a presença real (física) da Sagrada Vítima.
Se os dogmas
relativos à Missa — isto é, o de ser a Missa um verdadeiro sacrifício, o da
presença real, e o relativo ao sacerdócio ministerial — só foram formulados
pelo Concílio de Trento, isto não significa que aquele Concílio do século XVI
formulou uma doutrina nova, mas que tornou explícita a doutrina que até então havia
sido sempre tacitamente aceita, e o fez em função da heresia protestante que
negou, como ainda hoje nega, que a Missa seja sacrifício, querendo
eles que seja um simples memorial do Senhor; negam, ainda, os protestantes a
“presença real” e o “sacerdócio ministerial”.
Hoje, depois do
Concílio Vaticano II, quando muitos prelados da Igreja Católica, e até mesmo
altos prelados, por terem assimilado a heresia protestante, apresentam a Missa
como um memorial da Ceia do Senhor, entendi ser proveitoso compilar,
para ajudar a combater a heresia progressista, o que outros autores com
sabedoria e profundidade já haviam escrito para demonstrar que a Missa enquanto
sacrifício está inserida no Deposito da Fé católica, estando predita no Velho
Testamento -e- confirmada no Novo Testamento.
Rio
de Janeiro, no ano de 1992.
Francisco Lafayette de Moraes
EUCARISTIA: SACRIFÍCIO E SACRAMENTO
Nosso Senhor Jesus
Cristo, na Última Ceia, ao instituir a Eucaristia, transubstanciou o pão em seu
Corpo e o vinho em seu Sangue, um separado do outro, e ofereceu ali o mesmo
sacrifício que realizaria na Cruz, onde o seu Sangue foi separado do seu Corpo,
derramado por nós, em remissão dos pecados. Depois de ter-Se imolado na Santa
Ceia, Ele se deu a Si mesmo aos Apóstolos ao levá-los a participar da
consumação do seu Corpo e do seu Sangue. A Eucaristia é, assim, ao mesmo
tempo, sacrifício e sacramento.
EUCARISTIA
ENQUANTO SACRIFÍCIO
Enquanto
sacrifício a Eucaristia é o Sacrifício da Missa, o sacrifício da Nova Lei no
qual Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo ministério do sacerdote, se oferece a Si
mesmo a Deus, de maneira incruenta, sob as aparências do pão e do vinho.
EUCARISTIA
ENQUANTO SACRAMENTO
Enquanto
sacramento a Eucaristia é o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor
Jesus Cristo, que é dado àqueles que O querem, e podem, receber como alimento
espiritual.
SACRIFÍCIO É FAZER O SAGRADO
A religião é um
culto que nos liga a Deus por um perfeito sujeitamento de nós mesmos ao Ser
supremo, e que nos faz relacionar à Sua glória tudo o que nós somos e tudo o
que nós fazemos; e a religião nos faz cumprir, de modo particular, este dever
indispensável pelo sacrifício, que é uma oblação feita a Deus para reconhecer
seu soberano domínio sobre tudo o que foi criado.
O sacrifício é,
portanto, a expressão privilegiada da virtude da religião e, segundo a
etimologia da palavra, sacrifício consiste em fazer o sagrado (sacrum facere),
diz-nos São Tomás de Aquino, isto é, separar para Deus.
Os homens sempre
foram inspirados, pelas luzes da razão natural, a considerar o sacrifício como
o primeiro de todos os atos essenciais à religião.
De fato, desde a
origem da humanidade, vemos o homem oferecer a Deus sacrifícios e exprimir
desse modo sua religião. Mesmo depois do pecado original, permaneceu no homem a
consciência de um dever: o de render culto ao Senhor. Tão universal era essa
voz interior que não houve um tempo, remoto que fosse, ou região por demais
longínqua, em que não se prestasse um culto e não se oferecesse um sacrifício a
Deus.
Assim, Caim e Abel
ofereceram a Deus frutos da terra e animais e Noé saindo da arca levantou
um altar, tomou de todos os animais puros e os ofereceu ao Senhor em holocausto
sobre aquele altar.
O sacrifício
exterior consiste, pois, em oferecer a Deus uma coisa sensível e exterior para
ser destruída ou para que sofra uma mudança qualquer, o que é feito por quatro
razões que são os quatro fins do sacrifício:
- reconhecer o
soberano domínio de Deus sobre todas as criaturas;
- reconhecer a
nossa dívida para com a justiça divina e obter o perdão dos pecados;
- agradecer a
graça recebida; e
- pedir a graça
que necessitamos.
OS SACRIFÍCIOS DA ANTIGA LEI
TIPOS -
FINALIDADES - COMO ERAM FEITOS
Sob a Lei de
Moisés havia quatro sacrifícios: o holocausto, o sacrifício propiciatório, o
sacrifício eucarístico e o sacrifício impetratório.
HOLOCAUSTO
As vítimas eram
oferecidas em holocausto em reconhecimento ao soberano domínio de Deus
sobre todas as criaturas. O holocausto consistia em queimar a vítima de tal
forma que ninguém a pudesse comer, para render, por essa consumação total, uma
homenagem plena e sem reservas ao soberano domínio de Deus.
SACRIFÍCIO PROPICIATÓRIO
O sacrifício
propiciatório era oferecido para a expiação de qualquer pecado e de forma a
tornar Deus propício. Este sacrifício era também denominado “hóstia pelo
pecado”, sendo a vítima muitas vezes unida ao holocausto, e essa vítima era
então dividida em três partes, sendo que uma era consumida sobre o altar dos
holocaustos, a outra era queimada fora do acampamento, e a terceira era comida
pelos sacerdotes. Aqueles que ofereciam as vítimas pelos seus pecados não as
podiam comer; e quando os sacerdotes ofereciam por eles mesmos
ninguém as consumia.
SACRIFÍCIO EUCARÍSTICO
O sacrifício
eucarístico era oferecido para agradecer a Deus qualquer favor considerável que
fosse recebido. Eram sacrifícios de louvor, de ação de graças.
SACRIFÍCIO IMPETRATÓRIO
O sacrifício
impetratório era feito para pedir a Deus qualquer graça importante.
Os sacrifícios
eucarísticos e impetratórios, também chamados de “pacíficos”, se distinguiam da
“hóstia pelo pecado” apenas pelo fato de que o povo e os sacerdotes deviam
participar consumindo uma parte da vítima.
SACRIFÍCIOS DESAGRADÁVEIS A DEUS
Ainda que esses
sacrifícios fossem ordenados pela lei divina, eles não passavam de sinais
incapazes, por eles mesmos, de agradar à Deus.
Quando esses
sacrifícios eram oferecidos por santos como haviam sido Abel, Abraão, Job e
todos aqueles homens de fé que haviam vivido na espera do Messias, então tais
sacrifícios eram agradáveis a Deus que os recebia como um suave
aroma, segundo a expressão da Escritura.
Mas quando os
sacerdotes se limitavam à cerimonia exterior, alijando do sacrifício o espírito
que lhe trazia todo o mérito, os holocaustos não podiam agradar a Deus, pois,
por mais atenção que os sacerdotes pudessem ter na escolha de animais sem
mancha e sem defeito, tais sacrifícios não passavam de simples figuras
inteiramente vazias e inanimadas.
E por serem
sacrifícios que não agradavam a Deus, Santo Agostinho, no seu décimo-sétimo
Livro da Cidade de Deus, referindo-se ao santo Sacrifício da Missa, diz: “Este
Sacrifício foi estabelecido para tomar o lugar de todos os sacrifícios do
Antigo Testamento”, para tomar o lugar dos sacrifícios da Antiga Lei.
A ANTIGA LEI É FIGURA DA NOVA LEI
As personagens e
toda a história do Antigo Testamento mais não foram que preparação e anúncio
daquilo que Cristo e a sua Igreja deveriam realizar, quando chegasse a
plenitude dos tempos e, por isso mesmo, na história do povo judeu estão
consignados os desígnios de Deus acerca da salvação de todo o gênero humano:
o afastamento de
Esaú em benefício de Jacob mostra que não é a linhagem terrestre que importa,
mas a escolha gratuita de Deus, que faz os eleitos;
- José, vendido
por seus irmãos e salvando o Egito, é Jesus salvando o mundo, depois de ser
rejeitado e traído pelos seus;
- Moisés, que
arranca o seu povo à escravidão, e o conduz a terra prometida, é Jesus que nos
liberta do cativeiro do pecado e abre as portas do Céu;
- o
gesto de Abraão, que se prepara para imolar o filho, é o prenúncio do
sacrifício que Deus exigirá a seu próprio Filho, para expiação das faltas
cometidas pela humanidade; e
- Isaac,
destinado à imolação e arrancado depois à morte, é a figura de Jesus, morto e
ressuscitado.
O sacrifício
prefigurado em Abraão e Isaac foi concretizado no Sacrifício da Cruz e é
continuado pelo Sacrifício da Missa, que é o Sacrifício da Nova Lei.
O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA É
PREFIGURADO DOIS MIL ANOS ANTES DE INSTITUÍDO
Dentre todas as
figuras da Eucaristia, enquanto sacrifício, existentes no Antigo
Testamento nenhuma é tão recordada pela tradição como o sacrifício de
pão e vinho oferecido por Melquisedeque. Este relato do Gênesis está,
por isso mesmo, apresentado mais abaixo e também, por força de uma razão ainda
maior, porque nos Salmos e no Novo Testamento se diz
expressamente de Nosso Senhor Jesus Cristo que Ele é sacerdote segundo a ordem
de Melquisedeque. Com efeito, a Sagrada Escritura relaciona a
oblação que Jesus fez de seu Corpo e Sangue, na Última Ceia, ao Pai, com o fato
de ser Ele sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque, como O chamou o
rei David. De modo que deve ser afirmado que a oblação de Melquisedeque foi
verdadeiro tipo do sacrifício eucarístico, o que vale dizer que aquela não é
apenas uma oblação semelhante, mas que Deus dispôs que Melquisedeque a fizera e
assim nos fosse narrada no Gênesis, para que tivéssemos uma autêntica prefiguração
da Eucaristia.
Diz o Livro do
Gênesis:
“18-Então,
Melquisedeque, monarca de Salem, tomou pão e vinho, pois era
sacerdote do Deus Altíssimo, 19 os benzeu, exclamando: ‘Bendito Abraão do Deus
Altíssimo, criador do céu e da terra, 20 e bendito seja Deus Altíssimo,
que entregou os teus inimigos em tuas mãos!’ Depois do que Abraão
lhe deu o dízimo de tudo”.
Regressava Abraão
depois de derrotar vários reis, que haviam aprisionado a seu sobrinho Lot
e tudo que ele tinha, e Melquisedeque, rei e sacerdote (monarca de
Salem... sacerdote do Deus Altíssimo), saiu a seu encontro, ofereceu
a Deus um sacrifício de pão e vinho que logo deu em convite a Abraão e aos seus
e por fim abençoou a Abraão.
A divina
Providencia, uns dois mil anos antes da efetiva instituição da Eucaristia, já
havia tido o cuidado de figurar este Sacrifício e este Convite, que havia de
ser o centro do culto cristão: o santo Sacrifício da Missa e o Sacramento da
Comunhão.
O SACRIFÍCIO DA MISSA É PROFETIZADO POR
DAVID
O rei David dá a
Jesus Cristo, no salmo 109, o título de Sacerdote eterno segundo a ordem de
Melquisedeque, porque nosso divino Salvador irá empregar o pão e o vinho no
Sacrifício da Nova Aliança, como outrora o havia feito
Melquisedeque.
O rei profeta O
chama Padre eterno porque pai Ele sempre será e porque o sacrifício que Ele irá
instituir continuará a existir até o fim dos tempos graças ao sacerdócio
católico.
POR MALAQUIAS
O profeta
Malaquias diz, no primeiro capítulo, versículo 11, que “depois do nascer e
até o pôr do sol, será oferecido, em toda parte (em todo lugar)
um sacrifício puro e sem mancha à majestade do Altíssimo”.
POR JEREMIAS
O profeta
Jeremias, no capítulo 33, versículo 18, profetiza que “nunca se verá faltar
os sacerdotes e os sacrifícios”.
E é a Igreja
Católica, pelo ministério dos seus sacerdotes, que oferecerá até o fim dos
tempos, em todos os lugares, o Sacrifício da Cruz, perpetuado pelo santo
Sacrifício da Missa, conforme as profecias de David, Malaquias e Jeremias.
DEUS ANUNCIA A SUBSTITUIÇÃO DOS ANTIGOS
SACRIFÍCIOS DA LEI MOSAICA
Malaquias,
cronologicamente o último dos profetas chamados menores do Antigo Testamento,
escreveu, de acordo com todos os dados, na época de Esdras e Nehemias, nos
meados do século V antes de Cristo, 500 anos antes da vinda do Senhor.
No começo da
profecia de Malaquias, Deus insiste no amor que tem ao seu povo e, por sua vez,
nos pecados daquele povo que explicavam os sofrimentos que haviam caído sobre
ele. Refere-Se antes de tudo aos pecados dos sacerdotes os quais, contrariando
as prescrições legais, ofereciam a Deus sacrifícios de animais defeituosos. O
Senhor anuncia que essas oblações não O agradam e que em lugar delas há de vir
uma oblação extremamente pura que será oferecida a Deus em todo lugar, entre
as nações; e os termos empregados mostram que se trata de uma “oblação
sacrifical” e indicam, principalmente, a oblação de um sacrifício incruento.
Além disso, tendo em vista o conhecimento universal de Deus e uma vez que irão
ser oferecidos sacrifícios agradáveis a Deus entre os gentios, fica
caracterizado que Malaquias se refere aos tempos messiânicos.
Uma vez que toda a
ordem do Antigo Testamento tinha em vista a ordem do Novo Testamento, dispôs
admiravelmente o Espírito Santo que sua última profecia naquele Testamento se
referisse à Sagrada Eucaristia, a qual, continuando o Sacrifício da Cruz, irá
constituir o centro da vida cristã. Também é significativo que esta profecia se
encontre em Malaquias, aquele que tão decididamente insistiu no amor de Deus a
seu povo: “Os tenho amado”, declara o Senhor Deus (Javeh).
Nos versículos 10
e 11 do capítulo 1 de Malaquias temos:
“10... Minha
afeição não está em vós, diz o Senhor Deus dos Exércitos e eu não
receberei a oblação que vem de vossas mãos. 11 Eis que desde o nascer do sol
até seu ocaso sacrificam a Mim em todo lugar e oferecem em meu nome
uma oblação toda pura, pois grande é o meu nome em todas as nações”.
Os mais antigos
documentos cristãos têm uma predileção por esta profecia de Malaquias, cujo eco
foi recolhido pelo Concílio de Trento, ao dizer, a respeito do Sacrifício da
Missa: “E esta é certamente aquela oblação pura, que não pode
ser manchada por qualquer indignidade ou malícia dos ofertantes, a qual foi
predita pelo Senhor, por Malaquias, que havia de ser oferecida pura, em
todo lugar, ao seu nome, o qual havia de ser grande entre as gentes”.
CHEGA O TEMPO DO NOVO SACRIFÍCIO
O espírito que
devia animar todas as cerimônias religiosas diminuía dia a dia, e a irreligião
e a estupidez chegaram ao ponto culminante imediatamente antes da chegada do
Messias. O que, de fato, esperar dos fariseus que se detinham apenas nas
exterioridades da lei? E sobretudo dos saduceus, que dominavam o templo, que
presidiam os sacrifícios e que não acreditavam na ressurreição? Era, pois, o
tempo em que as figuras deviam acabar e que, de acordo com a predição do
Profeta-Rei, Deus devia rejeitar os sacrifícios que haviam sido oferecidos, até
então, apenas no templo de Jerusalém.
Era o tempo em que
iam ser cumpridas as profecias do Antigo Testamento e, assim sendo, em seu
encontro com a samaritana, Jesus Cristo anuncia um novo Sacrifício.
JESUS CRISTO ANUNCIA UM NOVO SACRIFÍCIO
Era o tempo de um
novo sacrifício.
E era preciso um
novo sacrifício que fosse necessariamente oferecido em espírito e em verdade.
E é este
sacrifício que Jesus Cristo anuncia à samaritana, quando ela lhe coloca a
questão relativa ao lugar onde se devia adorar, isto é, sacrificar; porque a
contenda entre os judeus e os samaritanos dizia respeito apenas ao lugar do
culto exterior, das oblações e dos sacrifícios, e não sobre o lugar da prece e
do sacrifício interior, pois todos estavam persuadidos que se podia rezar e se
oferecer a Deus em toda parte. Jesus Cristo entra no pensamento da samaritana e
lhe diz que chegou a hora em que não mais se adorará, isto é, que não se
sacrificará mais, nem sobre a montanha de Garizin, nem em Jerusalém; mas que
existirão verdadeiros adoradores que adorarão o Pai em espírito e em verdade, e
que não ficarão mais restritos a um lugar em particular.
A resposta de
Jesus Cristo confirma a necessidade de um novo sacrifício, do Sacrifício da
Nova Lei, que será oferecido em todo lugar e que será sempre oferecido em
espírito e em verdade por Aquele que é a própria Verdade.
Este novo
sacrifício, anunciado por Jesus Cristo à samaritana, já tinha o seu
protótipo no sacrifício de pão e vinho oferecido por Melquisedeque,
como disposto por Deus 2000 anos antes; e, por isso mesmo, o pão e o vinho
devem ser, sempre, a matéria do sacrifício que Nosso Senhor Jesus Cristo está
por instituir.
E sobre este novo
sacrifício, agora, é o próprio Verbo de Deus feito homem, e não mais os antigos
profetas, quem vai nos falar, primeiramente prometendo a Eucaristia e depois
realizando Ele mesmo a grande maravilha.
JESUS CRISTO PROMETE A EUCARISTIA
O evangelista São
João, com a vivência do testemunho ocular e com a garantia de escritor sagrado
inspirado por Deus, nos relata o que aconteceu. Para ambientar a promessa
eucarística, São João faz neste caso uma exceção singular com relação à norma
que se havia imposto de completar os sinópticos e, portanto, de não repetir os
milagres já narrados nos outros Evangelhos. Os outros três evangelistas
haviam descrito a primeira multiplicação dos pães (Mt.14,13-21; Mc.6,34-44;
Lc.9,12-17) e dois deles como andou Jesus sobre as águas em seguida àqueles
milagres (Mt.14,22-34; Mc.6,45-53) e, todavia, São João volta a referir-se
sobre esses acontecimentos (Jo.6,1-21), sem dúvida alguma não só para tornar
mais inteligíveis as palavras de Jesus relativas aos pães multiplicados por
Ele, como também para indicar-nos a preparação psicológica que o
Senhor se dignou dar aos seus apóstolos, mostrando-lhes o seu poder e chamando
a sua atenção sobre as propriedades singulares que Ele podia fazer desfrutar
seu Corpo, a fim de que eles pudessem receber melhor a inaudita promessa.
Partindo do
milagre da multiplicação dos pães (Jo.6,1-15), começa Jesus convidando seus
ouvintes a que trabalhem não por um alimento perecível mas por aquele que dura
até a vida eterna (Jo.7,27), que é superior ao maná (Jo.6,31-33; 6,49; 6,58),
que é o próprio Cristo — o pão da vida — isto é, a carne e o sangue de Cristo
que, verdadeira comida e verdadeira bebida, dão a vida eterna pela união com a
vida do próprio Cristo [“Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue permanece em Mim e Eu nele” (Jo.6,56)]. Insiste Jesus na fé como
disposição fundamental e como força da alma para compreender e viver a
realidade eucarística.
A realidade da
Eucaristia como comida e bebida, do Corpo e do Sangue do Senhor, está afirmada
em termos peremptórios a ponto de empregar (nos versículos 54 e 56), para falar
de comer, uma palavra mais realista que significa literalmente mastigar [que é
palavra sumamente rara e que não aparece na versão grega do Antigo Testamento,
chamada dos setenta, nem no Novo Testamento, a não ser nesta passagem de São
João (Cap.6), em Jo.13,18 e em Mt.24,38], e a ponto de reforçar Jesus o sentido
de comida e de bebida dizendo "verdadeira comida" e "verdadeira
bebida" (v55 ou 56). E, além disso, esta realidade eucarística é
posta em evidência pelo fato de que os ouvintes de Jesus O interpretaram neste
sentido e por isso se escandalizaram, não conseguindo compreender como podia o
Senhor dar-lhes a sua Carne para comer (v52 ou 53); e Jesus não desautorizou
tal interpretação, como deveria fazê-lo tratando-se de um ponto tão importante
e de tantas conseqüências, mas, ao contrário, confirmou o que havia dito com
expressões as mais realistas (vv. 53-58 ou 54-59). Outrossim, quando muitos
dentre os seus próprios discípulos murmuravam como era “dura” (v.60 ou 61) essa
linguagem e inclusive se afastaram de Jesus (v.66 ou 67), o Mestre não disse
aos seus doze apóstolos: entendei bem as coisas e não vos assusteis, pois o que
lhes disse é uma figura ou um simbolismo, mas apenas lhes perguntou
simplesmente se também eles queriam se retirar (v.67 ou 68).
Continuando seu
discurso eucarístico, Jesus promete com toda clareza que sua Carne eucarística
dará imortalidade a quem a coma; não imortalidade corporal, mas sim
ressurreição (v54 ou 55), para nunca mais morrer de novo. Este é um dos
pensamentos que, com mais carinho, foi recolhido já nos primeiros documentos
da tradição cristã na luta contra os hereges que acreditavam que a
carne era, em si mesma, má e incapaz de ressuscitar para uma vida sem fim.
Diz o Evangelho de
São João, no capítulo 6, versículos 47 a 58, que:
“47 Em verdade, em
verdade, vos digo: Quem crê tem a vida eterna. 48 Eu sou o PÃO da VIDA. 49
Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. 50 O pão que desceu do céu é
tal que quem come dele não morre. 51 Eu sou o PÃO VIVO QUE DESCI DO CÉU. Se
alguém comer deste pão viverá eternamente; e o PÃO, QUE EU DAREI, É A MINHA
CARNE, para a vida do mundo”.
52 Mas os judeus
discutiam entre si dizendo: “Como pode este dar-nos a sua carne para comer?”
53 “Em verdade,
em verdade, vos digo, respondeu-lhes Jesus: Se não comerdes a carne
do Filho do homem e beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54 Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna e Eu o ressuscitarei
no último dia. 55 Porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue
é verdadeiramente bebida. 56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
permanece em Mim e Eu nele. 57 Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo
pelo Pai, assim quem Me come, também viverá por Mim. 58 Este é o pão que desceu
do céu. Não é como aquele que vossos pais comeram e morreram. QUEM COME DESTE
PÃO VIVERÁ ETERNAMENTE”.
Afirma, assim,
Nosso Senhor Jesus Cristo que esse Pão — matéria do novo sacrifício que Ele já
havia anunciado — e que Ele irá dar — será sua Carne e uma verdadeira comida,
assim como seu Sangue uma verdadeira bebida, para a vida do mundo.
Aproxima-se hora
do Novo Sacrifício; pão e vinho serão transformados, isto é, serão
transubstanciados no Corpo e no Sangue de Jesus e essa Vítima, pura e sem
mancha, será ofertada à majestade do Altíssimo, quando Ele, Jesus, oferecer ao
Pai, pela primeira vez, na Última Ceia, o Sacrifício da Nova Aliança, quando
Ele fará, também, que os Apóstolos participem da consumação da Sagrada Vítima.
JESUS CRISTO vai
instituir —mistério dos mistérios— a EUCARISTIA: SACRIFÍCIO e SACRAMENTO.
JESUS CRISTO OFERECE - ANTES DA CRUZ
- O NOVO SACRIFÍCIO
O Novo Testamento
oferece-nos quatro relatos sobre a instituição do Sacrifício da Nova Aliança:
os dos três Evangelhos sinópticos e o de São Paulo em sua primeira carta aos
Coríntios. Os quatro coincidem inteiramente em relatar que Jesus, na véspera de
sua morte, fez do pão e do vinho seu próprio Corpo e seu próprio Sangue.
A simplicidade das
palavras de Jesus foi extrema: ESTE É O MEU CORPO; ESTE É O
MEU SANGUE; a mesma simplicidade com que é dito no Gênesis, quando Deus
criou o mundo, que Ele o fez dizendo: QUE ASSIM SE FAÇA.
Porém a
inteligência humana experimenta uma vertigem ao acercar-se a este abismo, ou
melhor, a este mistério: o pão convertido no verdadeiro Corpo de
Jesus, de modo tão real que, como logo dirá Cirilonas, naquela Última Ceia
Jesus se levava a Si mesmo em suas mãos.
Todavia, é preciso
considerar que os Apóstolos já haviam conhecido esta infalível eficácia da
palavra do Salvador ao ser aplicada sobre a matéria inanimada: cala,
emudece, havia dito encarando o mar, e amainou o vento e seguiu-se
uma grande bonança {Mc.4,39}. Além disso, o poder de Jesus sobre o pão
havia sido mostrado de forma patente e concretamente aos Apóstolos nas
milagrosas multiplicações do pão {Jo.6,1-15; Mt.15,32-39} e sobre o vinho
quando Jesus fez da água vinho, em Caná {Jo.2,1-11}. Por outro lado, com
relação ao próprio Corpo de Jesus, já sabiam os Apóstolos que o mesmo
facilmente se libertava das leis a que estavam sujeitos os demais corpos, como
o haviam comprovado quando Jesus andou sobre as águas do mar {Jo.6,16-21} e no
episódio da transfiguração {Mt.17,1-9}.
Psicologicamente o
que mais diretamente obrigava os Apóstolos a entender as palavras de Jesus tal
como foram ditas: ESTE É O MEU CORPO, ESTE É O MEU SANGUE, era a
promessa que lhes havia feito, com termos tão claros, de dar-lhes a comer a sua
Carne e de dar-lhes a beber o seu Sangue. Aos Apóstolos era impossível esquecer
aquela promessa, que em si mesma já era admirável, mas que, ademais, havia
significado para eles o momento crucial em sua decisão de seguir
acompanhando-O, enquanto que muitos discípulos haviam, então, se separado de
Jesus {Jo.6,67-70}.
Jesus Cristo, na
Última Ceia, transubstanciou então o pão e o vinho em seu Corpo e em seu Sangue
e, em seguida, ofereceu-Se em sacrifício.
Este caráter de
sacrifício está manifestamente indicado na Sagrada Escritura. Encontramos, com
efeito, expressões típicas de sacrifício, principalmente a respeito do Sangue,
o qual é ditoderramado por muitos em remissão dos pecados {Mt.26,28}
e que é chamado Sangue do Testamento {Mt.26,28; Mc.14,24} ou
do Novo Testamento {Lc.22,20; 1Cor.11,25}, palavras estas que na doutrina
do Antigo e do Novo Testamento têm sentido próprio de sacrifício. Este
sacrifício tem necessária e íntima relação com o sacrifício que Jesus vai
oferecer no dia seguinte na Cruz, mas que aqui aparece oferecido na própria
Ceia, como o provam suficientemente os particípios Corpo “dado” {Lc.22,19} e
Sangue “derramado” {Mt.26,28; Mc.14,24; e Lc.22,20} que são particípios
presentes e também porque se acaba de falar do Corpo e do Sangue no indicativo
presente "é". Um argumento ainda mais forte advem do relato de São
Lucas quando diz que o cálice é derramado {Lc.22,20} porque
assim fica bem mais claro que não se trata do Sangue derramado na Cruz mas sim
do Sangue contido no cálice. Trata-se, portanto, do sacrifício
oferecido por Jesus na Última Ceia em indissolúvel união com o sacrifício oferecido
na Cruz, pois, tanto na Ceia como na Cruz trata-se do Sacrifício
do Corpo e do Sangue de Jesus.
E este sacrifício,
que Jesus Cristo institui imediatamente antes de ir se oferecer sobre a Cruz,
Ele o instituiu por amor: “Jesus que tinha amado os seus que estavam no
mundo amou-os até o fim” {Jo.13,1).
E certamente era
preciso um enorme poder e um amor infinito para transformar o pão e o vinho em
seu Corpo e em seu Sangue e para fazer antes de sua morte, por antecipação, uma
efusão de seu Sangue: “ESTE É O MEU CORPO QUE É DADO POR VÓS...ESTE CÁLICE
DA NOVA ALIANÇA É O MEU SANGUE QUE É DERRAMADO POR VÓS” {Lc.22,19-20};
efusão real e misteriosa no corpo e no coração dos comungantes antes deste
Sangue sair visivelmente de seu Corpo sobre a Cruz.
Nosso Senhor Jesus
Cristo havia instituído a Eucaristia; havia sido oferecido o primeiro
Sacrifício e entregue aos convidados a primeira Comunhão.
E, mais ainda,
pois além de instituir, Nosso Senhor perpetuou este Sacrifício ao
ordenar: hoc facite! {Lc.22,19}.
“FAZEI ISTO EM
MEMÓRIA DE MIM”.
O SACRIFÍCIO DA CRUZ
A Sagrada
Escritura e a Tradição, junto com as declarações solenes do Magistério
Eclesiástico, nos ensinam como dogma de fé que, na Cruz, Jesus Cristo ofereceu
ao Pai, ofendido por nossos pecados, um verdadeiro e autêntico sacrifício.
Nos infelizes
tempos de irreligiosidade, que haviam antecedido a chegada do Messias, Jesus
Cristo, que era a verdade de todas as figuras, vem se oferecer a Si mesmo, e
suprir assim a imperfeição de todos os antigos sacrifícios.
Com efeito, Jesus
Cristo predisse por duas vezes a sua Paixão e em uma dessas ocasiões Ele
diz: “É necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, seja
rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e escribas, que
seja morto, e ressuscite ao terceiro dia (Lc.9,22)”.
“Não encontrando
coisa alguma no mundo, diz Santo Agostinho, que fosse bastante pura para oferecer
a Deus, Ele se ofereceu a Si mesmo. E é por esta oblação, que será permanente e
eterna, que os homens foram santificados (Hebr.10,10; 10,14). Porque Ele se
ofereceu uma vez e para sempre (Hebr.10,14; 10,10). Sua vida foi um contínuo
sacrifício até que Ele, na Cruz, tivesse derramado todo seu Sangue. Então, a
figura dos sacrifícios sangrentos de Aarão foi substituída; e todos os
sacrifícios, que deviam ser multiplicados por causa de suas imperfeições,
desapareceram, para que os fiéis recorram apenas ao único e verdadeiro
sacrifício de nosso divino Mediador, que é o sacrifício que expia os pecados”.
E São Paulo, em
sua carta aos Hebreus, demonstra a superioridade do Sacrifício de Cristo sobre
os da Antiga Aliança:
“É verdade que
a primeira Aliança teve também regulamentos relativos ao culto e um santuário
temporal. Com efeito, foi construído o tabernáculo com uma parte anterior,
chamada o ‘santo’, na qual estavam o candelabro, a mesa e os pães da
proposição. Por trás do segundo véu, havia um tabernáculo, que se chama o
‘santo dos santos’, contendo um turíbulo de ouro e a Arca da Aliança, coberta
de ouro por todos os lados. E nela havia uma urna de ouro, com o maná, a vara de
Aarão que tinha florescido, e as tábuas da aliança. E sobre elas estavam os
querubins da glória, que cobriam o propiciatório. Mas não
cabe aqui falarmos destas coisas
pormenorizadamente. Dispostas assim estas coisas, os sacerdotes entravam em
qualquer tempo no primeiro tabernáculo, para desempenhar as funções do culto.
Mas no segundo o pontífice só entrava uma vez no ano, não sem sangue, que
oferecia pelos seus pecados e pelos do povo. Com isto o Espírito Santo mostra
que o caminho do santuário não estava ainda franqueado, enquanto subsistisse o
primeiro tabernáculo. Isto é uma figura do tempo presente. Ela significa que as
oblações e sacrifícios então oferecidos não podiam purificar a consciência de
quem prestava o culto. Com efeito, eles constavam somente de comidas e bebidas,
e de diversas abluções e cerimônias carnais, impostas até o tempo da
restauração” (Hebr.9,1-10).
(Valor do
sacrifício do Cristo)
A seguir
(Hebr.9,11-15), o Apóstolo contrapõe aos sacrifícios antigos, inferiores e
ineficazes, o Sacrifício de Cristo, que penetrou o céu (v.11) com seu sangue
(v.12) e nos purificou do pecado (v.14), tornando-se o Mediador da Nova Aliança
(v.15):
“11 Mas Cristo
veio como Pontífice dos bens futuros; e passando por um tabernáculo mais
excelente e perfeito, não feito por mão de homem, isto é, não deste mundo, 12
entrou no Santo dos Santos não pelo sangue de bodes ou de bezerros, mas pelo
seu próprio Sangue, e de uma vez para sempre, porque alcançou a
Redenção eterna. 13 Com efeito, se o sangue dos cabritos e dos touros bem como
a cinza duma novilha, com que se aspergem os impuros, os santifica quanto à
pureza do corpo, 14 quanto mais o Sangue de Cristo, que pelo Espírito Santo se
ofereceu a Si mesmo, sem mácula, a Deus, não purificará a nossa consciência das
obras da morte, para servirmos ao Deus vivo?”
“15 E por isso Ele
é o Mediador da Nova Aliança: morrendo para resgatar os pecados
cometidos sob a primeira Aliança, quis que recebessem a herança eterna os
escolhidos, a quem foi prometida, em Jesus Cristo, Nosso Senhor” (Hebr.9,15).
De fato, as
oblações da antiga Aliança não agradavam a Deus e, assim sendo, São Paulo, na
mesma Epístola aos Hebreus, diz:
“Por isso é
que, entrando no mundo, Cristo diz: Tu não quiseste hóstia nem oblação, mas me
deste um corpo. Os holocaustos pelo pecado não te agradaram. Então disse Eu:
Eis que venho para fazer, ó Deus, a tua vontade, como está escrito de Mim no
cabeçalho do livro” (Hebr.10,5-7).
E continua São
Paulo:
“Primeiro
disse: não quiseste hóstias, oblações e holocaustos pelo pecado, nem te agradas
deles: são coisas que se oferecem segundo a lei. Depois acrescentou: Eis que eu
venho para fazer, ó Deus, a tua vontade. Aboliu o primeiro para estabelecer o
segundo. Por essa vontade é que somos santificados, pela oblação do Corpo de
Jesus Cristo, uma vez para sempre” (Hebr.10,8-10).
E é em Jesus
Cristo que encontramos realmente, nesse único santificador, tudo aquilo que nós
podemos desejar e considerar em todos os sacrifícios: Deus a quem se deve
oferecer, o sacerdote que oferece e o dom que se deve ofertar. Porque este
divino Mediador, Sacerdote e Vítima, é um com Deus a quem Ele oferece; e que
está reunido, ou, mais ainda, que se fez um com todos os fiéis que Ele oferece
para os reconciliar com Deus. É certo que, na cruz, Ele foi ao mesmo tempo
Sacerdote e Vítima. Os judeus e os gentios que o mataram foram os seus
carrascos e não os seus sacrificadores; foi então Ele quem se ofereceu em
sacrifício e quem nos ofereceu com Ele sobre a cruz.
Com este
sacrifício deu Jesus Cristo, e em Jesus Cristo o gênero humano também, ao Pai
uma adoração, uma ação de graças, uma expiação infinitas; apresentou uma
impetração de valor infinito, ficamos redimidos de nossos pecados; foi o Pai
satisfeito por todas as maldades dos homens com satisfação condigna e
superabundante; foi o Pai amado e glorificado com amor infinito e com infinita
glorificação. Por Jesus Cristo e em Jesus Cristo damos à Augusta Trindade mais
honra do que aquilo que Lhe tiramos pelo pecado de Adão e por quantos pecados
adicionaram os homens. O Sacrifício de Jesus é o momento culminante da criação.
Felizmente este
momento foi perpetuado; foi perpetuado na herança que o Senhor nos deixou ao
instituir, na Última Ceia, um sacrifício visível: “fazei isto em memória de Mim”;
um sacrifício para dar continuidade, ao longo dos séculos e até o fim dos
tempos, ao Sacrifício da Cruz; um sacrifício incruento no qual Nosso Senhor
Jesus Cristo é o oferente principal e também a própria vítima; um sacrifício
que faz chegar até nós — e aos que virão depois de nós — as graças salvadoras
do Sacrifício do Calvário. Tal sacrifício é o Santo Sacrifício da Missa, que é o
mesmo Sacrifício da Cruz sacramentalmente transportado para os nossos
altares, e é, por isso mesmo, a nossa maior herança.
O SACRIFÍCIO DA CRUZ É ÚNICO. POR QUE RENOVÁ-LO?
Diz São Paulo que
é pela vontade de Deus que “somos santificados, pela oblação do Corpo de
Jesus, uma vez para sempre” (Hebr.10,10), mas, antes, foi dito que o
Sacrifício da Cruz foi perpetuado. Aprofundemos, pois, um pouco mais esta
questão.
O Sacrifício do
Calvário é único e basta para render a Deus toda honra e glória e para obter para
os homens a graça; todavia esse Sacrifício, fonte única de todo o bem superior,
Deus o quis tornar presente em todas as gerações de homens que se sucederão ao
longo de todos os séculos até o fim do mundo, como já havia profetizado o
profeta Malaquias: “Eis que em todo lugar
se oferece a Deus uma oblação pura”.
É certíssimo que
Cristo operou a Redenção do mundo em um ato único e que Ele morreu uma só vez.
Por sua morte, logrou Cristo a salvação para todos os homens. Esta é a doutrina
da Igreja; Cristo morreu, portanto, para todos. No entanto, isso não quer dizer
que todos os homens sejam salvos. Ao contrário, Cristo nos disse que
muitos irão ao fogo eterno.
A Paixão de Cristo
é causa universal de salvação e uma causa universal deve ser aplicada aos casos
individuais. Ora, os méritos da Paixão de Cristo nos são aplicados precisamente
pela renovação do Sacrifício da Cruz que é continuado no santo Sacrifício da
Missa.
Eis um exemplo.
Ainda que uma fonte seja suficientemente abundante para satisfazer as necessidades
de toda uma cidade, ainda será preciso captar essa fonte e
transportar a água até a porta de cada habitante, senão, apesar da fonte,
pode-se vir a morrer de sede. Assim, por sua Paixão, Cristo abriu a fonte de
todo o bem espiritual. Todavia, isso não basta para que efetivamente
participemos dessa fonte, pois é preciso que a aplicação de seus frutos se faça
para cada um de nós. Essa é a obra do Sacrifício da Missa.
O Sacrifício da
Missa, Sacrifício da Cruz sacramentalmente trazido para os nossos altares, é
necessário para que os frutos da Paixão cheguem até nós.
O SACRIFÍCIO DA CRUZ E SUAS MODALIDADES
O Sacrifício
da Cruz — fonte original de todas as fontes de graças — foi perpetuado
no Santo Sacrifício da Missa que é o mesmo sacrifício que
Jesus Cristo instituiu e ofereceu na Última Ceia, quando Ele, na
véspera de sua Paixão, ordenou aos Apóstolos oferecerem o sacrifício do seu
Corpo e do seu Sangue:
“Fazei isto em memória de Mim”.
Na Última Ceia o
Sacrifício da Cruz foi antecipado e não só foi este sacrifício ali oferecido
como foi instituído o modo segundo o qual devia ser celebrado, depois do
Calvário, até o fim dos tempos.
Na Missa o
Sacrifício da Cruz é sacramentalmente transportado para o altar, ao ser
realizado conforme o modo estabelecido por Jesus na Última Ceia.
Há, pois, três
modalidades, mas um único sacrifício: o Sacrifício da Ceia é o
próprio Sacrifício da Cruz que é o mesmo Sacrifício da Missa.
O SACRIFÍCIO DA MISSA
O Sacrifício da
Missa é a continuação — no tempo e no espaço — do Sacrifício da Cruz;
no Altar é oferecida a mesma Vítima que foi imolada no Calvário, isto é, o
próprio Cristo; uma Vítima que está fisicamente presente, que tem uma Presença
Real ainda que sacramental, pois está escondida sob as aparências do pão e do
vinho. Só a maneira de oferecer é diferente: no Calvário a imolação é
sangrenta, na Missa a imolação reproduz-se sacramentalmente, isto é, por um
sinal sacramental, a Deus reservado, que produz e realiza o que significa. A
separação das oblatas é sinal sagrado que significa a morte de Cristo na Missa.
No sacrifício de
animais da Antiga Aliança, a separação do corpo e do sangue significa a morte
da vítima; no Sacrifício da Nova Aliança, a separação do pão e do vinho
consagrados significa sacramentalmente a morte da Vítima: Cristo.
No Sacrifício da
Missa, o sacerdote sacrificador também é Cristo, que perpetua a oferenda
voluntária de seu sacrifício, mas, agora, Ele o faz pelos lábios de seus
ministros, que são seus instrumentos, que, agindo “in persona Christi”,
atualizam a palavra como se o próprio Cristo a pronunciasse. Com efeito, o
sacerdote, pelas palavras que ele pronuncia na Consagração, faz vir Deus à
terra; quando fala o sacerdote é o próprio Cristo que fala e que opera o
milagre, isto é, a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de
Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso mesmo, os seus ministros devem fazer, por
ocasião do Sacrifício da Missa, aquilo que Jesus Cristo fez na Última Ceia,
quando Ele antecipou, por assim dizer, o Sacrifício da Cruz.
Ao dizer “hoc
facite” — fazei isto em memória de Mim— Jesus Cristo
não só estabeleceu o mandato, como também instituiu “o que” e “como” devia ser
oferecido o santo Sacrifício da Missa, por “quem” devia faze-lo; de
fato, para a validez duma Missa existem condições essenciais: a
matéria e a forma do sacramento, o sacerdote validamente ordenado e a intenção
de fazer o que sempre fez a Igreja. Como “matéria” do sacramento Ele
escolheu o pão e o vinho, como o havia feito Melquisedeque, que são separados
do uso comum e se tornam as oblatas; a “forma” do sacramento são as
palavras que Jesus pronunciou na Última Ceia e, por elas, as oblatas são
transubstanciadas no Corpo e no Sangue do Senhor, o que torna a Vítima
efetivamente presente e não apenas simbolicamente; e os sacerdotes são
aqueles que foram separados da vida comum para servirem ao Senhor e que, como
sucessores dos Apóstolos, receberam o mandato de oferecer o santo Sacrifício da
Missa. E se tomarmos um bispo qualquer de nossos tempos, podemos reconstituir a
fila ininterrupta que pode ser assim imaginada: mãos antigas impostas em
cabeças novas, e outras mãos mais antigas pousadas em
outras cabeças, até o dia em que os primeiros Apóstolos receberam de
Cristo a primeira sagração episcopal; e por isso mesmo: “nunca se verá
faltar os sacerdotes e os sacrifícios”, como predisse Jeremias.
E o Sacrifício
da Missa, que será oferecido, até o fim dos tempos, e “em toda
parte” pelo “sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque”,
por meio de seus ministros, é ofertado a Deus com os seguintes fins:
- para
adorá-Lo, para honrá-Lo como convém, e sob este ponto de vista o sacrifício é
LATRÊUTICO;
- para
Lhe dar graças pelos benefícios recebidos, e sob este ponto de vista o
sacrifício é EUCARÍSTICO;
- para
aplacá-Lo, dar-Lhe a devida satisfação pelos nossos pecados, para sufragar as
almas do Purgatório, e sob este ponto de vista o sacrifício é PROPICIATÓRIO; e
- para alcançar todas as graças que nos são necessárias,
e sob este ponto de vista o sacrifício é IMPETRATÓRIO.
Temos, assim, o
único Sacrifício da Nova Aliança substituindo todos os sacrifícios
da Antiga Aliança, os quais não agradavam a Deus.
O SACRIFÍCIO DA MISSA NÃO É A MISSA
Convém esclarecer
que o Sacrifício da Missa e a Missa não constituem uma só e mesma coisa, mas o
sacrifício se efetua na Missa.
De fato, é na
dupla Consagração que se realiza o Sacrifício; é nesse rito, prescrito pelo
Senhor, que se renova sacramentalmente o Sacrifício do Calvário.
Jesus Cristo é,
portanto, Ele mesmo, o autor da Missa naquilo que ela tem de essencial.
É a Igreja que,
por sua vez, institui os ritos da Missa para magnificar o Sacrifício do Senhor
e para explicitar seu mistério e dispor, desse modo, os espíritos aos sentimentos
de adoração e de devoção.
O SACRIFÍCIO DA MISSA É REALIZADO NA DUPLA
CONSAGRAÇÃO
O autor do “De Sacramentis”,
atribuído a Santo Ambrósio (+397), diz que a mudança, ou melhor, a
transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor se dá no
momento que são pronunciadas as palavras de Jesus Cristo.
Santo Ambrósio, no
tratado “Dos Iniciados”, que é incontestavelmente de sua autoria, pronuncia-se
quase que com os mesmos termos sobre tal mudança e assinala que a
benção tem mais força que a natureza, porque a benção muda mesmo a natureza.
Ainda que apenas a
benção ou apenas a prece de Jesus Cristo possa, sem dúvida, produzir a mudança
do pão em seu Corpo, como apenas a Sua vontade modificou a água em vinho nas
bodas de Caná, ou como a Sua benção multiplicou os pães, os Padres nos dizem
sem qualquer ambigüidade que Jesus consagrou seu Corpo com estas
palavras: Isto é o meu Corpo. Jesus Cristo tomando o pão,
diz Tertuliano, e o dando aos seus discípulos, Ele o fez seu Corpo ao
dizer: Isto é o meu Corpo. Santo Ambrósio, Santo
Agostinho falaram a mesma coisa e é assim que a Igreja deseja que nós falemos.
(A intenção da Igreja deve ser manifestada)
E sobre a
Consagração que se faz todos os dias sobre os nossos altares, também deve ser
dito que a Igreja deve fazer aquilo que Jesus Cristo fez. É uma ordem: hoc
facite, fazei isto em memória de Mim. Ora, Jesus Cristo rezou, benzeu e
pronunciou estas palavras: Isto é o meu Corpo; é necessário,
pois, rezar, benzer e pronunciar estas mesmas palavras. Estas preces, que o
sacerdote deve dizer, vieram da mais alta tradição a todas as grandes Igrejas.
São Basílio (+379) desejando mostrar que há dogmas não escritos diz:
“Quem é este que nos deixou por escrito as palavras que servem
para a consagração da Eucaristia?” porque, prossegue ele, “nós
não nos contentamos com as palavras que são relatadas pelo Apóstolo
e pelos Evangelistas; mas nós acrescentamos outras antes e depois, como tendo
bastante força para os mistérios, as quais nós aprendemos nessa doutrina não
escrita”.
São Justino, que
escreveu 40 anos depois da morte de São João, por sua vez, diz que “nós
sabemos que estes alimentos, destinados à nossa alimentação comum, são
modificados pelas preces no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo”, porque de
fato essas preces contêm as palavras de Jesus Cristo e tudo aquilo que as deve
acompanhar.
O que isto quer
dizer? que as preces da Igreja têm a mesma virtude que as palavras de Cristo?
Não é isso que os Padres e os Concílios querem que nós entendamos, já que eles
nos dizem abertamente, em diversos lugares, que as palavras de Jesus Cristo
contêm essencialmente a virtude que modifica as dádivas (as ofertas, os dons)
em seu Corpo e em seu Sangue, como o Concílio de Florença declarou depois deles
e como a Igreja do Oriente o reconheceu, de acordo mesmo com o relato daqueles
que permaneceram no cisma. Mas todos os antigos autores juntaram sempre, com
desvelo, as preces da Igreja às palavras de Jesus Cristo como tendo
bastante força para a consagração, conforme a expressão de São Basílio. E
por que isto? porque nos sacramentos a intenção da Igreja deve ser
manifestada. Ora, as preces que acompanham as palavras de Jesus Cristo
assinalam a intenção, os desejos, e o que a Igreja tem em vista ao fazer
pronunciar tais palavras, pois isto sem aquilo, poderá ser
considerado como uma leitura histórica. É a Igreja que, pela
autoridade de Jesus Cristo, consagra os padres aos quais Ela assinala o que
eles devem fazer por ocasião da grande ação do Sacrifício. O sacerdote é o
ministro de Jesus Cristo e da Igreja e ele deve falar pela pessoa de Jesus
Cristo e como representante da Igreja. Ele começa em nome da Igreja invocando o
Todo-Poderoso para que atue sobre o pão e o vinho, a fim de que eles sejam
transubstanciados no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo; e, depois disso, como
ministro de Jesus Cristo, ele não fala mais em seu nome, dizem os Padres. Ele
pronuncia as palavras de Jesus Cristo e, conseqüentemente, é a palavra de Jesus
Cristo que consagra; isto é, a palavra d`Aquele por quem todas as coisas foram
feitas. Assim, é Jesus Cristo quem consagra, como dizem várias vezes São
Crisóstomo e os outros Padres; mas Ele o faz pela boca e pelas preces dos
sacerdotes, como diz São Jerônimo.
Admiremos, pois,
todas as palavras sagradas que os padres pronunciam e digamos com São João Crisóstomo (+407)
em seu terceiro livro do Sacerdócio: “Quando vocês vêm o sacerdote aplicado
ao Santo Sacrifício, fazendo as suas preces, envolvido pelo povo santo, que foi
lavado pelo precioso Sangue, e o divino Salvador que se imola sobre o altar,
pensam vocês que estão ainda sobre a terra? não acreditam vocês estarem
elevados até o céu? ó milagre! ó bondade! Aquele que está sentado à direita do
Pai encontra-se por um momento entre nossas mãos e vai se dar àqueles que o
querem receber”.
Assim, a doutrina
da Igreja que nos assegura que ao serem ditas as palavras da Consagração,
quando se dá a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do
Senhor, Jesus Cristo está realmente, está fisicamente presente no Altar,
trazido a terra pelo sacerdote, e que Ele se oferece em verdadeiro sacrifício,
não é uma doutrina tardia (como disse -e ainda diz- a heresia protestante e
como o diz agora a heresia progressista), mas é, na verdade, a mesma doutrina
que foi pregada pelos Apóstolos, por São Paulo e pelos primeiros Santos Padres
da Igreja.
O SACRIFÍCIO DA MISSA SEGUNDO SÃO PAULO
São João não se
refere em seu Evangelho à instituição da Sagrada Eucaristia. Neste ponto o
Apóstolo não sentiu haver necessidade de completar os evangelhos
sinópticos, os quais, todavia, havia completado magnificamente com o discurso
de Jesus prometendo a Eucaristia.
Quando o discípulo
amado compôs o seu Evangelho, já havia muitos anos que as comunidades cristãs
vinham celebrando a Eucaristia do Corpo e do Sangue
do Senhor, como nos testemunham as cartas de São Paulo e os Atos dos
Apóstolos.
Podemos deduzir,
pois, que São João entendeu que não era necessário acrescentar coisa alguma à
doutrina do Apóstolo dos gentios.
Em duas passagens
de sua primeira Carta aos fiéis de Corinto, fala São Paulo da Eucaristia. A
data desta carta deve ser colocada provavelmente na páscoa do ano 56. Note-se a
importância de tal documento, ainda que do ponto de vista meramente histórico,
distante pouco mais de vinte (20) anos da instituição da Eucaristia
na Última Ceia. Esta Carta só teria como anterior a ela, entre os escritos do
Novo Testamento, quando muito, o Evangelho de São Mateus.
São Paulo faz, no
capítulo 10, uma alusão à Eucaristia quando se refere ao maná (Ex.16,15) e à
água que por duas vezes jorrou do rochedo (Ex.17,6):
“3 e todos
comeram da mesma comida espiritual; 4 e todos beberam da mesma bebida
espiritual (pois eles bebiam da pedra espiritual que os acompanhava - e a pedra
era Cristo)”.
E referindo-se a
Cristo como pedra, designação dada a Javeh no Antigo Testamento, que ia
defendendo e ajudando seu povo através do deserto, São Paulo nos oferece um
precioso testemunho da divindade de Jesus Cristo.
(O Sacrifício
Eucarístico segundo São Paulo)
Na segunda
passagem, São Paulo é inteiramente explícito em relação à Eucaristia. Para que
os Coríntios fiquem muito longe da idolatria o Apóstolo lhes propõe este
argumento: por meio das carnes imoladas entra aquele que as come em comunhão
com aquele a quem se oferece o sacrifício; os sacrifícios oferecidos aos
ídolos, na realidade, são oferecidos aos demônios e aquele que em um banquete
sacrifical participa das vítimas que lhes são oferecidas entra em comunhão com
os demônios; da mesma forma que aquele que participa das vítimas oferecidas no
altar do antigo Israel entra em comunhão com esse altar, e se não
entra em comunhão com Javeh, a quem são oferecidos esses sacrifícios, é porque
já se rompeu a união segundo a carne entre Javeh e o velho
Israel. Nós cristãos ao participarmos do cálice e do pão, entramos em comunhão
com o Corpo e o Sangue de Cristo [“O cálice de bênção que consagramos não
é, porventura, a comunhão do Sangue de Cristo? E o pão que partimos não é a
comunhão do Corpo do Senhor?”]. Não é, pois, possível
participar da mesa do Senhor e também participar da mesa dos demônios.
O caráter
de Sacrifício da Eucaristia é realçado com toda força nesta passagem
pelo paralelismo que São Paulo estabelece entre a Eucaristia, os sacrifícios
pagãos e os sacrifícios israelíticos. Além disso, acreditamos que há aqui
também um argumento para a equiparação absoluta entre Jesus Cristo e Deus, uma
vez que São Paulo não sente necessidade de dizer, como pediria o paralelismo,
que a participação do pão e do cálice nos une a Deus, a quem se oferece o
sacrifício, mas apenas lhe é suficiente dizer que nos faz entrar em
comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo.
(A Presença Real)
Outra indicação
fundamental, que se recolhe desta passagem de São Paulo [“O cálice de bênção
que consagramos não é, porventura, a comunhão do Sangue de Cristo? E o pão que
partimos não é a comunhão do Corpo do Senhor?” (1Cor.10,16)], é que
a Presença Real do Senhor fica suficientemente estabelecida ao
empregar São Paulo, sem atenuante algum, as expressões Sangue de Cristo
e Corpo de Cristo, as mesmas que utilizará no capítulo 11, em sentido tão
realista.
Nesse capítulo 11
de sua primeira Carta aos Coríntios (11,23-28), narra São Paulo a instituição
da Eucaristia na Última Ceia, conforme o Senhor lhe havia dado a conhecer, o
que a seguir transcrevemos:
“23 Recebi do
Senhor - o que também vos transmiti que, na noite em que foi entregue, o
Senhor Jesus tomou o pão, 24 e, depois de ter dado graças, o partiu e disse:
‘Tomai e comei; isto é o meu Corpo que é entregue por vós. Fazei isto em
memória de Mim’. 25 Do mesmo modo, depois da Ceia, tomou também o cálice,
dizendo: ‘Este cálice é a nova aliança no meu Sangue. Todas as vezes que o
beberdes, fazei isto em memória de Mim. 26 Pois todas as vezes que comerdes
este pão e beberdes o cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele
venha’. 27 Portanto, quem comer este pão ou beber o cálice do Senhor
indignamente, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. 28 Examine-se, pois, o
homem, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque quem come e bebe
indignamente sem discernir o Corpo do Senhor, come e bebe a sua própria
condenação”.
Diz, portanto, S.
Paulo, a respeito da Presença Real do verdadeiro Corpo e do verdadeiro Sangue
do Senhor na Eucaristia, que se trata de comer o pão e de beber o cálice do
Senhor dignamente, pois quem não o faz será réu do Corpo e
do Sangue do Senhor... pois quem come e bebe sem discernir o Corpo do Senhor,
come e bebe a sua própria condenação. Estas expressões tão reais,
comentário de São Paulo às palavras de Jesus na Última Ceia, não deixam lugar a
dúvida sobre o fato que o pão e o vinho a que se refere são realmente o
Corpo e o Sangue de Jesus Cristo.
(Continuação da
doutrina de São Paulo)
A respeito da
Eucaristia como sacrifício é também riquíssima de sentido esta afirmação de São
Paulo: “pois todas as vezes que comerdes este pão e
beberdes o cálice, anunciareis a morte do Senhor até
que Ele venha” (1Cor.11,26). Trata-se, com efeito, de uma
renovação objetiva do Sacrifício da Cruz, continuação,
por expresso mandato do Senhor, do Sacrifício da Última Ceia, na qual Jesus
falou do Corpo que era dado por nós e do cálice que era o Novo Testamento, a
Nova Aliança em seu Sangue (v24s). Por sua vez, este Sacrifício nos coloca
diante da alegria esperançosa da vinda triunfal do Salvador, imolado por nós
para dar-nos a vida eterna, “até que Ele venha”.
Acrescentamos,
para completar a doutrina eucarística de São Paulo, a seguinte passagem de sua
Carta aos Hebreus (13,10):
“10 Nós temos um altar,
do qual não podem comer os que servem no tabernáculo”.
São Paulo insiste,
nesta Carta aos Hebreus, que Jesus é sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque
(5,6-10; 6,20; 7,11-15-17-21), que ofereceu pão e vinho, se bem que São Paulo
não faça menção expressa deste oferecimento de pão e vinho por parte de
Melquisedeque; além disso, o vocabulário de São Paulo nesta Carta é
profundamente eucarístico (p. ex: 9,15.18ss; 10,16s.29; 12,24; 13,20). E as
próprias palavras que emprega no versículo 10 acima transcrito, pois o Apóstolo
fala de altar, de comer e diz no
presente temos, são uma prova do pensamento eucarístico do
Apóstolo que unia, sem poder dissociá-los, o Sacrifício da Cruz e sua
continuação como sacrifício incruento no Sacrifício do Altar.
O SACRIFÍCIO DA MISSA SEGUNDO OS SANTOS
PADRES DA IGREJA
“Do nascer ao
pôr do sol, será oferecido a Mim, em todo lugar, um sacrifício, e será uma
oblação toda pura, porque o Meu nome é grande em todas as nações”
(Mal.1,10-11).
Não é possível
deixar de considerar que os mais antigos doutores da Igreja: São Justino
(+165), São Irineu (+202), Tertuliano, São Cipriano (+258), etc, tenham
aplicado esta profecia de Malaquias à Eucaristia.
Os primeiros
santos Padres da Igreja nos fazem ver, de maneira irrefutável, que desde os
primeiros tempos do Cristianismo era oferecido a Deus (como o é ainda hoje) um
sacrifício — o Santo Sacrifício da Missa — o mesmo
Sacrifício da Cruz —, isto é, a própria “Paixão do Salvador”; com
Presença Real da Sagrada Vítima; sacrifício ofertado por aqueles a quem Nosso
Senhor Jesus Cristo havia concedido tal poder: “hoc facite!”.
Senão vejamos:
(sobre SACRIFÍCIO)
SÃO PAULO
São Paulo, 20 anos
depois da instituição da Eucaristia, escreve em sua primeira carta aos
Coríntios: “O cálice da benção que consagramos não é, porventura, a comunhão
do Sangue de Cristo? E o pão que partimos não é a comunhão do Corpo do Senhor?”.
E na sua carta aos
Hebreus: “Nós temos um altar, do qual não podem comer os que servem no
tabernáculo”.
Ver também a
subdivisão 18.
SANTO INÁCIO DE
ANTIOQUIA (+110)
A princípios do
século II, Santo Inácio de Antioquia expressava a fé comum ao dizer que a
Eucaristia é “a Carne de nosso Salvador Jesus Cristo, a qual padeceu
por nossos pecados e a qual o Pai ressuscitou por sua benignidade”.
SÃO IRINEU (+202)
“Os Apóstolos
receberam este Sacrifício de Jesus Cristo e a Igreja o recebeu dos Apóstolos e
Ela O oferece hoje, por toda parte, conforme a profecia de Malaquias”.
SÃO CIPRIANO (+258)
“O Sacrifício
que nós oferecemos é a mesma Paixão do Salvador”.
“O pão e o
vinho devem ser sempre a matéria do Sacrifício de Jesus Cristo e
tornar-se-ão seu Corpo e seu Sangue”.
SÃO CIRILO de
JERUSALÉM (+386)
São Cirilo de
Jerusalém, nos meados do século IV, ao instruir os novos batizados sobre a
necessidade de rezar pelos mortos, já dizia: “Nós cremos que suas almas
recebem um alívio muito grande em virtude das preces que são oferecidas por
eles no santo e temível Sacrifício do Altar”.
SÃO JOÃO
CRISÓSTOMO (+407)
“Quando vocês
vêm o sacerdote aplicado ao Santo Sacrifício, fazendo as suas preces, envolvido
pelo povo santo, que foi lavado pelo precioso Sangue, e o divino
Salvador que se imola sobre o altar, pensam vocês que estão ainda sobre a
terra? não acreditam vocês estarem elevados até o céu? Ó milagre! Ó bondade!
Aquele que está sentado à direita do Pai encontra-se por um momento entre
nossas mãos e vai se dar àqueles que o querem receber”.
SÃO JERÔNIMO (+420)
São Jerônimo, por
sua vez, diz que Jesus Cristo “ensinou os Apóstolos a atreverem-se a dizer,
todos os dias, durante o Sacrifício do seu Corpo: Pai Nosso que estais no céu”.
SANTO AGOSTINHO (+430)
Santo Agostinho
falando a cerca do Sacrifício da Missa, em seu décimo sétimo livro da Cidade de
Deus, diz: “Este Sacrifício foi estabelecido para substituir todos os
sacrifícios do Antigo Testamento”.
“Oferecemos por
toda parte, sob o grande Pontífice Jesus Cristo, aquilo que ofereceu
Melquisedeque”.
E é também Santo
Agostinho quem nos explica maravilhosamente o versículo 7 do salmo 39: “Vós
não quisestes nem oblações nem sacrifícios”, ao escrever:
“E agora!
ficamos nós sem sacrifício? Que Deus não permita. Escutemos a continuação da
profecia: ‘Mas me destes um Corpo’. Eis aqui uma nova vítima, e então o
que é que Deus rejeitará? As figuras. O que é que Deus aceitará e nos
prescreverá para substituir as figuras? O Corpo que substitui todas as figuras,
o Corpo adorável de Jesus Cristo sobre nossos altares; este Corpo que os fiéis
conhecem e que os catecúmenos não conhecem. Este Corpo que nós recebemos, nós
que O conhecemos e que vós ireis conhecer, vós, catecúmenos, que não O
conheceis ainda; e agrade a Deus que quando vós O conheçais vós não O recebais
jamais para a vossa condenação”.
(sobre PRESENÇA REAL)
SÃO PAULO
Ver a subdivisão
18.
SÃO CIPRIANO (+258)
“O pão e o
vinho devem ser sempre a matéria do Sacrifício de Jesus Cristo e tornar-se-ão
seu Corpo e seu Sangue”.
SANTO INÁCIO DE
ANTIOQUIA (+110)
A princípios do
século II, Santo Inácio de Antioquia expressava a fé comum ao dizer que a
Eucaristia é “a Carne de nosso Salvador Jesus Cristo, a qual padeceu por
nossos pecados e a qual o Pai ressuscitou por sua benignidade”.
“Esforçai-vos
em realizar uma só Eucaristia, pois uma só é a Carne de Nosso Senhor Jesus
Cristo e um só é o cálice para nos unirmos em seu Sangue”.
“Quero o pão de
Deus que é a Carne de Jesus Cristo... e por bebida quero seu Sangue que é puro
amor”.
SÃO JUSTINO (+165)
São Justino, que
escreveu 40 anos depois da morte de São João, por sua vez, diz que “nós
sabemos que estes alimentos, destinados à nossa alimentação comum, são
modificados pelas preces no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo”.
“Este alimento
se chama entre nós Eucaristia. Do qual nenhum outro é lícito participar senão
ao que crê que a nossa doutrina é verdadeira, e que tenha sido purificado com o
batismo para o perdão dos pecados e para a regeneração, e que vive como Jesus
ensinou. Porque estas coisas não a tomamos como pão ordinário nem como bebida
ordinária, mas assim como o Verbo de Deus encarnado, Jesus Cristo nosso
Salvador, teve Carne e Sangue para a nossa salvação (na Cruz), assim também nos
foi ensinado que o alimento ‘eucaristizado’ pela palavra da oração vinda de
Deus (na dupla consagração) é a Carne e o Sangue daquele Jesus que se encarnou (Presença Real).
Porque os Apóstolos, nos comentários por eles compostos chamados Evangelhos,
nos transmitiram que assim lhes havia sido mandado”.
SANTO
AMBRÓSIO (+397)
“Ele (Deus) nos
alimenta realmente todos os dias deste sacramento da Paixão”.
SÃO JOÃO
CRISÓSTOMO (+407)
“Quando vocês
vêm o sacerdote aplicado ao Santo Sacrifício, fazendo as suas preces, envolvido
pelo povo santo, que foi lavado pelo precioso Sangue, e o divino Salvador que
se imola sobre o altar, pensam vocês que estão ainda sobre a terra? não
acreditam vocês estarem elevados até o céu? ó milagre! ó bondade! Aquele que
está sentado à direita do Pai encontra-se por um momento entre nossas mãos
e vai se dar àqueles que o querem receber”.
SANTO AGOSTINHO (+430)
Santo Agostinho,
ao falar sobre a assiduidade de sua mãe ao Sacrifício do Altar, diz: “Nós
participamos deste altar divino, onde nós sabemos que é distribuída
a vítima santa pela qual a condenação foi apagada”.
(sobre SACERDÓCIO MINISTERIAL)
SÃO JOÃO
EVANGELHISTA
“(Vós) não sois
do mundo e Eu vos escolhi e separei do mundo...”.
SÃO JOÃO
CRISÓSTOMO (+407)
“Não foi homem,
nem anjo, nem arcanjo e nenhuma outra potestade senão o próprio Paráclito quem
instituiu este ministério”.
“Quando vês o
Senhor sacrificado e humilde e o Sacerdote orando sobre a Vítima e a todos
aspergidos por aquele precioso Sangue, por que razão crês estar na terra entre
os homens? Não penetras imediatamente nos céus?”.
As citações acima
não exigem qualquer interpretação; elas mostram o que os Apóstolos transmitiram
aos seus sucessores e assim sucessivamente.
As figuras da
Antiga Lei já haviam sido substituídas e com Santo Agostinho afirmamos que
foram substituídas pelo Sacrifício do Corpo adorável de Jesus Cristo oferecido
sobre nossos altares; e sendo este novo Sacrifício um aprimoramento do antigo
sacrifício propiciatório, agora, sacerdote e fiéis devem participar da
consumação da Vítima.
E com o Padre Le
Brun dizemos que o Sacrifício da Nova Lei é o Sacrifício do Corpo de
Jesus Cristo, “oferecido e comido sobre nossos altares, por toda a terra”.
O Sacrifício da
Nova Lei é o Santo Sacrifício da Missa que é o mesmo Sacrifício da Cruz.
O SACRIFÍCIO DA MISSA É O MESMO SACRIFÍCIO DA
CRUZ
NA MISSA HÁ UM VERDADEIRO SACRIFÍCIO
Jesus Cristo
usando o seu poder supremo para fazer a mudança do pão em seu Corpo, e do vinho
em seu Sangue (Presença Real), exerceu ao mesmo tempo, o seu poder sacerdotal,
ao qual Ele não se elevou de Si mesmo, diz S. Paulo (Hebr.5,5), mas que Ele
recebeu de seu Pai (“mas foi elevado por Aquele que Lhe disse: Tu és meu Filho,
Eu hoje te gerei”), para ser “sacerdote eternamente segundo a ordem de
Melquisedeque” (Hebr.5,6). Como seu sacerdócio é eterno, Ele oferecerá
eternamente este sacrifício, e Ele não terá um sucessor. Ele estará sempre
sobre os nossos altares, ainda que invisivelmente, o Sacerdote e o Dom, o
oferente e a coisa ofertada, como diz Santo Agostinho. Mas para que este
sacrifício seja visível, Ele estabeleceu como seus ministros os Apóstolos e os
sucessores dos Apóstolos, aos quais Ele deu na Última Ceia o poder de fazer
aquilo que Ele acabara de fazer: fazei isto em memória de Mim (Lc.22,19),
inclusive repetindo o mandato por ocasião da transubstanciação do vinho em seu
sangue, como registrou São Paulo (1Cor.11,25); e eles o têm feito e eles o farão,
sempre, todos os dias, em seu nome, por toda a terra: “Oferecemos por toda
parte, sob o grande Pontífice Jesus Cristo, aquilo que ofereceu
Melquisedeque”, diz Santo Agostinho. E para mostrar que este Sacrifício
jamais terminará sobre a terra, Ele nos ordenou participar e anunciar a sua
morte até a Sua última vinda (1Cor.11,26).
(Com consumação do
Corpo e do Sangue da vítima)
O essencial do
Sacrifício da Cruz consistiu na oblação que Jesus fez do seu Corpo e, como já
foi dito, Ele continua a oferecer este mesmo Corpo sobre o altar; e, levando à
sua derradeira perfeição este divino Sacrifício (que no Calvário não podia ser
comido pelos fiéis), Ele nos alimenta realmente todos os dias com o
sacramento da Paixão, como diz Santo Ambrósio (+397); a manducação da
vítima, que faltava no Altar da Cruz, faz a perfeição do sacrifício dos nossos
altares. “Nós temos um altar”, diz São Paulo (Hebr.13,10), e é no altar
da Igreja que esta manducação se efetua pela comunhão. A mesma vítima é
oferecida sobre o Calvário e sobre os nossos altares, mas no Calvário ela é
apenas oferecida, enquanto que na Missa ela é oferecida e distribuída, segundo
a expressão de Santo Agostinho ao falar sobre a assiduidade de sua mãe ao
Sacrifício do Altar: Nós participamos deste altar divino, onde nós
sabemos que é distribuída a vítima santa pela qual a condenação foi apagada.
E esta é a fé da
Igreja: que Jesus Cristo está sentado a direita do Pai e está fisicamente
presente, tem uma Presença Real em todos os altares onde o santo Sacrifício da
Missa é oferecido, e é o seu Corpo e é o seu Sangue que nos são dados como
alimento e bebida da alma:
“Quem come a
minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna...”.
COM PRESENÇA REAL DA VÍTIMA
A fé da Igreja na
Presença Real de Jesus Cristo sob as espécies sacramentais
eucarísticas é a fé de todos os tempos.
A princípios do
século II, Santo Inácio de Antioquia (+110) expressava a fé comum ao dizer que
a Eucaristia é “a Carne de nosso Salvador Jesus Cristo, a qual padeceu por
nossos pecados e a qual o Pai ressuscitou por sua benignidade”.
Nos começos da
negação eucarística por parte de Berengário, o Concílio Romano do ano 1079 lhe
opôs a fé da Igreja: “...e que depois da consagração [o pão e o vinho] são o
verdadeiro Corpo de Cristo, (Corpo) que nasceu da Virgem e que, oferecido pela
salvação do mundo, esteve pendurado na Cruz, e que está sentado à direita do
Pai, e [que o pão e o vinho] são o verdadeiro Sangue de Cristo que foi
derramado de seu lado”.
No tempo da maior
negação da Eucaristia por parte dos protestantes, o Concílio de Trento
proclamava a mesma fé: “Ensina primeiramente o Santo Concílio e
confessa aberta e simplesmente que no venerável sacramento da Santa Eucaristia,
depois da consagração do pão e do vinho, debaixo das aparências destas coisas
sensíveis, se encerra Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro
homem, verdadeira, real e substancialmente (Canon 1). Porque não há
contradição entre o fato de estar o Nosso Salvador, Ele mesmo, sempre sentado à
mão direita do Pai no céu, conforme o seu modo natural de existir, e que, não
obstante, a sua substância esteja presente entre nós, em muitos outros lugares,
sacramentalmente, com aquele modo de existir, o qual, ainda que nós possamos
apenas exprimi-lo com palavras, podemos, contudo, alcançar com a razão
iluminada pela fé e devemos crer firmemente ser possível a Deus”.
Mais recentemente,
na grande Encíclica “Mediator Dei” sobre a Liturgia, temos, “uma vez mais,
uma idêntica profissão de fé: [com seu culto eucarístico] os fiéis cristãos
atestam e solenemente manifestam a fé da Igreja pela qual cremos que é o mesmo
Verbo de Deus e Filho da Virgem Maria, que padeceu na Cruz, que se esconde
presente na Eucaristia e que reina nos céus”.
E é Jesus Cristo —
presente na Eucaristia — quem se oferece no Altar, como
Ele se ofereceu para morrer sobre a Cruz, mas agora, no Sacrifício da Missa,
ele se oferece pelo ministério dos sacerdotes.
E NUNCA SE VERÁ FALTAR OS SACRIFÍCIOS EM
FUNÇÃO DO SACERDÓCIO MINISTERIAL
FAZEI ISTO! HOC FACITE! Ao
dizer tais palavras, Jesus Cristo fez dos Apóstolos, e dos seus sucessores,
sacerdotes da Nova Aliança.
Os apóstolos,
depois de orar, escolheram a Matias para o lugar de Judas (At.1,24-26); mais
adiante, também depois de orar, impuseram as mãos sobre sete novos auxiliares
(Estevão, Felipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau); e por obra do
Espírito Santo impuseram as mãos sobre Saulo e Barnabé (At.13,2-3); e a palavra
do Senhor se divulgava (At.6,5-7). São Paulo constituiu Timóteo bispo de Éfeso e
a Tito bispo de Creta; mãos antigas colocadas sobre cabeças mais novas e assim
sucessivamente; e deste modo foram sendo escolhidos e nomeados os sacerdotes da
Nova Aliança.
São João
Crisóstomo (354-407), chamado “doutor da Eucaristia”, diz que “não foi
homem, nem anjo, nem arcanjo e nenhuma outra potestade, senão o próprio
Paráclito quem instituiu este Ministério”, o Ministério dos Sacerdotes e,
conseqüentemente, “nunca se verá faltar nem os sacerdotes e nem os
sacrifícios” (Jer.33,18).
O sacerdócio da
Nova Aliança, com sacerdotes segundo a ordem de Melquisedeque, foi estabelecido
para ser oferecido, pelo Sacerdote Eterno, em toda parte, um Sacrifício puro e
sem mancha, como profetizou Malaquias, sacrifício este que foi instituído “para
tomar o lugar de todos os sacrifícios do Antigo Testamento”, como disse Santo
Agostinho: o Santo Sacrifício da Missa.
Assim, o
Sacerdote, ao oferecer o Santo Sacrifício da Missa, apenas dá continuidade ao
Sacrifício da Cruz, uma vez que recebeu de Jesus Cristo a
ordem formal, na véspera da sua morte, durante a Última Ceia: fazei
isto.
Se os sacerdotes
oferecem tal sacrifício — o Santo Sacrifício da Missa — como
ministros de Cristo e da Igreja, também o oferecem os demais fiéis. Mas há
entre aqueles e estes uma diferença essencial que reside no caráter
sacerdotal, que unicamente se imprime na alma pelo sacramento da
Ordem que dá ao sacerdote o poder de consagrar.
Atendendo aos
diversos aspectos, explica a doutrina da Igreja que a imolação incruenta pela
qual Cristo, em virtude das palavras da consagração, se faz presente sobre o
altar em estado de vítima, não a faz o sacerdote na qualidade de representante
dos fiéis, senão que como representante de Jesus Cristo mesmo.
Apesar da
diferença que existe entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio comum dos
fiéis, os assistentes, como dito acima, também oferecem o Santo Sacrifício da
Missa; as pessoas reunidas diante do altar unem-se a Jesus Cristo no
oferecimento que é feito a Deus; oferecem a Deus a melhor dádiva que Lhe pode
ser ofertada: o sacrifício do seu próprio Filho, o qual substituiu todos os
sacrifícios da Antiga Lei que não agradavam a Deus. E os propósitos
pelos quais este sacrifício é realizado são, sempre foram e sempre serão os
seguintes: adoração - agradecimento- satisfação pelos pecados e para a salvação
das almas - pelos vivos e pelos mortos - pelos presentes e ausentes - pela
Santa Igreja Católica - e - para receber as graças que precisamos
“ET INTROÍBO AD ALTÁRE DEI: AD DEUM QUI
LAETÍFICAT JUVENTÚTEM MEAM”.
“E APROXIMAR-ME-EI DO ALTAR DE DEUS; PERANTE DEUS QUE É A ALEGRIA DA MINHA
JUVENTUDE”.
SUBAMOS O CALVÁRIO
O Santo
Sacrifício da Missa é o mesmo Sacrifício da Cruz e, por isso mesmo, a
sua celebração permite aplicar aos fiéis os méritos da Cruz, perpetuar esta
fonte de graças no tempo e no espaço. O Evangelho de São Mateus termina com
estas palavras: “E eis que Eu estou convosco todos os dias até a consumação
dos séculos”.
Assim, cada vez
que assistimos ao Sacrifício da Missa, subimos, em espírito, o
Calvário, onde nos sentimos ao lado da Mãe das Dores e de São João.
“Eu lá estava”,
dizia Santo Agostinho.
“Eu quero estar
lá, no Calvário de nossos altares”, digamos nós.
Subamos o Calvário
para dobrarmos os nossos joelhos, para nos curvarmos diante de Nosso Senhor
Jesus Cristo e Ele, fisicamente — realmente — presente, receberá as nossas
ofertas e súplicas, para levá-las, junto com seu Corpo e seu Sangue, como um
suave aroma, ao altar celestial: a seu Pai, nosso Deus Todo-Poderoso.
F I M
Reedição concluída a 13 de janeiro de
2001 - festa da Sagrada Família
BIBLIOGRAFIA
01 -
SACERDOTE CATÓLICO - “LA SANTA MISA Y LA NUEVA MISA” - Revista ROMA AETERNA n.116,
SET, 1990.
02 - JESUS SOLANO
- “TEXTOS EUCARÍSTICOS PRIMITIVOS” - TOMO I - 1978 - BIBL. AUTORES
CRISTIANOS (BAC) - ESPANHA.
03 - DOM GASPAR
LEFEBVRE - “MEU MISSAL QUOTIDIANO” - 1965 - BÍBLICA - BRUGES/BÉLGICA.
04 - Padre
PIERRE LE BRUN - “EXPLICATION DE LA MESSE” - 1949 (primeira edição em 1716) - LES EDITIONS DU
CERF - PARIS.
05 - Padre DES
GRAVIERS - “PARECER SOBRE A ‘RESTAURAÇÃO’ DA MISSA” APÓS O VATICANO II” -
Revista PERMANÊNCIA - MAR/ABR - 1983.
06 - Monsenhor CH.
GUAY - “L`ÉGLISE ET LES SACREMENTS” - Revista COMMUNICANTES, n.35,
OCTOBRE, 1990.
07 - Monsenhor
ÁLVARO NEGROMONTE - “NOVO TESTAMENTO” - 3a. Edição - 1961 - LIVRARIA AGIR
EDITORA - RIO DE JANEIRO.
08 - CONCÍLIO DE
TRENTO - EXTRATO DE CANONES E DECRETOS - SEM DATA - “Imprimatur” de 15-07-1953 -
EDITORA VOZES - PETRÓPOLIS.
09 - Mons. Marcel.
LEFEBVRE - “CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS” - 1984 - EDIT.
PERMANÊNCIA - RIO DE JANEIRO
10 - GUSTAVO
CORÇÃO - “AS FRONTEIRAS DA TÉCNICA” - 5a. Edição - 1963 - LIVRARIA AGIR
EDITORA - RIO DE JANEIRO.
11 -
“TERCEIRO CATECISMO DA DOUTRINA CRISTÔ - 1976 - EDITORA VERA CRUZ
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