"A raiz desse absurdo é o falso entendimento de que uma experiência emocional sempre acompanha a concessão de uma graça - ou que pelo menos faz parte da "liberação da graça""
Pe.
Scott Gardner, FSSPX
Fruto
do Concílio Vaticano II, Semente de Destruição.
Batizados no
"Espírito"
"Batizado no Espírito",
"Oração em Línguas", "O Dom da Profecia", e
um "Relacionamento Pessoal com Jesus Cristo" são todas expressões
muito em voga e indispensáveis no vocabulário da assim chamada "Renovação
Carismática Católica" (RCC) , um movimento cujas origens se
deve a um retiro sem nenhum acompanhamento realizado em 1967 por alguns
estudantes da Universidade de Duquesne em Pittsburg (USA) . Por volta de 1990,
o movimento já contava com cerca de 72 milhões de seguidores no mundo inteiro e
organizações oficiais em mais de 120 países.
Um crescimento tão rápido aqui e no
exterior, juntamente com o quase completo abandono de práticas e crenças
genuinamente católicas, bem como modo de se expressar, tem sido motivo de
preocupação para os Católicos já por um bom espaço de tempo. À luz do
trigésimo aniversário da RCC ocorrido no ano de 1997, uma análise mais profunda de
suas práticas, crenças e idéias vem bem a calhar.
O trecho abaixo tirado da
literatura carismática, diz respeito a um dos carro-chefes da RCC,
"Batismo no Espírito", uma "Experiência de fé", na qual uma
pessoa "libera" as graças recebidas no Batismo, Confirmação e Sagrada
Eucaristia e assim experimenta a presença de Deus de um modo profundamente
pessoal. Só por aí já podemos antecipar a visão e a compreensão dos Sacramentos
mais comuns para os seguidores desse movimento:
"Cada Paróquia possui um certo
número de grupos com sua própria visão, propósito e área de serviço. Ninguém se
sente incomodado ou perturbado pelos outros movimentos tais como, Grupos do
Rosário, Legião de Maria, Sociedade de São Vicente ou qualquer outra
organização paroquial - a lista aqui poderia ser bem maior. Portanto, por que
toda essa polêmica em torno da Renovação Carismática? A verdade é que a
RCC não é apenas uma questão de encontros de oração semanal. O seu coração
reside no Batismo no Espírito Santo - uma graça de Deus a qual
deveria ser parte da experiência normal de todo cristão - Através
desse batismo, todo mundo: clero e leigos, homens e mulheres, jovens e velhos,
negros e brancos, ricos e pobres - todos sem distinção, têm a oportunidade de
dar o seu sim a Deus. Mas é ainda muito mais do que isso. Ao fazermos nossa
adesão pessoal a Jesus Cristo, nós estamos dizendo "sim" à
presença poderosa do Espírito Santo e aos seus dons: os carismas. Muitos
de nós fracassamos em fazer isso quando iniciamos o processo da Iniciação
Cristã. Mas agora todos nós podemos fazê-lo, basta permitirmos que o Espírito
Santo transforme-nos desde o mais profundo íntimo do nosso ser, equipando-nos
para o serviço à Igreja e ao mundo." (Charles Whitehead- Charismatic
Renewal- A Challenge 1993).
Irregularidades Doutrinárias
As implicações de tal declaração não
deveriam deixar perplexo ninguém que tem um mínimo de conhecimento do
Catecismo. Do ponto de vista ortodoxo e para dar ao autor o benefício da
dúvida, poderíamos considerar tal declaração como uma referência ao Sacramento
da Confirmação, o Sacramento pelo qual o Espírito Santo vem até nós de modo
particularmente especial para nos transformar em verdadeiros cristãos e
perfeitos soldados de Cristo.
Que fosse tal pensamento relativo ao
caráter sacramental, poderíamos ainda assim suspeitar de que o que eles
pretendem sugerir, seria na verdade, um "oitavo sacramento"
necessário para completar os outros sete. Mas muito ao contrário, os
carismáticos negam qualquer clara conexão entre o "Batismo no
Espírito"e os sacramentos Católicos, uma vez que "ritos
sacramentais e experiência religiosa são partes complementares da iniciação
Cristã básica. E uma vez que esses aspectos da "Iniciação Cristã" são
complementares, os Carismáticos não vêem nenhum motivo pelo qual não-católicos
e até não-cristãos sejam excluídos da oportunidade de experimentar ou
receber os tais carismas, aqui se referindo é claro, às extraordinárias
manifestações do Espírito Santo, as quais auxiliaram na expansão da Igreja
Primitiva e desapareceram pouco tempo depois da Era Apostólica.
De fato, eles sustentam que a natureza
complementar das duas partes da "Iniciação Cristã" faz com que ela se
torne algo facilmente reversível, ou seja, que uma pessoa não batizada pode
experimentar esse "batismo no Espírito" e se tornar ipso
facto, um cristão autêntico, precisando dos "ritos
sacramentais" meramente para "completar" sua
"iniciação cristã". O status dessas pessoas teoricamente seria o
mesmo daqueles católicos que tendo recebido os Sacramentos, ainda esperam por
uma consciente manifestação das graças invisíveis". É óbvio que muitas
pessoas, mesmo os grandes Santos, nunca receberam consolações notáveis em sua
Fé e muito menos manifestações extraordinárias do Espírito Santo. Portanto
dizer que uma pessoa que experimentou esse "batismo no Espírito"
está de tal forma unida a Deus como (ou até mais que) um católico piedoso e
batizado que nunca vivenciou tal experiência é claramente um absurdo."
A raiz desse absurdo é o falso
entendimento de que uma experiência emocional sempre acompanha a concessão de
uma graça - ou que pelo menos faz parte da "liberação da graça". Muito
ao contrário, no que diz respeito à graça sacramental, frequentemente a única
indicação sensível da concessão da graça é o sinal sacramental por si mesmo.
O Catecismo do Concílio de
Trento define um sacramento como "um sinal visível de uma
graça invisível, instituído para a nossa justificação". É portanto um
sinal, cujo efeito é o que significa. Uma vez que todos os sinais visíveis de
todos os sacramentos são completamente objetivos e estabelecidos pela Igreja de
acordo com o mandamento ou inspiração de Nosso Senhor Jesus Cristo, os
sentimentos pessoais de um indivíduo não tem nada a ver com a conferência da
graça pelos sacramentos (naturalmente, desde que não haja nenhuma intenção
contrária).
Objetivo: Expor as Idéias Básicas do
Movimento Carismático e sua incompatibilidade com o Catolicismo.
O "Batismo no Espírito
Santo", é o componente primário da RCC, e juntamente com a maioria
dos demais, reside em falsas concepções sobre a graça, experiência e
relacionamento mútuo, como é sustentado por seus seguidores. Os ítens principais
da plataforma carismática, juntamente com os falsos princípios nos quais eles
se apoiam, serão examinados um por um à luz da Doutrina Católica. Alguns de
seus erros como o fenomenalismo, gnosticismo, ecumenismo, protestantismo e
antiquarianismo ou arqueologismo, já foram tratados pelo Magistério da Igreja
com profundidade. A eclesiologia defeituosa da RCC, bem como erros maiores no
tocante à graça, o livre-arbítrio e os sacramentos merecerão um tratamento
consideravelmente mais profundo.
Portanto ficará claro que, apesar do
entusiasmo dos modernos homens da Igreja por esse movimento, a RCC é
fundamentalmente um movimento não-católico irreconciliável com 20 séculos de
Magistério Católico. Depois de um breve exame de suas raízes, a inteira árvore
será examinada ramo por ramo e todos os seus frutos amargos expostos, levando
em consideração o mandamento apostólico: "Examinai tudo: abraçai o
que é bom" (I Tess.5.21)
Breve História do Movimento
Raízes Protestantes
Apesar de muitos carismáticos tentarem
atribuir suas chamadas "manifestações do Espírito" `a ininterrupta
Tradição Apostólica, eles acabam sempre por fracassar nesse intento. Alguns
chegam ainda a sustentar que o fenômeno cessou por causa de uma atitude
"sufocante e burocratizante "por parte da Hierarquia
Católica. Apesar disso, o fato da existência desses carismas não ser
conhecido depois da era Apostólica, é algo que fica claramente demonstrado
por essa declaração de Santo Agostinho, feita no quarto século:
"Quem em nossos dias,
espera que aqueles a quem são impostas as mãos para que recebam o Espírito
Santo, devem portanto falar em línguas, saiba que esses sinais foram
necessários para aquele tempo. Pois eles foram dados com o significado de que o
Espírito seria derramado sobre os homens de todas as línguas, para demonstrar
que o Evangelho de Deus seria proclamado em todas as línguas existentes sobre a
Terra. Portanto o que aconteceu, aconteceu com esse significado e passou"
Ao descartarmos a atribuição dos
carismas à Tradição Apostólica, devemos portanto olhar para outras
direções para compreendermos a origem desse fenômeno moderno. Muitos escritores
atribuem o início do moderno Pentecostalismo a John Wesley, o famoso
ministro ex-Anglicano e fundador do Metodismo no século 18.
O próprio Wesley, filho de um ministro
Anglicano, cresceu tentando "espiritualizar" a então
ainda "muito-católica" religião Anglicana, ou seja, tentando
livrar o Anglicanismo de todo o seu "ranço"católico. Ele
enfatizava a necessidade de uma piedade pessoal extremamente emocional, um
"relacionamento pessoal" com Deus. Um dia, depois de um
período convalescendo de uma longa enfermidade, Wesley sentiu uma "sufocante"
manifestação do "Espírito" e percebeu que todas as suas
antigas obras religiosas não passavam de tolices. Assim "cheio do poder",
batizado no Espírito, tendo recebido aquilo que ele chamava de "segunda-bênção", ele
foi capaz de sair e conquistar os corações de gelo das massas de denominação
Anglicana dando-lhes um sentido mais profundo da presença de Deus através de
seu "Método" de "Encontros de Oração".
O paralelo entre o nascimento do
Metodismo e as orígens da RCC se tornam ainda mais evidentes quando
consideramos o segundo passo no desenvolvimento do primeiro. Wesley começou o
seu movimento como uma espécie de suplemento para os serviços dominicais da
Igreja Anglicana. Os encontros de oração eram realizados durante a semana,
normalmente com a supervisão de algum membro do clero. Mas logo logo as
autoridades Anglicanas começaram a ficar apreensivas com o rumo que os
Metodistas estavam tomando e assim recusaram-se a designar mais elementos do
clero para acompanhá-los. Como consequência, Wesley e seu movimento romperam com
a hierarquia Anglicana, fundando sua própria igreja, sob sua própria
autoridade, embora nunca tendo renunciado ao seu "sacerdócio
anglicano". O número de apóstatas Católicos, cuja apostasia_ formal ou
material_ é devida à RCC sem dúvida é significante, pois qualquer um sabe que
uma igreja pentecostal ou carismática é formada quase em sua totalidade por
apóstatas católicos.
O Pentecostalismo propriamente dito,
teve início com o movimento Revivalista ou de Reavivamento, o qual desovou
entre outras, a seita do reverendo Charles Parham em Topeka, Kansas por volta
do ano de 1900. Os Católicos Carismáticos atribuem o início do "Derramamento
do Espírito" nos tempos modernos a essa seita herética. Uma breve
sinopse da história dessa seita pode ser encontrada no livro de William Whalen
chamado "Minorias Religiosas na América":
O aparecimento da glossolalia (falar em
línguas) foi registrado em 1901. Charles Parham, um pregador do movimento da
Santidade, andava desanimado com sua própria aridez espiritual. Ele alugou
então uma mansão que mais parecia um "elefante branco" em Topeka,
Kansas, e ali começou uma escola bíblica com cerca de 40 alunos. Juntos eles
começaram uma espécie de curso intensivo das Escrituras e chegaram à conclusão
de que falar em línguas era o sinal de que um cristão havia recebido o batismo
no Espírito Santo. Às 7 horas da tarde, numa véspera de Ano Novo, uma de suas
alunas, Agnes N. Ozmen, começava a reunir o grupo para orar e quando foram-lhe
impostas as mãos, ela começou a orar em línguas. Dentro de poucos dias, muitos
outros a seguiram na experiência.
Pahram passou os cinco anos seguintes
levando uma vida de pregador intinerante antes de abrir outra escola bíblica,
desta vez em Houston no Texas. Um de seus alunos, um ministro negro chamado W.
J Seymore, levou a mensagem do "evangelho-pleno" à Los
Angeles. Assim o movimento de Reavivamento, com apenas 3 anos de existência na
Califórnia já atraía pessoas de tudo quanto é parte do país e essas pessoas se
encarregaram de fundar e espalhar o Pentecostalismo na maioria das grandes
cidades dos Estados Unidos, bem como em muitos países da Europa. As antigas
igrejas do movimento revivalista recusavam-se a enfatizar a necessidade de se
falar em línguas, mas rapidamente dezenas de denominações
pentecostais independentes se organizaram, dando origem entre outras, às
chamadas "assembléias de Deus".
Logo após esse firme estabelecimento em
solo protestante, o Pentecostalismo começou a crescer rapidamente. De qualquer
modo, sempre foi visto pelos escritores católicos como uma nova seita herética,
nunca como "igreja-irmã". A revolução entrou na Igreja com a
mudança de atitude proclamada pelo Vaticano II, uma abertura das janelas para o
mundo, o que significou também uma abertura para todas as religiões do
mundo- sob a guia de seu Príncipe e fundador, Satanás.
Transplante Católico.
Em 1967, durante aqueles primeiros
tempos de euforia pós-Vaticano II, uma época agitada pelo frenesi
ecumênico e apostasia generalisada, alguns estudantes da Universidade de
Duquesne em Pittsburg começaram a se expor às influências pentecostais devido à
sua aridez espiritual. Eles estavam com "inveja" das "vidas
modificadas" de seus muitos amigos protestantes e decidiram então orar
pedindo graças idênticas. Uma espécie de retiro de fim de semana foi a chave
providencial para os seus questionamentos. Várias pessoas se aproximaram de
vários ministros protestantes, leigos e grupos de oração protestantes; e todos
receberam o tal "batismo no Espírito" depois de terem tido mãos
heréticas impostas sobre eles em oração.
A importância dessa ação não deve ser
subestimada. Esses Católicos se submeteram a um rito não-católico de caráter
quase sacramental_ obviamente uma troça do Sacramento da Confirmação_ e toda a
vibração emocional proporcionada por esse pecado (objetivamente falando,
naturalmente) convenceu-os da santidade da inteira experiência. Eles saíram
dali como "Católicos Carismáticos" e sua influência se
espalhou igual fogo selvagem por todo o país- primeiramente nos campus de
colégios e depois pelo mundo inteiro.
Se existe um bom argumento para se
ouvir a Igreja, esse é um deles. A Igreja por quase 2000 anos, sempre alertou
seus filhos para manterem distância de "cultos" heréticos,
porque ela sabe muito bem as consequências de tal pecado, tanto para os
indivíduos envolvidos como para o Corpo Místico como um todo. Apesar disso a
RCC não só admite como impertubavelmente louva, suas raízes ecumênicas e
protestantes!
A conclusão tácita é que a Igreja- O
Corpo de Cristo- perdeu a maior parte da Fé, enquanto o Espírito Santo mantinha
essa mesma fé dentro do Protestantismo. Portanto, os protestantes é que
estariam restaurando à Igreja o seu patrimônio perdido. Esse é um
posicionamento tão falso quanto audacioso, o que claramente cai em contradição
com dois Dogmas de Fé: extra ecclesiam nulla salus = fora da Igreja
não há salvação, e a indefectibilidade da Igreja.
Ambos serão tratados minuciosamente mais a seguir.
Hoje em dia, praticamente em cada
diocese existe um órgão oficial da RCC. Existem grupos de oração carismática,
seminários, convenções, retiros, etc. Tudo isso espalhado pelo país e pelo
mundo inteiro. Nenhum nível da hierarquia está livre do contingente
carismático, e eles são numerosos também entre o clero- especialmente entre o
clero regular ou secular. Como procuraremos demonstrar, nem sequer Roma está
imune à influência dos Carismáticos.
Firme Estabelecimento no Solo da Igreja
As Autoridades
Apesar das várias tentativas dos
Carismáticos de tomar endossamentos pessoais de altos membros da Hierarquia e
transformá-los em aprovaçõs oficiais da Igreja, tais aprovações no entanto
nunca existiram. Os Papas Paulo VI e João Paulo II receberam os Carismáticos
várias vezes em audiência pública e falou deles em seus pronunciamentos em
várias ocasiões; como em 1990 quando o Conselho Pontifícial para
Leigos reconheceu a Fraternidade Católica de Comunidades de Aliança (uma
organização Carismática internacional), como uma associação privada de
leigos. Apesar disso, nenhum pronunciamento oficial foi feito sobre a RCC. Na
verdade, os Carismáticos, como todos os Católicos liberais, tendem a atribuir
uma pseudo-infalibilidade a pronunciamentos papais
não-oficiais quando esses são a seu favor, ao mesmo tempo que descartam
completamente condenações oficiais e até mesmo dogmáticas relativas a muitas de
suas práticas e crenças nada ortodoxas.
Apesar disso, podemos dizer que não
existe escassez de adeptos do Movimento Carismático em nenhum nível da
hierarquia ou do clero. Diáconos, padres, bispos, cardeais e papas tem sido e
são grandes entusiastas pela causa Carismática, isso quando não são membros
diretos da RCC. Que esse povo, supostamente bem treinado em Ciências Sagradas,
se deixe levar pelo sensacionalismo de um movimento sem nenhuma base
doutrinária para suas crenças e práticas, não deixa de ser algo digno de
reprovação.
Os "estudos quase- oficiais"
da Conferência Nacional de Bispos Católicos nunca foram aceitos por aquele
mesmo órgão como sendo posições oficiais. Eles foram aceitos apenas como "Diretrizes
Pastorais" para dioceses individuais. O relatório de 1969 alegava
que:
Teologicamente o
movimento possui razões legítimas para sua existência. Ele possui uma forte
base bíblica. Seria difícil inibir a obra do Espírito a qual se manifestou tão
abundantemente na Igreja Primitiva... Temos que admitir no entanto que tem
havido abusos (no uso dos assim chamados carismas), mas a cura não é a negação
da existência dos mesmos e sim o seu uso adequado.
A conclusão do relatório de 1969
recomenda que se permita que o movimento se desenvolva sob supervisão
episcopal e com a participação sacerdotal.
É interessante notar que, aqui os
bispos aceitam sem questionar uma das mais perigosas afirmações da RCC, ou
seja, que o fenômeno atual, o qual se parece com a descrição dos verdadeiros
carismas contidas no Novo Testamento, são verdadeiros carismas simplesmente
devido a esta semelhança e que o Espírito Santo seria o autor do fenômeno
atual, simplesmente em virtude do fato de que Ele era o mesmo autor dos
verdadeiros carismas há quase 2000 anos atrás. Infelizmente para seu próprio
prejuízo , bem como da inteira Igreja, eles sequer cogitam na possibilidade de
que esse fenômeno extraordinário ( o qual a RCC está tentando
transformar em ordinário) possa ser apenas mais um engano do demônio,
o qual não se importa de que tais pessoas até orem mais levados pela empolgação
e pelo sensacionalismo, se depois tudo isso contribuir para levá-los direto
para o Inferno.
Em 1975, os Bispos dos Estados Unidos
lançaram um documento chamado "Declaração sobre a Renovação
Carismática Católica", o qual se definia como um documento "de
cunho pastoral no tom e no conteúdo" e não como um "estudo
exaustivo". Esse documento reconhece alguns dos perigos inerentes ao
Movimento: elistismo, fundamentalismo bíblico, exagero na
importância dos dons, indiscriminado ecumenismo e as assim
chamadas "pequenas comunidades de fé". Por outro lado,
encoraja a liderança e as orientações do movimento. É interessante notar que os
bispos especificamente não se comprometem em dizer que a RCC é obra do Espírito
Santo, embora admitam sinais encorajantes disso em algumas passagens.
Provavelmente o mais famoso advogado da
RCC entre a hierarquia foi Sua Eminência, Cardeal Jozef Suenens,
Arcebispo Emérito de Malines-Bruxelas, o qual, incidentalmente, foi uma das
vozes liberais mais proeminentes durante o Concílio Vaticano II. No ano
subsequente à sua aposentadoria em 1979, Cardeal Suenens passou o tempo todo
viajando e escrevendo incessantemente em apoio à RCC. Por volta do 25
aniversário da RCC, Cardeal Suenens escreveu o seguinte trecho em seu artigo
comemorativo:
"Os cristãos de
hoje têm que redescobrir o coração da mensagem cristã; eles foram
suficientemente "sacramentalizados"; mas não foram suficientemente
"evangelizados". Temos agora que encarar a tarefa de redescobrir e
explicar o que realmente faz um cristão. Devemos ajudar os cristãos a se
tornarem cada vez mais e continuamente cientes de sua fé e a vivê-la de um modo
mais pessoal. Muitos devem portanto trocar aquele cristianismo sociológico ou
herdado, por uma vida de fé mais plena e ativa, baseada em uma decisão pessoal
e abraçada com completa consciência."
Como a maioria das declarações dos
liberais, esta também é ambígua o bastante para ser interpretada de modo
ortodoxo; todavia, a terminologia nitidamente protestante é algo que não passa
despercebido por ninguém.
O discurso do Papa João Paulo II, por
ocasião do 6 aniversário da RCC em 1987, acabou por endossar de modo
inacreditável a idéia tácita mencionada pelos Bispos americanos (a qual
mostraremos que tem suas raízes no fenomenalismo) de que o Movimento se
encaixa no "Espírito do Vaticano II", bem como sua constante
preocupação com a vinda do Novo Milênio:
"O vigor e os frutos da
Renovação certamente atestam a poderosa presença do Espírito Santo na Igreja
durante esses anos que se seguiram ao Concílio Vaticano II. Graças ao Espírito,
a Igreja mantém constantemente sua juventude e vitalidade. E a Renovação
Carismática é uma eloquente manifestação dessa vitalidade nos dias de hoje, uma
vigorosa afirmação do que "o Espírito está dizendo às Igrejas"(Apoc.
2.7), na medida que vamos nos aproximando do fim do segundo milênio."
De qualquer modo, podemos dizer que um
dos frutos positivos da total crise de autoridade na qual os católicos de hoje
encontram-se imersos, é a sede saudável por conhecer mais sobre a
história da Igreja e estudar os documentos de seu Magistério. A sabedoria
comprovada dos Padres e Doutores da Igreja, Prelados genuinamente guiados pelo
Espírito Santo, é de uma profundidade bem clara e de uma poderosa acuracidade.
O surgimento de seitas "espiritualistas" é algo que já
havia acontecido antes na história da Igreja, e um breve exame de como os
modernos homens de Igreja lidam com elas, serve-nos para obter um melhor
entendimento da situação atual.
Paralelos Históricos.
Não podemos negar que extraordinárias
manifestações do Espírito Santo ocorreram durante a Era Apostólica e que
foram mais do que úteis para ajudar a difundir a Fé Cristã pelos quatro cantos do
mundo conhecido até então. Qualquer um pode constatar isso, lendo os Atos dos
Apóstolos. Tais manifestações tinham propósitos específicos: espalhar a
mensagem do Evangelho a ouvintes de diferentes idiomas (ex: São Pedro no dia
de Pentecostes) ou provar a credibilidade ou santidade do pregador.
Todavia, é também inquestionável que
esses fenômenos extraordinários duraram consideravelmente pouco e desapareceram
logo após a Era Apostólica. A Igreja tinha então atingido uma universalidade
moral e havia se estabelecido de tal maneira que essas manifestações já não
eram mais nem úteis ou necessárias.
Apesar disso, de vez em quando,
pipocavam ali e acolá alguns grupinhos "espiritualistas" que
ganhavam notoriedade devido às suas estranhas crenças e práticas, mas que
no fim acabavam por receber a condenação da Igreja.
As principais entre essas seitas,
foram: a dos "Joaquinitas", seguidores de Joaquim de
Fiore por volta do século 12, os Fraticelli que eram alguns
franciscanos cismáticos do século 13 e 14, e os Molinistas ou
(Quietistas) por volta do século 17.
Joaquim de Fiore (1132-1202),
foi um abade da Ordem Cistercience especializado no estudo das Sagradas
Escrituras. Todavia ele tinha uma mente muito voltada para o misticismo e
passou anos dissecando as Escrituras, buscando descobrir significados
escondidos nas entrelinhas das menores passagens. (Esta prática de se ler
nas entrelinhas "guiados pelo Espírito", é a marca registrada dos
carismáticos dos tempos modernos). No final de sua vida, depois de
completar sua obra, Joaquim submeteu seus escritos ao julgamento de Roma.
Em seus escritos, ele expunha erros
concernentes à Santíssima Trindade, embora mais tarde tenha se retratado
depois que tais erros foram anatematizados pelo Quarto Concílio de Latrão.
Todavia, sua idéia mística a respeito da História era o item mais problemático.
Joaquim sustentava que a história do mundo tinha sido dividida em três fases
distintas, cada uma correspondente a uma pessoa da S.S Trindade. Assim, a
primeira fase da história da humanidade teria sido marcada pelo governo
majestoso de Deus-Pai, a segunda, que são os nossos tempos, pela Sabedoria do
Filho e de sua Igreja, e a terceira, ainda por vir, pelo Espírito Santo num
derramamento de amor universal e com o desaparecimento de todas as religiões
formais em favor de um mundo governado apenas pelo espírito do Evangelho. Todo
esse ensinamento foi condenado pelo Papa Alexandre IV logo após a morte de
Joaquim no século 13.
A similaridade entre esse antigo
ensinamento e o constante jargão Carismático sobre "uma nova era do
Espírito", é algo que dispensa comentários. Pelo contrário, mais
preocupante é a fascinação do Santo Padre com a chegada do Novo Milênio. Ao
falar dos preparativos para o Grande Jubileu do ano 2000, o Papa João Paulo II
designou o ano de 1998 como o "Ano do Espírito":
"A Igreja não poderia se preparar
para o Novo Milênio de outro modo senão pelo Espírito Santo. O que foi
conquistado pelo poder do Espírito Santo na plenitude dos tempos, apenas pelo
poder do Espírito é que poderá emergir agora da memória da Igreja".
E o Santo Padre vai ainda mais adiante:
"A tarefa primordial na preparação para o
Jubileu incluirá uma renovada apreciação da presença e da atividade do Espírito
Santo... [ cita sinais de como isso já está
ocorrendo]... maior atenção à voz do Espírito através da aceitação dos
carismas e da promoção dos leigos, um compromisso mais profundo com a causa da
unidade dos cristãos, e um crescente interesse pelo diálogo com outras
religiões e com a cultura contemporãnea."
Essas declarações surpreendentes
revelam claramente como o atual Papa associa Ecumenismo, Secularismo
e Laicismo com o Novo Milênio e com a obra do Espírito Santo. A similaridade
entre esse tipo de raciocínio e o pensamento de Joaquim de Fiori [aquele de
que o Espírito, através de um derramamento de amor universal, unirá todas as
religiões formais no espírito do Evangelho] é alarmante demais, pra não
dizer o pior.
Um dos principais seguidores das idéias
de Joaquim, foi um grupo "espiritualista", formado por
alguns frades da Ordem Franciscana. Os descendentes diretos desse grupo,
formaram um século depois da morte de Joaquim, o grupo dos Fraticelli,
e suas interpretações pessoais do Evangelho renderam-lhes os maiores problemas
tanto dentro da Ordem Franciscana como com o Papa. No final, eles acabaram
dizendo que a Igreja era corrupta e carnal, em contraste com a sua própria
espiritualidade e que eles eram os únicos verdadeiros seguidores do
Evangelho. Eles acabaram sendo excomungados pelo Papa João XXII em 1318.
É interessante notar que os
Carismáticos também costumam fazer essa distinção entre "Católicos
plenos" e os "outros", ao fazerem declarações como
essa de uma tal Betty Nunez:
"Eu não estou dizendo que os "outros" católicos não crêem,
mas quando você é renovado pelo Espírito, sua fé se torna viva".
Agora, dando à Senhora Nunez todo o
benefício da dúvida, tal declaração soa como um insulto a qualquer Católico
não-Carismático, pois seria o mesmo que dizer que temos uma fé morta ao passo
que os Carismáticos possuem uma fé viva. Esse tipo de declaração infeliz é
muito parecida com a dos Fraticelli.
Miguel de Molinos (1628-1696)
confundiu completamente o ensinamento Católico sobre a graça e a natureza.
Apesar dele acreditar que a graça supõe a natureza, ele ensinava que o único
caminho para a santificação era o completo abandono da alma às ações de Deus (aqui
no caso, o Espírito Santo). Novamente, isso soa como ortodoxo a princípio,
ou seja, quando ouvido num contexto ortodoxo. Todavia contém um erro
grave. Molinos sustentava que a alma deveria ficar completamente passiva à ação
de Deus. Mas seu quarto princípio, também condenado, sustentava todos os
demais: "A atividade natural é inimiga da Graça, impedindo a ação de
Deus e a verdadeira perfeição, porque Deus deseja operar em nós, sem nós".
Aqui não se trata de conformarmos nosso livre-arbítrio, ou seja, nossa vontade,
à Vontade Divina e sim de aniquilarmos nossa própria vontade, substituindo-a
pela Vontade Divina. Como consequência disso, depois que ocorre esse "aniquilamento",
a pessoa fica isenta de qualquer responsabilidade pelos seus atos, já que ela
se tornou de certa forma, um autômato.
A pergunta mais comum entre os
Carismáticos costuma ser: "É Jesus Cristo o Senhor da sua vida?"
Naturalmente que todo Católico deseja que Jesus Cristo seja não apenas o "Rei
e Centro de todos os corações" como também do mundo inteiro. Aliás, o
Reino Social de Cristo Rei deveria ser uma de nossas bandeiras de luta. É
importante todavia compreender a diferença entre essas duas posições. Os
Católicos querem conformar sua vontade de forma que ela esteja de acordo com a
Vontade Divina. As conquistas naturais são plenas de perfeição apenas quando
guiadas e ordenadas para o sobrenatural. Já os Molinistas (e Carismáticos)
querem aniquilar seu próprio livre-arbítrio, tornando-se vasos completamente
passivos sob a ação da Vontade Divina. A seguinte passagem é um trecho típico
da literatura carismática a esse respeito:
Jesus aprendeu a vontade do Pai, vivendo num
relacionamento pessoal diário com Ele. Será que eu estou crescendo na prática
da Presença de Deus através do meu dia-a-dia? Eu faço as coisas ou
progrido de um modo compulsivo ou como resposta? Será que meu ouvido interior
está treinado para ouvir, buscando ouvir o Espírito Santo e seguir sua doce
moção? Seguir o Espírito é como pisar na corrente de um rio, permitindo que ela
lhe dê a direção. ( Patti Harrison-"Jesus Lord of my life")
Qualquer um pode imaginar sendo esta a
disposição na qual um Carismático se encontra antes de ter uma
manifestação física do "espírito". Afinal o que mais poderia
proporcionar o clima ideal para que pessoas ordinárias sejam capazes de
contorcer-se, saracotear, lançando-se em uma verdadeira algazarra dentro da
Igreja? Uma das duas explicações parece ser o mais provável: que o sujeito
realmente deseja - talvez até inconscientemente- realizar essa performance por
causa da dinâmica de grupo ou histeria coletiva, ou que seu estado de
relaxamento deixa-o completamente aberto e passivo a mercê de uma verdadeira
manifestação do "espírito"- naturalmente que aqui não se refere ao
Espírito Santo! Pois como sempre foi ensinado pela Igreja, o ato de se falar
uma língua estranha que ninguém compreende é um sinal clássico de possessão
diabólica.
O Desdobramento
Um outro desdobramento da árvore
Carismática, que não podemos deixar passar despercebido é o fenômeno conhecido
pelos seus seguidores como "Movimento Mariano" e pra quem está
do lado de fora como "Aparição Mania". Apesar de uma profunda
avaliação desse aspecto não ser o objetivo desse artigo, os frutos maiores e
mais venenosos deverão certamente ser demonstrados. Maiores considerações a
respeito podem ser encontrados no livro de Michael Davis "Medjugorje-A
Warning".
Os Carismáticos sempre tiveram um lugar
especial (mas não muito especial) para a Bem-Aventurada Virgem,
chamando-a de "a Primeira Carismática", aquela que "concebeu
pelo poder do Espírito Santo" e que "estava presente no
Cenáculo quando os discípulos de Jesus ficaram cheios do Espírito Santo".
Como muitos Carismáticos admitem, o
Movimento Mariano estava começando a minguar por volta do início da década de
80. Mas de repente as assim chamadas aparições começaram a pipocar em
diferentes locais no mundo inteiro e uma outra bem maior foi anunciada semanas
antes do acontecimento num Encontro da RCC em Roma. Uma "profecia"
foi proferida concernente a uma aparição que começaria dali há poucos dias
nas Balcãs- Bósnia Herzegovina. Como foi prometido, Nossa
Senhora teria aparecido na data marcada e desde então vem aparecendo quase que
diariamente!
Obviamente que as supostas
manifestações alegadas pelos Carismáticos e as supostas aparições
reinvindicadas pelos "videntes" de Medjugorje caem em
duas categorias bem diferentes de fenômeno sobrenatural, mas a sobreposição
entre os Carismáticos e os seguidores de Medjugorje é quase completa na
descrição do autor do livro.
Os Carismáticos voam em bando para
Medjugorje, apesar da Igreja desencorajar tais peregrinações e apesar do
julgamento do Bispo Diocesano, o qual declara que as supostas aparições não são
autênticas de modo algum. Qualquer um deveria chegar à conclusão que um "espírito"
que os leva a desobedecer a uma proibição explícita de Roma, bem como uma
"Nossa Senhora" que leva os franciscanos encarregados da
paróquia de Medjugorje, a menosprezarem as censuras de seu Bispo Diocesano por
causa de suas atitudes pecaminosas, de forma alguma pode vir de Deus. Mas
infelizmente, enquanto os "rosários" e outros souvenirs continuarem
se convertendo em ouro, ninguém parece estar muito preocupado com essas
questões.
Ali "Nossa Senhora"
supostamente estaria dando mensagens periódicas ao mundo. Mensagens que por
mais estranho que pareça, são muito parecidas com as profecias proferidas pelos
Carismáticos em seus grupos de oração. O conteúdo, nem precisamos mencionar,
fica ao nível do primeiro grau de uma escola de Catecismo e o estilo
normalmente é uma mistura de caráter sentimental. Mais abaixo apresentamos um
paralelo entre dois exemplos:
Profecia Carismática:
"Meu povo, Eu
coloquei o meu louvor em seus lábios. Ponham o meu louvor em cada situação de
suas vidas e eu mostrarei-lhes o poder do meu louvor, diz o Senhor! Meu povo,
dêem as costas para o mal, venham até mim. estejam no mundo, mas não sejam do
mundo, honrem o Meu Filho e Eu darei-lhes paz e contentamento, diz o Senhor!
Mesmo se uma mulher esquecesse o filho que ela gerou, eu não me esqueceria de
vocês. Seu nome está escrito na palma de minha mão, diz o Senhor. Tragam-me os
doentes e eu os curarei, suas preocupações eu as dispersarei, seus fardos e eu
os carregarei. Meu povo, eu quero vos libertar, diz o Senhor." (Livro: O
Carisma da Profecia- Andy O'Neill)
Mensagem de
Medjugorje de 9 de maio de 1985
Caros filhinhos!
Vocês não sabem quantas graças Deus está derramando sobre vocês nesses dias em
que o Espírito santo está agindo de modo especial. Vocês não querem avançar.
Seus corações estão voltados para as coisas terrenas e vocês se mantêm ocupados
por elas. Voltem seus corações para a oração e peçam para que o Espírito Santo
seja derramado sobre vocês. Obrigado por terem respondido ao meu chamado. (Fr.
René Laurentin- As Aparições de Medjugorge continuam)
As mentiras, o engano, a desobediência
e o escândalo aberto por parte de membros do clero, que envolvem essa suposta
aparição, deveriam ser sinais mais do que suficientes para convencer
qualquer um de sua falsidade. A proibição de Roma no tocante às peregrinações e
a decisão do Bispo diocesano sobre a autenticidade do fenômeno tem mantido os
Católicos obedientes afastados de toda essa confusão. Mas ainda assim o povo
vai em massa, aos milhares por ano, por causa dos chamados "bons frutos",
ou seja, as assim chamadas conversões, curas, milagres do sol...etc.
A Fé Católica sempre ensinou que
verdade e erro não se misturam, nem bem com o mal, nem verdade com falsidade.
Como já foi dito antes, Satanás não se importa de maneira alguma se as
pessoas resolvem seguir essa ou aquela peregrinação, orar mais e até se sentirem
mais tocadas emocionalmente em relação a Deus ou à Virgem Maria, pelo
contrário, ele até ajuda com os bilhetes do avião, desde que tudo isso
contribua de algum modo para levá-los direto para o inferno no final das
contas.
Uma Comparação entre
Idéias Carismáticas e a Doutrina Católica
Numa análise final, a ortodoxia de
qualquer crença ou prática não depende tanto de como uma pessoa se sente a
respeito, ou do que o padre, bispo e até mesmo o Papa (quando ensina apenas
como um teólogo) diz a respeito, e sim da autoridade do Magistério perene
da Igreja. O constante ensinamento de Papas e Concílios nesses quase 2000 anos
de história da Igreja é que determina se uma crença particular é de fato
Católica ou não. A negação desse fator básico pelos Católicos liberais é o
motivo principal da crise na qual a Igreja se encontra mergulhada nos dias de
hoje. Portanto não é de se admirar que encontremos os Carismáticos de hoje,
sustentando crenças e práticas que há somente 50 anos atrás teriam lhes
causado os maiores problemas com as autoridades da Igreja.
De modo a termos um claro panorama do
que há de errado com a RCC, é necessário examinar seus princípios básicos à luz
da Doutrina Católica. Apesar de estar muito além do objetivo dessa tese, fazer
uma análise teológica detalhada do movimento, vários pontos básicos serão
levantados. Tais questões poderão ser aprofundadas posteriormente por teólogos
competentes.
Embora a RCC seja um "grupo de
grupinhos" vasto em número e intencionalmente impreciso do ponto de
vista doutrinal, certos princípios específicos podem ser decodificados a partir
da vasta literatura Carismática disponível. Esses princípios podem até não ser
conscientemente apoiados por todos os Carismáticos em geral, mas eles podem ser
frequentemente encontrados- explicitamente ou implicitamente- em seus escritos.
Idéias Fenomenalistas
O Fenomenalismo, cujas raízes procedem
do Iluminismo do século 18, é o principal fator subjacente do Movimento
Carismático. A Enciclopédia Católica define o fenomenalismo da seguinte
maneira:
Fenomenalismo
literalmente significa qualquer sistema de pensamento que tem a ver com as
aparências. O termo contudo, é comumente restrito `a designação de certas
teorias pelos que elas determinam: 1- que não existe nenhum outro conhecimento
o não ser o próprio fenômeno- negação da substância no senso metafísico; ou 2-
que todo conhecimento é fenomenal- negação do objeto em si e determinação de
que toda a realidade é diretamente ou reflectivamente presente no inconsciente.
Portanto, para o Carismático, uma
pessoa não conhece verdadeiramente Deus, enquanto não tiver "experimentado"
Deus de forma consciente, ou seja, enquanto não tiver tido uma experiência
sensorial (normalmente emocional e às vezes até física, como no caso da
glossolalia, ou "falar em línguas"). De fato, a "experiência
espiritual" chega a anular a Revelação pública e os quase 2000
anos de ensinamento do Magistério Católico em matérias, tais como, só pra citar
um exemplo, o Ecumenismo.
Para o Carismático, a mera presença
hoje em dia de um fenômeno supostamente idêntico aos verdadeiros carismas
presentes na Igreja Primitiva já é o bastante para provar sua origem divina. A
experiência é o que importa, não o questionamento legítimo do intelecto, tal
como "Por que esse intervalo de quase 2000 anos?" Seria
essa experiência a mesma do fenômeno descrito nas Escrituras? Estaria esse
"espírito" guiando-nos para uma vida plenamente Católica ou rumo à
apostasia? O fracasso dos Carismáticos em fazer um autêntico discernimento dos
espíritos é possivelmente sua gafe mais perigosa, uma vez que o demônio é capaz
de operar prodígios, os quais são como imitações ou mímicas daqueles fenômenos
verdadeiramente realizados por Deus.
De fato, o intelecto é radicalmente
descartado pelos membros da RCC. Existe uma conversa generalizada a respeito da
assim-chamada "18 polegadas da cabeça para o coração" em quase
toda literatura Carismática nos primeiros níveis do "crescimento
espiritual". Como já foi dito anteriormente, tal "conhecimento
do coração", que nada mais é senão confortantes e agradáveis
sentimentos em relação à Deus, de forma alguma é algo espiritual e sim
puramente emocional- o que também significa físico! Esses escritores e autores
Carismáticos desprezam de tal forma o intelecto, como se Deus não o tivesse
dado ao homem para seu próprio proveito: "Intellectum tibi dabo"
(Salmo. 31)
Para a mente fenomenalista do Carismático,
nem mesmo os Sacramentos estão imunes ao pensamento subjetivista a respeito da
graça. Os Católicos sabem que o sacramento produz a graça ex opere
operato, independente do estado espiritual do ministro ou do recipiente.
Naturalmente o recipiente pode estar mais ou menos bem disposto para receber as
graças concedidas, mas a graça é produzida independente das disposições
subjetivas das partes envolvidas. Para o Carismático, qualquer coisa na vida
espiritual que não produz uma consolação subjetiva ou emoção, não é experiência
de fé válida e portanto, não confere a graça.
Assim, o seguinte trecho do
livro "Healings Sacraments" escrito por um
sacerdote Carismático sobre a Confissão, nos dá um bom exemplo disso:
"Durante o
Sacramento da Reconciliação nós recebemos a cura na forma do perdão e na forma
de uma grande resistência contra a tentação. Eis porque nos sentimos mais leves
e muito melhores depois de termos feito uma boa confissão". (Fr. Dave
Schwarz)
Nem mesmo o Sacramento da Eucaristia
está imune a tal princípio subjetivista;
"Quando você
estiver orando depois de ter recebido a Comunhão, eu sugiro que você visualize
raios luminosos de cura saindo da hóstia consagrada que você acabou de receber
e fluindo através de todo o seu ser"...
Para o fenomenalista, assim como para o
Carismático, o objeto não tem verdadeira existência quando separado do sujeito.
Essa lógica extrema torna-se então uma questão do relacionamento da consciência
consigo própria. Assim não é difícil ver no que a moderna religião
pós-conciliar se tornou... de acordo com algumas acusações, a religião do homem
adorando-se a si próprio.
Tendências Gnósticas
Várias formas de gnosticismo tentaram
fazer estrada dentro da Igreja através dos séculos; elas podiam até ser
diferentes umas das outras nos detalhes, mas o fator central subjacente entre
elas sempre foi a alegada existência de um "conhecimento secreto",
ou gnose, o qual faz de seu possuidor o crente verdadeiro,
portanto, o único realmente preparado para o Céu. Com os Carismáticos,
essa gnose se torna a experiência de Deus através das
manifestações interiores e exteriores do "espírito", o qual
transforma aqueles que experimentam tais fenômenos em verdadeiros
"crentes".
Ecumenismo
A
filosofia fenomenalista Carismática possui interessantes repercussões
na área do Ecumenismo. Segundo a RCC, no Concílio Vaticano II, "a
Igreja comprometeu-se irrevogavelmente em seguir o caminho da
aventura ecumênica" (Ut Unum sint 3)...
O fato é que não-católicos tem
compartilhado das mesmas experiências dos Carismáticos independente da Igreja
supostamente provar a validade de suas seitas heréticas. Essa atitude é
fenomenalismo puro e simples: Deus Espírito Santo estaria produzindo o fenômeno
"X" entre os Católicos Carismáticos; o fenômeno "X" está
presente também na seita protestante "Y"; portanto, a seita
protestante "Y" compartilha da mesma fé verdadeira com os
Carismáticos Católicos. O fato de que o menos experiente aluno de escola
primária poderia facilmente desbancar essa falsa suposição, parece não
apresentar nenhum problema para os Carismáticos, uma vez que tal lógica cai
naquela categoria que eles definem como "conhecimento
racional" ao invés do verdadeiro conhecimento de "coração",
o qual eles se gabam de ter como experiência.
Como o seguinte trecho demonstra, os
Carismáticos acham que a caridade mútua baseada na experiência é que é o
princípio da Unidade Cristã:
"Enquanto a
inteira Igreja, tanto o Clero como leigos, estão às voltas tentando responder a
esse mandamento de buscar a Unidade, de um modo único isso já é real para os
líderes da RCC, porque tanto as orígens de nossa renovação pentencostal
como as ações do próprio Deus na Renovação são ecumênicas. A renovação
possui uma dimensão ecumênica, a qual de forma alguma é acidental, e sim que
faz parte de sua natureza. Portanto a renovação Carismática como é
freqüentemente descrita, é uma graça ecumênica para a Igreja"
Três fatos da
história moderna podem facilitar nossa compreensão. No final do último século,
enquanto o Papa Leão XIII pedia aos Católicos de todos os lugares para que
rezassem por uma renovação do Espírito Santo, muitos protestantes evangélicos
também estavam ávidamente buscando uma renovação no espírito. O segundo fato é
que a confiança ecumênica do Vaticano II foi o principal componente do
"novo Pentencostes", pelo qual a inteira Igreja havia rezado antes e
durante o Concílio. O terceiro fato é que quando a renovação pentencostal começou
entre os Católicos lá pelo final da década de 60, a mesma renovação no
Espírito, com carismas, serviço mútuo e amor... simultaneamente estava
acontecendo também entre cristãos de outras denominações pelo mundo afora...
Aqui a chave para o
sucesso é o genuíno respeito mútuo entre líderes protestantes e Carismáticos
católicos. Quando ambos, Carismáticos católicos, evangélicos pentecostais, bem
como outros líderes protestantes não denominacionais, aceitarem a validade da
fé de seus concorrentes, aí sim, haverá uma boa fundação. Reconhecimento mútuo
do fato de que a fé em Jesus Cristo e o batismo faz-nos irmãos e irmãs em
Cristo e membros de seu único Corpo é fundamental para construirmos
relacionamentos de mútua confiança, respeito e amizade. Existe uma relação direta
entre tal fundação de relacionamentos pessoais sólidos e o sucesso de qualquer
empreendimento ecumênico."(Kevin Ranaghan- Ecumenism and Catholic
Charismatic Renewal Today)
Todo Católico sabe muito bem que a tão
propalada "unidade cristã" significa apenas uma coisa, o
retorno daqueles que se encontram no erro ao seio da única Igreja, fundada por
Jesus Cristo e administrada por seu Vigário na Terra, ou seja, o Romano
Pontífice. A Unidade da Igreja é baseada na Verdade objetiva, guardada e proclamada
pelo Papado, o qual é o princípio de unidade da Igreja. Aqueles que não estão
unidos na fé e na comunhão com a Igreja são, pelo menos objetivamente falando,
heréticos por negarem a fé e cismáticos por não se submeterem ao Romano
Pontífice. A ininterrupta Tradição da Igreja, objetivamente dizendo, exclui-os
da Salvação enquanto persistir sua desunião:
"Portanto, nós
declaramos, nós definimos que é absolutamente necessário para a Salvação, que
toda a criatura humana esteja sujeita ao Romano Pontífice"(Papa Bonifácio
VIII- Unam Sanctam).
Ao contrário do que dizem os
Carismáticos, o Papa Pio XII declara em sua magnífica Encíclica Mystici
Corporis:
"Cristo",
diz o Apóstolo, "é a Cabeça do Corpo da Igreja". Se a Igreja é o
corpo, esse deve ser de uma inquebrantável unidade, de acordo com as palavras
de Paulo: "Apesar de sermos muitos, somos um só corpo em Cristo". Mas
não é apenas necessário que o Corpo da Igreja seja uma unidade inquebrável, mas
também que deve ser algo definido e perceptível como bem define nosso
predecessor de feliz memória, Leão XIII em sua Encíclica Sagitis
Cognitum: "A Igreja é visível porque ela é um corpo. Portanto
erra em matéria de verdade divina, aqueles que imaginam a Igreja como
invisível, intangível, algo meramente peneumológico (espiritual), como eles
costumam dizer, "presente através de muitas comunidades cristãs, que embora
diferenciando-se umas das outras por sua profissão de fé, estão unidas por um
elo invisível".
No que diz respeito à pertença à única
Igreja de Cristo, o mesmo Santo Pontífice ainda declara:
"Verdadeiramente, apenas são contados
como membros da Igreja, aqueles que tendo sido batizados, professam
a verdadeira Fé e que não tiveram o infortúnio de se separarem da unidade do
Corpo, ou que foram legitimamente excluídos pela autoridade devido a graves
faltas cometidas. Pois em um só Espírito, diz o Apóstolo, "foram todos
batizados em um só corpo, sejam judeus ou gentios, escravos ou livres. Assim
portanto, na verdadeira comunidade Cristã existe apenas um Corpo, um só
Espírito, um só Batismo, e uma única fé. E assim, se uma pessoa se recusa a
ouvir a Igreja, que ele seja considerado- como bem diz o Senhor - como um
inimigo ou publicano. Segue-se então que aqueles que se separaram por fé
ou governo, não podem estar vivendo na unidade de tal Corpo ou vivendo a vida
de seu Divino Espírito".
Portanto, partindo de um ponto de vista
genuinamente Católico, devemos admitir que a existência de verdadeiros carismas
entre os Protestantes é algo mais do que contraditório. Se esses fenômenos
estivessem ocorrendo de fato, eles se dariam de forma claramente excepcional e
não em caráter normativo. Por outro lado, eles teriam uma única finalidade, ou
seja, a conversão dos Protestantes para o Catolicismo. Por outro lado, mesmo se
verdadeiros carismas estivessem ocorrendo entre Católicos e Protestantes, a
idéia de que um fenômeno tão suspeito como o de agora, possa servir de base
para uma falsa e "irenistica" união entre duas crenças completamente
opostas, é algo claramente não-católico e demonstra uma certa perda da Fé por
parte daqueles que pensam dessa maneira.
Protestantismo.
Dado as orígens ecumênicas e
protestantes da RCC, não é de se admirar que o pensamento dos Carismáticos seja
impregnado de concepções nitidamente protestantes. Uma das marcas registradas
do Protestantismo é aquele princípio da sola scriptura, ou
seja, apenas a Bíblia, ou melhor, apenas a interpretação pessoal das Escrituras
baseada na "inspiração do Espírito Santo" é que tem valor.
Devido a essa raiz tipicamente protestante, encontramos também entre os
Carismáticos o menosprezo ou a rejeição da Tradição como fonte Divina da
Revelação. Como bem demonstra o seguinte trecho, os carismáticos também
compartilham dessa perigosa concepção:
... O fundamento da
Renovação Carismática Católica é a Sagrada Escritura. Leituras de curtas
passagens das Escrituras fazem parte da dinâmica dos grupos de oração... por
minha própria experiência, essa sede pelas Sagradas Escrituras é
uma das grandes bênçãos desses tempos... E mais, para mim é mais do que
evidente de que aqueles que desejam ter um relacionamento pessoal com Deus
deveriam pelo menos se familiarizarem mais com esse Livro... Que o Espírito
Santo, inspirador das Escrituras, inspire-nos a termos amor por sua palavra.
Que nos dirija naquelas passagens as quais são mais eficazes em nossas vidas e
a um maior conhecimento do Pai e do Filho. (Andy O'Neill- The Power of
Charismatic Healing)
Através dos séculos
os santos concordaram que relacionar-se com Deus mais intimamente em oração
permite a Deus também relacionar-se conosco intimamente compartilhando de sua
divina sabedoria conosco... Na medida que nos comunicamos com Deus, Ele se
comunica conosco. Mas o oposto também é verdade: se nós abrimos nossos corações
para Sua Santa Palavra, uma extraordinária experiência de fé, esperança e amor
jorrará em nossas almas... na medida em que alguém se torna cada vez mais
ciente de que a "letra mata, mas o Espírito vivifica"( II Cor.3:6),
eventualmente o Espírito o levará ao coração daquela passagem. Mesmo que ele
não saiba a correta e exata interpretação da passagem, ele pode depender apenas
do Espírito para adquirir tanto o significado como a sua correta
aplicação... Talvez nosso maior problema reside no fato de
que lemos muito a Palavra de Deus, mas a experimentamos muito pouco. Existe
uma grande diferença entre memorizar passagens e pensar biblicamente com os
"pensamentos de Deus" (I Cor. 2;11). Existe uma grande diferença
entre ter as Sagradas Escrituras alojadas como um livro empoeirado dentro de
nossas cabeças e tê-las como uma fonte viva jorrando inspiração em nossos
corações. (Hampsch)
Naturalmente que todo Católico sabe
muito bem que a Interpretação das Sagradas Escrituras, como bem descreve a
própria Escritura (II Pedro 1: 20) foi confiada exclusivamente à Igreja- a qual
é verdadeiramente guiada pelo Espírito Santo- e não `a cada indivíduo em
particular. Aliás, o seguinte trecho extraído dos decretos do Concílio
de Trento explica esse princípio claramente, bem como a punição
prometida àqueles que compartilham dessa crença e prática herética:
Portanto, de modo a
refrear pessoas espertas e imprudentes, o Sínodo decreta que ninguém que confia
em seu próprio julgamento em matérias de fé ou moral, os quais são pertinentes
à edificação da Doutrina Cristã, e que ninguém que distorce as Sagradas
Escrituras de acordo com suas próprias opiniões, se atreva a interpretar as
Sagradas Escrituras em sentido contrário àquele que já foi estabelecido pela
Santa Madre Igreja, cujo dever é julgar tudo que se refere ao verdadeiro
sentido e interpretação das Sagradas Escrituras, ou mesmo contrário ao unânime
consenso dos Santos Padres, mesmo que tais interpretações nunca tenham sido feitas
com a pretensão de serem divulgadas. Que aqueles que se ousem se opor a essa
declaração sejam punidos com as penalidades prescritas pela lei. (Denziger
-786)
Esse ensinamento foi reafirmado pela
Profissão de Fé do Concílio de Trento e pela Constituição Dogmática do I
Concílio Vaticano.
Antiquarianismo ou
Arqueologismo.
Uma das tendências mais comuns entre os
liberais é fingirem um certo desejo pelo retorno das práticas da Igreja
Primitiva. Lutero, Huss e um número incontável de outros heréticos usaram o
mesmo estratagema para mascarar suas inovações. Todo Católico sabe muito bem
que a Fé da Igreja Primitiva era inteiramente ortodoxa e que as formas e
práticas litúrgicas da Igreja seguiram um genuíno desenvolvimento (não evolução!)
até chegar ao ponto em que as formas externas do culto Católico tornaram-se
mais apropriadas para expressar sua crença interna. Assim esses supostos
"acréscimos" feitos na Sagrada Liturgia, antes do Concílio vaticano
II, podemos dizer que não foram realmente "acréscimos" e sim
legítimos desenvolvimentos orgânicos da Liturgia, os quais proporcionaram uma
maior solenidade externa ao culto Divino.
O Papa Pio XII, já durante seu
Pontificado, teve que lidar com esse erro dos Modernistas
"O desejo de
restaurar tudo indiscriminadamente à sua antiga condição, não é nem sábio e nem
digno de louvor. Seria errado por exemplo, querer que o altar seja restaurado à
sua antiga forma de mesa, ou querer eliminar a cor preta dos paramentos, ou ter
estátuas e pinturas excluídos de nossas Igrejas, ou requerer que os crucifixos
não tragam mais os sinais dos sofrimentos do Divino Redentor".
(MediatorDei).
Analogicamente, para aqueles que
argumentam que a presença dos carismas na Igreja Primitiva prova sua
necessidade e utilidade para os dias de hoje, os Católicos podem responder que
uma coisa não segue necessariamente a outra. Os carismas serviram para um
propósito específico num tempo também específico - ou seja dar um impulso à
expansão mundial da Igreja recém-nascida. Como diz o Papa Pio XII:
A Igreja a qual Ele
fundou com o Seu próprio Sangue, Ele fortaleceu no Dia de Pentecostes por um
poder especial descido dos Céus. Depois de ter solenemente instalado no mais
exaltado ofício o Seu Vigário, Ele subiu aos Céus e sentado agora à direita do
Pai, Ele desejou fazer conhecida a Sua Esposa através da descida visível do
Espírito Santo, com o som de um vento impetuoso e línguas de fogo. Para que
assim como, quando Ele próprio começou a pregar fazendo conhecido o Eterno Pai,
através do evento do Espírito Santo descendo sobre Ele em forma de pomba, do
mesmo modo, quando os Apóstolos estavam prestes a começarem seu ministério de
pregadores, Cristo Nosso Senhor enviou o Espírito Santo dos Céus, para tocá-los
com línguas de fogo e apontá-los com o dedo de Deus, para a missão sobrenatural
e para o ofício da Igreja. (Mystici Corporis)
Como já foi dito antes, o fim dessas
manifestações externas do Espírito Santo correspondem aproximadamente à conquista
pela Igreja de uma universalidade moral. O desejo de retornar à práticas as
quais eram adequadas às necessidades da Igreja Primitiva e que nunca foram
entendidas como ordinárias é antiquarianismo puro e
simples. Como já foi mencionado anteriormente, descartar a Tradição da Igreja,
como no caso da declaração de Santo Agostinho pertinente aos carismas, é uma
atitude claramente protestante, na medida em que a justificativa para esse
menosprezo da Tradição é baseado na leitura "inspirada" da
Bíblia feita por cada Carismático individualmente.
Falsas concepções a respeito da Igreja.
Sua Missão.
Os Carismáticos
alegam que a missão da Igreja é o louvor. "O Louvor é a raison
d'être da Igreja" (Andy O'Neill).
Embora seja o louvor, inegavelmente e
certamente algo que o homem por justiça deve ao seu Criador, isso dificilmente
pode ser considerado a "razão" sine qua non, pela qual
Jesus Cristo instituiu sua Igreja. Pelo contrário, Nosso Senhor não fundou a
Igreja de forma alguma para ter o seu próprio "fã-clube". Ele a
fundou de forma a perpetuar sua obra de Redenção por todos os séculos dos
séculos. Assim explicam os Padres do I Concílio Vaticano em sua Primeira
Constituição Dogmática (Pastor Aeternus):
"O Eterno Pastor
e Bispo de nossas almas (I Pedro 2:25) de modo a tornar perene a obra salvífica
da redenção, quis edificar a Santa Igreja de modo em que na casa do Deus
Vivo, todos os fiéis pudessem ser abrigados e unidos pelo elo de uma única Fé e
caridade."
Esse ensinamento do Magistério da
Igreja claramente contradiz à falsa noção dos Carismáticos a respeito da missão
da Igreja e detona a base ecumênica do inteiro movimento.
Embora,
inegavelmente, o propósito último de cada ação externa da S.S Trindade seja o
crescimento da glória de Deus, o propósito imediato da fundação da Igreja foi
aplicar os frutos da redenção a todos os homens. "A santificação do
homem através da comunicação da Verdade, dos Mandamentos e das graças de Cristo
é o propósito imediato da Igreja". (Fundamentals of Catholic
Dogma- Lwdwig Ott).
Objetivamente falando, a glória de Deus
se mostra ainda mais resplandescente por causa desse ato; subjetivamente
falando, o homem deseja louvá-lo ainda mais ardentemente como consequência.
Essa confusão entre algo subjetivo e algo objetivo é uma das marcas registradas
da RCC e a raiz de toda a confusão é devido ao fenomenalismo.
Sua Indefectibilidade
A alegação dos
Carismáticos de que apesar do desaparecimento dos carismas por quase 2000 anos,
eles são essenciais à missão da Igreja, é um assalto direto à Indefectibilidade
da Igreja, um dos seus atributos essenciais. Essa indefectibilidade é o
corolário da promessa de Nosso Senhor a São Pedro (Mt 16:18). "A Igreja
instituída por Jesus Cristo foi feita para durar para sempre, pelo menos em
seus atributos essenciais"(Abade A. Boulenger- La Doctrine Catholique)
Essa doutrina garante apenas que a
Igreja permanecerá para sempre, mas isso não previne da destruição de grandes
porções da Igreja. Mais ainda, isso deve ser considerado como algo
não-essencial para o cumprimento de sua divina missão.
A perpetuidade (indefectibilidade) da
Igreja resulta do fato dela ser uma religião definitiva a qual não pode renunciar
à sua posição em favor de outra. De modo a cumprir sua divina missão (o que nos
é garantido pela Revelação) é necessário que ela sobreviva em todos os
elementos essenciais para o cumprimento dessa missão.
Portanto, todo o aspecto da Igreja que
não é constante e universal (pelo menos de acordo com sua natureza) não é
essencial para o cumprimento de sua missão. Os carismas são inequivocadamente,
um desses aspectos, e portanto são não-essenciais para o
cumprimento da missão da Igreja e nem protegidos pela sua indefectibilidade. De
fato, a afirmação dos Carismáticos sobre a natureza essencial dos carismas, não
deixa de ser um duro golpe no verdadeiro princípio da indefectibilidade, pois
se um elemento essencial para a perpetuação da Igreja desapareceu por quase
2000 anos, isso significa apenas que a promessa de Nosso Senhor foi uma
mentira.
Seu Magistério
Nosso Senhor Jesus Cristo fundou uma
Igreja visível, a qual é Una, Santa, Católica e Apostólica. Ele disse aos Seus
Apóstolos, os primeiros Bispos: "Ide pelo mundo todo e ensinai a
todas as nações"(Mt 28.19), e " Quem vos
ouve, a mim ouve" ( Lc 10.16). O Magistério, ou ofício de ensinar
da Igreja, é infalível quando:
a) O Papa pronuncia-se ex-cathedra ou
que um Concílio Geral unido ao Papa faz uma declaração definitiva concernente à
fé ou moral (de fide).
b) ou Pronunciamentos ordinários do
Papa, Concílio ou Bispo correspondente a algum ensinamento infalível
anteriormente estabelecido.
A questão do Magistério é central para
compreendermos a inteira crise na Igreja de hoje, porque os liberais acham que
podem tranquilamente varrer 20 séculos de ensinamento
Católico substiundo-os por aquilo que os homens contemporâneos da Igreja
derem na veneta. A esse critério poderíamos acrescentar a "inspiração
pessoal do Espírito Santo".
Frequentemente temos ouvido essa
conversa sobre a diferença entre ensino "pré-conciliar" e
ensino "pós-conciliar" no tocante à teologia,
moral...etc. O que deve ficar bem claro é que um dado Concílio ou
Papa não pode - com garantia divina- erradicar unilateralmente um
ensinamento do Magistério da Igreja, o qual foi previamente definido como
infalível.
Novamente aqui não é uma questão do que
alguém "sente" que o Catolicismo deve ser, muito pelo
contrário, o ensinamento Católico infalível é uma questão de fato histórico,
completamente independente das "inspirações individuais" de
qualquer indivíduo, seja ele, papa, cardeal, bispo, padre ou leigo. Como
declara o Papa Pio XII:
Pois, juntamente com
essas sagradas fontes (Escrituras e Tradição), Deus deu o Magistério vivo à sua
Igreja, para iluminar e esclarecer aquilo que está contido no Depósito da Fé de
forma obscura ou implícita. De fato, o Divino Redentor confiou esse
Depósito não a cristãos individualmente, nem a teólogos para ser
interpretado de forma autêntica, mas apenas ao Magistério da Igreja. (Papa Pio
XII- Humani Generis)
A Raiz do Problema
Ensinamento Católico
sobre a Graça
Talvez seja na área do conceito sobre a
graça que os Carismáticos façam a mais nítida ruptura com a Doutrina Católica e
revelam a raiz chave de seu inteiro sistema de erros. Como já foi dito
anteriormente, os Carismáticos defendem a necessidade de um fenômeno sensível
que acompanhe e dê significado à recepção da graça (ou pelo menos que a
"libere") na alma. Em outras palavras, "Cristãos em cuja
alma Deus realmente atua, sentem sempre a sua ação". Isso é claramente
falso.
A graça Santificante, aquela que "santifica
a alma" confere beleza sobrenatural à mesma, faz o homem justo entrar
em relacionamento de amizade com Deus, torna-o um Templo do Espírito Santo, um
Filho de Deus e que dá-lhe conseqüentemente a herança dos Céus, é inteiramente
insensível à alma.
Naturalmente que isso não descarta a
possibilidade de que Deus dê uma divina revelação a um indivíduo sobre seu
estado de graça, mas tal revelação certamente cairia no campo do incomum e não
como norma geral, ao contrário do que afirmam os Carismáticos.
Como declara o Concílio de Trento:
"Cada homem ao
levar em consideração a si próprio e a sua própria fraqueza e indisposição,
pode experimentar medo e apreensão sobre sua própria graça, uma vez que ninguém
pode saber com certeza de fé, a qual não está sujeita a erro, que ele obteve de
fato uma graça de Deus". (Denziger 802).
Naturalmente que Deus pode conceder
graças verdadeiramente sensíveis (embora nem todas as graças sejam
necessariamente sensíveis) a quem quer que seja, mas, mesmo entre as
graças verdadeiras, sensibilidade não é uma condição sine qua
non. Uma vez que muitas graças verdadeiras são sensíveis e os
Carismáticos insistem tanto sobre o caráter sensível da graça, o resultado
prático é que eles acabam confundindo graça santificante com graça verdadeira e
no final acabam negando a primeira.
O resultado prático de se negar a graça
santificante, significa de fato uma negação da Doutrina Católica acerca da
justificação (como foi infalivelmente decretado nos canons do Concílio de
Trento) e, consequentemente, a Doutrina Católica concernente às operações
externas da S.S Trindade, as quais serão discutidas mais a seguir. A seriedade
dessa matéria não deveria ser menosprezada por ninguém. Sempre foi dito que
semelhantes erros no princípio acabam levando a erros maiores na conclusão.
Portanto, a insistência dos Carismáticos sobre o caráter sensível das graças é
a raiz chave de seu inteiro sistema de erros.
Ensinamento Católico
sobre os Carismas.
É inegável que às vezes Deus concede
graças verdadeiramente sensíveis, até mesmo fenômenos extraordinários a certas
pessoas. Os verdadeiros carismas presentes na Igreja Primitiva são um claro
exemplo desses fenômenos extraordinários. Uma das maiores gafes dos
Carismáticos certamente é querer transformar algo extraordinário em
ordinário e até necessário para todos.
As graças as quais Deus concede ao
homem se dividem em várias categorias. Uma dessas categorias é a
chamada gratia gratis data (graça concedida livremente)
e a outra é a gratia gratum faciens (graça concedida
para agradar). A primeira, frequentemente chamada "graça
gratuita", é usada para significar aquelas graças que são conferidas a
algumas pessoas em particular para a salvação de outras. A essa classe
pertencem aqueles extraordinários dons de graça, como os verdadeiros carismas
(profecia, milagres, línguas... etc conforme I Cor. 12.8), o poder sacerdotal
de Consagração e o poder hierárquico de jurisdição. A possessão desses
dons é algo independente da constituição moral do seu possuidor.
Gratia gratum faciens é
usada para descrever a graça de santificação pessoal para todos os homens.
Ambas as graças; santificannte e graça verdadeira, as quais preparam-nos para a
justificação caem nessa categoria. Essas graças são necessárias para todos, o
que já não ocorre com as graças gratuítas. São Tamás de Aquino fala muito bem
desta distinção, descrevendo ambas as categorias de graça em sua Summa
Teológica, em duas seções separadas do II Capítulo do "Tratado
Sobre a Graça" e o "Tratado Sobre Atos Pertinentes
Especialmente a Certos Homens". Os carismas são discutidos
mais no final.
É interressante notar que São Tomás de
Aquino nunca se refere aos carismas como sendo um fenômeno contemporâneo. Ele
fala sobre eles apenas com referência aos tempos Apostólicos. Para uma
explicação mais profunda sobre esses fenômenos, aconselho que se leia seus
escritos.
Basicamente, os verdadeiros carismas foram
dons que capacitaram a Igreja primitiva a se espalhar rapidamente até os
confins do mundo até então conhecido e tornar-se bem estabelecida antes da
morte dos Apóstolos. Como já foi dito antes e como bem elucidou São Paulo na
sua II Epístola aos Coríntios, o propósito dos dons era a edificação da
Igreja e não a santificação daqueles a quem eles eram conferidos.
O dom das línguas foi dado para
permitir que o Evangelho fosse pregado a todos os ouvintes independente de seus
idiomas. Profecia, curas, milagres.. etc. foram dados para provar a veracidade
das pregações da Igreja e para promover conversões. Com a conquista de uma
Universalidade Moral pela Igreja, a necessidade de tais fenômenos cessou por
várias razões.
Primeiramente, por causa da presença de
povos de tudo quanto é nacionalidade dentro do Corpo da Igreja e em segundo
lugar, por causa do comprovado estabelecimento da Igreja como Verdadeira
Religião em um curto espaço de tempo.
O mesmo argumento pode ser feito hoje
contra a presença contemporânea dos carismas. Uma vez que a Igreja é agora
tanto moralmente quanto fisicamente Universal, abrigando pessoas - mesmo do
Clero - de tudo quanto é nação e língua, que necessidade haveria da glossolalia para
a evangelização? Uma vez que a Igreja já possui quase dois mil anos de
existência comprovada como Verdadeira Religião, que necessidade ela teria dos
carismas para provar sua Doutrina? Como declara Santo Agostinho:
Uma vez que mesmo
agora quando o Espírito Santo é recebido, ninguém fala nas línguas de todas as
nações, é porque a própria Igreja já fala na língua de todas as nações: Já que
quem quer que seja que não está dentro da Igreja, não recebeu ainda o Espírito
Santo" (Santo Agostinho, Tratado de XXXII sobre João).
Por outro lado São Tomás de Aquino
admite a possibilidade de grossa caricatura diabólica dos verdadeiros carismas
em questões, sobre as quais o leitor é livre para examinar com atenção
II-IIæ, Q.172,A.5: Se alguma profecia
pode vir do demônio (RESPOSTA: SIM)
II-IIæ,Q,172,A.6: Se as previsões dos
profetas dos demônios podem ser verdadeiras (RESPOSTA: SIM).
II-IIæ, Q.178,A.2: Se o Malígno pode
operar milagres (RESPOSTA: SIM).]
É bem sabido que o Diabo e seus demônios
podem produzir prodígios que a princípio parecem milagres para os mais
desavisados, como na história do Mago Simão e sua "milagrosa
levitação" desbancada por São Paulo. Portanto é extremamente perigoso ir
aceitando de cara, qualquer fenômeno extraordinário como sendo de origem
divina. O grande místico e doutor da Igreja, São João da Cruz, tão
frequentemente citado e tão mal compreendido pelos "gurus"
espirituais modernos, tinha o seguinte a dizer, concernente à supostas "revelações
pessoais" vindas de Deus e que foram experimentadas por alguns de seus
contemporâneos:
"E eu temo
muitíssimo pelo que está acontecendo nesses nossos tempos: se qualquer alma,
seja lá qual for, depois de um pouquinho de meditação, tiver em suas
recordações uma dessas locuções, e imediatamente "batizá-las" como
vindas de Deus e com tal suposição disser: "Deus me disse",
"Deus me respondeu". Ainda que não seja exatamente assim, mas, como
já dissemos, essas pessoas são frequentemente os autores de suas próprias
locuções". (São João da Cruz- A Subida do Monte Carmelo).
"Através do
desejo de aceitá-las, eles abrem as portas para o demônio. O demônio pode então
enganá-los usando outras comunicações espertamente fingidas e disfarçadas como
genuínas. Nas palavras do Apóstolo, ele pode transformar-se em "anjo de
luz"(II Cor. 11:14)... Independentemente da causa dessas apreensões, é
sempre bom para um homem rejeitá-las de olhos fechados. Se ele fracassa em
assim fazer, ele acabará por dar espaço para aquelas que tem origem diabólica e
dará poder ao demônio para que se aposse de suas próprias comunicações. E não é
só isso, as representações diabólicas se multiplicarão enquanto aquelas que vem
de Deus gradualmente cessarão, de forma que dali a pouco todas virão do demônio
e nenhuma delas de Deus. Isso tem ocorrido com muitos incautos e
não-instruídos". (S. João da Cruz)
De fato, Nosso Senhor
Jesus Cristo adverte a Igreja dos perigos de aceitar de cara supostos
milagres: Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que
farão milagres e prodígios a ponto de seduzir se isto fosse possível até mesmo
os escolhidos. (Mt24,24)
Mais estarrecedor
ainda é sua advertência: "Nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor,
entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade do meu Pai que está
nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em
vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos
milagres? E, no entanto, eu lhes direi: nunca vos conheci. Retirai-vos de mim,
operários maus!" (Mt 7,21-23).
Ensinamento Católico
sobre a Santíssima Trindade
Naturalmente que uma exposição
dogmática mais profunda está bem além do objetivo desse artigo, mas de modo a
compreender a gravidade dos erros dos Carismáticos é essencial entender as
assim chamadas "missões externas".
Uma missão, ou envio, pressupõe que
haja um remitente, um envio e um destino para o qual algo é enviado. Com
relação ao remitente e ao envio, os teólogos falam de acordo com as "apropriações"
de Deus-Pai como sendo Aquele que envia; Deus-Filho como Aquele que é enviado e
ao mesmo tempo que envia, e o Espírito Santo como Aquele que é enviado, mas que
não envia. A Doutrina Católica sobre a Trindade ensina que todas as operações
externas são comuns às três Pessoas Divinas. Com referência ao
destino para o qual uma das divinas Pessoas é enviada, é bom que se fique claro
que, embora Deus esteja presente em todas as partes do Universo, Seu modo de
presença em qualquer dado lugar muda quando uma das Divinas Pessoas é enviada.
Existem dois tipos de missão
externa da S.S Trindade: a visível e a invisível. A missão
invisível é adequadamente, insensível à pessoa para quem a divina Pessoa é
enviada, ao passo que a missão visível é também sensível. A missão insensível
segue-se à conferência da graça santificante e tem como seu objetivo fazer com
que Deus habite na alma do justo. Essa habitação na alma geralmente é atribuída
ao Espírito Santo, mas juntamente com o Espírito Santo, também o Pai e o
Filho habitam na alma do justo.
A missão visível do Espírito Santo
compreende fenômenos sensíveis como quando o Espírito Santo apareceu sob a
forma de pomba no Batismo de Nosso Senhor, ou Sua descida em forma de línguas de
fogo sobre os Apóstolos no Pentecostes, bem como os verdadeiros carismas
ocorridos na Era Apostólica da Igreja. "Mas por sua verdadeira
natureza, a missão visível é transitória". (S. Tomás de Aquino - Summa
Teológica) A missão invisível ocorre com a conferência da graça
santificante, a qual acontece normalmente com a digna recepção dos sacramentos.
"Mas a obra
principal do Espírito Santo é a santificação das almas através da graça... E
mais especialmente através dos Sacramentos, e de forma ainda mais notável
através do Sacramento da Confirmação que o Espírito Santo comunica Suas Graças
e Seus Dons." (Abade A. Boulenger)
Portanto, toda essa insistência sobre a
sensibilidade da graça, praticamente negando a graça santificante, faz com que
se acabe por negar também a missão invisível do Espírito Santo e rebaixar os
Sacramentos de seu alto posto, reduzindo-os apenas a canais ordinários por onde
passa a graça e a meros ritos eclesiásticos cujo papel é "complementar"
o sensível "batismo no Espírito" durante o processo de "Iniciação
Cristã".
Ensinamento católico
sobre a Graça Santificante e o Livre Arbítrio
A Doutrina Católica sempre ensinou que
a graça santificante, a qual os Carismáticos praticamente negam, é a certeza da
participação na vida Divina. Ao pensarmos sobre esse fato, devemos evitar dois
extremos. O primeiro é aquele típico erro racionalista de pensar a participação
na vida Divina como uma mera união moral com Deus, realizada através da
imitação humana das Perfeições Divinas. O outro extremo é a idéia quietista
ou panteística de que a alma é aniquilada e transformada na Divindade.
Esse não deixa de ser o fim lógico das idéias Carismáticas.
Os Católicos sabem que a graça
aperfeiçoa a natureza sem contudo destruí-la. Deus positivamente modela a alma
à Sua Imagem e a assimila à Sua Vida Divina através de um poder que transcende
a todos poderes criados da alma, mas sempre utilizando tais poderes criados em
livre cooperação com a vontade Divina. Não é portanto nem louvável e nem
necessário aniquilar o livre-arbítrio ou vontade, ele deve ser subjugado ou
dominado com o auxílio da graça e ordenado de acordo com a vontade Divina.
Com relação à vontade e a operação do
Espírito Santo na alma humana, Papa Pio XII resume da seguinte maneira, a
posição Católica:
"Não menos longe
da verdade está o perigoso erro daqueles que se empenham em deduzir da nossa
misteriosa união com Cristo um certo quietismo. Eles atribuem toda a vida
espiritual dos Cristãos, bem como todo o progresso na virtude exclusivamente à
ação do Espírito Divino, pondo de lado ou negligenciando aquela colaboração que
nos é devida. Ninguém, naturalmente pode negar que o Santo Espírito de
Jesus Cristo é a única fonte de qualquer que seja o poder sobrenatural que
entra na Igreja e em seus membros. Pois como bem diz o Salmista "O Senhor
dará a graça e a glória". Mas que o homem deve perseverar constantemente
em suas boas obras, que ele deve avançar tenazmente em graça e virtude, que ele
deve combater e lutar para atingir as alturas da perfeição Cristã e ao mesmo
tempo o melhor em seu poder para estimular outros a atingir a mesma meta...
nada disto o Espírito Santo efetua a menos que eles contribuam diariamente com
o zelo de suas atividades. Como já dizia Santo Ambrósio: "Pois os favores
divinos são conferidos não àqueles que dormem, mas àqueles que vigiam".
Pois se em nossos corpos mortais os membros são fortalecidos e crescem através
de constantes exercícios, muito mais isso pode verdadeiramente ser dito do
social Corpo de Jesus Cristo no qual cada membro retém sua própria liberdade
pessoal, responsabilidade e princípios de conduta. Por esse motivo, aquele que
disse: "Eu vivo, mas não sou mais eu que vivo, mas Cristo que vive em
mim", também não hesitou em assegurar: "Sua graça em mim não foi em
vão, mas eu tenho trabalhado mais abundantemente do que todos os outros, mas
não eu, a graça de Deus que está em mim. "É perfeitamente claro portanto,
que nessas falsas doutrinas o mistério que nós estamos considerando não é
dirigido ao avanço espiritual dos fiéis mas voltados à sua deplorável
ruina." (Papa Pio XII- Mystici Corporis).
Inegável Contradição
Devido à essas comparações entre as
idéias Carismáticas e a Doutrina Católica, deveria ficar claro portanto que,
seja lá qual for as disposições individuais de seus seguidores em relação à
Igreja e à Fé, a RCC como um todo, de forma alguma pode ser considerado um
Movimento Católico, mas sim mais uma seita enganadora do Pai da mentira
infiltrada no corpo da Igreja. A maioria dos Carismáticos pode muito bem negar
que eles apoiam tais erros concernentes à graça, ao Espírito Santo, às missões
externas da S.S Trindade... etc, mas sua própria renúncia à ação do intelecto
tornam explícitos seus erros implícitos.
O pensamento Carismático faz um
paralelo muito próximo com aqueles erros os primeiros dias da Igreja e francamente
demonstram uma admiração pelas heresias do Protestantismo. A idéia "evolucionista"
que os Carismáticos adotaram a respeito do Magistério da Igreja é uma garantia
que eles usam para se protegerem contra qualquer tipo de alegação proveniente
dos ensinos anteriores ao Vaticano II. Identicamente aos Protestantes, eles
descartam a Tradição, deixando-se levar quase inteiramente pela "defesa
Bíblica" dos seus assim-chamados "carismas", depois de terem
se submetido a um rito não-Católico, quase-sacramental, dirigido e inventado
por heréticos.
O fato das autoridades eclesiásticas
não terem a coragem de condenar a RCC, entrará para a história da Igreja no
século XX, como sendo um fracasso semelhante àquele do Vaticano II em não
condenar o Comunismo. De fato tudo isso nos leva a conjecturar se o
"espírito" que os Carismáticos alegam seguir, não seria o mesmo
"espírito do Vaticano II", ou seja, o espírito do mundo...
A Resposta Católica:
Apologética.
Uma vez que tanto as práticas como a
crença dos Carismáticos são inegavelmente baseadas em heresia, podemos
legitimamente duvidar da ortodoxia daqueles que professam filiação ao
movimento. Naturalmente que somente Deus pode julgar almas, mas até por um
dever de caridade não podemos considerar como ortodoxas aquelas ações e
palavras que beiram à heresia. Ao fazermos isso, estaríamos sendo injustos, bem
como sustentando uma mentira semelhante àqueles que mantém uma atitude de
indiferentismo religioso.
"Pelos frutos os conhecereis",
disse Nosso Senhor aos Apóstolos ( Mt 7:20). Pelos frutos venenosos do
movimento Carismático, qualquer um pode comprovar sua inerente
incompatibilidade com o Catolicismo e o grave perigo que ele apresenta para a
Fé Católica genuína. Diante da ignorância de muitos e a cumplicidade de outros
tantos membros da Hierarquia Católica, alguém deve ter coragem de dizer a
verdade sobre esse movimento e o perigo que ele representa para um incontável
número de almas.
Obviamente, a menos que haja uma
milagrosa mudança nos atuais ventos eclesiásticos, o dever de combater os erros
Carismáticos deve permanecer ao nível do clero ortodoxo e dos leigos. A
defesa baseada na Apologética deve se desenvolver em três níveis:
- Um Católico deve estudar para
conhecer melhor sua Fé, especialmente em áreas atacadas pelos Carismáticos e
desenvolver uma piedade litúrgica forte e objetiva baseada em sua Fé e não na
experiência de consolações.
- Um Católico deve educadamente
recusar-se a aceitar qualquer tipo de discussão a respeito dos assim-chamados
"carismas" presentes na Igreja de hoje como sendo algo ortodoxo.
Verdadeiras discussões podem ser levadas a frente apenas baseadas em princípios
igualmente compartilhados e enganos ou prevaricação em pontos decisivos não
levarão a nenhum avanço genuino para a verdade. O fracasso do tão propalado
Diálogo entre Católicos e Protestantes demonstra isso bem claramente.
- Um Católico deve saber e deve ser
capaz de apresentar em simples termos, o verdadeiro ensinamento da Igreja a
respeito dos Sacramentos, graça, livre-arbírtrio, a natureza e a missão da
Igreja e os carismas. Aqueles Carismáticos que se consideram ortodoxos e
realmente estão em busca da verdade, saberão ouvir. Quanto àqueles que se
recusam a ouvir, as Palavras de Santo Agostinho mostram-se bem apropriadas a
esse ponto:
Porque a verdade
atrai o ódio? porque o Seu Servo é tratado como inimigo por aqueles a quem Ele
prega a verdade? Simplesmente porque a verdade é amada de tal modo que aqueles
que amam outras coisas, querem que essas coisas sejam a verdade e, precisamente
porque eles não desejam ser enganados são reticentes em se deixarem convencer
que estão enganados (Santo Agostinho - Confissões).
SUMÁRIO:
O Movimento Carismático Católico é uma
árvore de frutos venenosos, plantada pelo demônio entre os protestantes e
transplantada para dentro da Igreja pelos ventos do Concílio Vaticano II. O
delírio das autoridades Eclesiásticas contemporâneas tem regado e alimentado
essa árvore e a falta de uma adequada formação doutrinária Católica entre
Sacerdotes e leigos, tem aplainado e fertilizado o solo na qual ela cresce
vigorosamente. Muitas pessoas já comeram de seus frutos mortais no princípio, e
agora a juventude vulnerável, tão sedenta por um profundo conhecimento de Deus
e pelo senso do sobrenatural que lhes foi negado pela Igreja
Conciliar corre um grande risco. Uma geração de filhos da Igreja está
crescendo convencida de que o pensamento Carismático não apenas é perfeitamente
normal, como até superior ao tradicional pensamento Católico.
Esses frutos são verdadeiramente uma
semente de destruição, e certamente um dos mais perigosos frutos oferecidos ao
homem desde aquele primeiro fruto oferecido a Eva pela mesma serpente. Que
possa a Nova Eva, a Bem-Aventurada Virgem Maria a quem foi dado o poder de
esmagar a cabeça da serpente, interceder pela a Igreja e libertá-la do perigo
em que ela se encontra por causa de novidades como a RCC.
Autor: Scott Gardner, do Seminário São
Tomás de Aquino, Winona, Minnesota-EUA- Publicado pela THE ANGELUS PRESS -
Março de 1998.
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