“um diálogo entre a moda e arte medieval, para examinar o envolvimento contínuo e atual da moda com as práticas devocionais e a Tradição do Catolicismo”
Ítalo
Nóbrega
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Fantasia de mitra episcopal usada por uma conhecida cantora pop |
A leitura
de uma notícia, algumas semanas atrás, trouxe-me ao espírito cenas
características da Revolução Francesa. Quais cenas? As que se passaram em 10 de
novembro de 1793, dia do culto à Liberdade e à Razão. Permita-me o leitor
descrevê-las um pouco.
Os fatos ocorreram após a queda da monarquia francesa e as
execuções de Luís XVI e Maria Antonieta. Nesse período, enquanto crescia a
agitação antirreligiosa, Herbert e Chaumette — dois revolucionários líderes da
Comuna de Paris — e seus companheiros resolveram dar um passo a mais e realizar
um ato sacrílego no interior da Catedral de Notre-Dame. No local onde antes
havia uma imagem de Nossa Senhora, colocaram a estátua da Liberdade, em cuja
honra cantaram hinos e ouviram marchas tocadas pela Guarda Nacional.
Horas depois, a notícia do ato abominável chegou aos ouvidos da
Convenção. Nada melhor achou esta para fazer do que repetir a profanação,
elevando-a porém à categoria de evento público.
Uma macabra procissão introduziu na Catedral uma atriz da Ópera de
Paris, que representava a “razão”. Puseram-na sobre o altar do antigo e
venerável Templo, e ali ela foi adorada. Além de canções obscenas em sua honra,
dançaram La Carmagnole.
Em seguida se produziram cenas de orgias nas naves laterais da
catedral, tudo ao som de canções carregadas de blasfêmias e injúrias à Igreja
Católica, aos padres e religiosas expulsos de Paris. A festa terminou com uma
fogueira, na qual foram queimados livros de piedade, imagens sagradas,
confessionários e outros objetos do culto divino.
O exemplo de Paris foi imitado em toda a França, repetindo-se as
mesmas cenas de profanação, sacrilégios, queima de objetos religiosos,
relíquias etc., patenteando ódio explícito e profundo a Deus e à sua Igreja.
A esta altura o leitor deve estar se perguntando qual teria sido a
notícia capaz de evocar tais horrores. Foi a do evento Met Gala 2018,
realizado em 12 de maio último no Museu Metropolitano de Nova York, sob o
título blasfemo “Corpos angélicos: moda e a imaginação católica”.
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O Cardeal Gianfranco Ravasi, ministro da Cultura do Vaticano, ao lado da estilista Donatella Versace e da editora-chefe da revista Vogue, Anna Wintour, em Roma, no dia 26 de fevereiro de 2018. Representando o Vaticano, o cardeal emprestou peças sacras históricas para serem exibidas na “Gala 2018 do MET”, produzindo uma grande e compreensível reação nos meios católicos conservadores no mundo. |
Devo adiantar uma
diferença entre esses fatos atuais e as profanações da Revolução Francesa:
enquanto estas foram perpetradas por revolucionários anticatólicos que
invadiram o recinto sagrado da catedral, em Nova York os objetos sagrados para
profanações foram cedidos por altas autoridades eclesiásticas. Vestes papais e
acessórios da sacristia da Capela Sistina, muitos dos quais nunca foram vistos
fora do Vaticano, serviram de elementos básicos da exposição. Havia cerca de 40
vestes litúrgicas da sacristia da Capela Sistina, cedidas pelo Vaticano.
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Túnica com as cores do movimento LGBT usada por uma das participantes |
O objetivo desse evento —
promovido anualmente desde 1995, pelo Instituto de Vestuário do Museu e
utilizado por este para arrecadar fundos — é celebrar a moda. A edição Met
Gala 2018 decidiu expor “um diálogo entre a moda e arte
medieval, para examinar o envolvimento contínuo e atual da moda com as práticas
devocionais e a Tradição do Catolicismo”.1 Desfilavam
modelos em cujas roupas estavam estampadas “imagens da Santíssima
Virgem, do Menino Jesus, [paramentos do] Vigário de Cristo”. Incluía
também “uma máscara de bondage de couro envolta em contas de rosário,
um bustier de jóias com suas gemas estrategicamente colocadas e um vestido
fúcsia inspirado em vestes de cardeais, com um decote que deixou os seios do
manequim na maior parte expostos”.2
Uma exposição de vestidos femininos foi modelada segundo roupas
clericais usadas por padres e bispos. Um vestido mostrava Adão e Eva nus, com
um top transparente revelador. Um vestido de mulher foi modelado segundo o
hábito religioso de uma freira, com um rosário simulado como parte do design.
Havia também uma roupa de feminina composta por uma saia preta curta, blusa sem
mangas nem ombros, apresentando um ícone de Nossa Senhora com o Menino Jesus.3
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Muitas cruzes, e nem sequer um “Coração atravessado por sete espadas”, símbolo de Nossa Senhora das Dores, foram poupados na noite blasfema e sacrílega. |
Ser imoral e provocador eram os objetivos
reais da exposição. Um de seus organizadores, Andrew Bolton, afirmou, segundo
o Life Site News, que “o design certamente gravita em
torno de imagens religiosas para provocação”.4 Se
já é grave exibir paramentos litúrgicos e objetos sagrados em um desfile de
moda, mais grave ainda é quando eles são utilizados para despertar o apetite
sexual. Participaram do evento “celebridades escandalosamente
vestidas”,5 e as modelos que desfilavam
se vestiam de modo gritantemente depravado.
O que mais consterna a nós, católicos, é considerar que tal
exposição ocorreu com o ostensivo apoio do cardeal-arcebispo de Nova York,
Timothy Dolan, que esteve presente na abertura da exposição e declarou: “No
imaginário católico, a verdade, a bondade e a beleza de Deus são refletidas em
todo o lugar, mesmo na moda. […] É por isso que amamos e servimos os pobres
para fazer o bem, e é por isso que gostamos de arte, poesia, música, literatura,
e até mesmo de moda, para agradecer a Deus pelo presente da beleza. O mundo é
atingido por sua glória e presença. É por isso que estou aqui. É por isso que a
Igreja está aqui.”6
Também o escandaloso sacerdote jesuíta norte-americano James
Martin, ferrenho defensor do lobby homossexual, pronunciou-se a respeito do
evento: “Eu amo o seu traje” e “Eu amo que você se
vestiu como um padre sensual.”7
Cabe lembrar — e lamentar — que tais profanações só ocorreram
porque o Vaticano cedeu os paramentos, muitos dos quais históricos, verdadeiras
relíquias. Não cuidaram as autoridades de indagar sobre o uso que seria feito
deles? Se sabiam, como explicar que o tenham autorizado? Tampouco nos consta a
existência de veementes manifestações de desacordo do clero com tais blasfêmias
e sacrilégios. Terrível omissão diante de algo tão grave.
É inaceitável ver as santíssimas imagens de Jesus e de Maria
usadas de forma vil e indecente. Quanto nos entristece assistir à conspurcação
de tantas relíquias.
A permissão para tamanha ofensa a Deus, à Santíssima Virgem e à
Igreja Católica nos coloca diante destas interrogações: Pastores de Cristo,
aonde ides? Para qual direção estais conduzindo a Santa Igreja, Esposa de
Cristo? Por que não A defendeis, como é vosso dever e vossa obrigação?
____________
Notas:
4 - Idem
5 - Idem
6 - Idem
7 - Idem
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