“Peçam-nos o sacrifício de nossos
cômodos; peçam-nos o sacrifício de nossas faculdades, peçam-nos o sacrifício de
nossa saúde; peçam-nos o sangue de nossas veias... Mas pelo santo amor de Deus
não nos peçam o sacrifício de nossa consciência, porque nunca o faremos. Sic
nos Deus adjuvet. Nunca!”
D. Vital, bispo de Olinda
Nenhum lutador mais impetuoso, mais
tenaz e mais capaz que D. Vital, bispo de Olinda, e a impressão que este me
deixou foi extraordinária"
Machado de Assis
Nota: O livro do qual foram tirados os
dados abaixo chama-se: D. Vital -- Um Grande Brasileiro. Seu autor é Frei Felix
de Olivola O.F.M. -- Edição da Imprensa Universitária, Recife, 1967. Não é bem
escrito, nem bem ordenado. Vale apenas pelos dados que tem.
A
infiltração maçônica no Brasil e suas atividades contra a Igreja sempre deram
aos observadores a impressão de que os maçons daqui seriam menos rancorosos que
os da Europa. De fato, os maçons do Brasil são, como os brasileiros em geral,
menos enérgicos, mas não menos rancorosos que os da França. Nem por isso deixam
de odiar a Igreja e trabalhar contra ela. O episódio de D. Vital é prova disso.
D.
Vital parece ter sido realmente um homem de valor e é uma beleza contemplar o
olha que mostra o retrato de capa do livro abaixo referido em que colhemos os
dados aqui apresentados. Seus olhos mostram uma tal mansidão e uma tal força,
que ninguém pode deixar de se impressionar.
D.
Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira nasceu em Pernambuco, num engenho de
açúcar, a 27 de novembro de 1844. Seu nome civil foi Antônio Júnior. Estudou no
Seminário de Olinda, primeiro, e depois em S. Sulpice em Paris, onde resolveu
ser capuchinho (ramo franciscano) sendo recebido no Seminário de Versalhes onde
os seus superiores, procurando prová-lo, trataram-no com tal aspereza e tanta
falta de atenção que ele pegou uma doença de garganta de que nunca mais se pode
curar completamente e da qual provavelmente morreu. No dia em que os religiosos
da comunidade franciscana decidiram aceitar (contra a oposição do Pe. Mestre) a
sua profissão definitiva, este Padre Mestre disse-lhe: "Você nunca
prestará para coisa alguma. Não poderá ser sacerdote e terá muito que sofrer".
Tirando a última parte, que se mostrou verdadeira (mas parece que para o bem de
D. Vital), no mais não apenas falhou na sua "profecia" como mostrou
uma dureza de coração incrível contra um pobre seminarista franciscano que
nunca teve nenhuma rebeldia, nenhuma má vontade, nenhuma queixa. Àquela palavra
dura do seu Padre Mestre, ele respondeu: "Não pedi a entrada em religião
para me tornar notável em trabalhos além dos que Deus me destina. Nem mesmo a
glória do sacerdócio procurei. Vim para glória de Deus e salvação de minha
alma. Se não puder ser bom padre, pedirei para ficar como simples leigo e que
Nosso Senhor tenha pena de mim até o fim". Apesar de tudo, quando a
comunidade indagou o Pe. Mestre qual o conceito que fazia do candidato à
profissão definitiva, ele declarou que o comportamento de D. Vital tinha sido
sempre irrepreensível.
D.
Vital foi depois para o convento franciscano de Perpignan e mais tarde para o
Seminário de Toulouse onde foi ordenado em 2 de Agosto de 1868. No fim deste
mesmo ano de 1868 voltou para o Brasil onde foi mandado para ensinar no
Convento dos franciscanos em São Paulo. Em março de 1872 foi sagrado bispo por
indicação do Governo do Império do Brasil (que então tinha tais privilégios) e
aceitação do Papa Pio IX que hesitou muito porque D. Vital tinha apenas 26
anos! Mas como, em face da demora de Roma em aprovar seu nome, D. Vital, a
conselho do Núncio, escrevera a Pio IX pedindo para ser dispensado do cargo (o
que realmente desejava para manter-se como um simples religioso), o Papa
percebeu todo o seu desprendimento e resolveu nomeá-lo. Foi nomeado bispo de Olinda
e Recife e tomou posse de seu cargo em 24 de Maio de 1872.
A
luta entre a Igreja e a Maçonaria no Brasil tornou-se acesa pouco depois, em
virtude de um incidente ocorrido no Rio de Janeiro. Naquela época e apesar das
diversas condenações da maçonaria pelos Papas, havia muitos padres que
pertenciam a lojas maçônicas. Também muitos homens notáveis da época eram
maçons, alguns por simples ignorância, outros, embora tendo seus nomes ligados
à história do Brasil, por convicções maçônicas e mau espírito contra a Igreja.
Em março de 1872, pouco antes de D. Vital ser eleito bispo, houve uma festa da
maçonaria que comemorava a Lei do Ventre Livre, obtida pelo então principal
Ministro do Imperador, Presidente do Conselho (chefe de governo), o Visconde de
Rio Branco, pai do Barão do Rio Branco, homem realmente capaz, de notável
inteligência e também grau 33 da loja maçônica da Rua do Lavradio. Um dos
oradores da festa foi um padre, chamado Almeida Martins. O bispo do Rio, D.
Pedro Maria de Lacerda, escandalizado, chamou o Padre Martins em particular
para ponderar-lhe que ele não podia ser padre e maçom ao mesmo tempo. O Padre
recusou atender a qualquer ponderação. O Bispo suspendeu-o de ordens. A
maçonaria considerou-se atingida e fez uma grande assembléia que foi presidida
pelo Chefe do governo, o Visconde do Rio Branco. Decidiram então iniciar uma
grande campanha contra a Igreja e a essa campanha uniram-se os maçons de uma
ala dissidente. Coletaram fundos e começaram os ataques. Fundaram inúmeros
jornais para a campanha: no Rio, o jornal "A Família"; em São Paulo,
o "Correio Paulistano"; em Porto Alegre, "O Maçom"; no
Pará, o "Pelicano"; no Ceará, "A Fraternidade"; no Rio
Grande do Norte, "A Luz"; em Alagoas, "O Labarum" e em
Recife, dois, "A Família Universal" e "A Verdade".
Assim,
quando D. Vital chegou ao Recife, já encontrou em atividade os jornais maçons
que todos os dias procuravam atingi-lo com sarcasmos e injúrias. O bispo não
respondia, é claro. A 27 de Julho começaram a provocá-lo. Primeiro anunciaram que
iria haver uma missa em ação de graças numa loja. Diante da proibição sigilosa
do bispo, nenhum padre ousou celebrá-la. Depois, pediram missas por maçons
falecidos sem arrependimento e, é claro, nenhum padre aceitou. Finalmente,
diante do silêncio do bispo que não respondia as provocações, nos dias
22,23,24,25 e 26 de Outubro, o jornal "A Verdade" publicou uma série
de artigos contra a Santíssima Eucaristia, a Virgindade e a Maternidade divina
de Nossa Senhora e a Imaculada Conceição. E para atingir melhor o alvo, uma
Irmandade religiosa (várias estavam infiltradas de maçons) elegeu o autor
daqueles artigos como seu presidente. Finalmente, a 21 de Novembro, o bispo D.
Vital publica um protesto contra os ataques aos nossos dogmas exortando a
população a protestar também. Mais tarde fez um sermão público na catedral,
repetindo o protesto e acusando a maçonaria. O jornal, para zombar dele,
publica uma lista de padres e cônegos filiados à maçonaria local. O bispo
chama-os um por um, em particular, e obtém de todos que se retratem
publicamente e se desliguem das lojas, exceto dois. O jornal publica então os
nomes de presidentes, secretários e tesoureiros de irmandades que também
pertenciam às lojas. O bispo faz o mesmo, mas aqui esbarra na obstinação de
várias irmandades que se recusam a acatá-lo. Só duas aceitaram e as demais ou
recusaram ou nem foram à entrevista. D. Vital procurou obter com amigos comuns
que elas, as Irmandades, se submetessem à sua autoridade. Não conseguiu nada.
Resolveu então mandar um primeiro aviso canônico aos vigários assistentes das
irmandades para que exortassem os irmãos maçons a renunciarem à maçonaria ou se
demitirem. As irmandades recusaram aceitar isso. Mais dois avisos se seguem e
são recusados. O bispo lança então um interdito sobre as irmandades Santo
Antônio e Espírito Santo, impedindo a realização de missas ou quaisquer
religiosos nas suas capelas. Os maçons começaram a promover tumultos de rua.
Primeiro fecharam capelas e igrejas, roubando chaves de sacrários ou de arquivos.
D. Vital publica uma "Carta Pastoral contra as ciladas da Maçonaria".
Nela, além de historiar as atividades perniciosas da organização, assinala que
não há diferença entre a maçonaria no Brasil e na Europa, que todas obedecem
aos mesmos planos. Proíbe a leitura do jornal "A Verdade" e excomunga
os maçons que não abjurarem.
Enquanto
isso, também o bispo de Belém do Pará, D. Antônio Macedo Costa, combate a
maçonaria. As notícias a respeito, chegando ao Rio, provocaram enorme abalo. O
Governo reuniu-se, ao saber que irmandades haviam sido interditadas e também
por causa da Carta Pastoral. O próprio Governo, isto é, certamente o seu Chefe,
Visconde do Rio Branco, e seus ajudantes maçons, mandaram dizer às irmandades
que deviam apelar para o Governo Central com um, então vigente, "recurso à
Coroa", apesar de a lei brasileira de então dizer que em causas
estritamente religiosas os bispos estavam submetidos ao Papa e só ao Papa
podiam ser apresentados recursos contra sua decisões. Não obstante, uma das
irmandades interditadas apresentou o recurso ao governo. O próprio Imperador D.
Pedro II, cuja mentalidade era liberal, não gostou da atitude do bispo que, em
carta a um Conselheiro de Estado, apontou a ilegalidade do recurso à Coroa e
declarou com simplicidade que havia cumprido seu dever de bispo e só estava
submetido ao Papa em matéria religiosa. Os historiadores acham que, sem apoio
do Imperador, o Visconde do Rio Branco teria recuado. mas, com esse apoio, foi
em frente. Antes de publicar sua Carta Pastoral, Dom Vital havia escrito ao
Papa indagando o que devia fazer diante da situação que descrevia. O Papa
respondeu-lhe com um "Breve" datado de 29 de maio, aprovando os atos
de D. Vital e dando-lhe amplas faculdades para enfrentar a situação. Diante do
"recurso à Coroa" da Irmandade, o Governo mandou a D. Vital um aviso
com ordem de levantar o interdito sob pena de ser processado. O bispo responde
com toda a calma e, depois de apresentar sua homenagens ao Imperador e seu
respeito pelo Governo, acrescenta que se deve obedecer antes a Deus que aos
homens e que recebia, no mesmo dia, do Governo, o aviso para suspender o
interdito, e, do Papa, seu Breve aprovando seus atos. Assim, como bispo, não
podia atender ao aviso. Isso, explicou, não era desobediência, mas dever de
consciência. Em seguida o bispo suspendeu de ordens o Deão do cabido da diocese
que era maçom e se recusava a deixar a maçonaria. Os maçons então fizeram uma
manifestação pública de apoio ao Deão. Depois saíram para invadir, depredar e
saquear a capela do Colégio dos Jesuítas, que estava cheia de fiéis que
comemoravam o mês de Maio. Quebraram o púlpito, os confessionários, os quadros,
imagens, espancando os fiéis, roubando objetos de valor. Empastelaram em
seguida os jornais católicos, "O Católico" e "A União"
agredindo os empregados. Agrediram os jesuítas, alguns dos quais foram
apunhalados e um dos quais morreu mais tarde. Depois arrombaram o Colégio Santa
Dorotéia e em seguida foram para o palácio do Bispo. O Bispo, avisado, mandou
iluminar todo o palácio e se apresentou diante da quadrilha que estava no
portão. Eles não ousaram invadir o palácio e acabaram se retirando. Só então
chegou a polícia. D. Vital publicou um Breve, "Quamquam dolores"
comunicando aos demais bispos do Brasil o que ocorria e recebendo deles todos
integral apoio, sobretudo do bispo do Rio de janeiro e do bispo de Belém do
Pará. O Governo manda um aviso à Irmandade que havia feito seu recurso e
declara ele, o Governo, levantado o interdito, o que é evidentemente ridículo,
já que nenhum padre aceitaria isso. O Governou suspendeu o pagamento dos
ordenados dos padres, que, naquele tempo, eram sustentados com recursos
públicos e também dos padres professores do Seminário. Finalmente o Governo
mandou processar D. Vital por desobediência e desacato. Veio a ordem de prender
o bispo e mandá-lo para o Rio de Janeiro para ser julgado pelo Supremo
Tribunal. Foram prendê-lo no palácio, em Recife, um Juiz, o Chefe de Polícia e
um Coronel da polícia. Quando o Juiz entrou no palácio e bateu na porta do
quarto do bispo, este saiu totalmente paramentado, com mitra e báculo, e assim
foi preso. Mas quando chegaram à rua, os policiais viram que a multidão
engrossava dando vivas ao bispo e ficaram com medo. Meteram-se num carro
e levaram-no para o Arsenal de Marinha onde ficou preso à espera do navio que
devia levá-lo ao Rio. Em Salvador, trocaram-no de navio para que chegasse ao
Rio sem ser esperado. E no Rio foi logo encarcerado no Arsenal, embora com todo
o respeito e conforto. Deve-se dizer que, em toda parte, no Recife, em
Salvador, no Rio, multiplicavam-se as demonstrações de apreço, homenagem e
protestos de outros bispos, do clero, do povo. Aí o Governo encarregou o
embaixador do Brasil em Londres, Marquês de Penedo, de tentar obter do Papa um
pronunciamento contra o bispo. O embaixador, hábil e insinuante, contou à sua
maneira os fatos e conseguiu que o Secretário de Estado, Cardeal Antonelli
(cujo comportamento futuro iria mostrar-se muito estranho) escrevesse com
autorização do Papa uma carta a Dom Vital, "Gesta tua non laudantur",
em que, embora louvando o bispo, censura-o como tendo pressa em executar, com
excesso de zelo, o que o Papa havia escrito antes, e manda que ele levante o
interdito para "depois" procurar eliminar os maçons das irmandades. O
Barão e o Governo ficaram satisfeitíssimos com o resultado da missão e logo
noticiaram o fato, mas D. Vital, perplexo, guardou a carta no bolso e escreveu
ao Papa pedindo explicações, apresentando os fatos e mostrando os
inconvenientes do que lhe estava ordenado, especialmente mandando dizer ao Papa
(que até então não sabia) que ele, D. Vital, estava preso. E, de fato, logo
veio a resposta do Papa mandando destruir a carta do Cardeal Antonelli.
Enquanto isso, o Governo frustrou-se porque queria que D. Vital publicasse a
carta recebida antes e este, que não era bobo, guardou-a, é claro. Afinal, veio
o processo. Intimado a se defender em oito dias, o bispo respondeu apenas com
esta frase: "'Jesus autem tacebat'. Assinado em minha prisão no Arsenal de
Marinha do Rio de Janeiro. Frei Vital." Foi julgado em sessão solene do
Supremo Tribunal, cheias as galerias. Dois Senadores católicos o defenderam,
Zacarias de Goes e Candido Mendes de Almeida (bisavô desta triste figura de
mesmo nome). Mas toda a defesa foi inútil, já que a maçonaria governava. D.
Vital foi condenado a 4 anos de prisão com trabalhos forçados. Há uma nota
interessante: com base naquela lei que falava em "recurso à Coroa",
D. Vital foi a 163a. pessoa processada, um dos dois únicos
condenados e o único que cumpriu pena. Também o bispo de Belém foi condenado à
pena de prisão. O bispo foi levado à Fortaleza de S. João (na Urca) onde entrou
em 21 de Março de 1874 para cumprir a pena que, antes de começar, já o
Imperador havia convertido em prisão simples, sem os trabalhos forçados, por
instâncias da Princesa Isabel, que admirava Dom Vital. D. Macedo Costa, por sua
vez, foi encarcerado na Ilha das Cobras. Enquanto cumpriam suas penas, o
Governo perseguia os dirigentes católicos do Recife, encarcerando vários outros
e expulsando de Pernambuco os Jesuítas. Mesmo preso, D. Vital escreveu e mandou
publicar uma carta, "A Maçonaria e os Jesuítas", com 139 páginas, em
que defendia a estes e atacava aquela. Na fortaleza, sucediam-se as visitas de
multidões de fiéis e clero, inclusive bispos estrangeiros. Inúmeras petições ao
Imperador, com milhares de assinaturas, pedindo a libertação dos bispos. A
própria Princesa Isabel vai à fortaleza visitá-lo e, com a ajuda dela, D. Vital
pôde chamar à fortaleza os seminaristas de Recife que já estavam prontos para
ordená-los ali mesmo. O Papa começou a protestar e escreveu ao Imperador do
Brasil pedindo que libertasse os bispos, sem deixar de afirmar que eles se
conduziram como deviam fazê-lo. O Imperador parece que não ligou muita
importância à carta do Papa, mas o Duque de Caxias propôs ao Imperador uma
anistia. O Imperador hesitava. Por razões políticas, caiu o gabinete do
Visconde do Rio Branco e o Duque de Caxias foi chamado para sucedê-lo. Ele
aceitou com a condição de conceder anistia aos bispos. Finalmente, o Imperador
teve que aceitar e, em 17 de Setembro de 1875, decreta a anistia que liberta D.
Vital e os demais presos. Logo em Outubro D. Vital vai a Roma onde é recebido
paternalmente e com alegria por Pio IX (o Papa, comovido, só o chamava de
"Mio Caro Olinda", "Mio Caro Olinda") mas, ao visitar o
Cardeal Antonelli, em seguida, foi recebido com as seguintes palavras: "Eu
não havia escrito a V. Excia. mandando levantar o interdito e publicar minha
carta?..." D. Macedo Soares, aliás, dá notícia de que a presença de D.
Vital em Roma causara sinais de contrariedade em "certas rodas". D.
Vital respondeu pedindo as instruções precisas e Antonelli as deu. No novo
encontro do dia seguinte com Pio IX, D. Vital mostrou ao Papa o que o Cardeal
Antonelli lhe havia dado e o assombro do Papa foi enorme. Pio IX pede um
relatório a D. Vital e este lho entrega dias depois, mostrando que a carta de
D. Antonelli representava desdizer os Breves anteriores. Pio IX reúne uma
comissão de Cardeais e teólogos aos quais D. Vital fez uma exposição escrita e
outra oral. Pelo jeito, comparecera gente hostil. A impressão que nos fica é a
de que o Cardeal Antonelli, se não era maçom, era pelo menos liberal e
antipatizava com D. Vital. Finalmente o Papa beija Dom Vital, manifesta-lhe
apoio e publica a Encíclica "Exortae" em que condenava mais uma vez a
Maçonaria e apoiava os bispos brasileiros mas, ao mesmo tempo, o Cardeal
Antonelli, autorizado pelo Papa, telegrafou ao Núncio no Brasil mandando suspender
os interditos das Irmandades sem a exigência de prévia eliminação dos maçons.
São dessas coisas... Em todo caso, houve a reiteração da condenação dos maçons.
Bem... Há que se conviver com isso, pelo menos naquele tempo... Afinal, hoje
seria pior.
D.
Vital visita diversos lugares e amigos em França e na Itália. Volta a Recife,
onde procura recompor as instituições fechadas, especialmente o Seminário e
recuperar os recursos negados pelo Governo. Afinal, consegue os recursos e
reabre o Seminário. Faz visitas pastorais, mas sua saúde, sempre precária,
abate-o e ele tem de voltar à Europa para tratar-se, ajudado pela Princesa
Isabel. Da França escreve ao Papa, pedindo que aceitasse sua renúncia. O Papa
pede-lhe que espere e se trate. No Brasil subia ao Governo um dos mais
rancorosos maçons, Saldanha Marinho. Pio IX morre em fevereiro de 1878 e pouco
depois morre D. Vital, aos 33 anos de idade, em Paris. Seu corpo foi enterrado
na cripta dos franciscanos em Versalhes, de onde, mais tarde, foi trasladado para
o Recife. Está enterrado na Basílica de N. Sra. da Penha, em Recife.
Termina
um pouco melancolicamente esta bela página de nossa história católica, mas não
é culpa dele, D. Vital, e nem sequer dos católicos brasileiros, o que há de
melancolia nela. Exceto num ponto: falta dizer que hoje, para infinita vergonha
dos católicos brasileiros, mancha a diocese de Olinda e Recife um indivíduo
(será ainda bispo?), Dom Helder Camara, exemplar bem representativo daqueles
eclesiásticos brasileiros cujo vazio interior Gustavo Corção havia notado,
conforme artigo que publicamos em nosso número 148-149. Estes eclesiásticos,
como pretexto do que chamam "opção pelos pobres", não escondem e
todos os dias, ao contrário, publicam suas afinidades e simpatias com o pior,
mais grotesco e estúpido subproduto da maçonaria, que é o comunismo,
intrinsecamente perverso, assim condenado explicitamente por Pio XI.
Encontraram no comunismo, parece, uma terrível solução para o vazio espiritual
em que viviam. Ali, na simpatia pelos agitadores e subversivos, no ativismo
temporal que não tem tempo para os "moralismos" puderam, finalmente,
achar sentido para suas vidas. E se isto que dizemos parece excessivo, lembro
que são eles mesmos que no-lo dizem todos os dias.
(Permanência, Novembro/Dezembro de
1981)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Antes de postar seu comentário sobre a postagem, leia: Todo comentário é moderado e deverá ter o nome do comentador. Comentário que não tenha a identificação do autor (anônimo), ou sua origem via link e ainda que não tenha o nome do emitente no corpo do texto, bem como qualquer tipo de identificação, poderá ser publicado se julgar pertinente o assunto. Como também poderá não ser publicado, mesmo com as identificações acima tratadas, caso o assunto for julga impertinente ou irrelevante ao assunto. Todo e qualquer comentário só será publicado se não ferir nenhuma das diretrizes do blog, o qual reserva o direito de publicar ou não qualquer comentário, bem como de excluí-los futuramente. Comentários ofensivos contra a Santa Madre Igreja não serão aceitos. Comentários de hereges, de pessoas que se dizem ateus, infiéis, de comunistas só serão aceitos se estiverem buscando a conversão e a fuga do erro. De indivíduos que defendem doutrinas contra a Verdade revelada, contra a moral católica, de apoio a grupos ou ideias que contrários aos ensinamentos da Igreja, ao catecismo do Concílio de Trento, ferem, denigrem, agridem, cometem sacrilégios a Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, a Mãe de Deus, seus Anjos, Santos, ao Papa, ao clero, as instituições católicas, a Tradição da Igreja, também não serão aceitos. Apoio a indivíduos contrários a tudo isso, incluindo ao clero modernista, só será publicado se tiver uma coerência e não for qualificado como ofensivo, propagador do modernismo, do sedevacantismo, do protestantismo, das ideologias socialistas, comunistas e modernistas, da maçonaria e do maçonismo, bem como qualquer outro tópico julgado impróprio, inoportuno, imoral, etc. Alguns comentários podem ser respondidos via e-mail, postagem de resposta no blog, resposta do próprio comentário ou simplesmente não respondido. Reservo o direito de publicar, não publicar e excluir os comentários que julgar pertinente. Para mensagens particulares, dúvidas, sugestões, inclusive de publicações, elogios e reclamações, pode ser usado o quadro CONTATO no corpo superior do blog versão web. Obrigado! Adm do blog.