"Guerra a Deus, ao seu Cristo
e à sua Igreja! Guerra aos reis e aos poderes humanos que não estão conosco!"
Aviso do Editor
Este opúsculo foi escrito em 1867. Desde então, as coisas se
precipitaram, fez-se a luz e a seita maçônica tirou a máscara. Hoje ela
confessa às claras que é aquilo que é – uma organização anticristã da
Revolução.
É inimaginável a raiva que esta obrinha suscitou e ainda suscita; essa
reação é perfeitamente compreensível e, melhor que qualquer raciocínio,
comprova a temível verdade das revelações que aqui se dão a público.
Muitos maçons admitiram esse fato. “O autor deste livro está bem informado”,
dizia entre outros, em 1868, um velho maçom de Tours. Um dos cabecilhas mais
fanáticos da Loja de Marselha, que retornou à prática da Religião, declarava
“que uma das coisas que mais o impressionou foi o livrinho de Mons. de Ségur
sobre a maçonaria”. E acrescentava: “Eu o li pensando que encontraria terríveis
exageros; mas, ao contrário, achei-o ainda tão aquém da verdade, que me deu
medo, de modo que senti necessidade de sair da minha abjeta situação”.
Com a ajuda de Deus, este opúsculo impediu que muitas almas fossem
seduzidas, e abriu os olhos de uns pobres coitados que se deixaram enredar pelo
Grande Oriente. Em Paris, em uma grande escola noturna, freqüentada por
operários e moços, em um só mês, por conta da leitura de algumas páginas, mais de
cinqüenta decidiram deixar de imediato as Lojas às quais acabavam de
afiliar-se.
Desde o seu aparecimento, esta brochura se esgotou com muita rapidez: em
três meses nove edições, ou seja, cerca de trinta mil exemplares desapareceram;
em menos de cinco anos trinta e seis edições, ou seja, cerca de cento e vinte
mil exemplares – e as edições continuam a sair.
Em 1869, uma pessoa às ocultas preveniu o autor de que as Lojas Secretas
o haviam condenado à morte. “O livrinho do Sr. causou um mal terrível à maçonaria,
lhe disse o desconhecido que o viera prevenir; juraram-no de morte. Fique
atento, pois pode acontecer amanhã ou depois de amanhã”. Então, corrigindo-se:
“Amanhã, repetia ele; talvez hoje. O Sr. fez bem a alguém da minha família,
acrescentou com certa emoção; por isso, venho alertá-lo. Mas não queira saber
mais, pois quem estaria perdido seria eu, e logo dariam um jeito em mim”. –
Prova evidente de que a maçonaria é, como ela não pára de dizer, uma sociedade beneficente!...
Os Maçons, de Mons. de Ségur, saiu em várias
traduções italianas; traduziram-no também na Alemanha, na Inglaterra, na
Espanha, nos Estados Unidos, no México, no Peru, etc.
I
Os maçons
Neste opúsculo, não
trato da maçonaria pela perspectiva política nem mesmo social; o meu único objetivo
é esclarecer a sua periculosidade pela perspectiva moral e religiosa.
Uma temível
propaganda, que cresce dia após dia, cobrindo como de uma imensa rede, não só a
Europa, mas o mundo inteiro, torna a vigilância e a luta cada vez mais
necessárias. Quase já não há dioceses onde os maçons não estejam organizados.
De acordo com os seus últimos relatórios, eles são mais de oito milhões e contam com mais de cinco mil Lojas, afora as Lojas Secretas. Na
França, o número de maçons já ultrapassa os cento e sessenta mil!
A melhor maneira de
preservar as pessoas de bem é lhes dar conhecimento sobre a maçonaria. Ofereço
este opúsculo de vulgarização aos padres e aos católicos zelosos que levam a
peito a santa causa da Igreja e a conversão à fé. Possa ele ajudá-los a
preservar do fogo muitas pobres borboletas que voam até a vela porque não sabem
que queima!
1. Do nome
franco-maçom (ou pedreiro-livre)
Em geral, os nomes
exprimem as coisas. Neste caso se trata bem do contrário: os franco-maçons ou
pedreiros-livres não são pedreiros (maçons) nem livres (francos). É escusado
demonstrar que não são pedreiros; e também
é claro que não são livres, porque a sua
sociedade se baseia em iniciações misteriosas que não devem ser reveladas a
ninguém, sob pena de morte.
Diante dos profanos, os maçons assumem a singela aparência de “uma
sociedade báquica e filantrópica, comedora, bebedora, cantante e beneficente”;
veremos se não há nada por trás disso. Eles são tão inocentes quanto são
pedreiros.
Se entendermos que o
maçom é um pedreiro livre, o véu da
associação já se levanta um pouco. É livre com que
liberdade? Livre em relação a quê? Livre de fazer o quê? Logo veremos quão terríveis
são esses mistérios.
Esse nome bizarro de
maçom ou pedreiro-livre lhes vem, ao que parece, da Escócia. Depois que o Papa
Clemente V e o rei de França Felipe o Belo com muita justiça aboliram, no
começo do século catorze, a ordem dos Templários[1], muitos desses infames se acoitaram na
Escócia, e lá formaram uma sociedade secreta, devotando ódio implacável e
eterna vingança ao papado e à realeza. Para melhor disfarçar as suas
conspirações, afiliaram-se a corporações de pedreiros, assumiram-lhes as
insígnias e o jargão, e mais tarde espalharam-se por toda a Europa, com os
favores do protestantismo. A organização definitiva da maçonaria parece datar
dos primeiros anos do século dezoito[2].
Para jogar fumaça nos
olhos do vulgo, alegam que [a origem da seita] remonta até ao Templo de
Salomão, até à Torre de Babel, até ao dilúvio, quiçá ao paraíso terrestre – e
muitos adeptos foram assaz ingênuos em acreditar em tais bobagens.
Que é, pois, a
maçonaria? Como se tornar um maçom? Que acontece nas Lojas? Que fazem as Lojas
Secretas que estão por trás das Lojas? A maçonaria é uma instituição louvável,
moral, religiosa ou ao menos beneficente? Não é em essência anticristã,
anticatólica? É poderosa e ativa? Que quer? É permitido alistar-se sob a sua
bandeira misteriosa?... Vamos em breve responder a essas graves questões[3], mas antes façamos uma distinção
importante.
II
Dois tipos de maçons
Existe a maçonaria
que se entrevê, e a maçonaria que não se vê de modo nenhum, e ambas compõem uma
só: “A maçonaria é una, o seu começo é único”, afirmava outrora certo Irmão Ragon, uma das instâncias mais críveis da
seita[4].
A maioria absoluta
dos maçons pertence à primeira. Entre os oito milhões de adeptos, “só há
quinhentos mil membros ativos”. Esta é a confissão oficial que escapou ao
jornal Le Monde Maçonnique, no número de agosto de 1866.
Esses quinhentos mil
são maçons em atividade nos serviços, os maçons de escol; mas ainda não são os
maçons das Lojas Secretas, os maçons celerados, que sabem o que fazem, que
querem deliberadamente destruir o cristianismo, a Igreja e a sociedade, e que,
com diferentes nomes, compõem as denominadas sociedades secretas. Esses são os
chefes da Revolução, que deseja, como todos sabem, sublevar o mundo e
substituir por toda a terra “os direitos e o reino de Deus pelos direitos do
homem”.
Os oito milhões de
homens iniciados na maçonaria exterior são quase todos incautos, que na maior
parte do tempo desconhecem para onde são levados. Servem-se dessa maçonaria
como de um depósito onde apanham recrutas, como se fossem boas vacas leiteiras
que podem conduzir à vontade, ou trompas que em todo lugar conclamam loas à
maçonaria, disseminam a sua influência, atraem-lhe simpatias... e dinheiro.
Por trás dessa
multidão que bebe, canta e fala de moral, os verdadeiros maçons escondem muito
bem escondidas todas as tramas.
Entre os maçons de
fora, pode haver e com certeza há pessoas corretas segundo o mundo, corações
generosos e devotados que, se conhecessem a Religião, seriam cristãs, mas cuja
ignorância os transvia por falsos caminhos. Deixam-se enganar com as aparências
de fraternidade e beneficência, e se indignam de boa-fé quando a Igreja
denuncia e exproba a ordem maçônica.
A maioria dos maçons
é composta de grandes e pequenos burgueses sem religião; são os homens probos,
bons tolos que se levam pela coleira, e que todos os chefes de seita farejam de
longe: essas pessoas ficam perturbadas quando chegam a descobrir a profundidade
do abismo que cavaram com as próprias mãos.
Ainda fazem parte da
maçonaria os ambiciosos, os advogados sem causa e sem consciência, os dúplices,
os revolucionários, os ideólogos que almejam o desconhecido, os filantropos das
causas da moda – enfim, e sobretudo, os homens de deleite, que só pedem que a
pretensa moralização e a salvação do gênero humano se faça comendo, bebendo e
cantando. Os militares abundam na maçonaria, bem como os donos de cabaré; só em
Paris, perto de dois mil cabareteiros freqüentam piedosamente as Lojas.
Concedendo embora que
existam aqui e ali pessoas de bem que estão perdidas nas fileiras da maçonaria,
seremos forçados a declarar, quando penetrarmos nos seus mistérios, que, se
ainda há alguém assim, já não haverá mais.
III
Qual é o segredo da forma de recrutamento da maçonaria
Pode-se dizer que
esse é o segredo do demônio. Escutem e julguem:
“O essencial,
escrevia um dos chefes ocultos, apelidado de 'Tigrinho', o essencial é afastar
o homem da sua família, e fazê-lo esquecer os costumes dela. Por causa da
inclinação do caráter, ele tem disposições excelentes para fugir dos cuidados
da casa e buscar os prazeres fáceis e os gozos proibidos. Ama as longas conversas
no café, a ociosidade dos espetáculos. Arraste-o, estimule-o, dê-lhe qualquer
importância, ensine-o com discrição a entediar-se das tarefas cotidianas, e por
esse adestramento – depois de separá-lo da mulher e dos filhos, depois de
mostrar quão penosos são todos os deveres – você lhe há de inculcar o desejo de
uma outra existência. O homem nasceu rebelde; atice esse desejo de rebelião até
ao ponto do incêndio, mas não deixe o incêndio principiar-se. Essa é a
preparação para a grande obra que você deve começar.
“Quando tiver
instilado em algumas almas o desgosto pela família e a religião (pois quase
sempre um acompanha o outro), deixe escapar certas palavras que provoquem o
desejo de afiliar-se à Loja mais próxima. Essa vaidade do cidadão ou do burguês
de enfeudar-se na maçonaria tem algo de tão banal e universal, que sempre me
admiro da estupidez humana. Espanto-me de não ver o mundo inteiro bater à porta
dos Veneráveis, e pedir a esses senhores a honra de ser um dos operários
escolhidos para a reconstrução do Templo de Salomão. O prestígio do
desconhecido exerce tal influência nos homens, que eles tremem durante a
preparação das fantasmagóricas provações da iniciação e do banquete fraternal.
“Ver-se como membro
duma Loja, sentir-se – a despeito da esposa e dos filhos – chamado a guardar um
segredo que jamais lhe será confiado, provoca em certas constituições morais
volúpia e ambição[5].”
Que me dizem os
senhores? Quanta monstruosidade!
Já outro maçom, o Ir...[6] Clavel, expõe, embora com menos
cinismo, um sistema de recrutamento tão honesto quanto o anterior. Ei-lo nas
suas próprias palavras; devemos dar graças a Deus por esses ímpios às vezes nos
entregarem assim o segredo da conspiração:
“A maçonaria, digam para aqueles a quem queiram alistar, é uma
instituição filantrópica progressista, cujos membros vivem como irmãos, sob os
auspícios de uma afetuosa igualdade... O maçom é cidadão do universo: não há
lugar onde não encontre Irmãos pressurosos em acolhê-lo bem, sem que seja
necessário recomendá-lo senão pelo título de maçom, sem que seja apresentado a
eles senão com as palavras misteriosas e os sinais adotados pela grande família
dos iniciados.
“Para espicaçar os
curiosos, acrescentem que a sociedade
conserva religiosamente um segredo que só é e só pode ser compartilhado com
maçons.
“Para convencer os
homens de deleite, valorizem-se os
frequentes banquetes em que a boa mesa e os vinhos generosos excitam a alegria
e fortalecem os laços de uma fraternal intimidade.
“Digam aos artistas e comerciantes que a maçonaria
lhes será frutífera, estendendo o círculo de relações e oportunidades. – Assim temos argumentos para pessoas de todas as inclinações, de
todas as vocações, de todos os níveis intelectuais, de todas as classes[7].”
Sincero leitor, mais uma
vez, que o senhor me diz sobre isso?
Para completar o
quadro, poderíamos acrescentar: para que os cristãos não se assustem,
saciem-nos de belas palavras; digam-lhes que
a maçonaria não exclui nenhuma religião; que existem até padres que participam
dela, etc. – Certo dia, não é que uma boa mulher, mãe de família, não chegou a
consultar um santo sacerdote, pároco de amigos meus, e a lhe perguntar com
muita seriedade se era verdade “que os padres dominicanos estavam à frente dos
maçons, na França? Eles atormentam o meu marido, para que ingresse na Loja, mas
como eu me oponho com todas as forças, eles vieram dizer-me que os padres
dominicanos pertenceriam àquela sociedade e a dirigiriam. É verdade?”.
Esses são os dignos
segredos do recrutamento da maçonaria.
IV
Com que cerimonial se ingressa na maçonaria
Quando uma dessas
“constituições morais” cai no visgo de um manipulador qualquer, eis o que
acontece. É algo grotesco e culpável – o que não é dizer pouco.
O primeiro grau da
maçonaria exterior é o grau de Aprendiz; o segundo,
o de Companheiro; o terceiro, o de Mestre. Grau aqui quer dizer ascensão em direção à
luz. Claro, nós cristãos, homens de fé e de bom senso, não passamos de profanos, destinados às trevas.
Primeiramente, o
novato se apresenta para se tornar Aprendiz Maçom. No
dia marcado para a admissão, “um Irmão, que ele não
conhece, o conduz até o local da Loja”, e o introduz em um quarto vazio, onde
encontra, entre duas velas, a Bíblia aberta no capítulo primeiro do evangelho
de São João. Por que isso? Responderia um maçom inocente: “Porque somos pessoas
religiosas e esclarecidas”; mas o que responderia um maçom iniciado, um maçom
das Lojas Secretas, de quem falaremos daqui a pouco, que afirma em alto e bom
som que o único Deus que existe é a natureza, e que a maçonaria cultua o sol?
Deixa-se o aspirante
sozinho por alguns minutos: a espera confere emoção à coisa. Em seguida,
removem-lhe as roupas, desnudando o lado esquerdo do tronco e o joelho direito;
mandam-lhe calçar sapatos empantufados (este pormenor é importantíssimo);
retiram-lhe o chapéu, a espada (ele deve portar uma) e todo “o metal” que tenha
consigo, ou seja, o dinheiro. Vedam-lhe os olhos e o conduzem até a “câmara...
de reflexões”. Proíbem-no de retirar a venda até que tenha ouvido três grandes
pancadas. Deixam-no sozinho novamente; ele passa algum tempo nessa inquieta
expectativa que a sequência de mistérios provoca no imbecil. Enfim, ele escuta
o sinal; retira bem depressa a venda: surpreende-se em uma sala revestida de
preto, e nas paredes lê, com uma alegria fácil de entender, inscrições
encorajadoras como estas:
Se fores dissimulado, serás descoberto.
– Se tens medo, não vás adiante. – Poder-se-ão exigir de ti os maiores
sacrifícios, até o sacrifício da vida; estás disposto? etc...
Nessa “câmara de
reflexões”, o candidato é obrigado a fazer o testamento e responder por escrito estas três perguntas:
- Quais são os
deveres do homem para com Deus?
- Quais são os
deveres do homem para com o semelhante?
- Quais são os
deveres do homem para consigo mesmo?
O Ir... Terrível leva ao Venerável o testamento e as
respostas. Quaisquer que sejam as respostas, o candidato é sempre admitido.
Proudhon, o ateu, o blasfemador, foi admitido, depois destas respostas:
“Justiça para todos os homens”, “Devoção ao país”, “Guerra a
Deus!”. Leve-se em conta que se tratava da Loja da Sinceridade, Perfeita União e Constante Amizade. Uma
Loja tão amena não poderia recusar um candidato tão perfeitamente sincero, tão
sinceramente perfeito.
O Ir... Terrível retorna até o pobre candidato, veda-lhe
de novo os olhos, e lhe passa ao redor do pescoço uma corda, cuja ponta segura,
para assim levá-lo à porta do templo, onde manda
que o candidato bata três vezes com força. Os que estão no templo se seguram
para não rir.
O templo é revestido de azul, pois o que lá acontece
tem um caráter celeste. Um Irmão, chamado Primeiro Vigilante, indica
com gravidade ao Venerável as batidas dadas na porta. Diálogo entre o
Venerável, o Primeiro Vigilante e o Ir... Terrível; após
isso, introduzem o postulante no templo. Nele há duas colunas, entre as quais
colocam o aspirante, sempre com a corda no pescoço. O Ir...
Terrível apoia fraternalmente a ponta de uma espada contra o coração dele, e
começa o interrogatório.
O Venerável, colocando
os óculos sobre o venerável nariz, declara com voz sombria – porém venerável:
“Que estais sentindo? Que estais vendo?” (perguntas indelicadas a um
pobre-diabo de olhos vendados e com o estômago na mira de uma espada).
Responde o postulante
candidamente: “– Eu não vejo nada, mas sinto a ponta de uma arma”.
O Venerável: “–
Refleti bem no passo que estás dando. Serás submetido a terríveis provações.
Sentes coragem de enfrentar os perigos a que poderás ser exposto?”
O postulante, com
energia: “– Sim, senhor! ”.
O Venerável, sem rir:
“– Então, já não respondo por vós!... Ir... Terrível, retirai
o profano do templo, e levai-o aos lugares por onde deve passar o mortal que
aspira a conhecer os nossos segredos.” – São todas palavras textuais, como
textuais são as que vêm em seguida. Elas foram retiradas do Ritual Maçônico,
reeditado com muito cuidado nesses últimos tempos.
Assim que o Ir...
Terrível retira a corda, conduz o aspirante, cujos olhos ainda estão vendados,
e o obriga a rodopiar uma meia dúzia de vezes na Sala dos Passos Perdidos;
quando o Irmão o percebe estonteado, leva-o com delicadeza para dentro da Loja,
sem que o paciente ofereça resistência.
Atenção! As provações
vão começar. Seria o martírio de um bobo, não fosse a iniciação a coisas
detestáveis.
V
Primeira e terrível provação do Aprendiz Maçom
No meio da Loja está
estendido um grande quadrado de papel, à guisa de cerca para um picadeiro de
circo. Os Irmãos carregam o quadrado, que é o instrumento da primeira provação.
“Que se há de fazer com
o profano?”, pergunta o Ir... Terrível ao Venerável, que
responde: “Introduzi-o na caverna”. Dois maçons logo seguram o aspirante e o
jogam com todas as forças por sobre o quadrado, que se rasga ao lhe dar
passagem. Do lado oposto, outros dois maçons recebem entre os seus braços o
paciente. Fecham com violência a porta dupla; simulam o ruído de trancas e
fechaduras, e o ponderado postulante acredita que está recluso na famosa
caverna... Decorrem alguns instantes em silêncio profundo – é o silêncio da tumba!
De repente o
Venerável (espirra) dá um golpe com o martelo (sobre qualquer coisa), obriga o
aspirante a ajoelhar e dirige ao dono do estabelecimento, que chamam de “Grande
Arquiteto do Universo” (G.A.D.U.), algo no feitio de uma prece. A maçonaria é muito
pródiga nessas preces; eles espalham o nome de Deus conforme lhes dê no goto.
Mas é uma indigna hipocrisia, pois logo veremos que na verdade a maçonaria é
ateia, e “que o culto da Natureza é a finalidade do maçom”, como
ousa declarar o autor sagrado de um de seus livros oficiais[8].
O Venerável manda o
aspirante, sempre de olhos vendados, sentar-se em um banco cheio de pontas
(para a sua maior comodidade) e lhe pergunta se ainda persiste neste nobre ensejo. O bobo da corte responde com entono
que sim. Seguem-se perguntas sobre moral e sobre absurdidades, e um discurso
sentimental do Venerável acerca dos deveres dos maçons, cujo primeiro, diz ele,
“é conservar absoluto silêncio sobre os segredos da maçonaria”.
Dentro em breve
veremos se tais segredos se harmonizam com esse cerimonial pueril; além do
mais, por que existem segredos em uma sociedade que se declara tão somente
beneficente e filantrópica?
Logo em seguida
começa outro embuste: 0 Venerável pergunta ao aspirante se ele é sincero e se
pode dar a palavra de honra. Ao seu comando “o Ir...
Sacrificador” conduz o paciente “ao altar”, e o manda beber em um cálice
dividido em dois compartimentos. “Se não fordes sincero, a doçura desta bebida
se transformará para vós num veneno sutil”. Por meio de um pino, dão-lhe a
beber, sem que perceba o mecanismo do cálice, primeiramente água pura, e depois
uma bebida amarga. Não é preciso dizer que ele ainda está de olhos vendados e,
ao sentir o amargor, faz uma careta. De imediato o Venerável, que tem mais classe
do que parece, dá mais um golpe com o martelo e exclama: “Que estou vendo,
senhor? Que significa esta súbita alteração nas vossas feições? Será que para
vós a bebida doce se transformou em veneno?... Afastai o profano daqui!”
O Ir...
Terrível coloca o postulante entre as duas colunas. O Venerável ainda o avisa:
“Se quiserdes enganar-nos, não penseis que conseguireis, antes vos seria melhor
sair imediatamente; ainda sois livre. A certeza da vossa perfídia ser-vos-ia
fatal, e vos obrigaria a renunciar para sempre o retorno
à luz do dia. Ir... Terrível, conduzi o profano
novamente para a câmara de reflexões”.
Se o postulante está
decidido a continuar, passa-se à segunda provação.
VI
As três viagens: segunda provação do Aprendiz Maçom
Quando constato que
há séculos milhões de homens se submetem a essas práticas tolas e humilhantes,
assalta-me uma espécie de pesar; juntamente com o Ir...
Tigrinho, “admiro-me da estupidez humana”. Se o demônio não estivesse envolvido
nisso, nenhum homem sensato seria capaz de se conformar a fantasmagorias tão pueris
e repugnantes ao bom senso. Se essa coisa já não estivesse absolutamente
comprovada, e se o ritual, impresso pela seita, não estivesse à disposição,
impossibilitando quaisquer dúvidas, não acreditaríamos que homens dotados de
razão, que se pavoneiam como pensadores mais ou menos livres, praticassem esses
ritos absurdos.
A primeira viagem consiste em andar três vezes à roda da
Loja, organizada a contento para esse propósito. O paciente, sempre de olhos
vendados, e conduzido pelo Ir... Terrível, anda por cima de
várias tábuas móveis que, pousadas sobre rodinhas e cheias de asperidades, lhe
fogem de sob os pés; depois, sobre outras tábuas basculantes, que de imediato
se inclinam debaixo dele e lhe dão a sensação de cair em um abismo. Depois,
mandam-lhe galgar os degraus da “Escada sem Fim”; se lhe dá vontade de parar,
dizem-lhe ainda assim que suba, até que enfim chegado (ao menos acredita ele) a
uma grandíssima altura, ordenam-lhe que se precipite de lá... caindo de uma
altura de pouco menos de 1 metro! Durante esse tempo os circunstantes simulam
(como contra-regras de teatro) ruídos de vento, geada e trovões, gritos de
crianças – uma agitação espantosa. E assim termina a primeira viagem. De fato, é uma besteira sem tamanho!
A segunda viagem se
parece com a primeira e a terceira com a segunda: a mesma delicadeza zombeteira
e o mesmo heroísmo do Aprendiz de conspirador. Entre cada viagem, o Venerável
finge duvidar da coragem do iniciante; ele insta para que não continue, mas o
outro sempre avança.
Todavia, na terceira
viagem, há uma novidade: a exemplo de D. Quixote e Sancho Pança, que também
estavam de olhos vendados sobre o famoso cavalo de madeira, passam pelo nariz
do infeliz aspirante umas não sei que chamas ditas purificadoras: “Que passe
pelas chamas purificadoras, exclama o Venerável, para que não lhe reste nada de
profano!” Enquanto o postulante desce austero os degraus do Oriente (esse é o
lugar onde se assenta o Venerável), a fim de retornar para entre as duas colunas,
o Ir... Terrível o envolve, por três vezes, com chamas que se
produzem com não sei que pólvora ou gás preparado para a ocasião.
E pensar que homens
de todas as idades e condições – cientistas, acadêmicos, operários, generais,
marechais de França, altos dignitários, pais de família, homens de boa
sociedade – passaram, passam e passarão por isso! É algo que confunde e humilha
a espécie humana.
Mas ainda não
terminamos, pois o postulante ainda não é maçom.
VII
As provações finais
“Profano, diz o Venerável,
fostes purificado pela terra, pelo ar, pela água e pelo fogo. Não tenho
palavras para a vossa coragem; tomara que ela não vos tenha abandonado, pois
ainda há provações por que deveis passar. A sociedade na qual desejais
ser admitido talvez vos exija que derrameis até a última gota de sangue por
ela. Estais preparado?” Essa é a segunda vez que o avisam: para
ser maçom, ele tem de se comprometer solenemente com tudo que os interesses da maçonaria exijam, a
ponto de se dispor a sacrificar a vida ao primeiro sinal.
Após a resposta
afirmativa do postulante, acrescenta o Venerável: “Precisamos convencer-nos de
que a vossa concordância não é vã. Permiti que vos abramos uma veia neste
instante?” Dado o consentimento do postulante, fazem-lhe uma sangria bem
superficial, mas simulam um esguicho de sangue e lhe enfaixam o braço.
O Venerável propõe em
seguida lhe imprimir sobre o peito o selo maçônico, com
um ferro quente. O aspirante também consente nisso. Encostam-lhe, pois, sobre o
peito o pavio incandescente de uma vela recém-apagada, ou um pedacinho de vidro
que se esquentou de leve em um papel inflamado. Enfim, o postulante deve falar
em baixa voz ao “Ir... Hospitaleiro” o valor da oferta que
quer doar aos maçons indigentes.
Este é o fim das
famosas provações.
O Venerável dirige ao
aspirante uma arenga bem sentida, e louva-lhe a coragem, naquele estilo
especialmente enfático e oco, cujo segredo a maçonaria conserva com piedade; e
como prêmio do seu heroísmo ordena ao Ir... Mestre de
Cerimônias “que o inicie no grau de Aprendiz, ensinando-lhe... a dar o primeiro
passo em um dos ângulos de um grande quadrado! Vós o mandareis dar outros dois
passos, acrescenta com gravidade, e logo o conduzireis ao altar dos
juramentos”. Os três passos em um dos ângulos de um grande quadrado são a marcha do Aprendiz Maçom. A “constituição moral” que
permitiu que lhe vendassem os olhos, fustigassem-lhe o estômago, jogassem-no
através do papel para dentro de uma caverna, dessem-lhe água de beber; que
escorregou, saltou, etc., nas três viagens; que galgou a escada sem fim e deixou que o empurrassem
heroicamente em um abismo de menos de 1 metro; que se purificou no fogo da
pólvora, derramou o nobre sangue, prometeu e escutou belas coisas – essa
“constituição moral” está enfim iniciada em algo de muito sério: ensinaram-lhe
a “dar três passos em um ângulo de um grande quadrado!”
VIII
O juramento
Antes do juramento
solene, ainda há uma cerimoniazinha. O neófito, com os olhos ainda encobertos
pela venda, é “levado ao altar dos juramentos”, onde se ajoelha, enquanto o
“Ir... Mestre de Cerimônias” lhe encosta sobre o peito
esquerdo a ponta de um compasso. Sobre o altar há uma Bíblia aberta, e sobre a
Bíblia uma espada esquisita.
“De pé e em ordem,
meus Irmãos, exclama o Venerável, o neófito vai fazer o terrível juramento”.
Terrível, de fato; nesse momento, param as brincadeiras e se revela a
verdadeira maçonaria. Os assistentes se levantam, desembainham as espadas, e o
postulante faz o juramento ímpio que se vai ler:
“Eu juro, em nome do
Arquiteto Supremo do Universo, jamais revelar os segredos, os sinais, os
cumprimentos, as palavras, as doutrinas e os costumes dos maçons, e sobre eles
conservar acima de tudo um eterno silêncio. Prometo e juro a Deus nunca os
revelar por escrito, sinais, palavras ou gestos, nem mandá-los escrever,
litografar, imprimir; nem publicar nada do que me confiaram até agora e do que
ainda me confiarão no futuro. Se eu não mantiver a palavra, comprometo-me e
submeto-me à seguinte pena: sejam-me queimados os lábios com ferro em brasa,
decepadas as mãos, arrancada a língua, cortada a garganta; seja o meu cadáver
pendurado em uma Loja durante os trabalhos de admissão de um novo Irmão, para
exprobação da minha infidelidade e temor dos demais; seja depois incinerado e as
cinzas jogadas ao vento, a fim de que não se conserve a memória da minha
traição. Que Deus e o seu Santo Evangelho me ajudem a cumpri-lo. Assim seja.”
Esses infelizes
enfiam o nome de Deus e do Evangelho nos seus juramentos detestáveis, e se
entregam, de mãos e pés atados, a um poder oculto, que não conhecem nem
conhecerão; que lhes mandará matar, e eles terão de matar; que lhes mandará
violar as leis divinas e humanas, e eles terão de obedecer, se não morrem! Um
homem correto – não precisa ser um cristão, mas um simples homem correto, na
acepção mais frouxa da palavra – seria capaz, pergunto eu, de fazer um
juramento maçônico?
Após o juramento, o
postulante é reconduzido até entre as duas colunas. Todos os Irmãos (e que
irmãos!) se reúnem em círculo em torno dele e lhe apontam as espadas nuas, “de
modo que ele seja o centro de onde partem os raios”. O Mestre de Cerimônias,
atrás do neófito, apressa-se em lhe retirar a venda, enquanto outro Irmão,
diante dele, aproxima do nariz do infortunado a lâmpada e a pólvora inflamável
que se usou para as chamas purificadoras. E recomeça a pantomina. “Julgais este
aspirante digno de ser admitido entre nós?”, pergunta o Venerável ao Ir...
Primeiro Vigilante.” “Sim, Venerável”, responde. “Que pedis para ele?” “A luz.”
O Venerável, em tom solene: “Que se faça a luz!”
Ele dá três grandes
marteladas. Ao terceiro golpe, cai a venda, queima-se a pólvora, e o neófito,
ofuscado... só consegue enxergar o fogo. Depois percebe, com grande
contentamento, todas as espadas apontadas para o peito; os seus excelentes
Irmãos gritam a uma só voz: “Que Deus puna o traidor!”
“Não temais, meu
Irmão, continua o Venerável; não temais dano algum das espadas que estão
apontadas para vós. Elas são temíveis apenas para os perjuros. Se fordes fiel à
maçonaria, como esperamos, essas espadas estarão sempre prontas a vos defender.
Ao contrário, se chegardes a traí-la, nenhum lugar da terra vos
servirá de abrigo contra essas armas vingadoras.”
O Venerável ordena
que conduzam o novo Irmão ao altar, e de novo obrigam-no a ajoelhar-se (diante
de que e de quem?); o Venerável, então, retirando do altar (dedicado a quem?) a
espada esquisita, coloca a ponta dela na cabeça do novo Irmão e o
consagra Aprendiz Maçom, dizendo-lhe: “Em nome do Grande
Arquiteto do Universo, e em virtude dos poderes que me foram confiados, eu vos
ordeno e constituo Aprendiz Maçom e membro desta respeitável Loja”. Depois,
erguendo o novo adepto, cinge-o com um avental branco, dá-lhe um par de luvas
brancas, que o Maçom tem de carregar consigo como emblema de inocência (!!!) e,
quer seja casado quer não, um par de luvas femininas, que “oferecerá àquela que
mais estime”. [...] Enfim, o Venerável revela ao Aprendiz os
sinais, as senhas e os segredos reservados ao grau do neófito, e lhe dá o
fraterno beijo triplo.
Ignoro o que possam
ser tais segredos reservados; pois, segundo a expressão formal do Ritual da
Loja Mãe dos Três Globos (sic), “fazem-se ao
Aprendiz somente insinuações, nunca se dá uma explicação completa, porque não
seria possível explicar e compreender o menor dos pormenores sem
revelar a totalidade do conjunto”.
Quaisquer que sejam
tais segredos, a iniciação está proclamada; a Loja inteira aplaude, e o novo
maçom, vestindo novamente a roupa, é instalado no seu lugar. O “Ir...
Orador” lhe faz um discurso que encerra essa fantasmagoria sacrílega.
IX
Do grau de Companheiro, que é o segundo grau maçônico
O segundo grau da
maçonaria exterior é o grau de Companheiro Maçom.
Quando o desditoso Aprendiz está cansado de nada aprender, começa a esperar a
iniciação no grau de Companheiro. Eis como as coisas acontecem.
O Aprendiz postulante
já não está de olhos vendados, porque pediu a luz e lhe acenderam pólvora nos
olhos; ele vai bater à porta da Loja[9] na qualidade de Aprendiz. O
Venerável lhe convida a entrar, interroga-o e lhe ordena dar cinco voltas pela
Loja, na companhia do Ir... Mestre de Cerimônias. Denominam
tais rituais de “as viagens misteriosas”.
Depois, mandam-no
martelar três vezes uma pedra bruta (quem puder, entenda). Chamam a isso o
último trabalho do Aprendiz. O Venerável “explica” o significado de uma estrela
chamejante, que está pintada em uma tela estendida no chão; diz-lhe que é “o
símbolo do fogo sagrado, da porção de luz divina que o Grande Arquiteto do
Universo formou nas almas” (uma rematada heresia, que cheira muito a
panteísmo). Entenda ou não o significado disso, conduzem-no ao altar como da
primeira vez, e ali, de joelhos, presta novo juramento de fidelidade maçônica –
esse horrível juramento condenado pelas leis divinas e humanas.
Em seguida
proclamam-no Companheiro, sob os aplausos da Loja, e o conduzem já não “a
leste”, como na recepção do Aprendiz, mas “em direção à coluna do meio-dia”,
onde padece um novo discurso do “Ir... Orador”.
Tudo isso é tão
boboca que, mais do que rir, gostaríamos de ficar coléricos. Na França existe
um milhão e seiscentos mil indivíduos – a maioria, de pessoas instruídas e
letradas – que passaram pelas forcas caudinas das sociedades secretas[10]! E pensar que no mundo inteiro são
oito milhões!
X
Do terceiro grau, que é o grau de Mestre Maçom
Ainda estamos falando
apenas da maçonaria exterior: o grau de Mestre Maçom é o terceiro e último,
pois a dignidade de Grande Oriente e as demais dignidades acessórias que
compõem o conselho exterior da Ordem Maçônica não são graus propriamente ditos.
É como um general que, para ser nomeado Ministro da Guerra, não precisa subir
de posto: ele ganhou uma dignidade ou comando, mas é só. Assim o Maçom
denominado Grande Oriente é um Mestre Maçom como todos os outros, embora tenha
recebido o comando exterior de todas as Lojas de uma obediência.
Na maçonaria existem
vários ritos ou obediências, que só diferem entre si por matizes. Na França
gozamos de três ritos maçônicos: o rito do Grande Oriente da
França, o rito escocês, cujo
grão-mestre é um velho acadêmico, e o terceiro, que chamam de o rito Misraím. Misraím é o nome que a ciência
cabalista dá desde sempre a um demônio cheio de poder e perversidade. O rito
Misraím considera o piedoso Cam, o
filho maldito de Noé, o seu primeiro pai.
Mas retornemos ao
nosso Companheiro, que arde de impaciência por se elevar ao grau de Mestre. O
cerimonial vai aumentando em solenidade.
A Loja já não se
chama Loja: denominam-na a câmara do meio. O
celeste império chinês também se denomina Império do Meio. Essa câmara do meio
é forrada de um tecido preto (para significar luz e alegria), repleta de
desenhos de crânios, esqueletos e ossos cruzados, bordados em branco, sem
dúvida obra dos maçons “que têm maior estima” pelos maçons desse meio.
Uma vela de cera
amarela (prestem atenção: amarela), posicionada a oriente (não a ocidente,
senão tudo estaria perdido), e uma lanterna de furta-fogo, em formato de
crânio, por onde as luzes saem tão somente do fundo das órbitas vazias – estão
postas por sobre o altar do Venerável. O Venerável já não é venerável. Neste
ambiente muito respeitado, doravante ele se chama “Respeitável Mestre da Câmara
do Meio”. Essa “câmara do meio” e o seu Respeitável Mestre são iluminados, de
acordo com a necessidade, pela vela amarela e a lanterna de crânio. No meio da
“câmara do meio”, se a pessoa tem bons olhos, enxerga-se (ó lídimas alegrias da
maçonaria) um caixão! Sim, um caixão, um caixão de verdade, no qual está quer
um maçom, quer um manequim (pouco importa); segundo o Ir...
Clavel a pessoa do caixão “deve ser o último Mestre a ter ingressado”. O Ritual
não diz se esse último Mestre gosta da brincadeira de ficar no caixão. Creio
que ele acharia melhor ser um Respeitável.
Para consolá-lo,
colocam-lhe sobre a cabeça um esquadro, sobre os pés um compasso, e acima dele
um galho de acácia (decerto para protegê-lo do sereno). Todos os Ir...
Mestres estão vestidos, já não de branco, mas de preto; nas Lojas mais joviais,
usam por sobre as pernas um avental preto com um crânio bordado a primor.
Enfim, para completar, todos trazem consigo, do ombro esquerdo à cintura
direita, uma grande faixa azul, onde estão bordados o sol, a lua e as estrelas.
Sabem os senhores por
que eles estão assim apinhados na “câmara do meio”? Ouçam o Respeitável: “Para
que propósito nos reunimos?”, pergunta ele. “Para reencontrar a palavra do
Mestre, que está perdida”, lhe responde grave o Ir...
Primeiro Vigilante. O Respeitável então ordena que se busque “a palavra”.
Parece que todos a conhecem, pois se pergunta sobre ela a cada um deles, e cada
um deles a comunica. “Qual a vossa idade?”, pergunta o Respeitável ao Ir...
Primeiro Vigilante. “Sete anos”, responde com ingenuidade, não se sabe por quê.
Um Mestre Maçom sempre tem sete anos – é a idade da candura. “Que horas são?”,
continua o Respeitável. “Meio-dia em ponto”, diz o outro. Após várias perguntas
e respostas da mesma profundidade, escuta-se baterem à porta, ao estilo dos
Companheiros: toc-toc, toc, toc-toc. É o nosso Companheiro Maçom, que se
apresenta. Está descalço, com o braço esquerdo nu, o peito esquerdo nu; no
braço direito do ingênuo pende majestoso um esquadro, e em torno da cintura um
cíngulo de três voltas. A ponta da corda está na mão do Ir...
Experto, no rito do Grande Oriente da França; na do Mestre de Cerimônias, no
rito escocês; na do Primeiro Diácono, nas Lojas inglesas e americanas. No rito
Misraím, deve estar na mão do diabo em pessoa. Vestido com este figurino, o
Companheiro recipiendário bate à porta, e começa uma cena impagável.
“Após a batida, diz o
Ir... Clavel, após a batida a assembléia se emudece”. Há um
motivo. Com a voz impostada, o Ir... Primeiro Vigilante
exclama: “Respeitável, um Companheiro acaba de bater à porta”. “Vede... o que
quer... esse Companheiro”, responde com compreensível emoção o Respeitável.
Procurem as
informações; como sabemos tudo por antecipação, o caso não parece muito
complicado. “Por que o Mestre de Cerimônias vem perturbar a nossa dor?” – diz,
lúgubre, o Respeitável. “Não seria esse Companheiro um dos miseráveis que o céu
entregou a nossa vingança? Ir... Experto, armai-vos e cuidai desse
Companheiro. Visitai-o e assegurai-vos de que nele não há nenhuma nódoa de
cumplicidade na comissão desse crime”. Esse crime é a pretensa morte do
arquiteto Adoniram, assassinado por três Companheiros, enquanto dirigia os
trabalhos do Templo de Salomão; em realidade, trata-se da execução dos
Templários, avós espirituais dos maçons.
O experto arranca o
avental do Companheiro; enquanto o Companheiro permanece à porta, guardado
fraternalmente por quatro Irmãos armados até os dentes, o Ir...
Experto retorna ao Respeitável e lhe diz com todo o respeito: “Respeitável,
nada encontrei neste Companheiro que apontasse um crime de morte. As vestes
estão brancas, as mãos estão puras, e este avental que vos trago está sem
mancha”.
O Respeitável finge
que ainda não se convenceu. “Veneráveis Ir..., tenho um
pressentimento que me agita, etc. Não será preciso interrogá-lo?” Todos os
maçons curvam as cabeças maçônicas, em sinal de assentimento; o Respeitável, ao
escutar do Ir... Experto que o Companheiro conhece a senha,
exclama, cheio de estupor: “A senha!... Como pode ele conhecê-la?... Oh!... Só
pode ser por causa do seu crime”. Rapidamente recomeçam a perquirição em todos
os bolsos, cantos e recantos do Companheiro, que fica lá, meio desnudo como
Marlborough entre os seus quatro oficiais.
Durante todo esse
tempo, o infortunado Mestre – o último recebido – se aborrece no caixão, e
medita bem à vontade sobre a profundidade das cerimônias maçônicas. Como são um
pouco longas, ele tem de tomar as suas precauções.
O Ir...
Experto visita o Companheiro e lhe fita a mão direita: “Pelos deuses! Que estou
vendo!”, grita aterrorizado, fingindo que percebe alguma coisa. “Fala,
desgraçado! Confessa o crime. Como conhecerias a senha? Quem a transmitiu para
ti?” O inocente Companheiro responde com perfeita serenidade: “A senha? Não a
conheço. O meu guia a dará por mim”. É neste momento que ele é introduzido aos
empurrões até o meio da “câmara do meio” e, chegado ao caixão, obrigam-no a dar
meia-volta, para que veja o dito caixão onde jaz o último Mestre recebido, que
se faz de morto.
O Respeitável lhe
explica como pode que estão todos ocupados em prantear o respeitável Mestre
Adoniram, morto à traição por três Companheiros (cerca de mil e oitocentos anos
atrás), e lhe aponta o pobre Mestre – o último recebido – deitado no caixão. O
Companheiro declara, óbvio, que não matou o Mestre Adoniram, e o Respeitável,
satisfeitíssimo com a justificativa, ordena, para mal dos seus pecados, que o
façam “viajar”. Já conhecemos essas viagens ridículas; a única diferença desta
em relação às outras é a companhia fraternal de quatro maçons armados. O Ir...
Experto segue o viajante e o mantém na rédea pela ponta da corda. Após o
retorno das “viagens”, o Companheiro já é Mestre; ele presta o juramento de joelhos,
com as duas pontas de um compasso sobre o peito. Conduzem-no então “a
Ocidente”, donde o levam novamente “a Oriente” – é a misteriosa marcha do grau
de Mestre.
Essa “marcha
misteriosa” dá tempo ao Irmão morto para que saia do caixão sem fazer alarde;
quando o recipiendário se reaproxima dele, o lugar está vazio. O Respeitável
desce do trono, pois ele tem um trono, e todos os Irmãos se reúnem em torno do
caixão. Aqui começa a lamentável narração do pretenso assassinato do
respeitável Mestre Adoniram, cometido pelos três Companheiros ciumentos:
Jubelas, Jubelos, Jubelum. O Respeitável interrompe três vezes a narração, para
dar ao Ir... Primeiro Vigilante o prazer de golpear o novo
Mestre como os três assassinos golpearam Adoniram: em primeiro lugar no pescoço,
com uma régua de ferro; depois no peito, com um esquadro; enfim no rosto, com
um martelinho. Após isso, dois Irmãos agarram o presuntivo Adoniram e o põem no
caixão como se estivesse morto. Os assistentes fingem que buscam o Mestre
Adoniram; após buscas penosas de Oriente a Ocidente e de Ocidente a Oriente,
encontram-no graças ao galho de acácia que lhes indica onde está o cadáver. O
Respeitável declara que o corpo está em decomposição, e diz: Mac Benac, a carne desgarrou dos ossos. (Tudo isso é de
morrer de rir.) O sobredito Respeitável retira do caixão o pretenso morto,
pousa-lhe a mão esquerda sobre o ombro esquerdo, e lhe diz à orelha
direita: Mac, e à esquerda: Benac, palavras que
inundam de luz e consolações o ressuscitado. Os Irmãos, enfeitados de aventais
pretos e crânios bordados, à luz da vela amarela e do crânio furta-fogo,
começam uma animada cantoria.
O Ir...
Novo Mestre renova o juramento “de não revelar [os segredos] aos Irmãos
inferiores nem aos profanos”; conferem-lhe, pois, a iniciação, que consiste no
catecismo maçônico e no sinal do Mestre, que se faz fechando quatro dedos da
mão direita e pousando o polegar esticado sobre o ventre, de modo a formar um
ângulo, enquanto se mantém diante dos olhos o reverso da mão esquerda, com o
polegar para baixo. O Catecismo dos Mestres chama esse sinal de o sinal de horror, “porque significa o horror que se
apossou dos Mestres quando descobriram o cadáver de Adoniram”.
Essa brincadeira
sombria é o cerimonial de iniciação ao terceiro e último grau da maçonaria
exterior. Isso já de longe cheira a conspiração e sociedade secreta.
Compreende-se muito facilmente por que esse incontável público das Lojas serve
de posto de recrutamento para a maçonaria oculta, para os manipuladores das
sociedades secretas. Veremos as enormes impiedades de que se compõem os
mistérios que agora se descortinam ao Novo Mestre. É puro materialismo.
Assim, é possível
afirmar sem medo de errar: por mais que sejam enganados, os maçons –
aprendizes, companheiros e mestres – são muito culpados, muito imprudentes e
muito patetas.
XI
Dos altos graus da Maçonaria
Chamam-se de altos graus algumas iniciações, amiúde
independentes umas das outras, que variam segundo os lugares e os países,
dentre as quais muitas são recentes e outras deixaram de existir. Há maçons que
as renegam, entre outros a maioria dos chefes da maçonaria exterior. Alguns
maçons as reconhecem, louvam e se comprometem com elas, sem por isso
participarem da maçonaria oculta ou das sociedades secretas propriamente ditas.
Os altos graus são
como uma florescência cada vez mais secreta e ímpia da maçonaria comum, uma
iniciação mais avançada, mas sempre incompleta, que poderíamos denominar a alma
da maçonaria, ou seja, o objetivo final das suas conspirações. Esse objetivo final
é a destruição universal da realeza e da religião, a revolta universal do mundo
contra Deus e o seu Cristo. Satã e o homem querem reinar no mundo, no lugar de Deus e o seu Cristo. Descobrimos
parte desse segredo infernal, mas é em vão que os maçons que ainda têm um pouco
de honestidade o negam.
“O objetivo da Ordem
deve continuar sendo o seu principal segredo, escrevia em 1774 a Grande Loja da
Alemanha; o mundo ainda não é assaz forte para agüentar essa revelação.”
Parece que até os
maçons, inclusive os de alto grau, ainda não são “assaz fortes”, pois durante a
iniciação de um dos graus elevados do rito escocês, o Mestre da Loja diz ao
candidato: “Por este grau, um espesso muro se levanta entre nós e os
profanos, e até entre muitos de nós... O
que aprendestes até hoje não é nada, em comparação aos segredos que certamente
vos serão revelados mais tarde... O cuidado que temos de
escondê-los até dos próprios irmãos vos deve dar a noção da
dignidade da coisa” (esse é o verdadeiro estilo maçônico).
O conjunto de todos
os ritos maçônicos engloba cerca de uns mil graus. No rito do Gr...
Or... aparecem trinta e três; no rito escocês, também trinta
e três, embora de ordinário só se confiram sete. Os outros graus, decerto, são
sublimes demais, e o excesso de luz faria mal aos olhos. O rito Misraím parece
que pára no número 100: sem dúvida é nele que se vê com maior claridade.
Note-se que, pela
graça de Deus, todos os ramos da árvore maçônica se detestam entre si
fraternalmente. As divisões entre eles são a nossa salvação. Na maçonaria e no
protestantismo acontece um fenômeno idêntico: existe uma unidade de nome e de
ódio, mas uma divisão infinita entre as seitas da Seita. A divisão é uma
característica das obras de Satã, porque a unidade só subsiste na verdade e na
caridade.
Os altos graus mais
conhecidos parece que são os de: 1) Juiz Filósofo Grande Comendador
Desconhecido, Eleito, Ancião, Cavaleiro de Santo André ou Cavaleiro do Sol;
2) deCavaleiro Kadosch; e 3) de Rosa Cruz.
XII
Do alto grau de Juiz Filósofo Grande Comendador Desconhecido
Na recepção do Juiz Filósofo Grande Comendador Desconhecido, revela-se
cruamente ao adepto o sentido verdadeiro e prático da lenda de Adoniram; estas
palavras são reportadas ao pé da letra pelo Ir... Ragon, no
livro Ortodoxia Maçônica: “Os graus por que passastes, diz o
Mestre da Loja, não vos levam a um justo juízo da morte de Adoniram, do final
trágico e funesto de Jacques de Molay, que é o Grande Comandante da
Ordem? Não está o vosso coração pronto para a vingança, não
sentis o implacável ódio que devotamos aos três
traidores em quem devemos vingar a morte de Jacques de Molay? Eis,
meu Irmão, a VERDADEIRA MAÇONARIA, como no-la transmitiram.”
Na prática esses três
traidores são: em primeiro lugar o Papa, e com ele
toda a Igreja, todo o cristianismo e toda a ordem religiosa; depois o Rei, e com ele toda a sociedade civil e todos os
governos; enfim, as forças armadas, que substituíram as antigas ordens
religiosas militares, dedicadas à defesa da fé.
Já se deixa entrever
ao adepto que a doutrina fundamental da maçonaria é o ateísmo ou o culto do
Deus-Natureza. “Sabei comportar-vos entre homens, lhe dizem, cuja bravura e bons costumes (?) são toda a doutrina. Essa doutrina é a regra que a
nossa constituição nos impõe.” A bravura é a vontade cega e selvagem que os
leva a cometer de tudo, até o crime e o assassinato; os bons costumes são a
obediência aos instintos da natureza. Daqui a pouco veremos alguns exemplos
disso.
Finalmente,
acrescenta-se: “Eis que agora estais no nível dos zelosos maçons que
se devotaram a nós, em prol da vingança comum. Escondei
cuidadosamente do vulgo o grandioso destino que vos está reservado... Agora
estais, meu Irmão, no patamar dos eleitos chamados a cumprir
a grande obra... Amém!”
Após o piedoso discurso, o Mestre da Loja entrega ao novo
Ir... Juiz Filósofo Grande Comendador
Desconhecido a insígnia do seu alto grau, com a indicação do
trabalho especial que lhe cabe. A insígnia – a “jóia” do adepto – é um punhal,
e o trabalho é a vingança. Ficou claro?
XIII
Do alto grau de Cavaleiro Kadosch
Não sei por que os
Cavaleiros Kadosch se chamam Cavaleiros Kadosch: Kadosch, com efeito, quer dizer santo. A iniciação deles está temperada de molhos com
sabor de sangue, assassinato, vingança, revolta e impiedade.
“Quando Luís Felipe
Égalité (o único dos pertencentes ao Grande Oriente da França admitido nos
segredos tenebrosos da “verdadeira maçonaria”) foi iniciado no grau de
Cavaleiro Kadosch, mandaram-no deitar-se no chão como um morto, e renovar todos
os juramentos que prestara nos graus inferiores; depois, puseram-lhe um punhal
na mão e lhe ordenaram que golpeasse um manequim coroado, colocado em um canto
da sala, próximo a um esqueleto... Um líquido da cor do sangue jorrara da
ferida sobre o candidato e inundara o piso. Recebera em seguida a ordem de
cortar a cabeça do boneco, segurá-la no alto com a mão direita e conservar o
punhal tinto de sangue na mão esquerda – o que ele fez. Já então lhe esclarecem
que aquelas ossadas pertenciam a Jacques de Molay, Grande Mestre da Ordem dos
Templários, e que o homem, cujo sangue acabava de espalhar e cuja cabeça
ensangüentada segurava na mão direita, era Felipe o Belo, rei da França.[11]”
Entendemos que o
juramento de morte e vingança não se dirigia à pessoa de Felipe o Belo, que já
estava morto havia uns quinhentos anos, mas a sua realeza. O novo Kadosch, na qualidade de fiel Cavaleiro, também foi um dos principais assassinos
de Luís XVI. Quase todos os regicidas da Convenção eram maçons.
O ritual maçônico diz
à letra que o novo eleito deve vingar a condenação de Jacques de Molay, “quer
figurativamente nos autores de seu suplício, quer implicitamente em quem de direito.”
– A quem conheceis? –
perguntam ao iniciando.
– Dois abomináveis.
– Nomeai-os.
– Felipe o Belo e
Bertrand de Goth (o Papa Clemente V).
Segundo o Ir...
Ragon, “o autor sagrado”, o Cavaleiro Kadosch não
deveria golpear somente um manequim coroado no dia da iniciação, mas também uma
serpente de três cabeças, cuja primeira usa uma tiara ou chave, a segunda uma
coroa, e a terceira uma espada – símbolos do Papado, da Realeza e da Força
Militar, que se reuniram para destruir a Ordem dos Templários. “A serpente de
três cabeças significa o princípio mau, afirma ainda o Ir...
Ragon.[12]”
O segredo da seita
está cada vez mais visível.
XIV
Do alto grau de Rosa Cruz
Na recepção de um
Rosa Cruz, o chefe da Loja já não é o Venerável, nem o Respeitável; ele se
chama “Mestre Sábio e Perfeito” e todos os oficiais da Loja são “Poderosíssimos
e Perfeitos”. A perfeição é o caráter
distintivo desse grau, mas não nos confundamos: trata-se da perfeição maçônica.
O candidato é, entre
outras coisas, interrogado acerca do sentido da inscrição: INRI, que Pilatos mandou pregar sobre a cruz de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Entre os maçons ela não significa Jesus de Nazaré, Reis
dos Judeus, mas quer dizer – ó blasfêmia ignóbil! – “que o judeu Jesus de Nazaré foi
conduzido pelo judeu Rafael[13], para que na Judéia fosse justamente punido pelos seus crimes.” Assim
que o candidato dá ao “Sábio” essa interpretação sacrílega, o “Sábio” exclama:
“Meus Irmãos, a palavra foi encontrada!”. Assim “a palavra”, o segredo dos
graus avançados da maçonaria, é o ódio a Jesus Cristo.
Nas lendas maçônicas,
Nosso Senhor, na qualidade de descendente do Rei Salomão, expia com justiça sobre a cruz o pretenso assassinato de
Adoniram a mando de Salomão, que tinha inveja do seu arquiteto. Adoniram é o
pretenso descendente de Caim, que é o pretenso filho de Lúcifer e Eva. Assim, a
luta da Revolução e da maçonaria contra a Igreja e a realeza é tão somente a
conseqüência lógica e fatal de uma luta que começa no paraíso terrestre: a luta
de Lúcifer, de Caim seu filho, de Adoniram seu descendente, e de toda uma raça
superior, que recebeu o dom da ciência, da luz e da verdadeira virtude, contra
Deus, contra Adão, Abel, Salomão, contra Jesus, e contra a raça inferior dos
filhos de Adão, personificada nos padres e nos reis; a característica dessa
segunda raça é a força cega, a tirania e a ignorância. Segundo os maçons, Deus
tem inveja de Lúcifer e o persegue; é Caim que é perseguido por
Adão e Abel, etc. É a inversão total, a contra-verdade, a apoteose da revolta e
da crucificação da Verdade e do Bem – em suma, é a Revolução, que, na sua
doutrina fundamental, é essencialmente anticristã, atéia, satânica.
Por mais que os
Irmãos dos altos graus tenham conhecimento do segredo da
maçonaria, todavia há de se reconhecer que eles ainda não saíram “da
ante-câmara mal iluminada”, como dizia o Tigrinho, ainda são maçons em broto ou
em flor. Os frutos estão escondidos mais à frente, nas sombrias profundezas da
seita. Era isso que, certo dia, afirmava um padre a certo homem correto de
visão curta, promovido após muitos anos ao grau de Rosa Cruz. Esse pobre
coitado reputava o cerimonial das Lojas um mero teatrinho histórico:
“Ele não me poupava
de nenhum pormenor, contava o padre[14], para me dar a
melhor impressão possível de uma sociedade em que ele se gloriava de exercer
funções importantes. Ele desejava converter-me de todo modo à maçonaria. Eu
sabia que só lhe restava um único passo para chegar ao ponto em que o véu se
rasga, de onde já não é possível se iludir sobre o objetivo final dos adeptos
das Lojas Secretas. Para me convencer, ele quis ir até esse ponto.
“Pouquíssimos dias
depois, vejo-o entrar na minha casa em um estado impossível de descrever. 'Oh,
meu caro amigo, meu caro amigo! – exclamava – Bem que você me avisou. Ah, tinha
toda razão! Onde eu estava com a cabeça, meu Deus!' Ele sentou, ou melhor,
atirou-se em uma cadeira, e repetia sem parar: ‘Onde eu estava com a cabeça!
Ah, tinha toda razão!’ Quis que ele me ensinasse alguns detalhes que ainda
ignorava: ‘Você tem razão, mas isso é tudo o que lhe posso dizer.’
Todavia, acrescentou que, caso aceitasse o que lhe propuseram, recuperaria a
fortuna arruinada pela revolução. ‘– Se eu quiser ir para Londres, para
Bruxelas, para Constantinopla, ou para qualquer outra cidade de minha escolha,
nem a minha esposa, nem os meus filhos, nem eu passaremos necessidade.’ ‘– Sim,
observei, mas à condição de que você apregoe em todos os lugares a igualdade, a
liberdade e a Revolução!’ ‘– Justamente – murmurou – mas, ainda mais uma vez,
isso é tudo o que lhe posso dizer. Ah, meu Deus! Onde estava com a cabeça?’...”
O pobre homem
pertencia aos altos graus da maçonaria exterior, mas só fazia pouco tempo que
lhe haviam aberto o jogo. Por nossa vez, demos uma olhada.
XV
Da verdadeira maçonaria, que é oculta e totalmente secreta
Esta maçonaria não é
a das Lojas, nem é sequer a dos altos graus: ela é pura e simplesmente a sociedade secreta.
Nas Lojas Secretas,
os maçons tiram a máscara; eles desdenham e repelem o simbolismo ridículo e
perverso das primeiras iniciações e vão direto ao ponto: Guerra a Deus, ao seu Cristo e à sua Igreja! Guerra aos reis e aos
poderes humanos que não estão conosco! Esse é o seu lema, esse
é o seu grito de guerra.
Nesse lugar, já não
há Grandes Orientes, já não há Grandes Mestres, mas uma unidade assustadora,
lograda por uma liderança oculta, que a organiza de forma simples e
inteligente. “Recordai-vos, dizia há pouco o celerado Mazzini, recordai-vos de
que uma associação de homens livres e iguais (sempre a
mesma fórmula!), que queiram mudar a face de um país (ele poderia dizer: de
todos os países), deve ter uma organização simples, clara e popular.[15]”
Na liderança desse
tenebroso exército, existe um chefe único e desconhecido, que permanece nas
sombras e tem todos os Ateliês e Lojas
nas mãos. Ele é um chefe misterioso e terrível, ao qual estão ligados, por um
juramento de obediência cega, todos os maçons de todos os ritos e graus, que
não lhe conhecem sequer o nome e que, na sua maioria, recusam-se a acreditar na
sua existência. Esse homem diabólico é mais poderoso que qualquer rei deste
mundo; no século XVIII fora ele durante muitos anos um obscuro alemão, chamado
Weishaupt.
O patriarca das
sociedades secretas só é conhecido por quatro ou cinco adeptos escolhidos, cada
um dos quais o põe em contato com uma seção ou venda ou
Loja (pouco importa o nome); os adeptos de cada seção ignoram o papel que o
representante do grande chefe desempenha entre eles. Cada um dos maçons da
seção a representam, por sua vez, em uma outra seção ou venda inferior, sempre a despeito dos adeptos ali
reunidos; e assim sucessivamente até as Lojas mais insignificantes da maçonaria
exterior, até as assembléias maçônicas que parecem de todo estranhas aos
conluios das sociedades secretas.
Nessa
hierarquia submaçônica, todos são conduzidos
mas não sabem por quem, e executam ordens cuja origem e objetivo real ignoram.
Essa é a verdadeira sociedade secreta, e é por causa disso que participam dela.
Há uns quarenta anos, a polícia romana esteve prestes a capturar o chefe da
grande conspiração. O cardeal Bernetti, secretário de Estado de Leão XII,
conseguiu obter parte da correspondência íntima dos chefes da Venda Suprema, ou seja, dessa loja maçônica superior
que o grande chefe comanda diretamente. Um desses celerados estava ligado à
pessoa do príncipe de Metternich, primeiro-ministro do imperador da Áustria,
que lhe depositava inteira confiança; o seu nome de guerra era Nubius. Outro era um judeu que adotou como nome de
guerra Tigrinho. A correspondência de um terceiro conspirador
denotava um rico proprietário italiano. Nessa época, o centro do grande conluio
era a Itália.
Para diferenciá-la da
maçonaria visíel, chamam-na de carbonaria [ou
maçonaria guerreira]. Como a maçonaria, a carbonaria é una e universal; ela é
“a parcela militante da maçonaria”. Não se sabe o número de adeptos dela.
O Ir...
Louis Blanc admira, em uma declaração oficial, a organização da carbonaria, e
afirma que ela é “algo de poderoso e maravilhoso...”. Convencionou-se que em torno
de uma associação-mãe (E que mãe, meu Deus!), chamada de Alta Venda, formar-se-iam outras associações nomeadas
de vendas centrais, sob as quais agiriam as vendas particulares (a palavra venda quer dizer reunião). O número de membros
está fixado a vinte por associação, a fim de escapar ao Código Penal. A Alta Venda se recruta a si mesma.
“Para a formação das vendas centrais, adota-se o seguinte método: dois
membros da Alta Venda se juntam a um
terceiro sem lhe confidenciar a sua origem, nomeiam-no Presidente da futura venda, e assumem por conta
própria um o título de Deputado, e o outro
o de Censor. A missão do Deputado é a de corresponder-se com
a associação superior, e a do Censor a de controlar o andamento da associação
secundária. A Alta Venda se transforma por esse meio como que no cérebro de
cada uma das vendas que cria, conservando
em relação a elas o papel de mestra dos segredos e das ações. Nessa combinação
existe uma elasticidade admirável [a da serpente...]. Em pouco tempo as vendas se multiplicaram ao infinito.”
Acrescenta o Ir...
Louis Blanc, com a candura de um enfant terrible:
“Previu-se a impossibilidade de ludibriar em todos os casos os esforços da
polícia[16]: para diminuir a importância deles,
convém que as vendas ajam em comum, sem
todavia se conhecerem mutuamente, de maneira que a polícia, ao penetrar na Alta
Venda, não arraste consigo o conjunto da organização. Em conseqüência,
proibira-se que todos os carbonários pertencentes a uma venda tentassem ingressar em outra. Essa proibição é sancionada com a pena de morte.
“Os deveres do
carbonário eram possuir um fuzil e cinqüenta cartuchos [precaução eminentemente
filantrópica...], estar pronto a se devotar [sabemos
o que isso quer dizer...], obedecer cegamente às
ordens dos chefes desconhecidos[17].” Essa organização
temível, que o Ir... Louis Blanc revelou, foi urdida na Loja dos Amigos da Verdade.
Assim, por trás da
Loja está a Loja Secreta; por trás do maçom aprendiz, companheiro e mestre, e
até por trás dos maçons dos altos graus, se esconde o maçom carbonário, o homem
da sociedade secreta e das vendas. As lojas que
a maçonaria divulga escondem de todos os olhares as lojas secretas, os graus
escondem os graus secretos; a doutrina confessa esconde a doutrina misteriosa;
os ritos e as cerimônias grotescas escondem as tramas ocultas; os segredos
ridículos foram imaginados apenas para esconder melhor o verdadeiro segredo –
em suma, a maçonaria pública esconde a maçonaria secreta.
Existe união íntima,
porém oculta, entre a maçonaria e a carbonaria: uma é o corpo, a outra é a
alma; uma é a infantaria, a outra é o generalato; uma é conduzida, a outra
conduz.
Essa é a inocente
maçonaria, que se sente caluniada pela Igreja.
XVI
Quais os espantosos excessos a que se entregam os maçons das Lojas
Secretas
Muitos dos sectários
não recuam nem diante do sacrilégio, nem diante do assassinato. Em Roma, durante
as agitações de 1848[18], descobriu-se a
existência de várias reuniões noturnas, dentre as quais a do subúrbio do
Transtevere, onde os adeptos, homens e mulheres, reuniam-se para celebrar o que
chamam “a missa do diabo”. Sobre um altar ornado de seis velas negras,
colocava-se um cibório; cada um dos assistentes, após terem cuspido e pisado no
crucifixo, levavam até o cibório e nele punham uma hóstia consagrada, que
haviam recebido de manhã em uma igreja qualquer ou então comprado a dinheiro de
alguma velhinha pobre e perversa como Judas. Depois, começavam com não sei que
cerimônia diabólica, que se encerrava com uma ordem para que todos
desembainhassem os punhais, subissem ao altar e apunhalassem o Santíssimo
Sacramento. Terminada a missa, apagavam-se todas as luzes...
Essas práticas
sacrílegas saíram da Itália e vieram infiltrar-se entre nós. Faz pouco tempo se
descobriu a existência de uma espécie de sub-maçonaria, já totalmente
organizada, cujo objetivo exclusivo era planejar os meios de destruir, de forma
mais eficaz e segura, a fé. A seita se divide em pequenas seções, de doze a
quinze membros cada uma – não mais que isso, pois temem chamar a atenção. O
recrutamento se dá entre as pessoas letradas, ou ao menos entre as pessoas que,
pela posição, talentos ou riquezas, exerçam em torno de si alguma influência.
Os chefes de seção não residem nos lugares das reuniões, mas em Paris, que é o
seu centro de ação.
E vejam que horrível!
Cada adepto, para que seja aceito, deve levar no dia da iniciação o Santíssimo
Sacramento do altar e pisá-lo, diante dos Irmãos. Garantiram-me que essa seita
infernal já existe na maioria das grandes cidades da França; passaram-me como
informação certíssima os nomes das cidades de Paris, Marselha, Aix, Avignon,
Lyon, Châlons-sur-Marne, Laval.
Também me afirmaram –
trata-se de um venerável padre que, sendo ele mesmo testemunha auricular, é
digno de toda a fé – a realidade do fato a seguir, que ademais é apenas a
repetição dos crimes da mesma natureza, que com freqüência já cometem na Itália
há uns vinte anos.
Um moço se iniciara
na maçonaria. Parece que bem depressa o consideraram maduro para grandes coisas. Ele saiu da Loja e
ingressou na Loja Secreta. Um belo dia o designaram para dar um sumiço em uma
vítima da seita. Obrigaram-no a persegui-la em todos os lugares, não podendo
alcançá-la senão na América. Ele retornou a França atormentado de remorsos,
inclinado a já não participar dos trabalhos da
maçonaria secreta. Mas logo lhe intimaram com uma segunda ordem: era forçosa
uma segunda morte, uma segunda vingança. Dessa vez o coração do moço se
revoltou, de forma que ele resolveu fugir para escapar dessa tirania do punhal.
Para tanto, deixou
Paris às escondidas, para ficar incógnito na
Argélia. Mal chegara a Marselha, recebeu no hotel onde desembarcara um
bilhete fraternal deste teor: “Conhecemos o seu projeto;
não escapará de nós. Obediência ou morte”. Assustado, retoma o caminho e chega
a Lyon, em um obscuro albergue. Meia hora depois, um desconhecido lhe traz um
bilhete escrito quase nos mesmos termos: “Ou obedece, ou morre!”
Abandona logo o
albergue e a cidade e, com a alma cheia de arrependimento e terror, vai buscar
por caminhos sinuosos abrigo no mosteiro trapista de Dombes, próximo a Belley.
No dia seguinte a sua chegada, mesmo aviso, mesma ameaça: “Nós o seguimos; em
vão tenta fugir de nós”.
Enfim, desvairado,
fora de si, e sabendo por experiência que a seita nunca perdoa, ele, seguindo o
conselho de um dos padres da Trapa, foi consultar o padre que contou esta
história, e que achou um meio, ao confiá-lo a intrépidos missionários, de
despistar os terríveis perdigueiros que lhe estavam no encalço[19].
Esse fato
atemorizante é tão-só a realização literal das instruções precisas que hoje em
dia regem a seita. Eis alguns artigos dessa constituição oculta, escrita por
Mazzini:
“Art. 30. Aquele que não obedecer às ordens da sociedade secreta ou
desvendar os mistérios dela será apunhalado sem perdão. A mesma pena se aplica
aos traidores.
Art. 31. O tribunal secreto pronunciará a sentença e encarregará um ou
dois afiliados para se incumbirem da execução imediata.
Art. 32. Qualquer pessoa que se recuse a executar a sentença será
considerada perjura e, como tal, morta imediatamente.
Art. 33. Se o culpado escapar, ele será perseguido sem tréguas, em todos
os lugares; uma mão invisível deve atingi-lo, ainda que se encontre no regaço
da sua mãe ou no tabernáculo do Cristo!”
Sabendo disso, vá lá
e se torne um maçom!
XVII
O que os Irmãos das Lojas Secretas pensam, dizem e planejam a respeito
dos seus queridos Irmãos das lojas exteriores
Aprendamos com eles:
“As Lojas, diz o famoso Tigrinho, atualmente conseguem procriar gente gulosa,
mas nunca criarão cidadãos. Janta-se demais nos T...
C... e nos T... R... de
todos os Orientes: mas é um lugar de depósito, uma
espécie de coudelaria, um centro pelo qual se há de passar antes de chegarem a
nós... Tudo isso é pastoral e gastronômico em demasia,
mas tem um objetivo que se deve encorajar incessantemente.
Ao ensiná-los a erguerem os copos como armas, apossamo-nos da vontade, da
inteligência e da liberdade do homem [eis o que acontece, então, com “os homens
livres, os maçons”!]. Dispomos dele, viramo-lo ao avesso, estudamo-lo.
Adivinhamos-lhe as inclinações, afeições e tendências; quando estiver maduro para nós, guiamo-lo até a
sociedade secreta, da qual a maçonaria não passa de uma antecâmara mal iluminada.[20]” Só quem é amigo pode trair.
Um maçom que de
boa-fé repudia qualquer idéia de afiliação a sociedades secretas é apenas um
maçom ingênuo que não está maduro. Ele é uma espécie de homem correto que
“viramos ao avesso” para cozinhar no fogo sagrado. Certamente, é algo de muito
honroso para ele não conseguir madurar, mas ainda está sob o poder das Lojas
Secretas, de forma que, a gosto ou contragosto, ao primeiro sinal, ele terá de
agir ou morrer.
Entrem no depósito!
Escolham o lugar na coudelaria! Aprendam a apresentar armas com os seus copos!
Pobres tolos, aí estão os abismos de sangue, na beira dos quais lhes estimulam
a cantar e comer!
Em 1863 um oficial da
caserna dos dragões foi introduzido como aspirante em uma Loja de Paris. Já
estava lá havia alguns meses, assistindo às reuniões de tempos em tempos. Nela
nada se fazia de extraordinário, segundo lhe parecia; havia algumas macaquices
do ritual, porém tudo isso se assemelhava a uma reunião de fumantes e
piadistas, enobrecida aqui e ali com campanhas beneficentes.
“Certo dia, todavia –
contava ele a um amigo meu, de quem ouvi a história – certo dia, um Irmão me
levou a um canto e, após algumas belas frases, me disse: – Tu me pareces ser um
bom moço (pois todo o mundo se trata por “tu” naquela terra, como antigamente);
por que não pedes para subir de grau? – Não quero outra coisa, respondi eu. Que
se deve fazer para isso? – É simples: eu te apresentarei, far-te-ão perguntas,
que responderás, e serás recebido. – Que seja! Então, marcamos o dia.
“No dia marcado,
apresentei-me pontualmente. Depois das macaqueações de costume, introduziram-me
em um quarto, onde me vi na presença de cinco indivíduos, cujos rostos me eram
totalmente desconhecidos, que jamais vira nas reuniões, e que estavam sentados
diante de uma grande mesa recoberta com uma toalha. Sobre a toalha, alguns
símbolos esquisitos logo me chamaram a atenção, entre outros uma espécie de
sol, estrelas, triângulos etc.
“A pessoa que parecia
ser o Presidente me disse para que eu pusesse a mão direita sobre a toalha,
como quando se presta um juramento. Depois, começou a perguntar o meu
sobrenome, o nome, a idade, o lugar de nascimento, os nomes e sobrenomes do meu
pai e da minha mãe, a igreja onde fui batizado, o nome do padre que me
batizara, o do padre que me dera o catecismo, e o do que me fez a primeira
Comunhão, de modo que pensava comigo: ‘Todos eles são pessoas piedosas!’
“Mas eis que de
repente tudo muda:
“– Irmão, me perguntou
o Presidente, queres renunciar o batismo?
“Retirei à toda
pressa a mão de sobre a toalha:
“– Eu, renunciar o
batismo? – exclamei. Pois sim! Se a minha pobre mãezinha soubesse, morreria de
desgosto. Renunciar ao batismo? Nunca!
“– Então, está bem,
me disse com frieza o Presidente. Estamos vendo, Irmão, que és um homem de
caráter. Se tivesses renunciado o batismo, não serias digno de entrar em nossa
morada – e começaram a me cumprimentar.
“– Diga-me uma coisa
– perguntou o meu amigo ao oficial – desde então voltaram ao assunto da
elevação de graus?
“– Não, parou por aí;
depois de algum tempo saí de lá, pois já não achava graça nenhuma. ”
É inútil comentar
essa história, que lhes apresento como me contaram. Nesse episódio, a Loja
Secreta – hipócrita, celerada, ímpia, sacrílega – se revela por detrás da Loja
ingênua e cega. Um homem está “maduro”, desde que seja capaz de renegar a fé.
XXI
A maçonaria é uma potência temível
Como prova
incontestável, basta a sua organização oculta e pública. As obras dela também
são provas suficientes: ela se gaba, pela pluma indiscreta dos adeptos mais
fervorosos, de ser há mais de um século a causa ignorada, mas real, das grandes
perturbações religiosas que aterrorizaram o mundo inteiro, em particular a
Europa.
Ela se gaba, com as
provas à mão, de alimentar o filosofismo revolucionário do século XVIII, e de
ser representada por Voltaire, Helvécio[21], Rousseau, Diderot,
d’Alembert, Condorcet, Mirabeau, Sieyès, la Fayette, Camille Desmoulins,
Danton, Robespierre, Marat, Santerre, Pétion etc. Ela se gaba de ter ferido
mortalmente a monarquia cristã, na pessoa do desafortunado Luís XVI e na da
rainha Maria Antonieta; ela se gaba da revolução sangrenta na França, em 1789 e
1793. “Quando do fundo das Lojas, dizia o
Ir... Brémond ao Or... de Marselha,
quando do fundo das Lojas saíram estas três
palavras: Liberdade, Igualdade, Fraternidade, a
revolução já estava feita.” Outro maçom, iniciado desde a mocidade nos graus
mais elevados da seita, na Prússia, o conde de Taugwitz, dava em 1822 a
seguinte declaração: “Tenho a firme convicção de que o drama começou em 1788 e
1789; o regicídio com o seu séquito de horrores não
somente foi decidido nas Lojas, mas também foi
o resultado das associações e dos juramentos.” Finalmente, em 1794,
o Grande Capítulo dos maçons alemães, alegrando-se em ver as devastações da
incredulidade e da revolta, que da França se espalhou por toda a Europa e
chegou até a América, exclamava triunfante: “A Nossa Ordem revolucionou os
povos da Europa por várias gerações”.
A maioria dos
impiíssimos revolucionários de 1830 eram maçons; assim também em 1848, mas só
por questões táticas a facção anticristã foi muito mais dissimulada que nas
desordens anteriores.
Quase todos os
corifeus da impiedade contemporânea são maçons: Mazzini, Garibaldi, Kossuth,
Juarez etc. Assim a maçonaria declara em alta voz que é ela que prepara e
determina, protegida pelas sombras, a destruição do catolicismo na Itália, Alemanha,
Áustria, Bélgica, Espanha, em Portugal e no México. Por toda parte ela ocupa os
cargos mais importantes; penetra nas forças armadas e nas grandes instituições
do Estado; está na direção da maioria dos jornais. Apóia a maioria dos governos
de acordo com a sua vontade, e a sua palavra de ordem em todo o universo é:
“Abaixo a Igreja! Abaixo a autoridade! Chega de padres! Chega de Deus!” Saibam
bem, essa é a interpretação que a maçonaria dá àquela palavra mágica
chamada liberdade, que fazia cintilar aos olhos seduzidos de
todos os povos, como outrora a serpente do Éden mostrava o brilho do fruto
proibido.
A maçonaria declara
que está no caminho do progresso ou em plena prosperidade. Há pouco dizia por
meio da voz de um dos seus periódicos: “Alguns sintomas insofismáveis provam
que chegamos em uma época de considerável desenvolvimento do poder e da
influência da maçonaria no mundo. A maçonaria compreende cada vez mais, dia
após dia, a importância da sua missão; ela rejeita os cueiros nos quais as
necessidades de um outro tempo a envolveram. Conhece o significado do seu mote;
e, em breve, ao se despojar dos últimos véus de um vago misticismo, proclamará
como princípio e base da instituição a independência completa da
consciência... Alegremo-nos com o sucesso dos esforços dos
nossos Irmãos: em todos os lugares aparece o sinal luminoso do eterno Jeová[22]!”
Quem é esse “eterno
Jeová”, cujo sinal aparece em todos os lugares, graças aos maçons? Veremos.
XXII
A maçonaria é, a despeito do que diga, essencialmente ímpia, anticristã
e atéia
Não nos enganemos: o
Deus cuja veneração a maçonaria ostenta, com o nome bizarro de Grande Arquiteto
do Universo, não é o Deus vivo, o Deus único e verdadeiro – Pai, Filho e
Espírito Santo – que adoramos; não é o nosso Criador, Senhor e Salvador Jesus
Cristo, Deus feito homem, Deus único e verdadeiro; mas é o Deus de Voltaire, o
Ser Supremo de Rousseau, da Convenção e de Robespierre, o Deus dos teofilantropos,
o Deus das pessoas de bem cantadas por Béranger, o Deus de Renan e de
Garibaldi, o Deus da religião do homem correto – é o Deus inexistente. Eles
também ostentam uma indiferença à revelação e ao advento do Cristo: rejeitam a
era cristã, contando os anos em todas as suas publicações a partir da criação;
segundo a era cristã, estamos (no momento em que escrevo) em 1867; já segundo a
era maçônica, em 5867. Essa negação do cristianismo seria pueril, se não fosse
ímpia.
A maçonaria só fala
de Deus para não espantar as massas. Com o mesmo objetivo, ela se reveste
perfidamente com aparências de religião: possui uma série de cerimônias e
ritos, confere um batismo ao seu jeito, celebra um casamento maçônico, faz um
cerimonial em enterros etc., tudo isso com invocações, bênçãos, incensações,
consagrações[23]; em suma, uma
aparência de culto. Isso para as massas.
Mas para os maçons
puro-sangue, para os verdadeiros maçons, não é preciso tanto: eles negam o
cristianismo às claras. Os outros, aqueles que não estão maduros, conservam na maioria das vezes, junto com o
nome de Deus, um vago sentimento religioso que não incomoda a consciência, e
causa pena aos maçons de raça. Todos sabem que na prática o deísmo se assemelha
em tudo ao ateísmo; trata-se de um ateísmo respeitoso e latente. Ora, a
maçonaria, quando não é francamente atéia, é deísta neste sentido. Por isso, as
Lojas alemãs há pouco declaravam: “Os maçons deístas estão acima das divisões religiosas. Não somente
precisamos colocar-nos acima das divisões religiosas, mas também acima de toda a crença em um Deus qualquer[24].”
Na França eles têm o
mesmo discurso dos alemães, pois essa é a voz do coração. O jornal Le Monde Maçonnique, ao discutir o primeiro artigo dos
estatutos da maçonaria, que trata da existência de Deus e da imortalidade da
alma, dizia:
“– Pois bem! Nada se exige de um homem para que seja digno de ser maçom?
– Nada, senão que seja um homem correto.
– E se rejeitar a idéia de Deus? – Apresente-lhe uma que satisfaça sua
razão.
– E se duvidar da vida futura? – Prove-lhe que o nada é contraditório.
– E se desconhecer os fundamentos da moral? – Não interessa, se ele viver a
agir como quem os admite[25].”
A maçonaria, deísta
ou atéia, é a negação absoluta da religião. Não sou eu que o digo, mas
Proudhon, o irmão Proudhon: “A maçonaria, escrevia ele, é a própria negação do elemento religioso”. Ela já não quer
a Deus ou a religião, antes quer excluí-la da educação, dos costumes privados e
públicos, da vida humana e da morte. Os seus escritores mais sérios, sobretudo
os modernos, estão à frente do odioso movimento ateísta e materialista que já
há alguns anos se sobressai; eles aclamam e festejam as mais audaciosas
produções anticristãs, como os jornais La Morale indépendante, La
Libre-Pensée, La Libre-Conscience, La Solidarité. “Desejamos as
boas-vindas, publicava outrora um diário maçom, aos nossos novos camaradas,
entre os quais há redatores de antiga amizade; alegramo-nos ao constatar que
todos esses jornais, sem exceção, são dirigidos por maçons, e
que eles são a maioria entre os redatores[26]. ”
Na Bélgica e em todo
lugar, a maçonaria dá origem a essa temível seita dos solidários, assim nomeados porque se comprometem
mutuamente, por um pacto formal, a viver sem religião e a morrer sem sacerdote,
como os cães.
Concordaremos de boa
vontade que existem maçons que não recaem nesse excesso de irreligião, mas,
quanto à maçonaria em si, por mais que diga o que quiser, ela é uma instituição
essencialmente ímpia, anticristã e atéia.
XXIII
De que maneira a maçonaria busca o alívio das aflições no culto do sol
Isso mesmo: do sol,
da lua e das estrelas.
A maçonaria, em nome
da ciência e do progresso das luzes, das quais fala com a boca cheia, tem a
pretensão de que “Deus não está demonstrado nem é demonstrável”; que a moral
cristã, que se apóia no temor e amor a Deus, é pueril, inútil e imoral; que
Nosso Senhor, ou não existe, ou foi um homem como os outros; que chegou o tempo
de acabar com a Igreja, o Papa, os padres. E o que é curioso, é que ela recai,
pelos caminhos da sua pretensa ciência e pelo progresso das suas pretensas
luzes, em um excesso de estupidez que seria inacreditável, caso os próprios
adeptos não o atestassem; sabem os Srs. qual é, no fundo, o Deus a quem voltam
eles os olhares? É o sol! Sim, vou repetir: o sol, a exemplo desses brutos de
rosto humano que por vezes encontramos no submundo da nossa sociedade
descristianizada. Continuem escutando.
Na iniciação ao grau
de Mestre, que é o terceiro da maçonaria, eis que o Respeitável (!) diz com
todas as letras ao novato: “O Adoniram da maçonaria – que também é Osíris,
Mitra, Baco, e todos os deuses célebres dos antigos mistérios – é uma das milhares de personificações do sol. Adoniram,
em hebraico, significa vida elevada, o que bem indica a posição do sol em
relação à terra. Em todas as cerimônias que acontecem na Loja, reconhecereis a toda hora esse pensamento. Assim, a
nossa associação se põe sob a proteção de São João, ou seja, de Janus, o sol dos solstícios. Celebramos
também, nos dois solstícios do ano [21 de junho e 21 de dezembro], a festa do nosso padroeiro, com um cerimonial
[g]astronômico. A mesa à qual sentamos tem a forma de uma ferradura e
representa a metade do círculo do zodíaco; e nos trabalhos à mesa [sic] oferecemos sete libações em
honra aos sete planetas.”
O Ir...
Rebold diz que os milagres e feitos da vida de Jesus devem explicar-se por
“aspectos solares”. O Ir...
Grande Chanceler Renan declara, na Revue des Deux Mondes (15
de outubro de 1863), que “o culto do sol é o único culto
racional e científico”, e que “o sol é o Deus particular do
nosso planeta”! Citação literal.
O culto do sol é a
instância suprema dessas cabeças possantes que só vivem a falar de progresso,
luz, ciência, e que com modéstia se intitulam “os sublimes príncipes da
verdade”! Eis o piedoso significado desse evangelho de São João que vimos
aberto diante dos olhos dos profanos, no início das provas do Aprendiz! Eis a
famosa “luz”, as “chamas purificadoras” que o Venerável dá generoso ao
Aprendiz! Eis o sentido da “estrela chamejante” e da faixa azul a tiracolo! O
culto do sol, o culto degradante à matéria, o Deus-Natureza, ou melhor, um
ateísmo que se torna mais vergonhoso porque se cobre com o véu da moral e
beneficência, não sendo apenas ímpio, mas ainda hipócrita, é uma bela punição
para o orgulho desses homens de cerviz dura!
A maçonaria ousa
dizer-se “a origem e a fonte de todas as virtudes sociais”; estas são palavras
do Ir... Ragon. E ainda: “A filosofia mais pura, a origem das
fábulas de todos os cultos [sic], o poço onde a verdade parece que se
refugiou”!!! Que impudência!
São desses poços
tenebrosos que saem há quase dois séculos as vagas de blasfêmias, impiedades,
negações audazes, mentiras, calúnias contra a Igreja, revoltas, destruições,
instituições cripto-atéias, que ameaçam a civilização cristã com a ruína total!
São desses poços em particular que saíram nestes últimos anos as blasfêmias de
Renan e de Proudhon, blasfêmias satânicas, que as Lojas mandam traduzir em
todas as línguas. São deles que saem dia após dia as potestades de toda casta
que investem contra Roma, abalam as sés do papado, e gostariam de descoroar o
Cristo e o seu Vigário.
No fundo, a doutrina
dos maçons é o materialismo.
XXIV
Da imprensa maçônica
A atividade
propagandística da maçonaria é febril: o zelo pacífico é a característica da
verdade; já a agitação é a característica do erro. A agitação da maçonaria é
prodigiosa. Os seus meios de ação são variados e poderosos; ela abre fogo de
todos os flancos contra nós. Vamos mostrar essa atividade, limitando-nos à
França.
A sua arma principal
é a imprensa. Já vimos que ela dirige indiretamente a
maioria dos jornais. Ademais, ela tem publicações próprias, mais ou menos
perversas, de acordo com a sua maior ou menor franqueza. Comecemos pela revista
mensal Le Franc-Maçon, anódina, fundada em 1847, às vésperas
da revolução de fevereiro, e destinada a esclarecera mente e
alegrar a alma de todos os “irmãos”. Ela é respeitosa com
a religião, ao menos na forma. Essa é a publicação mística e ortodoxa da
maçonaria. Os puros maços progressistas a apelidam impiedosamente de “jesuíta”.
Em seguida
temos Le Journal des initiés, também uma revista mensal,
publicada em dois cadernos parecidos, dos quais o segundo se chama La Renaissance. Nesta revista, não se pronuncia o nome
maçom nem maçonaria, pois é o “caderno de propaganda”. Ele propaga a obra da maçonaria sem nomeá-la, a fim de afastar os
preconceitos[27]. Quanta boa-fé! Quanta candura!
Pertence ainda a
ela Le Monde Maçonnique, publicação bem mais audaciosa, por
conseguinte mais franca e maçônica. Já a citamos diversas vezes. Esse periódico
combate os dois outros, e os acusa de atrasados e formalistas; Le Monde Maçonnique apregoa abertamente o livre
pensamento, a independência, muito acima de qualquer idéia de religião. Ela
está do lado dos maçons liberais, que
desejam reformar a maçonaria exterior e mesmo lograr a supressão oficial do nome
“Grande Arquiteto do Universo”. Esse partido faz grandes progressos, embora
ainda não tenha conseguido que as suas opiniões predominassem. Apesar de a
maioria dos maçons jesuítas considerarem
essa fórmula tão-somente uma pura formalidade, que deixa aos irmãos a plena
liberdade ao ateísmo, todavia os maçons liberais se
apegam à supressão dela: essa velharia cheira demais à religião e representa
perigo.
A maçonaria ainda
reivindica os jornais abomináveis que citamos faz pouco: La Morale independente, La Libre-Pensée, La Libre-Conscience, La
Solidarité; e pouca ofensa se faria ao contar entre os seus produtos
mais legítimos, ou ao menos entre os seus mais devotados auxiliares, numerosos
jornais, grandes e pequenos, como Le Siècle, L’Opinion nationale,
L’Avenir national, Le Temps, La Liberté, Le Journal des Débats.
Essas folhas, todavia, não sentem a necessidade de datar os seus números em
anos maçônicos. Também deixam sob uma penumbra discreta o jargão dos irmãos e
amigos, além do famoso signo sacramental (...).
A Revue des Deux Mondes está, da mesma forma, a
serviço da maçonaria e da sua obra sacrílega. Quase todos os redatores dela são
racionalistas conhecidos, ou heréticos; alguns são ateus, como Renan, Taine,
Littré etc.
Assim, na França,
a imprensa é em grande parte maçônica, ou seja,
anticatólica e anticristã. Um verdadeiro perigo para a fé do povo!
XXV
A maçonaria começa a apropriar-se da infância por meio do ensino e da
educação
Essa segunda arma
talvez seja mais perigosa que a primeira. A maçonaria parece que a havia
negligenciado um pouco, mas ela já despertou para isso, e começa a fazer os
projetos que vamos conferir.
Com o batismo, o
catecismo e a primeira comunhão, a Igreja faz cristãos e estabelece as bases da
vida religiosa. Já a maçonaria, que é a anti-Igreja, não
deseja nada disso ou, melhor dizendo, deseja substituir as bases cristãs pelas
bases maçônicas, totalmente estranhas ao cristianismo. Antes de mais nada, ela
trata de apor o selo maçônico em todas as criancinhas, por uma cerimônia de adoção
que se cumpre “sob o brilho da luz maçônica”; à pobre criança adotada diz: “Que
a luz maçônica brilhe nos teus olhos, como mais tarde a faremos brilhar no teu
espírito”[28]. Assim como a criança batizada se
torna cristã e membro da Igreja, assim a criança adotada se torna um lowton (“jovem lobo”). Esses lobinhos, se são
pobres, têm direito ao auxílio dos irmãos...
Em um internato de
Avignon, uma pobre mulher apresentara outrora às boas irmãs uma criancinha de
onze meses, declarando à superiora que estava de passagem pela cidade, e
pedindo remédios para o filhinho. A religiosa, ao acarinhar o doentinho,
percebeu uma medalha estranha pendurada ao pescoço dele.
– Que medalha é esta? – perguntou a irmã à
mãe.
– É a medalha dos maçons – respondeu-lhe a pobre mãe.
Como a irmã a
censurasse, esclarecendo-lhe que os maçons estavam excomungados, respondeu a
infeliz sem vacilar:
– Ao apresentar-me
com esta medalha ao chefe de uma Loja, logo conseguirei uma soma em dinheiro
para ajudar-me a prosseguir a viagem.
Parece que em certos
subúrbios de Paris o número de lowtons é bem considerável entre os filhos da
classe operária. Pobrezinhos!
Os maçons, contudo,
querem apossar-se das crianças por meio das escolas. “Convém preparar o mundo
profano para receber os nossos princípios,
dizia Le Monde Maçonnique (outubro de 5866). Considero a
instrução primária a pedra angular do nosso edifício... Deve a instrução
religiosa ser retirada do currículo?... O princípio de autoridade natural [quer
dizer, a fé], que tira a dignidade do homem, é inútil para
disciplinar as crianças [que ausência de senso prático!] e suscetível a levá-las ao abandono da moral [que
ausência de senso moral!], portanto é urgente renunciá-lo. Nós
ensinaremos os direitos e deveres em nome da liberdade, da consciência, da
razão e ainda em nome da solidariedade. [Eis aí a tagarelice revolucionária,
oca e sonora, que com as suas grandes palavras não sabe o que diz!] A maçonaria
deve ser o modelo da sociedade moderna, e formar homens livres. [Conhecemos essa liberdade.] Abrir escolas,
sobretudo escola para adultos, e orfanatos é a melhor maneira de vulgarizar
a maçonaria.”
Essa aspiração, que
numerosas Lojas abraçaram, foi sancionada e realizada por um decreto do Grande
Oriente da França (em janeiro de 5867 ou, em linguagem cristã, 1867). O decreto
diz “que se decidiu em conselho que o G... O...
encabeçará uma obra, cujo objetivo é encorajar e propagar a instrução primária,
distribuindo todos os anos premiações quer aos professores e professoras, quer
aos alunos, e abrindo, conforme as circunstâncias o permitam, escolas primárias
e turmas para adultos”. A circular expõe ainda a organização da obra, que as
Lojas ou os comitês nomeados levarão a cabo, o modelo das subscrições e a
necessidade de desdobrar-se em zelo, estipulando que as recompensas e as
cadernetas de poupança virão acompanhadas de uma medalha com a seguinte
inscrição: “Grande Oriente da França. Encorajamento à instrução primária, dado
em nome dos maçons do Oriente de...”.
No ano seguinte,
decidiu-se que a maçonaria abriria quarenta escolas pelos vinte bairros de
Paris, duas em cada bairro: uma para os meninos, e outra para as meninas.
A propaganda das
escolas protestantes é decerto bem perigosa; já esta, se não me engano, também
o será, mas de outra forma.
Para completar a
coisa, Le Monde Maçonnique (janeiro de 5867) nos anuncia
“a preparação de um Catecismo de Moral,
para uso e entendimento das crianças. Esse catecismo lhes ensinará a escutar a
consciência, em vez da tradição [ou seja, em vez da religião e da Igreja], a
ser virtuoso por princípio [como se os cristãos não fossem virtuosos por
princípio!], com convicção [como se a fé não fosse a mais sérias de todas a
convicções, quiçá a única séria!] e desinteresse [como se a esperança do céu e
o temor do inferno nos impedissem de servir e amar a Deus por Si só!]”. Para
esse efeito, no mês de junho de 1867, ofereceriam um prêmio de quinhentos francos[29].
Enfim, em novembro de
1866, os maçons da Alsácia inauguraram uma liga de ensino para
a França, imitando a que funcionava na Bélgica desde 1864. O princípio
fundamental dessa liga é “não servir aos interesses particulares de nenhuma opinião religiosa”; em outros termos,
proscrever em absoluto a fé do ensino e da educação. O Ir...
Macé, promotor dessa liga ímpia, recolhera numerosas subscrições ao final de um
mês, e Le Monde Maçonnique declarava (fevereiro de 1867)
que “os maçons devem aderir em massa a essa liga beneficente, e as
Lojas, estudar na paz dos seus templos [sic] as melhores maneiras de implementá-la”.
Na França existem
cento e sessenta mil maçons; julguem os Srs. se o risco é quimérico! Alerto não
somente os pastores de almas, mas ainda os pais de família que conservam no
coração alguma centelha de fé! [...]
XXX
A Igreja muito justamente anatematizou a maçonaria inteira, sem nenhuma
restrição
A maçonaria declara
inocência, e se diz caluniada e injustamente condenada pela Igreja.
Já sabemos o
suficiente para avaliar a pretensa inocência e a pretensa injustiça.
Crê a maçonaria na
autoridade do Soberano Pontífice da Igreja Católica? Submete-se ela ao papa em
tudo, como Deus o ordena? Não, mil vezes não. Crê na divindade de Nosso Senhor
Jesus Cristo? Não. Crê em Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, assim como Ele é e
Se revelou ao mundo, assim como quer que O adorem? Não. Portanto, ela é, antes
de tudo, culpada por revolta, impiedade, heresia e blasfêmia; portanto, é
anticatólica, anticristã e atéia; portanto, está condenada; quando a Santa Sé a
condenou, condenou-a com muita, muitíssima justiça.
Por outra
perspectiva, de um cristianismo menos exclusivo, a maçonaria – não apenas a
oculta, que as pessoas corretas reprovam, mas ainda a pública e exterior, cujas
regras são conhecidas e quase entregues ao público – é uma instituição
perigosa, perversa, imoral, contrária às leis mais elementares da justiça
humana e boa ordem das sociedades. Para tanto, quero apenas uma prova: o
juramento maçônico e a pena de morte que pune a sua violação.
A maçonaria não pode
negar: no primeiro passo da iniciação, ao ingresso nas Lojas pelo grau de
Aprendiz, no momento em que cai a venda que até então cobria os olhos do
postulante – este vê as espadas nuas dos assistentes apontadas ao seu peito, e
escuta os irmãos exclamar: “Que Deus puna o traidor”! E acrescenta o Venerável,
após tranqüilizá-lo: “Se chegardes a trair a maçonaria, nenhum lugar da terra vos servirá de abrigo contra essas armas
vingadoras”. É ou não verdade que, para ser maçom, para ser
recebido no primeiro grau de Aprendiz, deve-se prestar
o juramento execrável que citamos ao longo do texto, transcrito do ritual da
ordem maçônica[30]?
É impossível negar
esses dois fatos. Ora, pergunto aos homens corretos, aos magistrados, o que é
uma sociedade privada que, ao largo da sociedade civil, ameaça de morte, fria e
oficialmente, todos os membros que fossem infiéis a sua lei? Que é uma
sociedade particular que tem a audácia de afirmar: “Se fordes infiéis a
mim, nenhum lugar da terra vos servirá de abrigo contra essas armas
vingadoras”. Que é essa ameaça, senão ameaça de morte e
assassinato? Ora, eis aí um crime que incide nas penas da lei em todos os
países civilizados.
Que é, pergunto
ainda, que é esse monte de imprecações que acompanham, ou melhor, que
constituem o juramento maçônico? Um cristão, um homem de bem, um homem correto
seria capaz, conscientemente, de doar-se assim, de corpo e alma, sob pena de
morte, a uma sociedade qualquer, fora da Santa Igreja? A sociedade que impõe a
todos os membros sem exceção, e que recebe semelhante juramento; uma sociedade
privada que, desprezando todas as leis divinas e humanas, arroga-se direitos
tão exorbitantes, em particular o direito de vida e morte sobre os milhões de
homens que a compõem, é uma sociedade profunda e essencialmente imoral. Todas
as vezes que a espada da Igreja a golpeia, golpeia-a justamente.
Assim, a maçonaria,
condenável pela dupla perspectiva da razão e da fé, foi condenada com justiça
pela Santa Sé que, nesta como em outras circunstâncias, cumpriu corajosamente a
missão salutar que Deus lhe confiou. Encarregada de ensinar os povos, proclamar
e defender a verdade, julgar, desmascarar e perseguir o erro e o mal, a Santa
Igreja anatematizou solenemente a maçonaria, em todos os seus graus e formas.
Ela excomungou, ou seja, retirou do seu seio, todos os
cristãos, quem quer que sejam, que ousarem afiliar-se
a ela, não obstante a proibição formal.
Todo maçom, pois,
está excomungado, e justamente excomungado: dos simples aprendizes aos grandes
orientes e grandes mestres, dos grandes notáveis aos pequenos associados, dos
afiliados às Lojas aos adeptos das Lojas Secretas.
XXXI
Das condenações formais que os Soberanos Pontífices impuseram à
maçonaria
Nosso Senhor Jesus
Cristo disse no Evangelho: “E aquele que se
recusar ouvir a Igreja, seja ele para ti como
um pagão e um publicano”. Ora, a Igreja, pela voz dos
papas, condenou formal e solenemente a maçonaria.
Desde a primeira
metade do século XVIII, quando a maçonaria se organizou de maneira mais
evidente na Europa, o Papa Clemente XII a condenara pela bula de 27 de abril de
1738:
“Tendo em mente, diz
o papa, o grande prejuízo que é muitas vezes causado por essas Sociedades ou
Convenções não só para a paz do Estado temporal, mas também para o bem-estar
das almas [...], depois de ter tomado conselho de alguns de nossos Veneráveis
Irmãos entre os Cardeais da Santa Igreja Romana, e também de nossa própria
reflexão a partir de certos conhecimentos e de madura deliberação, com a
plenitude do poder apostólico, decidimos fazer e decretar que estas mesmas
Sociedades, Companhias, Assembléias, Reuniões, Congregações, ou Convenções
[...] de Maçons, ou de qualquer outro nome que estas possam vir a possuir,
estão condenadas e proibidas, e por Nossa presente Constituição, válida para
todo o sempre, condenadas e proibidas.
“Deste modo,
acrescenta ele, Nós ordenamos precisamente, em virtude da santa obediência, que
todos os fiéis de qualquer estado, grau, condição, ordem, dignidade ou
preeminência, seja esta clerical ou laica, secular ou regular, mesmo aqueles
que têm direito a menção específica e individual, sob qualquer pretexto ou por
qualquer motivo, não devam ousar ou presumir o ingresso, propagar ou apoiar
estas sociedades dos citados [...] maçons, ou de qualquer outra forma como
sejam chamados, recebê-los em suas casas ou habitações ou escondê-los,
associar-se a eles, juntar-se a eles, estar presentes com eles ou dar-lhes
permissão para se reunirem em outros locais, para auxiliá-los de qualquer
forma, dar-lhes, de forma alguma, aconselhamento, apoio ou incentivo, quer
abertamente ou em segredo, direta ou indiretamente, sobre os seus próprios ou
através de terceiros; nem exortar outros ou dizer a outros, incitar ou
persuadir a serem inscritos em tais sociedades ou a serem contados entre o seu
número, ou apresentar ou ajudá-los de qualquer forma; devem todos (os fiéis) permanecer
totalmente à parte de tais Sociedades, Companhias, Assembléias, Reuniões,
Congregações ou Convenções, sob pena de excomunhão para todas as pessoas acima
mencionadas, apoiadas por qualquer manifestação, ou qualquer declaração
necessária, e a partir da qual ninguém poderá obter o benefício da absolvição,
exceto na hora da morte, salvo através de Nós mesmos ou o Pontífice Romano da
época.”
Na época do Papa
Bento XIV, algumas pessoas buscavam inculcar que já não vigorava a constituição
de Clemente XII, e quem desde então ingressasse na sociedade dos maçons não
incorria na pena de excomunhão. Após examinar a questão com seriedade, esse
ilustre pontífice se apressou em desenganá-las, e com a bula de 18 de maio de
1751 confirmou a Constituição do predecessor em todas as suas disposições:
“Para que se não
possa dizer que, imprudente, omitimos alguma coisa do que pode barrar a boca à
mentira e à calúnia, resolvemos confirmar, como de fato confirmamos pelas
presentes Letras, a Constituição acima referida, corroborando-a, renovando-a
com toda a plenitude de nosso poder apostólico em tudo e sem reserva, como se
fosse publicada por nós mesmo, por nossa própria autoridade, em nosso nome, e
queremos e mandamos que tenha força e eficácia para sempre.”
A sociedade dos Carbonari, que, no começo do século XIX, invadiu toda a
Europa e sobretudo a Itália, não passava, como já vimos, de uma ramificação da
maçonaria. Na bula de 13 de setembro de 1821, o Papa Pio VII expõe as
principais características dela, mostra-lhe a conexão íntima com a ordem
maçônica, assinala os males que provocam temor na religião e na sociedade
cristã – esses males, desde então até os dias de hoje, já se concretizaram
totalmente. O venerável Pio VII, com esta constituição, condena com a pena de
excomunhão, especialmente reservada à Santa Sé, aqueles que se associarem ou
favorecerem de qualquer modo a seita maçônica.
Em 1825, o Papa Leão
XII, ao considerar todas as sociedades secretas em conjunto, vislumbrava
receoso os males que ameaçavam a religião e o estado; ele enxergava, com
profunda dor, que nelas se pregava a indiferença religiosa, que a elas se
afiliavam homens de todas as religiões e credos, que tais sociedades atribuíam
a si o direito de vida e morte sobre quem violasse os segredos das Lojas e
recusasse executar as ordens criminosas que ordenavam; estava temeroso do
profundo desprezo que nelas se professava contra toda autoridade. Em
conseqüência, pela bula de 13 de março de 1825, o Santo Padre renovou de modo
inequívoco as constituições que os seus predecessores – Clemente XII, Bento XIV
e Pio VII – publicaram contra as sociedades secretas, em particular contra os
maçons, e proibiu, como eles, a todos os fiéis que se associassem e
participassem delas, a qualquer título, sob pena de incorrer de fato em
excomunhão, especialmente reservada à Santa Sé, de sorte que somente o papa
poderia absolver o culpado, exceto em artigo de morte.
Enfim, na alocução de
25 de setembro de 1865, o Papa Pio IX lamenta, como os predecessores, todos os
males que as sociedades secretas em geral, e a maçonaria em particular,
causaram à religião católica e à civilização cristã. Ele renovou todas as
disposições contidas nas constituições apostólicas dos papas Clemente XII,
Bento XIV, Pio VII e Leão XII, especialmente a pena de excomunhão infligida
contra quem seja afiliado a ela ou a favoreça de qualquer modo. Exorta os fiéis
que tiveram a infelicidade de associar-se a elas, para que as abandonem sem
demora e assegurem a própria salvação, ao mesmo tempo que exorta vivamente aos
que até agora tiveram a felicidade de conservar-se distantes delas, para que
nunca se deixem arrastar para esse perigoso abismo.
Já não há dúvida
possível: quem se afilie à sociedade dos maçons incorre, pelo fato da
afiliação, nas penas que Clemente XII em 1738, Bento XIV em 1751, Pio VII em
1821, Leão XII em 1825 e Pio IX em 25 de setembro de 1865 infligiram contra
eles. Eles estão formalmente excomungados, não participam das orações da
Igreja, já não devem assistir ao santo sacrifício da Missa e aos outros ofícios
públicos, nem receber os sacramentos. Se morrerem nesse estado, não têm direito
à sepultura eclesiástica, porque a Igreja deixou de contá-los entre os seus
filhos.
Ou católico ou maçom,
não há meio termo. “Não é possível ser ao mesmo tempo maçom e católico[31].”
XXXII
Que devemos fazer em face da grande conspiração anticristã
A Igreja tem uma
constituição tão poderosa, que lhe basta ser ela mesma para desbaratar todas as conspirações de todos os seus inimigos. Não importa quantos somos:
sejamos verdadeiros cristãos, católicos sérios, que isso será o suficiente.
A união faz a força.
Os nossos inimigos entendem isso: a sua força está na união, e a sua união na
obediência. Sejamos mais unidos que eles, e assim obedeçamos melhor que eles. A
Igreja Católica se resume em duas palavras: Obediência e Amor. Obedeçamos
amando, amemos obedecendo.
Antes e acima de
tudo, obedeçamos em todas as coisas à cabeça da
Santa Igreja, ao Nosso Santo Padre o Papa, Vigário de Jesus Cristo, Pastor e
Doutor infalível de todos os cristãos[32].
Para que estejamos
seguros de obedecer ao papa, obedeçamos ao nosso bispo, ao nosso padre, ao
nosso confessor. Obedecendo-lhes, não obedecemos a homens, mas ao próprio Deus,
que por eles nos ensina, conduz, perdoa e incentiva no caminho correto. Tanto a
obediência maçônica é cega, louca, absurda, culpável, sacrílega, quanto a obediência
católica é racional, razoável, legítima, nobre, santa e meritória. Que há de
mais belo que obedecer a Deus?
À obediência juntemos
o amor. A essência da união é o amor. Amemos uns aos outros, cristã e
eficazmente. Se somos ricos, amemos os pobres; se são os nossos irmãos, é a
Jesus Cristo que amamos e assistimos nas suas pessoas. Amemos os nossos padres,
e os cerquemos com todas as espécies de deferência; amemos o nosso bispo, que é
o pai e pastor das nossas almas e, mais ainda, amemos o papa. Eis a verdadeira fraternidade, cujo arremedo ímpio é a
fraternidade maçônica, assim como a liberdade e a igualdade maçônicas são o
arremedo da verdadeira liberdade cristã e da verdadeira igualdade. Os homens só
são realmente iguais diante de Deus, e só são livres ao se tornarem filhos de
Deus.
A maçonaria nos ataca
pela imprensa: fiquemos de guarda, não leiamos nunca os maus jornais,
instruamo-nos a fundo nas verdades da fé e, se pudermos, espalhemos ao nosso
redor os bons livros católicos. Um bom livro é um missionário em miniatura, que
muitíssimas vezes converte aquele que o carrega.
A maçonaria quer
arrebatar-nos as almas dos nossos filhos, portanto reajamos com energia e
façamos do mal sair o bem. Redobremos o zelo para salvar e santificar as
crianças, para instruí-las e preparar valentes soldados para a Igreja. Pais e
mães, não esqueçam que vocês têm o cuidado das almas, e que uma educação que
não seja profundamente cristã seria nos dias de hoje, mais que nunca, um imenso
perigo para os seus filhos.
Enfim, reanimemos ao
nosso redor o espírito de família, que as seitas maçônicas querem substituir
por não sei que quimera pretensamente patriótica, que só serve para exaltar a
imaginação e perder a cabeça. Convençamo-nos disto: o remédio para o veneno
maçônico é sermos verdadeiros cristãos, substituirmos o orgulho pela humildade,
a obediência e a fé, amarmos de verdade a Nosso Senhor Jesus Cristo com todo o
nosso coração, com toda a nossa alma e com todas as nossas forças.
Se não fizermos nada
disso, teremos muito a temer; isso mesmo, muito a temer, neste mundo e no
outro. Se, ao contrário, permanecermos fiéis a Deus e a sua Igreja, nada
teremos a temer: o futuro nos pertence.
De duas, uma: ou a
luta que se avista é a suprema luta da Igreja, ou não é. No primeiro caso, a
Igreja, segundo a profecia, sucumbirá por um momento, como o Cristo no
Calvário, e nós com ele; mas, como no Calvário, Satã será vencido, e a sua
tropa irá queimar com ele no inferno – os maçons e os demais. Já nós, ao
contrário, ao ressuscitarmos na glória para todo o sempre, iremos ao céu para
ali reinar eternamente com Nosso Senhor Jesus Cristo. No segundo caso, devemos
encarar a luta com uma confiança ainda mais alegre, pois o inimigo que nos
impede o caminho pode alcançar triunfos parciais, mas logo a tempestade passará
como passaram tantas outras; já neste mundo gozaremos, com a Santa Igreja, da
vitória e da paz.
Em um ou outro caso,
os nossos deveres são os mesmos: união, obediência, fé viva, caridade
fraternal, zelo pela salvação das almas e a santa causa da Igreja.
Combatamos todos o
bom combate, sob a gloriosa bandeira da Virgem Imaculada e de São Pedro.
(Tradução:
Permanência)
[1] Os Cavaleiros do Templo foram instituídos
para defender a fé na Terra Santa. Eles logo se expandiram por toda a Europa e
granjearam uma imensa influência, graças às suas riquezas. Um dos seus
primeiros grão-mestres se deixou seduzir pelos turcos e introduziu na Ordem,
além de costumes contra a natureza, práticas sacrílegas que durante muitíssimo
tempo permaneceram em profundo segredo. Felipe o Belo descobriu esses horríveis
mistérios, e instou o Papa Clemente V para que punisse os Templários e
suprimisse a Ordem. O principal objetivo de Felipe o Belo era o confisco dos
bens da Ordem em proveito próprio. Esse pormenor histórico é atualmente um fato
verificado.
[2] Com isso não quero dizer que os
maçons herdaram esses horríveis costumes dos Templários; limito-me a constatar
o parentesco que parece existir entre ambos.
[3] Grande parte das nossas
informações foram tiradas da interessante obra do Sr. Alex de Saint-Albin,
intitulada: Les Francs-Maçons et les Societés secrètes. Indicamo-la
aos leitores que queiram estudar mais a fundo esse assunto importante.
[4] Ele escreveu um livro que, por
ordem da loja capitular, do Oriente de Nancy, foi objeto “de uma reimpressão
oficial, nomeada edição sagrada, apenas para uso das
lojas e dos maçons”. Esse Ir.'. Ragon é um ancião venerável. Ao aprovar os
escritos dele, o Grande Oriente proclamou que eles contêm a pura doutrina
maçônica. Citá-lo-emos amiúde neste opúsculo, como uma fonte autêntica que o
inimigo não pode desautorizar.
[5] Carta à Venda piemontesa, 18 de
janeiro de 1822.
[6] Esses três pontos formam um
triângulo misterioso, símbolo do igualitarismo que
a maçonaria pensa que outorga a todas as regiões do globo, para que assim se
eliminem todas as religiões e autoridades que não emanem dela.
[7] Histoire pittoresque de la
Franc-Maçonnerie, p. 1 e 2.
[8] O Ir...
Ragon, Cours philosophique et interprétatif des Initiations anciennes et
modernes.
[9] Duas batidas rápidas e fortes (ao
menos no rito escocês) e, após uma breve pausa, uma terceira mais leve. O Companheiro bate à porta da mesma maneira, por
primeiro uma batida e depois duas. O Mestre bate três vezes as batidas do
Aprendiz. O Venerável, ou Mestre da Loja, bate com grandeza olímpica uma única
vez – é Júpiter que está à porta.
[10] Em francês e outros idiomas
ocidentais, a expressão “passar pelas forcas caudinas” — alusão à célebre
batalha da Antigüidade, na qual os romanos foram trucidados após passarem pelo
desfiladeiro das Forcas Caudinas — significa o mesmo que passar por uma
experiência humilhante. [N.do E.]
[11] Montjoie, Histoire de la conjuration de Louis-Philippe d'Orléans-Égalité.
[12] Cours philosophique et
interprétatif des Initiations anciennes et modernes, p. 388.
[13] Quem é esse judeu Rafael? Seria,
por acaso, o traidor Judas, tão simpático ao Ir...
Renan?
[14] O Pe. Barruel, Le Jacobinisme dévoilé, tomo II, p. 312 e ss.
[15] Manifesto de abril de 1834.
[16] Para ludibriá-la melhor e atrair
os militares, a seita acrescentou à usual organização das Vendas uma organização militar, ou melhor, de
denominação militar: legião, coortes, centúrias,
manípulos, etc.; de acordo com as necessidades do momento, ela se
apresenta com uma ou outra cara.
[17] Histoire de dix ans,
tomo I.
[18] Refere-se o autor à proclamação
da efêmera “República Romana”: o papa é destronado e os bens da Igreja são
confiscados. Sobre o tema, veja o artigo “Viva Pio IX!” da Revista Permanência
nº. 280. [N. do E.]
[19] Bem recentemente, a filha de um
maçom confirmava, por uma inocente indiscrição, a realidade desses
procedimentos inexoráveis. Essa criança, de doze anos de idade, quase sempre
escutava o seu pai falar sobre a maçonaria e declarar que fazia parte dela. Graças
à influência da sua boa mãe, a menina foi internada em uma casa de educação
religiosa. Ela chegou a repetir mais de uma vez diante das colegas, das
religiosas e do padre coadjutor do estabelecimento estas palavras saídas da
boca do pai: “Se algum de nós vier a trair o segredo que lhe foi confiado na
maçonaria, irão persegui-lo até o fim do mundo e lhe darão sumiço, sem que nem
a polícia nem quem quer que seja saiba o que aconteceu”.
[20] Carta da Venda piemontesa, de 18
de janeiro de 1822.
[21] Quando o materialista e ateu
Helvécio morreu, a viúva devolveu as insígnias à Loja das Nove Irmãs, à qual ele pertencia. Ofereceram a
Voltaire o avental de Helvécio; e Voltaire, o grande
Voltaire, antes de cingi-lo, beijou-o piedosamente como
a uma relíquia. Voltaire, que se apelidava a si mesmo de o Zomba-Cristo, não se contentou em ser recebido como
maçom na Inglaterra: a sua consciência e piedade não se satisfizeram enquanto
não se iniciou na maçonaria francesa. Admitiram-no em 7 de abril de 1778, sete
semanas antes de morrer, certamente como preparação próxima [para a morte].
Aclamaram-no maçom perfeito desde o primeiro instante e dispensaram-no
das provações, pois, declararam os Irmãos, “sessenta
anos consagrados à virtude e ao talento já o
fizeram bastante conhecido”.
[22] Monde maçonnique,
edições de agosto de 1866 e fevereiro de 1867.
[23] Ver o Rituel Maçonnique.
[24] Gazette des Francs-Maçons,
em 15 de dezembro de 1866.
[25] Ibid., setembro de
1866.
[26] Monde Maçonnique,
novembro de 1866.
[27] Número de janeiro de 1867.
[28] Ir.’. Ragon, Rituel d’adoption des jeunes Louvetons.
[29] Aproximadamente R$ 22.250,00, em
luíses de ouro [N. T.].
[30] Ver cap. VIII.
[31] Le Monde Maçonnique,
maio de 1866, p. 6.
[32] A grande virtude da obediência
supõe um estado normal da vida da Igreja, quando os papas defendem a verdade e
a fé. Diante dos erros de Vaticano II que põem em grave perigo a nossa fé, nem
sempre podemos aplicar a virtude da obediência às palavras ou ordens do papa e
dos bispos. Nesse caso vale aquilo do Apóstolo: “Deve-se obedecer antes a
Deus que aos homens” (At 5, 29). [N. do E.]
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