- Na visão do Gênesis o Anjo com a espada para afastar Adão e Eva do Paraíso, condenados às agruras da terra, não será outro que o da terceira parte do «Segredo de Fátima» :
- «Depois… vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fôgo em a mão esquerda, ao centilar, despedia chamas que parecia iam encendiar o mundo, mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontado com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência!
- Toda a história humana, do início ao fim, está pautada pela voz imperiosa de penitência para a salvação!
A História Sagrada, a História da Salvação, na Antigo e Novo Testamento, é absolutamente ininteligível sem o pecado original, concebido como realidade Histórica-Teológica. A própria História Universal é perpassada por um poder maligno que de forma alguma pode ser exclusivamente atribuído à acção de satanás, mas imputável também a uma TENDÊNCIA MUITO MARCADA PARA A PRÁTICA DO MAL, DA PARTE DOS HOMENS. É necessário afirmá-lo com toda a veemência: O PRINCÍPIO IMANENTE, CONCRETO E HUMANO, QUE REGE A HISTÓRIA UNIVERSAL – É O PRINCÍPIO DO MAL.
Então e a Providência Divina?
A Providência Divina constitui a Ideia do mundo, Eternamente presente na Inteligência Divina; é uma Ideia de máxima extensão e infinita compreensão, a qual atinge igualmente os denominados futuríveis, ou seja, os diversos comportamentos que as criaturas espirituais poderiam actuar, nas diversas circunstâncias. É nessa Ideia, que se identifica com a Essência Divina, que Deus, Eternamente, substancialmente, contempla toda a realidade da Criação. As próprias criaturas, admitidas à Visão Beatífica, contemplarão, Eternamente, nessa Ideia toda a realidade do mundo, mas contemplá-la-ão NA PRÓPRIA LUZ DE DEUS, E NA PROPORÇÃO DO SEU CONHECIMENTO E AMOR SOBRENATURAL DE DEUS, E PORTANTO DOS SEUS MÉRITOS. A Providência Divina não possui como missão suprimir o mal, mas ENQUADRÁ-LO TELEOLÒGICAMENTE PELO BEM.
Mas já mesmo neste mundo, o nosso organismo Sobrenatural nos faculta, intrìnsecamente, na própria Luz de uma Fé, formada pela Caridade, e ilustrada pelos Dons do Espírito Santo – O FUNDAMENTADO PRINCÍPIO DA MISÉRIA DA CONDIÇÃO HUMANA!
Porque Adão e Eva, desobedecendo à lei que lhes interditava comer dos frutos da árvore da ciência do Bem e do Mal – isto é, que definia os limites ontológicos e religiosos da sua privilegiada condição – quebraram e dissolveram essa mesma condição, simultâneamente Preternatural e Sobrenatural, perdendo todos os Dons respectivos. Adão e Eva, para pecarem, tiveram que exercer UM GRANDE ESFORÇO MORAL NEGATIVO, POIS NA CONDIÇÃO ONTOLÓGICA EM QUE SE ENCONTRAVAM, O BEM ERA MUITO FÁCIL, E O MAL MUITO DIFÍCIL; AO PECAREM, ADÃO E EVA INVERTERAM AS COORDENADAS DA CONDIÇÃO HUMANA, PRECIPITANDO-NOS NUM MUNDO ONDE O BEM É MUITO DIFÍCIL E RARO, E O MAL MUITO FÁCIL E FREQUENTE. Adão e Eva, com o seu pecado, perderam para si e seus descendentes os Dons Preternaturais, ou seja, a Impassibilidade e a Imortalidade, quanto ao corpo; e perderam igualmente a Graça Santificante, a Caridade, e todas as virtudes morais Sobrenaturais; mas não perderam a Fé, e A GRAÇA DA SUA PENITÊNCIA POSTERIOR, CONSTITUIU JÁ UMA GRAÇA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. Todavia, os descendentes de Adão e Eva, já não nasceriam para este mundo na posse dos Dons Sobrenaturais.
O pecado original não atingiu os primeiros princípios do conhecimento, nem os primeiros princípios da moral; APENAS A SUA APLICAÇÃO CONCRETA. Efectivamente os primeiros princípios são naturais, intrínsecos à constituição e geração da criatura racional, enquanto tal. Na Ordem Natural, depois do pecado original, é impossível o cumprimento integral dos Mandamentos da Lei de Deus, sem a Graça Medicinal, a qual consiste num auxílio Preternatural à recta hierarquização objectiva da pluralidade de bens deste mundo com o Supremo Bem. Cumpre assinalar que um tal cumprimento da Lei Moral NÃO SERVE PARA A SALVAÇÃO ETERNA; VISTO QUE O NOSSO DESTINO SOBRENATURAL É COMPLETAMENTE GRATUITO DA PARTE DE DEUS – E ABSOLUTAMENTE OBRIGATÓRIO DA PARTE DO HOMEM.
É absolutamente falso considerar virtude aquilo que não passam de consequências do pecado original, NÃO COMBATIDAS PELA MESMA VIRTUDE, por exemplo: Sentir grandes tentações INTRÍNSECAS, mesmo sem consentimento, não demonstra a presença na alma dos bens da Graça, mas talvez a sua ausência. As tentações de Nosso Senhor foram PURAMENTE EXTRÍNSECAS, sugestões maliciosas apresentadas exteriormente pelo demónio, como de resto sucedeu a muitos e grandes santos; porque os anjos, mesmo condenados, possuem poder sobre a matéria, logo também sobre a sensibilidade humana. São Tomás de Aquino, procede à distinção entre as almas continentes e as almas temperadas: As primeiras têm que realizar grandes esforços na prática da virtude, precisamente porque as camadas inferiores do seu ser ainda não estão integralmente rectificadas, isto é, assimiladas aos Bens Celestes, o que não acontece com os temperados, para os quais, a Lei Divina brota espontâneamente da sua natureza homogèneamente sobrenaturalizada. Seja como for, a elevação de uma alma na Caridade Divina é sempre acompanhada de uma pacificação unificante e de uma felicidade que não é deste mundo, ainda que acompanhada de grandes sofrimentos morais. Não há contradição, visto que a alma goza e sofre sob pontos de vista diferentes: Sofre, humanamente, naturalmente, por ser maltratada e humilhada pelo mundo; goza sobrenaturalmente, inefàvelmente, por ter sido achada digna de sofrer pelo seu Senhor, a Quem ama sobre todas as coisas.
Adão e Eva, no estado de integridade, não tinham de sofrer por amar o seu Deus; tudo no Paraíso Terrestre se encontrava equilibrado e medido pela Verdade e pela Santidade, já que os dons Preternaturais eram facultados em ordem aos Sobrenaturais. Mas com o pecado original, não foi apenas a morte que entrou no mundo, mas todo um cortejo de sofrimentos, físicos e morais. Não devemos, contudo, olvidar que os sofrimentos dos bons são, em certa medida, aparentes; tal como a felicidade dos maus também é aparente. Os santos exultavam nas suas dores, precisamente, porque pela Graça de Deus sabiam posicionar espiritualmente a sua alma de modo a que a Luz Divina quase extinguisse a treva das dores humanas, físicas e morais, que sentiam. Sabemos que o contrário sucedeu com Nosso Senhor Jesus Cristo: Aqui, a União Hipostática foi providenciada de forma a que a Visão Beatífica da Alma Santíssima do Senhor não repercutisse quantitativamente o Seu Gozo, através da essência da mesma Alma, de modo a extinguir, ou mesmo a suavizar, as dores da Paixão.
A pobre Humanidade é, e sempre foi, um oceano negro de pecados e de crimes – MAS A GLÓRIA DE DEUS É CONSTITUTIVA DA VITÓRIA DA VERDADE E DA SANTIDADE, E CONSEQUENTE CASTIGO DO MAL.
A tendência para o mal – NÃO É O MAL! Porque deve ser combatida e vencida pela Verdade e pelo Bem. O que mais custa à alma é aquele confronto, digamos transcendental moral, natural e Sobrenatural, entre as consequências do pecado original, que nos impelem para o mal, e a Graça de Deus, Medicinal e Actual, que nos conduz para a Verdade e a Santidade. O pecado original, enquanto tendência para o mal, é indelével; todavia compete à Graça de Deus triunfar sobre todas as consequências moralmente letais desse pecado. Desse combate foi isenta Nossa Senhora, para quem a mais impensàvelmente elevada virtude Sobrenatural, foi igualmente, no plano INTRÍNSECO, soberanamente fácil; o que refuta outro erro teológico crasso, segundo o qual, a santidade seria rigorosamente proporcional à dificuldade INTRÍNSECA; de forma alguma; mas cumpre recordar, que em igualdade de condições INTRÍNSECAS, a maior santidade será proporcional à dificuldade EXTRÍNSECA.
“EU VENCI O MUNDO” disse Nosso Senhor Jesus Cristo; uma só alma em estado de Graça vale infinitamente mais que todo o Universo natural. Logo a Graça de Nosso Senhor pode e deve vencer todas as consequências do pecado original. O Seu Sacrifício Redentor, renovado incruentamente nos Altares, E QUE NÃO EXISTIRIA SEM O PECADO ORIGINAL, constitui Eterna garantia de que o mundo não está abandonado – embora pareça – e que o triunfo, mesmo parcial, mesmo temporal, da Verdade e da Santidade, o qual se consubstancia já, de certo modo, nas almas em estado de Graça, constituirá testemunho Imorredoiro do heroísmo Sobrenatural dos soldados convocados por Nosso Senhor, na Idade mais tenebrosa da História Universal.
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