- O presente artigo trata do que está atrás do tal «progresso moderno» no qual as preocupações administrativas e tecnológicas ganham a primeira importância em detrimento do senso moral dos governos e da vida espiritual das pessoas.
- Exemplo espantoso da introdução dessas idéias revoluciárias, que serviram-se de um despotismo por nada esclarecido em Portugal, foi o governo do Marquês de Pombal, que deve ser melhor identificado porque ligado à mentalidade que envolveu o País e a Europa de então, num materialismo deslavado em nome da liberdade, igualdade e fraternidade.
- De modo que os portugueses não precisaram esperar a invasão napoleônica para conhecer os «benefícios» destas idéias! Por ironia da história a tumba suntuosa de Pombal foi profanada nessa ocasião pela turba dos novos salvadores!
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa Pio XII, em passagens de uma alocução proferida aos membros do X Congresso Internacional de Ciências Históricas; 7 de Setembro de 1955:
«A Igreja Católica é, ela própria, um facto histórico; como uma poderosa cadeia de montanhas, ela tem atravessado a história dos dois últimos milénios; seja qual for a atitude assumida para com ela, é todavia impossível evitá-la. Os juízos formados a seu respeito são muito variados: Vão da aceitação total, à mais terminante rejeição. Mas seja qual for o veredicto final do historiador, cuja missão é ver e expor, tais como se passaram, tanto quanto possível, os factos, os acontecimentos e as circunstâncias, a Igreja crê poder esperar dele que se informe em todos os casos da consciência histórica que ela tem de si própria, da maneira como se considera um facto histórico e como considera a sua relação com a História humana.
Falemos agora da Igreja em si própria, como facto histórico: Ao mesmo tempo que o afirma plenamente a sua origem Divina e o seu carácter Sobrenatural, a Igreja tem consciência de ter entrado na Humanidade como um facto histórico. A vida, a morte, e a ressurreição de Jesus Cristo são factos históricos. Acontece, por vezes, que os próprios que negam a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, admitem a Sua Ressurreição, porque ela está, em seu entender, muito bem atestada, històricamente. QUEM PRETENDESSE NEGÁ-LA, DEVERIA APAGAR TODA A HISTÓRIA ANTIGA, porque nenhum dos seus factos está melhor provado do que a Ressureição de Cristo. A missão e o desenvolvimento da Santa Igreja são factos históricos.
Sabe a Igreja também que a sua Missão, embora pertencendo, por sua natureza, ao domínio moral e religioso, situado no Além e na Eternidade, penetra contudo no coração da História e da Humanidade. Sempre e em toda a parte, adaptando-se sem cessar às circunstâncias do lugar e do tempo, Ela quer modelar, segundo a Lei de Cristo, as pessoas, o indivíduo, e tanto quanto possível, todos os indivíduos; atingindo dessa forma os fundamentos morais da vida em sociedade. O Fim da Igreja é o Homem, naturalmente bom, penetrado, enobrecido e fortificado, pela Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo.»
Por difícil que seja elaborar um princípio de síntese da História da Humanidade; algo ressalta cruamente aos olhos de qualquer pessoa sincera, crente ou descrente: O século XX foi o mais bárbaro de todos, o mais cruel, foi aliás o único em que os seres humanos foram, por vezes, considerados como uma espécie zoológica, como qualquer outra. O fogo de artifício dos direitos humanos revolucionários, mal encobre a avareza, o egoísmo, o materialismo, o cinismo, a hipocrisia, a nível individual, social, nacional e internacional.
Se não tivesse existido o pecado original e os pecados actuais, o caudal de progresso religioso, espiritual e moral acumulado por cada geração, seria integralmente transmitido, e recolhido pelas gerações subsequentes. E não se diga que num estado Preternatural e Sobrenatural Paradisíaco não seria possível o progresso na virtude; muito pelo contrário, a perfeição moral, por maior que seja, mesmo num mundo intangível ao pecado, seria sempre passível de progresso nessa mesma virtude; quanto mais santo se é, mais se aprofunda, e mais nos deixamos atrair pela Infinita Riqueza Divina, A Qual é, por definição, inexaurível.
Mas a triste condição de um mundo escravo do pecado e do erro implica que sòmente o progresso científico e técnico transite, e se qualifique, de geração em geração; jamais, qualquer eventual progresso moral.
Como foi dito, o século XX foi o mais bárbaro de todos; mas será que tal representa um crescimento absoluto do mal moral no seio do Género Humano? Não; o que acontece, é que satanás, ao longo dos séculos, foi operando de modo a criar sinergias negativas, sinergias do mal, de modo que este foi FICANDO CADA VEZ MAIS EFICAZ E OSTENSIVO.
Um olhar sobre a História Universal, de imediato nos elucida sobre a cupidez dos homens, a começar pelos dirigentes das Nações, a absoluta carência de elevação moral nas relações humanas, individuais, sociais, nacionais e internacionais. Muitos reis e imperadores, ao longo das Idades, além de depravados sexuais, eram assassinos de delito comum. Porque, proclame-se bem alto: O BEM E O MAL NÃO DEPENDEM DO ARBÍTRIO DO MAIS FORTE, SEJA ELE UM REI, OU UM PARLAMENTO, REVOLUCIONÁRIO, OU DE TIPO BRITÂNICO. Por outro lado as massas mimético-nominalistas, seguiam sempre o mais forte, qualquer que ele fosse, nos seus crimes, de forma intrìnsecamente servil e canina. Assim aliás sucedeu com o processo de apostasia conciliar, destruindo-se a face humana do Corpo Místico por via da obediência.
Cumpre assinalar, que a Santa Madre Igreja nunca ensinou a denominada “obediência cega”; nem tal se encontra, de maneira nenhuma, em São Tomás de Aquino. O homem é um ser racional, espiritual, não é um animal irracional, o qual se ordena seguindo necessàriamente o seu instinto. O homem deve obedecer, acima de tudo o mais, a Deus Nosso Senhor, Padrão Absoluto de Verdade e de Santidade, bem como à Sua Revelação, e portanto à Santa Igreja Católica, Històricamente constituída, como depositária de Direito Divino dessa mesma Sagrada Revelação; deve obedecer, sem reservas, à autoridade civil, enquanto esta se estabelece e opera como braço secular da Santa Madre Igreja; deve ainda obedecer, com muitas reservas, à autoridade civil laica, enquanto esta não contradiga formalmente, directa ou indirectamente, a Santa Lei de Deus. O homem, ser espiritual, não se deve, nem pode, contentar-se com uma consciência coerente e sincera, QUE NÃO SERVE PARA A SALVAÇÃO, PORQUE PODE ESTAR OBJECTIVAMENTE ERRADA; mas deve empregar todos os seus esforços, para com o auxílio de Deus Nosso Senhor, FORMAR E SEGUIR UMA CONSCIÊNCIA RECTA, ADERENTE À VERDADE E AO BEM OBJECTIVOS. É portanto nesta base que se deve processar a obediência de um filho adoptivo de Deus Nosso Senhor, porque em última análise: OBEDECER FORMALMENTE AOS HOMENS, DESOBEDECENDO A DEUS, CONSTITUI PASSAPORTE INFALÍVEL PARA A ETERNA CONDENAÇÃO.
A obediência, toda a obediência, tem de estar permanentemente ao serviço da Verdade e da Santidade; pode mesmo considerar-se como a face operativa da Lei Eterna e da Verdade especulativa e Revelada – EM ORDEM TRANSCENDENTAL À SANTIDADE.
Ao estudarmos a História Universal, mesmo sem grande profundidade, verificamos que, sempre, e em todas as épocas e lugares – A GRANDE MAIORIA DOS HOMENS SÃO MAUS; aqui maus, não significa apenas a ausência de rectidão objectiva, mas igualmente a privação de qualquer sinceridade e coerência no agir.
O grande historiador Católico Fortunato de Almeida, referindo-se às lutas liberais em Portugal, não duvida em afirmar que o nível moral dos combatentes de ambos os lados se equiparava na grande mediocridade. Sabemos, por outro lado, que nas Cruzadas, o nível moral, em geral, era muito baixo, na ausência de ideal religioso.
A quarta cruzada, por exemplo, foi miseràvelmente desviada das suas finalidades religiosas, acabando por saquear e conquistar a cidade cristã de Constantinopla (1204).
Nos Descobrimentos, portugueses e espanhóis, diga-se o que se disser, o impulso fundamental era económico e político; e o religioso, que evidentemente também existiu, muitas vezes estava subordinado ao político. As crueldades inúteis e injustificadas cometidas contra os povos indígenas pré-Colombianos, sem prejuízo da necessidade religiosa de impor a Fé Católica a esses povos, demonstram bem o baixíssimo nível moral de muitos colonizadores, aliás denunciado prontamente pela autoridade eclesiástica.
A ingente miséria moral e material provocada pelo liberalismo económico, foi algo monstruoso, e de tal maneira, que a libertação dos escravos nos Estados Unidos (1864) e no Brasil (1888) revelou-se funesta para eles, pois foram lançados às feras do mercado liberal de trabalho, perante o qual seria imensamente preferível um regime moderado de servidão, não de escravidão, aliás aprovado pela Santa Madre Igreja.
A miséria moral da Humanidade é tão grande, que é conhecido como a maior força impulsionadora para a abolição da escravatura, foi, na prática, não o altruísmo, ou a Caridade, mas o maior lucro auferido – em regime de primeira revolução industrial – do trabalho livre, embora explorado, em comparação com o sistema esclavagista.
O grande cimento de todas as sociedades, antigas e modernas, é o egoísmo, logo seguido da hipocrisia. O motor do funcionamento dos serviços públicos, bem como de toda a orgãnica social, não é, na grande maioria dos casos, o altruísmo, nem a Caridade, mas precisamente o egoísmo, na exacta medida em que o vínculo de sociabilidade, que no seu Primeiro Princípio Ontológico é necessária e moralmente bom, com o pecado original e pecados actuais, volveu-se, na prática, ESSENCIALMENTE EGOÍSTA. A própria manutenção da ordem pública, bem como de uma certa segurança e certeza no convívio social, POSSUI UMA MATRIZ ESSENCIALMENTE EGOÍSTA; CONSTITUI A RESULTANTE DO EQUILÍBRIO DE TODOS OS EGOÍSMOS INDIVIDUAIS E COLECTIVOS. O processo de legalização do aborto na segunda metade do século XX não correspondeu a qualquer crescimento essencial de corrupção moral, mas sòmente ao progresso da medicina, bem como ao desenvolvimento técnico das funções do Estado.
Como afirma Pio XII, a Santa Madre Igreja, encontrando-se enraizada na História da Humanidade, transcende, contudo, essencialmente, essa mesma História. Na realidade a Revelação, enquanto, INTERVENÇÃO POSITIVA E ESSENCIAL DE DEUS NA HISTÓRIA HUMANA, ILUSTRANDO-A COM O LUME DA SUA VERDADE E SANTIDADE PROVIDENCIAL, encarnou numa História verdadeira, que é História da Salvação. Exactamente como a Graça Santificante e todo um Organismo Sobrenatural, deve irradiar Luz Divina sobre a nossa vida mortal. E é essa mesma Revelação que nos enriquece Sobrenaturalmente no conhecimento e na interpretação da História Universal, por muito triste que esta seja.
Santo Agostinho, na sua obra imortal- A Cidade de Deus, não nos ilude sobre a humanamente inextricável mistura do Bem e do mal, neste pobre mundo, nessa luta permanente e sem tréguas pelos direitos da Verdade, mas cuja resolução e desenlace final JÁ NÃO PERTENCE À HISTÓRIA, MAS SIM À ESCATOLOGIA.
Neste pobre e triste mundo, o fiel Católico deve lutar desinteressadamente pelo Bem, libertando-se, com o auxílio Divino e Mediação de Maria Santíssima, de todo o egoísmo, e em certo sentido, LIBERTANDO-SE DE SI MESMO, LIBERTANDO-SE DA OPACIDADE DOS FINS PURAMENTE TERRENOS E HUMANOS, DESABROCHANDO ASSIM PARA O ESPLENDOR DA LUZ ETERNA, NA FIDELIDADE IMARCESCÍVEL AO DEUS SANTO.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 23 de Setembro de 2015
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