"É necessário, porém, reconhecer, para que o nosso raciocínio seja exacto, que quanto mais preciso for tolerar o mal num estado, mais longe estão da perfeição as condições desse estado."
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa Leão XIII, em excertos da sua encíclica “Libertas”, promulgada em 20 de Junho de 1888:
«É necessário, porém, reconhecer, para que o nosso raciocínio seja exacto, que quanto mais preciso for tolerar o mal num estado, mais longe estão da perfeição as condições desse estado; e além disso, que a tolerância do mal, pertencendo aos princípios da prudência política, deve ser vigorosamente circunscrita aos limites exigidos pela sua razão de ser, isto é, pela salvação pública. E por isso, se ela é nociva à salvação pública, ou se é para o estado causa de mal maior, a consequência, é que deixa de ser lícita, porque nessas condições falta a razão de bem. Se em vista de condição particular do estado, a Santa Igreja condescende com certas liberdades modernas, não é porque as prefira em si mesmas, mas porque julga conveniente permiti-las; melhorada a situação, a Santa Igreja usará evidentemente da sua liberdade, empregando todos os meios, persuasões, exortações e rogos, para desempenhar, como é seu dever, a Missão que recebeu de Deus: Proporcionar aos homens a Eterna Salvação. Em todo o caso é sempre verdade que essa liberdade, concedida indiferentemente a todos e para tudo, não é desejável por si mesma, como muitas vezes o temos repetido, pois repugna à razão que o verdadeiro e o falso tenham os mesmos direitos. E no que toca à tolerância, é estranho ver quanto se distanciam da Justiça e da Prudência da Igreja, aqueles que professam o liberalismo. Com efeito, concedendo aos cidadãos, em todos os pontos de que acabamos de falar, uma liberdade sem limites, perdem por completo toda a norma, e chegam ao ponto em que parece não haver mais atenções com a Virtude e a Verdade do que com o erro e o vício. E quando a Igreja, coluna e sustentáculo da Verdade, Mestra incorruptível dos costumes, crê ser seu dever, protestar enèrgicamente contra uma tolerância tão cheia de desordens e de excessos, e impedir o criminoso uso dela, acusam-na de faltar à paciência e à delicadeza. Procedendo assim, nem sequer advertem que fazem um crime, naquilo que precisamente, neles, é mérito. Ademais, muitas vezes sucede, que esses grandes defensores da tolerância, SÃO DUROS E INTRANSIGENTES, NA PRÁTICA, QUANDO SE TRATA DO CATOLICISMO: PRÓDIGOS EM LIBERDADES PARA TODOS, RECUSAM A CADA PASSO DEIXAR À SANTA IGREJA A SUA LIBERDADE.»
A Glória extrínseca de Deus, anunciada pela criatura espiritual, é indissociável da perfeição da Criação, constituindo mesmo como que a forma de tal perfeição. Todavia, o facto de uma grande maioria de criaturas se condenar não diminui essa perfeição, nem essa Glória, porque o castigo dos maus restitui a Deus a Glória que Lhe foi negada, operativamente, por esses mesmos condenados. É certo que a Glória, formal, extrínseca, de Deus Nosso Senhor, proclamada por aqueles que O conhecem, amam sobrenaturalmente sobre todas as coisas, e servem com todas as suas energias, por vezes até ao martírio, cruento ou incruento, resplandece singularmente por contraposição com a maldade do mundo. Mas a perfeição intrínseca da Criação, é medida pelo próprio Deus, na sua integral globalidade, que enquanto tal, é inacessível à inteligência contingente, mesmo angélica. A diferença entre a Glória de Deus proclamada pelo conhecimento e amor Sobrenatural da Criatura, e a Glória que Deus aufere da punição Eterna dos condenados, é que a primeira é voluntàriamente participada e vivida formalmente pela mesma criatura, e a segunda é extraída material e compulsivamente da sórdida criatura pelo poder de Deus, pois assim o exige a DIGNIDADE ONTOLÓGICA DO ENTE CRIADO, ENQUANTO SAÍDO DAS MÃOS DE DEUS. Mas a perfeição da Criação, em si mesma, não depende directamente da diferença aritmética entre criaturas salvas e condenadas, mas como já se disse, da razão intrínseca e global, qualitativa, da própria Ideia Divina, Providencial, do Mundo.
Por mais perfeita que a Criação fosse, sempre seria possível outra Criação melhor. Assim como Deus Nosso Senhor, no Seu Eterno Conselho, decidiu criar o mundo, assim também decidiu criar um determinado mundo, com uma deterrminada perfeição, e não qualquer outro. Contudo, a Metafísica Transcendental da Criação, NÃO É ARBITRÁRIA, MAS INTRÌNSECAMENTE CONFORME ÀS LEIS DO SER, QUE SÃO ESTRITAMENTE CONSTITUTIVAS, DA ASSEIDADE DIVINA, DA INFINITUDE DIVINA, DA INTELIGÊNCIA E VONTADE DIVINA. Deus Uno e Trino, não constitui a Verdade, nem é constituído por ela – DEUS É A VERDADE!
Deus Nosso Senhor, na Sua Acção de criar, jamais poderia ser determinado por qualquer motivo, ou bem, inferior a Ele mesmo; por outro lado, Deus não necessita, Metafísica e Transcendentalmente, de rigorosamente nada. A Acção de criar consiste em Deus manifestar fora de Si, contingentemente, finitamente, as Suas próprias perfeições. Neste quadro conceptual, Deus criou o mundo PARA MANIFESTAR E FAZER RECONHECER, FORMALMENTE, EXTRÌNSECAMENTE, PELA CRIATURA ESPIRITUAL, ESSAS MESMAS PERFEIÇÕES – TAL É A SUA GLÓRIA! Secundáriamente a Criação serve igualmente à felicidade Sobrenatural da criatura espiritual.
Se Deus criasse um mundo povoado apenas por animais e plantas, auferiria de uma Glória apenas material, e não formal, pois não haveria entes criados à Imagem e Semelhança de Deus, para reflectirem, na Ordem Natural, e participarem, na Ordem Sobrenatural, dos próprios Bens Incriados.
A nossa Fidelidade Sobrenatural a Deus Nosso Senhor, enquanto parte da Criação, participa formalmente na perfeição Eterna da mesma Criação. É certo que a Criação teve uma origem no tempo, não é Eterna, MAS NA INTELIGÊNCIA DIVINA, A QUAL VIVE NA ETERNIDADE, A TEMPORALIDADE DO MUNDO ESTÁ, POR ISSO, ETERNAMENTE PRESENTE. Mesmo no mundo angélico, no qual não há tempo, o simples acto Criativo, insere os Anjos na Eternidade relativa, na qual há princípio, mas não há fim, porque qualquer criatura, temporal ou não, uma vez inserida no ser, pela Criação, no ser permanece Eternamente.
A nossa fidelidade Sobrenatural foi predestinada por Deus desde toda a Eternidade; porque os justos não são predestinados por serem justos, mas são justos porque são predestinados. Não há justiça, nem qualquer espécie de virtude, independentemente de Deus. Inversamente, não existe, nem pode existir, qualquer predestinação para o mal, o que seria calvinismo. A maldade dos réprobos não é querida por Deus, enquanto tal, mas sòmente como integrante da compreensão da Ideia Providencial da Criação, esta, sim, querida por Deus.
Àqueles que argumentavam não valer a pena trabalhar pela salvação Eterna, porque Deus já havia predestinado, ou não, os nossos caminhos; São Tomás respondia: “Ama sobrenaturalmente a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor de Deus – E SERÁS PREDESTINADO!”.
Os ímpios adoram produzir asserções no sentido de que a Religião defina e pertença à infância da humanidade, pelo que a mesma humanidade, com o Vaticano 2, teria finalmente alcançado a idade adulta. A mentalidade adulta, quer a nível individual, quer a nível social, seria constitutiva do repúdio da religião, entenda-se, da religião católica, porque para a impiedade, de todos os tempos e lugares, o inimigo foi sempre a Fé Católica. O ESPÍRITO VERDADEIRAMENTE ADULTO É AQUELE QUE SE SUBMETE AMOROSAMENTE À LEI DIVINA, NELA ENCONTRANDO A SUA FELICIDADE SOBRENATURAL, TEMPORAL E ETERNA. Ao invés, a infãncia, se por um lado é inocente e pura, por outro, é imatura, não podendo sobreviver sózinha; a Humanidade permaneceu na sua infância até à Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, até a Revelação atingir o seu Zénite, pois só o Evangelho instruiu integralmente o Género Humano acerca do seu Princípio, do seu Fim absoluto e Sobrenatural, bem como dos meios e fins secundários necessários para o alcançar.
As consequências do pecado original e a acção de satanás desarticularam progressivamente os excelsos benefícios pessoais, familiares, sociais e políticos, bem como as sinergias positivas, que o Tesouro da Palavra de Deus lograra introduzir na história humana; pois que a Revelação outra coisa não constitui senão a INTERVENÇÃO POSITIVA DE DEUS NA HISTÓRIA, ILUSTRANDO-A SOBRENATURALMENTE COM O LUME SALVÍFICO DA SUA VERDADE PROVIDENCIAL.
Nos últimos cinco séculos, satanás, conhecendo, com a sua inteligência angélica, a maldade humana, e impossibilitado de provocar no Género Humano uma descontinuidade ontológica e moral idêntica à do pecado original, gizou sinergias do mal nas classes dirigentes europeias, laicizando-as, já mesmo na chamada Paz de Vestefália de 1648, condenada pelo Papa Inocêncio X. O mal sempre existente na Humanidade foi assim manobrado por satanás de modo a multiplicar os seus efeitos quantitativos, até chegarmos ao Vaticano 2, o qual PRODUZINDO UMA VERDADEIRA DESCONTINUIDADE RELIGIOSA, liquidou a presença institucional, social e cultural, da Verdade e do Bem, no seio da civilização ateia nascida da revolução de 1789, e revoluções suas derivadas.
Um tal golpe de satanás, só pode ser combatido, com análoga sinergia positiva das forças do Bem, do que resta da face humana do Corpo Místico, com o objectivo de restaurar o Trono usurpado e macaqueado do Vigário de Cristo. Sinergia, significa uma articulação engenhosamente ponderada e qualificada de vários factores, morais, políticos, sociais e físicos, em ordem à produção de um efeito, que de outra forma se não lograria.
Se satanás, através da maçonaria internacional, foi suficientemente sagaz para conduzir à ruína, primeiro as sociedades civis, depois a própria face humana do Corpo Místico; também Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, saberá inspirar com os Seus Dons a fidelidade Sobrenatural dos Seus fiéis, conduzindo-os, na Sua Graça e pela Sua Graça, com o estandarte da Santa Cruz, na regeneração da Cátedra do Seu Vigário, para que liberta de traidores e ateus deicidas, possa reconstituir-se como Cátedra eminente de Verdade e Fonte imutável de Luz e de Salvação.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 15 de Janeiro de 2016
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