Réginald Garrigou-Lagrange, O.P.
Como a Virgem Maria satisfez por nós?
A satisfação tem por objeto
reparar a ofensa feita a Deus pelo pecado e fazer-nos agradáveis a Ele. Ora, a
ofensa proveniente do pecado mortal, pelo qual a criatura dotada de
racionalidade afasta-se de Deus e prefere um bem criado a Ele, tem uma gravidade
infinita. A ofensa, com efeito, é tanto mais grave quanto mais elevada é a
dignidade da pessoa ofendida, e o pecado mortal, ao nos afastar de Deus, nosso
fim último, nega praticamente a Deus a dignidade infinita de soberano bem e
destrói seu reino em nós.
Segue-se disso que somente
o Verbo feito carne podia oferecer a Deus uma satisfação perfeita ou adequada à
ofensa que decorre do pecado mortal. Para ser uma satisfação perfeita, era
necessário que o amor e a oblação do Salvador agradassem a Deus tanto ou mais
quanto Lhe desagradaram todos os pecados reunidos, como diz Santo Tomás. Isso
acontecia com todos os atos de caridade de Cristo, pois tomavam da pessoa
divina do Verbo um valor infinito tanto para satisfazer como para merecer. A
obra meritória torna-se satisfatória ou reparadora e expiatória quando tem algo
de aflitivo ou penoso, e Jesus, ao oferecer sua vida em meio aos maiores
sofrimentos físicos e morais, ofereceu desde então a seu Pai uma satisfação de
valor infinito e superabundante. Só Ele podia assim satisfazer plenamente e em
estrita justiça, pois o valor da satisfação, assim como o do mérito, provém da
excelência da pessoa que, em Jesus, tem uma dignidade infinita.
Mas à satisfação perfeita do Salvador pôde unir-se uma satisfação
de conveniência, assim como se acrescentou ao seu mérito um mérito de
conveniência. É necessário insistir nisso para melhor ver qual foi a
profundidade e a extensão dos sofrimentos da Santíssima Virgem.
Maria ofereceu por nós uma satisfação de conveniência do mais alto
valor, depois da satisfação de seu Filho
O mérito torna-se o fundamento da satisfação quando a obra
meritória adquire um caráter aflitivo. Assim, depois dos princípios expostos no
artigo precedente, os teólogos ensinam comumente esta proposição: Beata Maria Virgo satisfecit de congruo ubi Christus de condigno; Maria
ofereceu para nós uma satisfação de conveniência, enquanto Jesus satisfez por
nós em estrita justiça.
Em sua qualidade de Mãe de Deus Redentor, ela esteve de fato unida
a Cristo por uma perfeita conformidade de vontade, pela humildade, pobreza,
sofrimento e lágrimas, sobretudo no Calvário; e, nesse sentido, ela satisfez
com Ele, e essa satisfação de conveniência adquire um valor inestimável de sua
eminente dignidade de Mãe de Deus, da perfeição de sua caridade, do fato de que
Maria não tinha nada a expiar, e da intensidade de seus sofrimentos.
Isso é o que dizem os
Santos Padres quando falam de “Maria ao pé da Cruz”, como o afirma São João;
eles recordam as palavras do velho Simeão: “Uma espada de dor transpassará
a tua alma”, e nos mostram que Maria sofreu na medida de seu amor a
seu Filho crucificado por causa dos nossos pecados, e também em proporção à
crueldade dos verdugos e da atrocidade do suplício infligido Àquele que era a
própria inocência.
A liturgia diz também, há
muitos séculos, que Maria mereceu o título de Rainha dos Mártires pelo martírio
do coração, o mais doloroso de todos; isso é o que indicam as festas da
Compaixão da Santíssima Virgem (Sexta-feira Santa), de Nossa Senhora das Sete Dores
e o Stabat Mater.
O Papa Leão XIII resume
essa doutrina ao dizer que Maria esteve associada a Cristo na obra dolorosa da
redenção do gênero humano.
O Papa Pio X chama a Virgem
de “reparadora do mundo caído” e mostra como ela esteve unida ao
sacerdócio de seu Filho: “Não só porque consentiu em ser a Mãe do Filho
Unigênito de Deus para tornar possível um sacrifício destinado à salvação dos
homens; mas a glória de Maria consiste também em ter aceitado a missão de
proteger e alimentar o Cordeiro destinado ao sacrifício e, tendo chegado o
momento, de conduzi-lo ao altar da imolação. Desse modo, a comunhão de vida e
de sofrimentos de Maria e de seu Filho não foi jamais interrompida. A ela,
assim como a seu Filho, aplicaram-se de forma similar as palavras do profeta: “A minha vida vai se consumindo com a dor e os meus anos com os
gemidos”.
O Papa Bento XV ensina
enfim: “Ao unir-se à Paixão e à morte de seu Filho, Maria sofreu semelhante
morte... para aplacar a justiça divina; e naquilo que estava a seu alcance,
imolou seu Filho, de forma que se pode dizer que resgatou o gênero humano
juntamente com Ele. Isso equivale a chamá-la Corredentora.
A profundidade e a fecundidade dos sofrimentos de Maria
Corredentora
O caráter de satisfação ou
expiação dos sofrimentos da Santíssima Virgem provém de que, assim como Nosso
Senhor e com Ele, também ela sofreu pelo pecado ou pela ofensa feita a Deus. E
sofreu na medida de seu amor para Deus ofendido, de seu amor para seu Filho
crucificado por causa das nossas faltas, e de seu amor por nossas almas, que o
pecado desfigura e faz morrer. Essa medida foi, portanto, a da plenitude de
graça e de caridade, que a partir do instante de sua concepção imaculada
superava a graça final de todos os santos reunidos, e que não tinha deixado de
crescer desde então. Considerando apenas seus atos mais fáceis e simples, Maria
merecia mais que os mártires em seus tormentos, porque punha naqueles
muitíssimo mais amor. Qual não foi então o preço de seus sofrimentos ao pé da
Cruz, pressuposto o conhecimento que recebeu do mistério da Redenção!
Na luz sobrenatural que
esclarecia sua inteligência, a Virgem compreendia que todas as almas são
chamadas a cantar a glória de Deus, incomparavelmente mais que as estrelas do
céu. Cada alma deveria ser como um reflexo da divindade, um reflexo espiritual
pleno de conhecimento e de amor, uma vez que nossa inteligência foi feita para
conhecer a Deus e nosso coração para amá-Lo. Mas, enquanto que os astros seguem
regularmente o caminho fixado pela Providência e cantam a glória do Criador,
milhares de almas, cada uma das quais valendo um mundo, desviam-se de Deus. No
lugar desse reflexo de Deus, dessa glória exterior do Altíssimo ou do seu
reino, encontram-se em inúmeros corações as três chagas chamadas por São João a concupiscência da carne, como se não houvesse
outro amor apetecível além do amor carnal; a concupiscência dos olhos, como
se não houvesse outra glória além daquela da fortuna e das honras; e o orgulho da vida, como se Deus não existisse, não
fosse nosso Criador e Senhor, nem nosso fim último; como se não houvesse outro
fim além nós mesmos.
A Santíssima Virgem via
esse mal nas almas como nós vemos as chagas purulentas num corpo doente. E a
plenitude de graça, que não havia cessado de crescer em Maria, aumentava
consideravelmente nela a capacidade de sofrer pelo maior dos males, o pecado, uma vez
que se sofre mais quanto mais se ama a Deus, a quem o pecado ofende, e as
almas, a quem o pecado mortal afasta de seu fim tornando-as dignas de uma morte
eterna.
Maria observava, sobretudo,
sem o menor erro e ilusão possíveis, como se ia preparando e consumando o maior
dos crimes, o deicídio, e via também o paroxismo do ódio contra Aquele que é a
própria Luz e o Autor da salvação.
Para compreender um pouco o
que foram os sofrimentos de Maria, deve-se pensar em seu amor natural e
sobrenatural ― teologal ― pelo seu Filho Unigênito, não só querido, mas
legitimamente adorado, a quem ela amava muito mais que a sua própria vida, uma
vez que era seu Deus. Ela o havia milagrosamente concebido e amava-o com um
coração de Virgem ― o mais puro, terno e pleno de caridade que jamais existiu.
Também não ignorava nenhuma
das causas da crucificação; nem as causas humanas: a obstinação dos judeus, o
povo escolhido, seu próprio povo; nem as causas superiores: a redenção das
almas pecadoras. Pode-se vislumbrar dessa forma a profundidade e a extensão dos
sofrimentos de Maria Corredentora.
Se Abraão sofreu
heroicamente ao preparar-se para imolar seu filho, esse sofrimento não durou
mais que algumas horas, e um anjo desceu do Céu para impedir a imolação de
Isaac. Ao contrário, desde o momento em que o velho Simeão predisse à Maria a
Paixão de seu Filho, já claramente anunciada por Isaías, e sua própria Paixão,
nunca deixou de oferecer Aquele que devia ser Sacerdote e vítima, e oferecer-se
com Ele. Essa oblação dolorosa durou não somente algumas horas, mas anos, e se
um anjo desceu do Céu para impedir a imolação de Isaac, nenhum desceu para
impedir a de Jesus.
*
* *
Bossuet, em seu sermão
sobre a Compaixão da Santíssima Virgem, diz soberbamente: “Foi vontade do Pai
Eterno que Maria não só fosse imolada com essa vítima inocente, e cravada na Cruz
do Salvador com os mesmos cravos que O perfuraram, mas que também fosse
associada a todo o mistério que se cumpriu por sua morte...
“(...) Três coisas
concorrem juntamente ao sacrifício de nosso Salvador e constituem a sua
perfeição. Em primeiro lugar, os sofrimentos pelos quais a sua humanidade ficou
literalmente triturada; em segundo, a resignação pela qual se submeteu
humildemente à vontade de seu Pai (oferecendo-se a Ele); e, em terceiro, a
fecundidade pela qual nos gera a graça e nos dá a vida com sua morte. Sofre
como a vítima que deve ser destruída e ferida de golpes; submete-se como o
sacerdote que deve sacrificar voluntariamente: voluntarie
sacrificabo tibi ― eu te oferecerei um sacrifício voluntário;
finalmente, gera-nos por meio do sofrimento, como o Pai de um povo novo, que dá
à luz por suas feridas; eis aqui as três coisas sublimes que o Filho de Deus
realizou na Cruz...
“Maria coloca-se ao lado da
Cruz; com que olhos observa seu Filho todo ensangüentado, coberto de chagas e
que não tem mais a figura de homem! Essa visão causa-lhe a morte; se ela se
aproxima do altar, é porque quer ser imolada também, e ali, com efeito, sente o
golpe da espada cortante que, segundo a profecia do bom Simeão, deveria...
abrir seu coração maternal com feridas crudelíssimas...
“Mas a dor a abateu?
Prostrou-a por terra desfalecida? Ao contrário, Stabat
juxta crucem: estava de pé junto à Cruz. Não, a espada que atravessou
seu coração não pôde diminuir suas forças: a constância e a aflição estão em
uníssono, e ela atesta por sua constância que não estava menos submissa que
afligida.
“O que resta, pois, caros
cristãos, senão que seu Filho amado, que lhe fez sentir seus sofrimentos e
imitar sua resignação, comunique-lhe também sua fecundidade? E é também nesse
pensamento que Cristo lhe deu São João por seu filho... Mulier, ecce filius tuus: ‘Mulher ― disse Ele ― eis o
teu filho’. Ó mulher, que sofres comigo, sê fecunda também comigo, sê a mãe dos
meus filhos; Eu vos entrego sem reservas, na pessoa deste único discípulo; Eu
os gero por minhas dores, e como saboreais as amarguras comigo, também terás a
eficácia, e vossa aflição vos tornará fecunda”.
No mesmo sermão, Bossuet
desenvolve esses três grandes pensamentos, demonstrando que o amor de Maria por
seu Filho crucificado bastava para seu martírio: Não
é necessário mais que uma única cruz para seu Filho amado e para ela;
está cravada pelo seu amor por Jesus, que a faz sentir todos os seus
sofrimentos físicos e morais, muito mais que o podem sentir os estigmatizados.
Sem um auxílio excepcional, ela teria verdadeiramente morrido naquela hora.
Uma grande dor é como um
mar enfurecido; pessoas houve que se tornaram loucas pela dor, mas Jesus
subjugou as águas, e da mesma maneira que conserva a paz na Cruz no meio da
tempestade, Ele também dá forças à sua Mãe para que a conserve.
Maria, finalmente, que deu à luz seu Filho sem o mínimo de dor, dá à luz os cristãos
em meio aos maiores tormentos. “A que preço os resgatou! ― continua Bossuet. Foi
necessário que entregasse o seu Unigênito; ela não pode ser a
Mãe dos cristãos sem que entregue à morte o seu Filho muitíssimo amado. Ó
fecundidade dolorosa!... Era essa a vontade do Pai Eterno: fazer nascer os
filhos adotivos pela morte do Filho verdadeiro... Entrega o seu próprio Filho à
morte para que nasçam os adotivos. Quem adotaria a esse preço um filho para
entregá-lo a estranhos? Pois isso foi, não obstante, o que fez o Pai Eterno...
O próprio Jesus nos diz: “de tal modo Deus amou o mundo
que lhe deu seu Filho único.
“(Maria igualmente) é a Eva
da Nova Aliança e a Mãe comum de todos os fiéis; mas é preciso que lhe custe a
morte de seu Primogênito; é necessário que se una ao Pai Eterno e que entreguem
livremente seu Filho de comum acordo ao suplício. Por isso a Providência
chamou-a ao pé da Cruz; veio até ali para imolar o seu
Filho verdadeiro, para que os homens vivam... Tornou-se a Mãe dos
cristãos pela força de uma aflição incomensurável”. O cristão deve recordar
isso sempre, e encontrará aí o motivo de um verdadeiro arrependimento de suas
faltas. A regeneração das nossas almas custou a Nosso Senhor e à sua Mãe
Santíssima mais do que poderíamos imaginar.
*
* *
Devemos dizer, para
concluir, que Maria Corredentora deu-nos à luz ao pé da Cruz
de Nosso Senhor, mediante o maior ato de fé, de esperança e de amor que ela
podia realizar em semelhante momento.
Pode-se mesmo dizer que
esse ato de fé foi o maior que já existiu, pois Jesus não tinha fé, mas a visão
beatífica que todavia conservava no Calvário. Nessa hora de escuridão, que foi
chamada de ‘a hora das trevas’, quando a fé dos próprios Apóstolos parecia
vacilar, quando Jesus parecia completamente derrotado e sua obra aniquilada
para sempre, quando até o próprio Céu parecia não responder às suas súplicas,
Maria não cessou nem por um instante de crer que seu Filho era o Salvador da
humanidade e que ao terceiro dia ressuscitaria como havia anunciado. Quando
Cristo pronunciou suas últimas palavras: Tudo está consumado, na plenitude de sua fé Maria
compreendeu que a obra da salvação estava cumprida pela mais dolorosa imolação,
que todas as Missas recordarão até o fim do mundo. Jesus tinha instituído, na
véspera, esse sacrifício eucarístico e o sacerdócio cristão, e entreviu o
resplendor infinito do sacrifício da Cruz. Maria compreendeu que seu Filho
agonizante era verdadeiramente “o Cordeiro que tira os pecados
do mundo”, o vencedor do pecado e do
demônio e que, em três dias, seria o vencedor da morte, conseqüência do pecado.
Ela viu a intervenção suprema de Deus ali onde os mais crentes vêem apenas
trevas e desolação. É seguramente o maior ato de fé que já existiu numa
criatura; uma fé muito superior à dos próprios anjos quando estavam em vias de
prova.
Foi também para ela o ato
supremo de esperança no momento em que tudo parecia desesperado. Compreendeu
todo o sentido das palavras dirigidas ao bom ladrão: “Hoje estarás comigo no
paraíso”; o Céu abrir-se-ia para os eleitos.
Foi enfim, para Maria, o
ato mais intenso de caridade: amar a Deus até o ponto de oferecer-Lhe seu Filho
único e inocente, em meio às piores torturas; amar a Deus acima de tudo no
momento em que, por nossas faltas, foi golpeada por Ele em sua afeição mais profunda
e mais elevada, no objeto próprio de sua legítima adoração; amar as almas até o
ponto de entregar por elas seu próprio Filho.
Sem dúvida, as virtudes
teologais cresceram ainda em Maria até o momento da sua morte, pois esses atos
de fé, esperança e caridade, longe de serem interrompidos, continuaram nela
como em um estado ou hábito. Pode-se
dizer que na calma tomaram até maior amplitude, como um rio que após a
turbulência nas passagens mais difíceis e tortuosas de seu percurso torna-se
mais e mais poderoso e majestoso até que se lança ao oceano.
A Teologia destaca aqui que
o sacrifício de Maria ao pé da Cruz iguala o mérito; ambos são de um valor
inestimável e sua fecundidade supera nesse ponto ― sem atingir a de Jesus Cristo ― a tudo o que poderíamos imaginar. Isso é o que os
teólogos exprimem quando dizem que Maria satisfez por nós com uma
satisfação de conveniência fundada em sua imensa caridade, assim como Jesus
satisfez em estrita justiça para nossa salvação.
Os santos que têm sido mais
associados aos tormentos do Salvador não penetraram tanto quanto Maria nas
últimas profundezas da Paixão. Santa Catarina de Ricci teve todas as
sextas-feiras, por 12 anos, um êxtase de dor que durava 28 horas e durante o
qual revivia todos os sofrimentos da Via Crucis. Mas esses sofrimentos de Santa
Catarina de Ricci e de outros estigmatizados foram apenas uma pálida sombra e
não se aproximaram dos da Virgem. Todos os tormentos do Sagrado Coração de
Jesus repercutiam no Coração de Maria, que teria morrido por semelhante tortura
se não tivesse sido sobrenaturalmente sustentada por um auxílio excepcional.
Tornou-se assim a Consoladora dos aflitos, pois sofreu muito mais que eles; a
Padroeira da boa morte; e não podemos certamente suspeitar quão fecundos têm
sido esses sofrimentos depois de vinte séculos.
A participação de Maria Corredentora no sacerdócio de Cristo
Se Maria pode ser chamada
Corredentora no sentido que acabamos de explicar, não poderíamos dizer que ela
é sacerdote no sentido próprio da palavra, pois não
recebeu o caráter sacerdotal e não podia consagrar a Eucaristia nem dar a
absolvição sacramental. Mas, como vimos ao falar da Maternidade Divina, esta
é superior ao sacerdócio dos padres de Cristo, no sentido em que é mais perfeito dar a Nosso Senhor sua natureza humana que tornar
presente seu Corpo na Eucaristia. Maria deu-nos o Sacerdote do
sacrifício da Cruz, o Sumo sacerdote do sacrifício da Missa e a Vítima
oferecida em nossos altares.
É também mais perfeito oferecer seu Filho único e seu Deus na
Cruz ― oferecendo-se com Ele nos maiores tormentos ― que tornar presente o Corpo de Nosso Senhor e oferecê-lo no
altar, como o faz o sacerdote durante o sacrifício da Missa.
Deve-se dizer como afirmava
recentemente um bom teólogo que estudou durante anos essas questões: “É uma
conclusão teológica certa que Maria cooperou, de certa maneira, no ato
principal do sacerdócio de Jesus Cristo, dando, como exigia o plano divino, seu
consentimento ao sacrifício da Cruz tal qual foi cumprido por Jesus Cristo”.
“Não considerando mais que certos efeitos imediatos da ação do sacerdote, como
a consagração eucarística ou o perdão dos pecados pelo sacramento da
penitência, é certo que o sacerdote pode cumprir atos que Maria não poderia
jamais realizar, pois não tinha o poder sacerdotal. Mas não se trata aqui de
comparação de dignidades, apenas de efeitos particulares provenientes de um
poder que a Virgem Maria não tinha, mas que não supõem uma dignidade superior”.
Se Maria não pode ser
chamada “sacerdote” no sentido próprio da palavra, pelo fato de não ter
recebido o caráter sacerdotal, e não pode realizar os atos próprios deste,
sempre permanece, como diz M. Olier “que ela recebeu a plenitude do espírito do sacerdócio, que é o espírito de
Cristo Redentor”. Por isso lhe é dado o título de Corredentora, que, assim como
o título de Mãe de Deus, supera a dignidade conferida pelo sacerdócio cristão.
*
* *
A participação de Maria na
imolação e na oblação de Jesus Sacerdote e Vítima não poderia ter sido melhor
expressa que pelo Stabat do franciscano
Jacopone da Todi (1228-1306).
Essa seqüência manifesta de
uma maneira singularmente impressionante como a contemplação sobrenatural do
mistério de Cristo crucificado concilia-se com os caminhos normais de
santidade. Tem formas precisas, fervorosas e esplêndidas para expressar a
ferida do Coração do Salvador e mostrar-nos a influência tão íntima e
penetrante de Maria para conduzir-nos a Ele. A Santíssima Virgem não só nos
conduz para essa divina intimidade, mas também, em certo sentido, a faz em nós;
isso é o que nos diz nestas estrofes a repetição admirável da palavra Fac, expressão da súplica fervorosa.
É a súplica da alma que,
sob uma inspiração especial, quer também conhecer espiritualmente a ferida do
amor e estar associada aos dolorosos mistérios da adoração reparadora como o
estiveram, depois de Maria, São João e as santas mulheres no Calvário, e também
São Pedro quando derramou abundantes lágrimas.
Essas são as lágrimas da
adoração e da contrição pedidas pelo poeta no final do Stabat.
*
* *
Maria exerceu na Terra, portanto, sua mediação universal,
merecendo para nós por um mérito de conveniência tudo o que Jesus Cristo nos
mereceu em estrita justiça, e também oferecendo para nós uma satisfação de
conveniência fundada sobre sua imensa caridade, enquanto Nosso Senhor
satisfazia em justiça por todas as nossas faltas e nos reconciliava com Deus.
Para Jesus e para sua Santíssima Mãe, essa mediação universal exercida durante
suas vidas terrenas é o fundamento da mediação que exercem no alto do Céu, e da
qual devemos falar agora.
Fonte: https://permanencia.org.br/drupal/node/5591
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