Yves Gerardin
1517-1617:
UM SÉCULO DE LUTERRORISMO
O carrasco que se toma por vítima: o caso não é único, mas toma dimensões grandiosas entre os protestantes. Considerado no seu conjunto, o quadro é mesmo surpreendente: Durante mais de um século, cobriram a Europa de fogo e de sangue, suscitando guerras civis por toda parte (a Inquisição permitiu que Itália e Espanha escapassem).
Estabeleceram-se pelo Terror em todos os países que chegaram a dominar.
Por toda a parte, perseguiram, torturaram e massacraram padres e fiéis
católicos, cujo único crime foi o de guardar a fé que haviam recebido.
Mas, por algum prodígio surpreendente, tal como o
lobo que chega a vestir-se com a pele do cordeiro que ele mesmo matou, o
protestantismo soube atribuir-se, após todos os seus crimes, um ar de
respeitabilidade. Mais: faz-se passar, e toma-se a si mesmo por um pobre
perseguido.
O
protestantismo assassino
Os crimes do calvinismo na França foram descritos
por Michel Defaye na sua brochura: Le Protestantisme assassin.
Muito antes do famoso Massacre de São Bartolomeu
(agosto de 1572), os calvinistas já haviam planejado friamente o massacre de
todos os padres da França. Plano executado em larga medida. Em 1580 (dezoito
anos antes do fim da guerra civil), já se contavam – apenas na França – 8.760
padres e religiosos católicos massacrados pelos protestantes fora de qualquer
combate. A correspondência de Teodoro de Beza mostra que ele acompanhava bem de
perto a progressão dos massacres, com a satisfação de um general que registra
suas vitórias. Não se tratava de atos de vingança (como veio a ocorrer em
decorrência), mas da aplicação metódica de uma ideologia assassina: morte aos
padres!
Os métodos sinistros de que Henrique VIII e
Elizabeth I lançaram mão para estabelecer o protestantismo anglicano são
igualmente bem conhecidos.
Mas o luteranismo também, o luteranismo sobretudo,
foi imposto pelo terror. Na Alemanha, Lutero só desafiou o papa porque contava
com o apoio dos príncipes que desejavam pilhar os bens da Igreja (para grande
prejuízo dos pobres, que se viram desamparados). Quando os camponeses decidiram
imitar os seus príncipes pilhando os seus castelos, foi tudo diferente! Assim
que a vitória se inclinou para o lado dos príncipes, Lutero apoiou sem
escrúpulos a mais sangrenta das repressões.
Por toda parte em que foi bem-sucedido, o
luteranismo foi, antes de mais nada, um luterrorismo, imposto a todos os
degraus da sociedade pela brutalidade e pela mentira.
Na Suécia (e, por conseguinte, na Finlândia), o
principal luterrorista foi Gustavo Vasa.
Na Dinamarca (assim como na Noruega e na Islândia),
o luterrorista chefe foi Cristiano III.
Comecemos nosso breve tour pelos cinco países
luteranos do Norte da Europa.
Luterrorismo
na Suécia
O príncipe Gustavo I Vasa (1496-1560) libertou a
Suécia do jugo dinamarquês. Costuma-se louvar a sua resistência física, sua
vontade de ferro, sua eloqüência e habilidade. Mas dificilmente se poderia
negar seu autoritarismo, sua crueldade, maquiavelismo e ingratidão para com
seus melhores servidores.
Para destruir a fé católica do seu povo, soube
proceder por etapas, sempre dissimulando o passo seguinte, bem como o objetivo
final. Essa astuta dose de violência e trapaça foi o segredo do seu êxito.
Um regime de terror
Primeira etapa: minar a autoridade dos bispos
(enquanto pretendia ainda ser muito devotado à Igreja romana). A partir de
1521, o rei ataca Dom Peder Jacobsson, bispo de Västerås. O prelado teria
sustentado – em correspondência privada, apreendida pelos agentes do rei –
idéias injuriosas a respeito do soberano. Queixas acerca de novos tributos?
Comentários inoportunos sobre a vida privada do rei? Não se sabe ao certo, pois
os documentos desapareceram. Em todo caso, o rei acusa-o de alta traição. Não
era preciso muito para que o rei se julgasse traído, como seu chanceler, mestre
Knut, aprenderá rapidamente à sua custa. Este último fora o primeiro a propor a
eleição de Gustavo Vasa durante a assembleia dos Estados gerais do país e,
desde então, sempre o servira fielmente. Mas cometeu o crime de defender o
bispo de Västerås, e por isso foi imediatamente deposto. O bispo e o chanceler
serão finalmente condenados após uma paródia de julgamento; em seguida serão
torturados, submetidos a diversas humilhações públicas e executados em 1527. A
mensagem é clara: quem desafia Gustavo corre graves riscos.
Segunda etapa: apoderar-se dos bens da Igreja
(mosteiros, catedrais, capítulos, presbitérios etc.). O princípio do confisco
foi estabelecido publicamente em 24 de junho de 1527 (Recesso de Västerås), mas
Gustavo tem de agir prudentemente, pois os camponeses, que se beneficiam da
caridade das abadias, são muito ligados a elas (A supressão dos mosteiros nos
países protestantes foi uma catástrofe para os pobres, sobretudo na Inglaterra
e nos Países Baixos). Já em 1525, a expulsão dos monges de Gripsholm fez com
que a população reagisse. Em 1529, começa uma rebelião nos arredores do
mosteiro cisterciense de Nydala, quando o bailio Gotfrid Sure veio apoderar-se
dele – muitos morreram, inclusive o bailio. Em 1530, Gustavo ordena a seus
agentes que preparem com cuidado suas expedições, a fim de expulsarem os monges
silenciosamente. Pouco a pouco, os trinta mosteiros da Suécia foram suprimidos,
os monges expulsos, os prédios confiscados pelo rei e pelos nobres. Os
conventos terão a mesma sorte. (A lei que proibia os mosteiros na Suécia só
será abolida em 1952).
Enganar
e submeter o povo
Terceira etapa: a protestantização. Era preciso ser
ainda mais habilidoso, pois o povo abraçava a verdadeira fé e a liturgia
católica. Olof Persson (mais conhecido sob a forma latina do seu nome: Olaus
Petri) redige um manual de cerimônias (Kyrkohandbok, 1529) que mantém ainda a
maior parte das cerimônias tradicionais, ao passo que suprime discretamente
aquilo que exprime explicitamente a fé católica. Uma nova missa (dita missa
sueca) foi imposta em algumas paróquias de Estocolmo. Exclui-se dela tudo o que
lembra que a missa é um sacrifício; impõe-se a comunhão sob as duas espécies;
mas conserva-se as formas exteriores tradicionais. Gustavo ordenou que o culto
e a pregação fossem modificados aos poucos, levando-se em conta as disposições
locais. A progressão rumo ao luteranismo se dá em velocidades diferentes
conforme as regiões. As reações são desalinhadas, e mais fáceis de reprimir.
A primeira revolta estoura no Oeste, a partir de
1529. Gustavo consegue apaziguá-la comprometendo-se (de modo ambíguo) a manter
os “antigos e veneráveis usos cristãos” e prometendo anistia completa aos
insurgentes. Assim que a ordem foi restabelecida, manda prender e executar os
chefes que tiveram a ingenuidade de crer nas suas palavras (notadamente, o juiz
Nils Olsson e o jovem Måns Bryntesson).
Em 1531, os montanheses do norte, os dalecarlianos,
protestam por sua vez contra a nova liturgia e o confisco dos sinos (que
Gustavo quer converter em moeda). Os veteranos da independência estão à frente
desta revolta dos sinos. Gustavo deve a esses rudes guerreiros o seu sucesso
contra os dinamarqueses. É preciso não os ofender. Ele declara não ser o
responsável pelas mudanças litúrgicas. Ao mesmo tempo, recomenda discrição aos
pastores: suprimir genuflexões e persignações, mas manter provisoriamente o
rito da elevação na missa, para não desagradar o povo. Quando a situação parecia
ter se acalmado, mandou prender os líderes. Muitos foram executados no local.
Outros foram julgados em Estocolmo. Um deles (Måns Nilsson, de Aspeboda)
salvara a vida de Gustavo anos antes. Outro (Anders Persson, de Rankhytta) o
abrigara em sua casa durante a guerra de independência. Pouco importa:
declarados traidores e rebeldes, foram decapitados em 1534.
Em 1540, foram os camponeses do leste que se
queixaram do esbulho das igrejas (Gustavo confiscara todos os seus vasos
sagrados, crucifixos, relicários e ornamentos preciosos – para o máximo
proveito do tesouro real). Protestam eles contra a nova liturgia em língua
vulgar, mas, por falta de um líder, são facilmente esmagados.
Em maio de 1542, um grupo de paróquias da
Esmolândia é chefiado por um simples camponês: Nils Dacke, que resiste às
forças reais até julho de 1543. A repressão é impiedosa: suplício da roda para
todos os que forem capturados pelo exército real. Mas Gustavo, por seu lado,
perde mais de mil homens. Ele observará melancolicamente que esta guerra lhe
custou 700.000 marcos: mais do que obteve ao longo de sete anos pilhando as
igrejas do reino.
Os padres fiéis a Roma, até então mais ou menos
tolerados se não fizessem barulho, tornam-se agora o inimigo público número 1
de Gustavo Vasa. A partir de então, são capturados, torturados e mortos sem
nenhuma forma de processo. Em 1544, Gustavo ordena que todos os calvários sejam
abatidos, proíbe as peregrinações e fecha à força os onze mosteiros que ainda
subsistiam.
Pastores
sob o terror
Em 1540, Gustavo confisca definitivamente a realeza
sueca: de eletiva que era, torna-se hereditária.
No entanto, a Igreja sueca já havia sido confiscada
desde 1528: de divina que era, tornou-se um serviço administrativo do Estado.
Seus bispos são rebaixados ao nível de funcionários, a meio caminho entre o
prefeito e o cobrador de impostos. São autorizados a celebrar a missa
pontifical durante a sagração do rei (que precisa de um pouco de solenidade)
mas, no dia-a-dia, têm como principal atribuição manter o povo obediente ao
soberano e coletar as taxas eclesiásticas em benefício da coroa.
Os que recusam a sujeição devem deixar a Suécia.
Johannes Magnus, arcebispo de Uppsala, e Hans Brask, bispo de Linköping, são
compelidos ao exílio.
Gustavo dispensaria os bispos de bom grado. Para
que sucessores dos Apóstolos? Superintendentes bem dóceis bastariam para
substituir os pastores e executar as ordens do poder. A sagração episcopal, que
transmite a plenitude do sacerdócio, não tinha nenhuma utilidade para este tipo
de funcionário. Infelizmente, o povo mantinha-se ligado a ele. Numa carta de 7
de novembro de 1527, Gustavo constata que o “povo não quer se contentar com
bispos não sagrados, muito embora esta sagração seja de pouca importância”.
Para evitar problemas, decide sagrar seus superintendentes de diocese. Basta
encontrar um bispo que faça as sagrações.
Da antiga hierarquia católica, apenas dois bispos
subsistiam: o velho Ingmar de Växjö (inerte o suficiente para que Gustavo o
deixasse morrer tranqüilamente na sua diocese) e Peder Månsson, bispo de
Västerås. Sem ser luterano, este último jamais ousou opor-se ao rei. De todo
modo, repugna-lhe sagrar bispos contra a vontade do papa. Para vencer suas
resistências, certificam-no de que, após as sagrações, solicitarão uma confirmação
papal. Cada um dos ordinandos assina uma declaração escrita neste sentido.
Peder Månsson crê verdadeiramente nela? Não o sabemos. Em todo caso, a sagração
ocorreu no dia 6 de janeiro de 1528. Em conformidade às exigências de Gustavo,
os novos bispos fazem um juramento de obediência ao rei, não ao papa.
Em 1531, devido à revolta dos dalecarlianos, que
exigem, entre outras coisas, um bispo validamente sagrado, Gustavo decide
realizar uma nova sagração episcopal. Desta vez, Peder Månsson (bispo de Västerås)
e Magnus Sommar (bispo de Strängnäs) não podem mais acreditar – nem sequer
fingir acreditar – que Gustavo pedirá em seguida a confirmação papal. Antes de
realizar a sagração, eles assinam secretamente – mas perante testemunhas
escolhidas com cautela (dois doutores em direito e um professor de teologia) –
um documento bastante curioso.
Recusando a heresia luterana, e deplorando os
numerosos abusos “e inúmeros outros erros escandalosos”, os dois bispos
declaram: Nós não somos capazes de nos opor a isto ao modo de uma muralha
protegendo a casa de Deus, como é do nosso dever, e como faríamos se
pudéssemos.
Eles protestam: Nós não aprovamos as eleições
feitas, ou a fazer, dos intrusos que querem impor às igrejas da Suécia, com
desprezo e em prejuízo da Sé de Roma, e isto ainda que nós mesmos realizemos a
sagração dos bispos, constrangidos pela força e movidos por um temor capaz de
estremecer mesmo homens fortes, do que nós protestamos aqui.
Acrescentam: Ademais, no tocante aos nossos
escritos presentes ou futuros, selados ou não, acerca [...] da ordenação do
arcebispo ou dos bispos intrusos, afirmamos e protestamos que não pretendemos
nem entendemos atribuir-lhes nenhum direito ou autoridade, mas que todas estas
coisas e cada uma delas feitas por nós em assuntos luteranos, por violência e
temor, quer se trate de escritos, palavras, atos presentes ou futuros, em
prejuízo da Sé de Roma, e de qualquer estado ou dignidade, nós as declaramos
inteiramente nulas e desprovidas de efeitos.
Finalmente, concluem: E, uma vez que neste reino
inexiste o recurso a notários, que poderiam redigir em forma de instrumento
público nosso recurso ou protesto, rogamos aos veneráveis doutores supracitados
[os dois doutores em direito] juntar suas assinaturas e selos aos nossos.
Redigido em Strängnäs, 10 de agosto de 1531.
Seguem as assinaturas e selos, ainda bem visíveis
sobre o original, que foi descoberto nos arquivos de Strängnäs no final do
século XIX.
Uma outra declaração do mesmo tipo (a um tempo
clandestina e assinada diante de testemunhas) foi redigida em 27 de agosto, às
vésperas da sagração, por dois futuros bispos: Sveno Jacobi (bispo de Skara) e
Jonas Boetii (Växjö). Eles declaram que apenas aceitaram esta sagração para
evitar o cárcere e a ruína das suas igrejas, e juram que hão de solicitar a
confirmação de Roma “na hora e na ocasião oportunas”. Detalhe revelador: antes
de esse documento ter sido descoberto (no século XIX), esses dois homens sempre
passaram por bons luteranos. Quantos outros terão igualmente escondido suas
convicções?
Não há como não recriminar essa fraqueza, sobretudo
da parte de homens obrigados a defender a fé ao risco da própria vida, como são
os bispos. Mas que dizer da religião que se estabelece por esses meios?
O historiador Magnus Nyman mostrou que, no início
do século XVII, boa parte da população sueca ainda não havia compreendido que
não estava mais sob a autoridade de Roma. O sistema protestante, porém,
instalou-se solidamente. Quando o segundo filho de Gustavo Vasa, João III,
esboça um retorno à Igreja Católica (ao que parece, ele converteu-se
secretamente em 6 de maio de 1578), é confrontado com uma resistência terrível.
Seu filho, Sigismundo III, católico sincero, será obrigado a fugir da Suécia.
Sessenta anos mais tarde, a Rainha Cristina da Suécia também terá de fugir às
escondidas – abandonando a coroa – para converter-se ao catolicismo (1654).
Desde 1595, uma conversão de tal sorte consistia em um caso de alta traição,
passível de pena de morte.
A constatação é terrível, mas inevitável: em todos
os níveis da sociedade sueca – na base como no topo, nos leigos como nos
clérigos – o protestantismo impôs-se pelo terror e pela mentira. Como negar que
esse luteranismo foi, antes de tudo, um luterrorismo?
Finlândia:
uma exceção ao luterrorismo?
Há um advogado do protestantismo no recinto? Ao
invés de defender Gustavo Vasa, ele dirigirá o olhar para o leste.
― Chega de Suécia! Consideremos a Finlândia. Veja
esse belo país, examine a sua história, aprecie a continuidade que se observa
aí entre o cristianismo medieval e o de hoje. Nenhuma ruptura, nenhuma
violência. Como, diante de tão belo espetáculo, poderíamos falar em
luterrorismo?
Realmente, os historiadores protestantes amam a
Finlândia. Relatam comovidos que sua nova religião impôs-se aí pacificamente.
Dizem, repetem, repisam-no com curiosa insistência. Percebe-se sua felicidade
ao sugerir que existe algum país que possam apresentar em que as coisas tenham
se desenrolado bem. Mas seria isso verdade?
Uma
protestantização lenta e discreta
Em realidade, na Finlândia, as igrejas não
escaparam da pilhagem. Desde 1541, Gustavo Vasa mandou que fossem confiscados,
para seu proveito, os objetos de ouro e a prataria, bem como ornamentos
preciosos. Mas a pilhagem fazia-se discretamente, sem manifestações
iconoclastas, para não ofender a população. Essa discrição, ou antes,
dissimulação, será a característica principal da “Reforma” finlandesa e o
segredo do seu sucesso. Pouco a pouco, os velhos padres são substituídos por
pastores que não receberam ordenação válida, mas que continuam a cantar em
latim e a ouvir as confissões dos fiéis, como se nada tivesse acontecido. A
nova missa sueca é introduzida em certas localidades a partir de 1531, mas em
muitos lugares conserva-se o ritual latino. Tudo se dá muito lentamente. Em
1582, ainda se editavam as coletâneas tradicionais de cânticos em latim para as
paróquias finlandesas.
O Rei Gustavo Vasa por vezes se impacientava. Ele
recriminou um “bispo” luterano, nomeado em 1554, por pontificar como um bispo
papista. Mas a calma do país bem vale essas concessões. A Igreja luterana
finlandesa continuou assim até os dias de hoje honrando publicamente a
Santíssima Virgem e rezando pelas almas do purgatório – de modo bem pouco
luterano.
Execuções
sangrentas
Não obstante, execuções cruentas ocorreram. Em 1595,
decidiu-se protestantizar à força. As paróquias recebem a ordem de suprimir o
rito de elevação na missa. Os padres católicos deveriam ser denunciados e
expulsos. A partir de 1598, são passíveis de prisão, o que por vezes significa
a morte (o Pe. Johannes Jussula, levado à Suécia, morreu na prisão após ter
sido torturado). A pena de morte foi, em seguida, expressamente promulgada
contra os padres católicos e mesmo, em 1617, contra todo papista encontrado no
território.
A protestantização da Finlândia foi feita mais pela
astúcia do que pela violência, é certo; mas não do modo plenamente doce e
pacífico que nos querem fazer crer. De qualquer forma, jamais teria ocorrido
sem o luterrorismo sueco.
Luterrorismo
na Dinamarca
Na Dinamarca, dois reis devem ser mencionados:
Cristiano II e Cristiano III.
O Rei Cristiano II (autor do “banho de sangue de
Estocolmo” em 1520, no qual a elite sueca [ACMJ1] foi massacrada) foi o
primeiro a convocar pregadores luteranos, que causaram ali os mesmos problemas
que em outras partes. Em Copenhague, dois dias depois do Natal de 1530, um
bando de luteranos invadiu a Catedral de Nossa Senhora durante a missa e
começou a destruir as estátuas, saquear os livros, demolir o mobiliário e
profanar os lugares de todas as maneiras possíveis, até serem expulsos.
Cristiano II, porém, temia pelo seu trono (que terminará por perder). Oscilando
sem cessar entre o catolicismo e o protestantismo, em razão do contexto
político, jamais tomou um partido definido.
O Rei Cristiano III impôs o protestantismo à força.
Ele havia participado da Dieta de Worms em 1521. Muito germanizado (quase nunca
falava dinamarquês), queria submeter seu povo à religião alemã: a de Lutero.
Soube dissimular suas pretensões para alcançar o trono real. Não hesitou prometer
fidelidade à Igreja Católica na sua sagração (1536). Mas logo tirará a máscara.
O
golpe de Copenhague (1536)
Desde cedo, Cristiano III preparou um golpe para
que fosse declarado chefe da Igreja dinamarquesa. Os bispos foram convidados
com outros representantes da nação a uma Assembleia nacional em Copenhague – a
prisão os esperava. Ao longo da noite, as ruas da cidade foram bloqueadas e,
desde as quatro da manhã, homens armados prendiam os homens da Igreja. O
arcebispo de Lund, Torben Bille, e o bispo de Roskilde foram encarcerados. Seus
colegas tiveram a mesma sorte (o bispo Joachim Rønnow, que conseguiu escapar
por uma janela, foi aprisionado no dia seguinte). Assim que os oito bispos do
país foram presos, a reunião teve início (12 de agosto de 1536). A Igreja não
possuía nenhum advogado na Assembleia que decidiu o seu destino. Os deputados
perceberam claramente como deveriam votar se quisessem evitar problemas. Bom
conhecedor da natureza humana, Cristiano III afaga com uma mão e chicoteia com
a outra. Avisa discretamente aos deputados mais influentes que receberão uma
parte dos despojos dos mosteiros. Com unanimidade – uma digna antevisão das
repúblicas soviéticas – a Assembleia de 1536 votou pela adoção total e
definitiva do luteranismo.
Guerra
aos monges, paz aos curas
Em 1537, uma nova liturgia (luterana, em
dinamarquês) foi adotada oficialmente. A tática é proceder por etapas, para
evitar perturbações entre o povo. Num primeiro momento, os pobres padres de
paróquias não são muito visados. Faz-se a caça aos monges (mosteiros
confiscados, recalcitrantes exilados). Sobretudo, Cristiano substitui os bispos
por sete funcionários submissos a ele (chamados de superintendentes). Em
seguida, inútil apressar-se, jovens pastores, formados nas ideias luteranas,
necessariamente hão de se suceder aos velhos curas. Em vez de atacar
diretamente as verdades católicas, era mais eficiente começar por silenciá-las
e esperar que os fiéis as esquecessem.
O método era lento, mas eficaz, pois mantinha a
massa dentro da estrutura oficial. Surgiam por vezes refratários. Para
esmagá-los, a Dieta de Copenhague declarou, em 1613, que os católicos eram
inábeis para toda função pública, e privou-os do direito de herança. Em 1624,
instituiu a pena de morte para todos os padres católicos (medida que só será
revogada em 1849). Na Dinamarca, assim como na Alemanha ou na Suécia, a
“Reforma” merece o nome de luterrorismo.
Luterrorismo
na Noruega
Na Noruega (conquistada pelo rei dinamarquês
Cristiano III), a pretendida Reforma é antes de tudo uma obra de pilhagem.
Pilhagem
organizada
Apenas na cidade de Bergen, destruiu-se a catedral,
o palácio episcopal, três conventos e outras nove igrejas, com ordem de
direcionar “todos os materiais” (sobretudo o ouro e a prata) para a Dinamarca.
O que não pudesse ser levado à Copenhague deveria ser vendido localmente, em
benefício do Tesouro real.
O mesmo se deu em Oslo, Stavanger e Nidaros
(Trondheim). A cada saque, o piedoso rei luterano acompanha de perto o tesouro
das catedrais. Sem esquecer o bronze dos sinos e o ferro dos cercados, que são
remetidos para a Dinamarca após terem sido transformados em lingotes. Os
pequenos santuários rurais não são poupados. Em 1552, Cristiano III ordena aos
superintendentes luteranos “procurar se não restam igrejas supérfluas para
serem demolidas”.
O rei sabe como suscitar o interesse dos nobres
dinamarqueses na “Reforma” norueguesa, atribuindo-lhes uma parte do butim: a
Abadia de Nonneseter, com todos os seus bens e terras, foi atribuída ao senhor
Vincent Lunge. O tesouro da igreja dos Apóstolos de Bergen será graciosamente
ofertado à sua viúva, pelos serviços rendidos.
E
os bispos?
Os historiadores protestantes afirmam normalmente
que todos (ou quase todos) os bispos noruegueses passaram sem dificuldade para
o luteranismo. Mas a realidade é bem diferente.
A Noruega contava então com um arcebispado
(Nidaros, hoje em dia Trondheim) e quatro dioceses (Hamar, Bergen, Stavanger,
Oslo).
O arcebispo de Nidaros, Olav Engelbrektsson, fora
convidado para participar da famosa Assembleia nacional de Copenhague (em
1536), em que todos os bispos foram presos. Ele suspeita da armadilha e não vai
até lá. Os soldados dinamarqueses, contudo, prenderam-no em 1537, apesar de uma
heroica resistência da população (liderada por Einar Fjeld) e do socorro do
Almirante norueguês Kristoffer Trondsen. O arcebispo morreu no exílio, em 6 de
fevereiro de 1538.
Em Hamar, foi preciso também uma verdadeira
expedição militar (15 mil homens) para tirar o bispo católico (Mogens
Lauritssøn) dos seus fiéis, em 1537. Intimado, em nome do rei dinamarquês, a
acatar o luteranismo ou a abandonar a sua sé, o bispo recusa as duas soluções.
Conduzido pelos soldados, partiu abençoando o seu povo, que viera em massa
dar-lhe adeus. Morreu numa cela dinamarquesa.
O último bispo católico de Bergen, Olav
Torkellsson, opôs-se firmemente ao luteranismo e sua resistência lhe valeu a
prisão. Foi finalmente liberado, e adquiriu um estado bem mais modesto.
Prometera ele não se opor ao usurpador luterano (Gjeble Pederssøn) que ocupara
a sua sé? É o que se diz, mas isto não é certo. De todo modo, jamais aderiu à
heresia. (Quanto a Gjeble Pederssøn, este nunca foi bispo católico.)
O último bispo de Stavanger, Hoskuld Hoskuldsson,
morreu no cárcere.
Restou Oslo, onde o último bispo católico, Hans
Rev, recebeu escandalosamente do Rei Cristiano III o título protestante de
superintendente. O rei teve a habilidade de não lhe pedir uma profissão de fé
luterana. Parece que o bispo jamais aderiu explicitamente aos erros de Lutero,
os quais combateu antes da prisão dos bispos dinamarqueses por Cristiano III.
Cooptar um bispo católico para avalizar a nova estrutura era uma vantagem
suficientemente importante para que não lhe fossem demasiado exigentes.
Descontentamento
popular
O povo norueguês manifestou por bom tempo sua
recusa da heresia. Os relatos oficiais mencionam movimentos de insatisfação por
ocasião das mudanças litúrgicas. Falam de pastores injuriados ao ensinarem as
novidades luteranas, quando não expulsos das igrejas pelos paroquianos. Em
Setesdal, um primeiro pastor se viu obrigado a fugir sob ameaças de morte, e
seu sucessor foi morto no interior mesmo da igreja. Algumas paróquias
ofereceram dinheiro às autoridades civis para que não lhes fossem enviados
pastores. Fiéis organizavam orações públicas para implorar “a volta da fé
antiga, com a doutrina do papa”. Em 1552, o rei teve de obrigar por decreto os
camponeses de Nidaros “a assistir aos ofícios quando o superintendente
[luterano] viesse visitar as igrejas”.
Foram necessárias quatro gerações para destruir a
fé católica. Em 1613, um relatório oficial nota que ainda se encontrava, tanto
na nobreza como no povo, fortes inclinações em favor da “doutrina papista”. Os
próprios pastores tornaram-se objeto de desconfiança. Os superintendentes, ao
visitar as paróquias, observavam que suas bibliotecas continham apenas obras
católicas. Em 1627, o relatório diocesano de Glostrup trata de um pastor, de
nome Lauritz, que declara publicamente, na cátedra, aos “seus simples e pobres
fiéis”, que a religião romana é a verdadeira; que se deve invocar os santos,
porque, desde o Céu, eles vêem tudo o que se passa sobre a terra; que a
Santíssima Virgem foi isenta de todo pecado. Pior ainda: teria acrescentado que
outros pastores pensavam como ele, ainda que não ousassem dizê-lo publicamente,
pois “não há dois ou três pastores sinceros no país”.
Em poucas palavras, na Noruega, assim como em
outras partes, a religião luterana foi imposta pela força e pela astúcia a uma
população que não a desejava.
Luterrorismo
na Islândia
O luteranismo também foi imposto na Islândia pelo
exército dinamarquês. Assim como na Noruega, mosteiros e igrejas foram pilhados
em proveito da Dinamarca, enquanto que as bibliotecas e os conventos foram
queimados para apagar todo vestígio do passado católico.
O país compreendia duas dioceses: Skálholt no sul,
Hólar no norte.
O último bispo católico de Skálholt, Ögmundur
Pálsson, foi capturado pelos dinamarqueses e enviado para a Dinamarca, onde
morreu na prisão, em 1542.
O último bispo de Hólar, Jón Arason, jurou lutar
até a morte contra a heresia. Ele apelou ao seu povo e, com um pequeno exército
de 900 homens, conseguiu expulsar os dinamarqueses da ilha. Contudo, estes
últimos voltaram mais numerosos e capturaram o bispo, decapitando-o em 1550.
Superintendentes luteranos vieram então da
Dinamarca para dirigir as igrejas. Assumiram o título de bispos para enganar o
povo, mas a sucessão apostólica foi rompida. Foi o fim da Igreja de Jesus
Cristo na Islândia, ainda que, como ocorreu na Finlândia, muitos usos
tradicionais fossem conservados na liturgia, bem como o culto dos santos.
DO
TERRORISMO FÍSICO AO TERRORISMO INTELECTUAL
Há um paradoxo: o protestantismo, que por toda
parte se impôs pelo terror, conseguiu obter uma imagem pacífica e não-violenta,
remetendo à Igreja a responsabilidade pelas torrentes de sangue que fez correr.
No imaginário coletivo, o protestante é manso e
perseguido, ao passo que o católico é um odioso perseguidor.
Como tal inversão da realidade pôde ter ocorrido?
O
tempo dos falsários
Primeiramente, a história nem sempre é escrita
pelos vencedores. Em terras protestantes, onde os papistas foram eliminados,
ela foi facilmente de sabor protestante. Na França, ela não foi católica.
Vencedores nos campos de batalha, os católicos foram compelidos ao silêncio
pela autoridade real. Os Editos de pacificação promulgados após cada uma das
Guerras de Religião impediam que se honrassem os mártires. Sob pretexto de se
preservar a paz, ao invés de um dever de memória, houve um dever de amnésia. Entre
os 8.760 padres e religiosos católicos cujo assassinato foi recenseado, nenhum
receberá as honras da beatificação. Os heróis da Liga católica serão igualmente
ocultados, e suas obras capturadas e queimadas por ordem de Henrique IV (1o. de
abril de 1594) com pena de morte para os que ousarem conservá-las em seus
domicílios. É imperativo que o silêncio cubra as Guerras de Religião. Mas um
silêncio unilateral. Os protestantes, por sua parte, não esquecem a famosa, a
terrível, a sinistra Noite de São Bartolomeu que arruinou tão brutalmente as
suas aspirações. Eles a conservam com um espírito de vingança, e a propaganda
anglo-saxã lança continuamente óleo ao fogo.
Na França, no século XVII, paradoxalmente, a
argumentação poderosa de Bossuet reforça esse movimento. Ele expõe, de modo
irresistível, as contradições e variações incessantes da doutrina protestante.
Todos os que são sensíveis à lógica abjuram dos erros. Os demais têm de fugir
do terreno racional a todo custo, e refugiam-se no sentimento, ou antes, no
ressentimento. Põe-se em marcha uma espiral de vitimização, reforçada pelas
tribulações impostas por Luís XIV.
Ao mesmo tempo, o protestantismo tira proveito de
sua fragmentação para diluir suas responsabilidades. Ao falar das vítimas, é
unificador: soma-as todas. Ao falar de crimes, é o inverso: ele não é jamais
culpado, pois não tem uma autoridade central. A culpa é sempre da seita mais
próxima!
Por outro lado, assim como ocorreu com todas as
revoluções instaladas, o protestantismo adquiriu um aspecto conservador. Desde
o século XVII, um luteranismo respeitável sucedeu ao luterrorismo. Ele exibe o
ar rigoroso, o rosto severo e as roupas pretas e austeras de um pastor
virtuoso, cujas mãos só sabem manejar a Bíblia. Seria possível acusar tão digno
personagem de ter cometido crimes na sua juventude?
Finalmente, a melhor defesa é o ataque. Para
ocultar seus crimes, o protestantismo compreendeu logo que deveria antes de
tudo desacreditar sua vítima: pô-la na situação do acusado, para impedir suas
queixas. Vociferar incessantemente contra ela, cobri-la de recriminações acerca
de tudo e de qualquer coisa, para colocá-la na defensiva. É isto o que faz há
cinco séculos, com sucesso crescente. À Lenda áurea, que encantou a idade
média, o protestantismo soube opor uma lenda negra, cujo estribilho é conhecido
por todos: a impiedosa Inquisição, a terrível colonização espanhola, a
abominável Noite de São Bartolomeu, o tenebroso caso Galileu etc. Todos eles
mitos anticatólicos, repisados, desenvolvidos, amplificados no século XVIII, e
impostos às crianças da França pela Educação totalitária de Jules Ferry, mas
criados pela máquina protestante. Seu intuito, para além de atacar a Igreja, é
desviar a atenção, esconder os verdadeiros esqueletos escondidos nos armários
protestantes.
A
Lenda negra
Quer
ouvir um advogado do protestantismo? Imediatamente, sem palavra alguma em
defesa do seu cliente, ele parte para o ataque:
– A perseguição dos protestantes pela Igreja
católica não é mito nenhum! Quem ousará negar os carrascos da Inquisição
espanhola ou do rei de França? Quem negará o massacre de Wassy, de São
Bartolomeu, a Dragonada ou a revogação do Edito de Nantes?
Visto que ele não tem outro argumento, aceitemo-lo
para os fins da discussão, e comparemos. Escutemos o que recrimina nos
católicos e comparemos com a realidade protestante. O contraste será bastante
útil para distinguir as características da violência protestante e compreender
a especificidade do luterrorismo.
Aqui, apenas essa comparação nos interessa. Não se
trata de refutar toda a lenda negra, já bem analisada por especialistas como
Charles Barthélemy, Jean Guiraud, Jean Dumond ou Jean Sévillia. Acrescentamos
apenas, sobre as Guerras de religião, uma menção especial para a obra de Jean
Dumond: L’Église au risque de l’histoire. Ele defende corajosamente a Liga (ao
contrário de Sévillia) e apresenta uma documentação tão vasta e tão sólida que
o historiador protestante Pierre Chaunu admitiu ter se impressionado “com a
extensão e a qualidade da [sua] informação”. Dumont nunca é citado nas
bibliografias oficiais: ele merece aqui nossas homenagens.
Contudo, o advogado protestante se impacienta, e
retorna ao seu refrão: repressão da heresia, Inquisição, guerras de religião,
São Bartolomeu, Dragonada… Sigamos em frente, e façamos uma pequena viagem
pelos argumentos da auto-vitimização protestante.
Repressão
dos heréticos
A repressão dos heréticos? O verdadeiro, o enorme
escândalo aqui, é que protestantes possam pretender escandalizar-se com isso.
Os Estados protestantes não baniram severamente o culto católico ―
freqüentemente com pena de morte ― até o século XIX, ou mesmo XX? Não
perseguiram eles ferozmente os católicos que simplesmente quisessem guardar os
ensinamentos de Cristo? Não os vimos se arrependerem disto. Por que aberração ―
ou hipocrisia ― indignam-se eles com a intolerância dos papistas, se
manifestaram, no mínimo, o mesmo contra eles?
Bossuet observava: Não tenho necessidade de me
explicar sobre a questão de saber se os príncipes cristãos estão no direito de
se servir do poder do gládio contra seus súditos inimigos da Igreja e da santa
doutrina, porque, neste ponto, os protestantes estão de acordo conosco. Lutero
e Calvino escreveram livros apenas para estabelecer, sobre este ponto, o dever
do magistrado. Calvino veio a praticá-lo contra Miguel Servet e Valentin
Gentil. Mélanchton aprovou sua conduta numa carta que escreveu a esse respeito.
A disciplina de nossos reformados permite também o
recurso ao braço secular em certos casos, e encontramos entre os artigos da
doutrina da Igreja [calvinista] de Genebra que os ministros [os pastores
protestantes] devem submeter ao poder do magistrado os incorrigíveis que
desprezam as penas espirituais e, em particular, os que ensinam novos dogmas
indistintamente.
O campeão do protestantismo francês contra Bossuet,
o Pastor Pierre Jurieu, admite ingenuamente: Por toda parte, [a Reforma] foi
feita pela autoridade dos soberanos. [...] Assim, ela se deu em Genebra pela
autoridade do Senado; na Suíça, pelo conselho soberano de cada Cantão; na
Alemanha, pelos príncipes do Império; nas Províncias Unidas [Países baixos
holandeses] pelos Estados; na Dinamarca, na Suécia, na Inglaterra, na Escócia
pela autoridade dos reis e dos parlamentos; e esta autoridade não se limitou a
dar plena liberdade de religião aos reformistas, mas foi a ponto de TIRAR AS
IGREJAS DOS PAPISTAS, QUEBRAR SUAS IMAGENS, PROIBIR O EXERCÍCIO PÚBLICO DO SEU CULTO,
e isto ocorreu normalmente POR TODA PARTE: e mesmo, em muitos lugares, chegou a
proibir o exercício particular [=privado] do papismo.
Pois o Pastor Jurieu, após ter recusado a
autoridade da Igreja, teme a anarquia religiosa. Ele reclama, pois, para
proteger a sua fé, a intervenção da única autoridade que subsistia: a dos
príncipes e magistrados. Não pode suportar que outros protestantes queiram
liberar-se dela. Ele refuta seus adversários observando que o protestantismo
foi imposto por toda parte pelo poder político: Com efeito, Genebra, as Suíças,
as repúblicas e cidades livres, os eleitores e príncipes do Império, a
Inglaterra, a Escócia, a Suécia e a Dinamarca lançaram mão da autoridade do
magistrado soberano para abolir o papismo e para estabelecer a reforma.
A França não é exceção: Ainda que a reforma tenha
começado na França sem a autoridade dos soberanos, ela não veio se estabelecer
sem a autoridade dos grandes; e se os reis de Navarra, os príncipes de sangue e
os grandes do reino não tivessem intervindo [Bossuet comenta: “...revoltando-se
contra seus reis e afundando a sua pátria no sangue das guerras civis”] a
verdadeira religião teria sucumbido inteiramente, como ocorre hoje.
E para demonstrar aos protestantes liberais a
terrível conseqüência da sua recusa do poder doutrinal dos príncipes, Jurieu
ironiza: Aí está [segundo seus princípios], a Reforma estabelecida no mundo
pela violência, pelo constrangimento, por vias injustas e criminosas. Estes
senhores são pessoas muito decentes para quererem continuar numa religião assim
constituída e que fez pior do que o maometismo!
Bossuet retoma os argumentos de um e outro partido
para concluir: Os protestantes ferem-se de morte uns aos outros. Um diz que a
religião universalmente introduzida pela autoridade e pela força não é uma
religião, mas uma hipocrisia; e que forçar as consciências dessa maneira é o
mais puro e verdadeiro anticristianismo. Outro diz: sai, então, desta reforma
que, por toda parte, não teve outra fundação! [...] É assim que os dois
partidos deixam-se mutuamente sem defesa alguma. [...] A reforma fez todo o
contrário do que havia proposto: gabava-se de persuadir os homens pela
evidência da verdade e pela palavra de Deus, sem mistura alguma de autoridade
humana; essa era a máxima, mas, nos fatos, não conseguiu se estabelecer nem se
manter sem essa autoridade que vinha de destruir; e, como sua autoridade
eclesiástica tinha fundamentos muito débeis, percebeu que não poderia se fixar
sem a autoridade dos príncipes: de modo que sua religião, como obra puramente
humana, tira sua força apenas deles e não é, para dizer a verdade, mais do que
uma política.
Quando a autoridade real lhes falta (como se deu na
França), eles se vêem obrigados a recorrer aos atentados:
A força e a autoridade são tão necessárias à
reforma que, na falta de um poder legítimo, foi preciso empregar aquele que as
armas e a sedição dão aos rebeldes.
Em poucas palavras, tendo empregado a coação e a
violência por toda parte, os protestantes não têm nada a repreender aos
católicos neste terreno. Esta primeira conclusão é suficiente para mostrar a
indecência das suas jeremiadas.
Mas é preciso ir além.
Contar
os mortos?
Será preciso considerar o aspecto quantitativo,
contar os mortos, os feridos, os torturados em cada campo? E comparar o peso
dos cadáveres?
Deixaríamos de bom grado esse gênero de
contabilidade macabra aos que não têm outros argumentos. Protegeríamos a paz
dos cemitérios. Mas os protestantes lamuriosos não têm esta reserva. Seus uivos
infatigáveis ― mas fatigantes ― acabam por nos obrigar a perguntar-lhes: Querem
realmente fazer esta comparação?
Querem realmente comparar o número de condenações à
morte decretadas pelo grande espantalho da lenda negra, o célebre Torquemada,
inquisidor, com as que são atribuídas a este bravo pequeno juiz luterano de
Leipzig, de nome Benedikt Carpzov (1596-1666) e que segue totalmente ignorado
do grande público? Um “homem excelente”, que “leu, ao longo de sua vida,
cinqüenta e três vezes a Bíblia inteira”, nos diz a História geral do
protestantismo. E muito modesto, diga-se: jamais reclamou sua inserção no livro
dos recordes, muito embora tenha, na sua brilhante carreira de caça às bruxas,
sentenciado 20 mil pessoas à morte! Fosse ele católico, seu sucesso midiático
estaria garantido: o mundo inteiro conheceria o seu nome. Infelizmente, era
luterano, e teve de ceder a Torquemada o lugar de grande perseguidor.
Querem realmente comparar o número de execuções sob
a Rainha Maria Tudor – que a facção protestante apelidou de Bloody Mary (Maria,
a sangrenta) – com o das vítimas dos fundadores do protestantismo anglicano,
Henrique VIII e Elizabeth?
Poderíamos continuar a lista, mas o essencial não
está aí. Evitemos fixar em cifras, demasiado discutidas e sempre secundárias. O
fato mais importante não é de ordem quantitativa.
Uma
diferença capital
Mesmo
deixando de lado a questão principal, que é religiosa (onde está a verdadeira
Igreja fundada por Cristo?), para não ir além da estrita justiça humana (o direito
natural), é radical a diferença entre:
a violência protestante, essencialmente agressiva,
e
a violência católica, essencialmente defensiva.
É absurdo colocar no mesmo nível o agressor e o
agredido, o invasor e o invadido, o usurpador e o usurpado, sob o pretexto
fácil de que houve golpes de ambos os lados. Realmente, que há de mais iníquo?
Uma sociedade decadente encontrará advogados para
colocar os malefícios nos ombros das vítimas: se a senhora tivesse deixado o
ladrão agir, ele não teria necessidade de feri-la! Que poderia ser mais cínico?
É este, no entanto, o argumento protestante. Se a
população tivesse consentido em ver sua fé ser arrancada, bem como sua lei,
seus costumes, sua civilização, e não tivesse reagido, não haveria problema!
Todo mal vem da intolerância católica!
Ainda hoje, os historiadores protestantes batem
nessa tecla. Quem duvidar, poderá abrir a narrativa das Guerras de religião
feita por Patrick Cabanel (diretor de estudos na prestigiosa École Pratique des
Hautes Études). Por acaso ele se inquieta com os atentados que os protestantes
multiplicaram contra a religião milenar da França? De modo algum! Os
protestantes lutam pelos seus direitos. Eles já são, ao seu modo, os campeões
dos direitos do homem. Os que querem guardar a velha identidade católica da sua
terra parecem, por outro lado, não ter nenhum direito de defesa. Nenhuma
escusa. Cabanel não poupa esforços para lhes tornar odiosos. Dir-se-ia que ele
merece as palavras irônicas de Bossuet: Quem não admirará esses reformados? São
os santos do Senhor, não se pode tocar neles. Estão sempre prontos para
reclamar de perseguição, mas lhes é permitido devastar tudo o que for católico.
A julgar pelo que dizem, receberam ordem do Altíssimo.
Quando
a minoria quer fazer a lei
Um ingênuo poderia se admirar de que os
historiadores modernos sejam tão favoráveis a uma MINORIA que buscava a ferro e
a fogo impor sua lei à totalidade da nação, e se perguntar se isso é
democrático. Mas não esqueçamos que a religião democrática não consiste em
fazer a vontade do povo, mas, antes, em submeter o povo, por bem ou por mal, ao
culto da grande Deusa (e aos ritos eleitorais que a acompanham). Não há
democracia para os inimigos da Democracia, como se vê. Ora, o protestantismo
vai no sentido do progresso, uma vez que se opõe à Igreja. Apesar do seu apego
lamentável ― mas provisório ― a alguns restos de cristianismo, ele constitui
uma etapa indispensável rumo à era gloriosa da Democracia e dos Direitos do
Homem. Contrariamente ao que uma aritmética primária faria crer, era a minoria
protestante ― minoria iluminada ― que representava a democracia, a quem,
infelizmente, a maioria obscurantista recusou se submeter (o que prova sua
intolerância e seu fanatismo).
Como vimos, essa é a tese sub-entendida num
Cabanel, e será desenvolvida sem subterfúgios por todos os propagandistas do
Pensamento único. Não se vive mais na realidade, e sim numa ideologia
militante. Contudo, a realidade persiste, bem como esta característica da
violência protestante: Não foi como em alguns países (a Espanha, por exemplo),
com os poderes públicos protegendo a imensa maioria no exercício da sua
religião ― e contra os perigos da divisão religiosa ― com rigores por vezes
excessivos; foi uma minoria audaciosa que tentou, a ferro e fogo, mudar as
crenças de toda a população e que, após ter adquirido sucesso ao preço de
massacres inomináveis, legalizou as suas violências [...]
Muito embora tenha sido abafada por clamores
interessados, a verdade persiste, e as declarações contra as represálias
católicas não provam nada. As guerras religiosas naturalmente amplificam o
furor das guerras civis. Elas voltam-se contra Deus e contra a pátria, e este
dilaceramento supremo eleva a ferocidade humana a proporções desconhecidas.
Mas, ainda que fosse verdade que os fiéis da antiga Igreja ultrapassaram por
vezes os direitos de defesa, não deixa de estar registrado em todos os
documentos autênticos de nossos anais que eles foram atacados com um
encarniçamento sem igual, e que não foi senão pela morte dos fortes, pela
opressão dos fracos, pela cumplicidade tirânica das coroas, que seus
adversários impuseram novidades impopulares a certas províncias da Europa.
Muito
longe de reclamar uma ilusória liberdade religiosa, o povo francês pedia
instantemente proteção contra a heresia:
O que nos impressiona mais, nos artigos
particulares [do Edito de Nantes], é a unanimidade em favor do catolicismo
demonstrada pelas cidades e pelos senhores que se renderam a Henrique IV. A
supressão do protestantismo é reclamada por toda parte como o maior dos
benefícios.
Após ter sublinhado “a generalidade das reclamações
contra a introdução legal da heresia no reino mui cristão”, comenta o mesmo
historiador: Mesmo um partidário da liberdade religiosa terá de convir que
constitui uma singular alteração do seu significado o fato de ser imposta pelo
rei a uma nação que prefere a antiga unidade de fé de seus pais; e que é
estranho, se esse gênero de progresso é uma conseqüência natural do
desenvolvimento da humanidade, que seja preciso tanta astúcia somada a tanta
tirania para torná-lo aceito.
A
Inquisição: legítima defesa
Compreende-se o quanto a violência protestante
difere da Inquisição católica, que ― será ainda preciso repeti-lo? ― jamais
visou à conversão forçada. Longe de ser um instrumento de conquista e de
proselitismo, a Inquisição era uma instituição de legítima defesa. A Igreja
protegia a fé de seus filhos; o poder civil defendia uma sociedade que já era
católica, onde a fé, estabelecida de modo pacífico, havia formado naturalmente
uma civilização cristã.
Não há nada em comum com os métodos de um Gustavo
Vasa (Suécia e Finlândia), de um Cristiano III (Dinamarca, Noruega, Islândia),
de um Henrique VIII (Inglaterra) ou de uma Joana d’Albret (Navarra), que usam
astutamente de violência e mentiras para agredir seu próprio povo, para roubar
sua fé ancestral e fazer com que engulam uma religião nova, que ele preferiria
vomitar.
Consideremos por um instante a famosa Inquisição
espanhola. Os cinco grandes processos que puseram fim às tentativas luteranas
na Espanha custaram a vida de 67 hereges no total. Estes últimos não foram
perseguidos por simples opiniões, mas por atos de rebelião, pois haviam se
conjurado para derrubar a ordem estabelecida. Circunstância agravante: muitos
deles eram padres. Continuavam tranqüilamente a gozar das honras eclesiásticas,
enquanto trabalhavam secretamente para destruir a fé católica que haviam jurado
defender. Que instituição poderia subsistir sem punir tais traições?
O chefe da conjuração, o Pe. Agostinho Cazalla,
observou melancolicamente antes de subir na fogueira (21 de maio de 1554): Se
tivessem esperado por mais seis meses antes de nos pegar, seríamos nós que lhes
faríamos o que hoje nos fazem.
Não se poderia justificar melhor a decisão dos
juízes. Em face da agressão protestante, a sociedade espanhola estava numa
situação de legítima defesa. Se não agisse imediatamente, um grande incêndio
começaria, como ocorreu na França, com centenas de igrejas destruídas, milhares
de religiosos assassinados, dezenas de massacres nos quatro cantos do país. Era
preciso opor-se ao luterrorismo enquanto havia tempo.
Voltaire escreveu: Na Espanha não ocorreu, ao longo
dos séculos XVI e XVII, nenhuma destas revoluções sangrentas, destas
conspirações, nenhum destes tormentos cruéis que observamos em outras cortes da
Europa (...) Enfim, não fosse pelos horrores da Inquisição, nada haveria para
recriminar à Espanha.
Joseph de Maistre comenta com bom senso: Não sei se
há cegueira maior. “Não fosse pelos horrores da Inquisição, nada haveria para
recriminar à Espanha”, que só escapou dos horrores que desonraram todas as
demais cortes por meio da Inquisição.
E, em outra passagem: Quem considerar a severidade
de Torquemada sem pensar no que ela evitou, parou de raciocinar.
E ainda: Os grandes males políticos, sobretudo os
ataques violentos desferidos contra o corpo do Estado, jamais podem ser
prevenidos ou rechaçados sem que seja por meios igualmente violentos.
A Inquisição sempre foi popular na Espanha, porque
ela defendia verdadeiramente o povo. A lenda negra da inquisição não surgiu sob
o sol andaluz, mas nas brumas de Londres, perto da famosa Torre em que Henrique
VIII e Elizabeth I mandavam torturar seus prisioneiros. Foi nessa torre que
morreu o Beato Nicholas Owen, durante uma sessão de tortura que ocorreu antes
mesmo do início do seu julgamento. Também nessa torre o Padre John Gerard foi
submetido a tortura, antes de conseguir fugir. Porém, três séculos mais tarde,
aos turistas admirados de encontrar lá esses instrumentos de tortura, os guias
lhes contavam que só estavam lá guardados, que haviam sido trazidos da Espanha,
onde serviram à Inquisição.
Era assim que a Inglaterra protestante negava seus
crimes imputando-os à Inquisição espanhola.
A
educação totalitária
O que os guias da Torre de Londres faziam no
varejo, a Educação Totalitária de Jules Ferry fará no atacado, ampliando-o a
toda a França.
Casado com uma calvinista, rodeado por conselheiros
do mesmo culto (Léon Say e Conrad de Witt), Jules Ferry literalmente confiará a
escola supostamente “neutra” aos protestantes:
Nos gabinetes do ministério, o protestante
Ferdinand Buisson dirige o ensino primário; o protestante Élie Rabier o ensino
secundário; o protestante Louis Liard o ensino superior. Uma protestante, a
Sra. Kergomard, é a inspetora geral do ensino infantil.
Para padronizar a formação dos mestres, as
diferentes Escolas Normais são encabeçadas por duas Escolas Normais Superiores
que cuidam da formação dos professores, sob a direção do protestante Félix
Pécaut.
Para o ensino secundário das moças, uma outra
Escola Normal Superior foi fundada em Sèvres: sua primeira diretora, Julie
Favre, é filha de um pastor. (Nem todas as Escolas Normais simples são
dirigidas por protestantes, mas não raro o são: Sra. Bourguet em Paris, o
Pastor Joseph Goy em Toulose, etc.)
Há outro centro estratégico de propaganda: o Museu
Pedagógico. Nele, reinam como mestres os protestantes Bonet-Maury e Jules
Steeg.
Finalmente, os protestantes Gabriel Monod, Alphonse
Aulard e Charles Seignobos cuidam dos manuais de história, com a bela
“neutralidade” que podemos imaginar.
Gabriel
Monod (1844-1912) merece menção especial. Ele inicialmente cogitou tornar-se
pastor, como seu avô, seu bisavô e quatorze dos seus primos. Mas da fé
protestante não guardou mais que o ódio à Igreja (ele dirá do protestantismo,
pouco antes de morrer: “Não mantive a crença, mas no fundo, sou um velho
huguenote”). Para satisfazer essa raiva, ele escolheu a história. Em face da
Sorbonne, que tinha o grave defeito de não ter sido dominada pelos
historiadores protestantes (ela não tardará a sê-lo, graças a um habilidoso
sistema de cooptação), fundou-se, à custa do Estado, a École des Hautes Études
(1868), onde Gabriel Monod fazia sua pregação huguenote. Para contrapor-se à
renomeada Revue des questions historiques, considerada católica demais, Monod
também fundou, em 1876, a Revue historique, que se tornou uma verdadeira
máquina de guerra contra a Igreja. O sectarismo anticatólico é aí tão violento,
que Gustave Fagniez, cofundador do periódico, afasta-se em 1881.
Num
contexto assim, quem poderia supor que o protestantismo fosse narrado de modo
imparcial, ou apenas honesto, aos estudantes franceses?
Komintern
e Calvintern
É
fácil ocultar aos franceses as atrocidades do luterrorismo sueco ou norueguês.
Mais difícil é passar em branco os atentados calvinistas dos quais muitas
igrejas francesas ainda trazem as marcas. Mas isso não é o mais importante: o
essencial é dissimular as intenções totalitárias do calvinismo. Lançar no
esquecimento a sua organização, a sua estratégia, e tudo o que um historiador
americano pôde qualificar com o nome tão evocativo de Calvintern, por analogia
ao Komintern soviético. Com efeito, Robert Kingdon assinala as semelhanças...
...entre
o movimento comunista internacional apadrinhado por uma organização chamada
Komintern, com seu quartel-general em Moscou, destinado a solapar as sociedades
ocidentais difundindo o comunismo por todo o mundo, e um movimento calvinista
internacional apadrinhado por aquilo que gostaria de chamar de Calvintern, com
seu quartel-general em Genebra, destinado a solapar as sociedades católicas
difundindo o cristianismo reformado por toda Europa.
Entre
outras coisas, os dois movimentos parecem-me estruturalmente semelhantes,
organizados ao redor de um princípio então denominado “centralismo
democrático”, com unidades locais, células ou congregações, cada qual possuindo
uma autonomia considerável e, por isso mesmo, capaz de agir independentemente
de outras unidades que poderiam estar sob ameaça, mas todas submetidas a um
centro ideológico único e totalitário.
Nessa
empreitada internacional de subversão calvinista, a França foi a primeira
visada. Toda uma rede, solidamente organizada, trabalha para subjugar o
país. Essa é a primeira coisa a se ter em mente para compreender o conjunto dos
acontecimentos, e é isso que a mitologia huguenote ― piedosamente auxiliada
pela Educação totalitária ― visa a dissimular. É vantajoso indignar-se das
reações! Os agentes subversivos tornam-se inocentes vítimas da intolerância
católica.
Mitologia
huguenote
Durante
mais de um século, a escola de Jules Ferry comoveu os pequenos católicos
franceses com histórias sobre: os “mártires” calvinistas, o “massacre de Wassy”
(sistematicamente apresentado como o “início das guerras de religião”),
a Noite de São Bartolomeu, as dragonadas de Luís XIV,
finalmente, a famosa Revogação do Edito de Nantes, com seus exilados e seus
camisards.
Repassemos
rapidamente a ladainha: – No centro está o Massacre da Noite de São Bartolomeu,
que se tornou um pivô essencial do curso de História gratuita, laica e
obrigatória imposta aos estudantes franceses (alguns manuais escolares não lhe
consagram menos de quatro ilustrações). Mesmo nos dias de hoje, ela sobrevive
ao naufrágio organizado do ensino de história. Nem uma palavra, por outro lado,
dos 3 mil católicos massacrados em Orthez três anos antes, nem dos 860
católicos massacrados em Montbrison no dia 15 de julho de 1562 (dez anos antes
do São Bartolomeu), ou dos 567 católicos massacrados em Lauzerte-en-Quercy no
dia 15 de agosto de 1562, para tomar apenas alguns exemplos entre muitos. Os
cadáveres protestantes parecem ser muito mais interessantes! Eis o mito do
protestante-vítima solidamente instalado na cabeça dos alunos das escolas
“neutras”.
–
Mas, como o São Bartolomeu data de 1572, era preciso explicar as guerras que o
precediam. Para inocentar seus correligionários, um propagandista protestante,
Jean Crespin (1520-1572), cuida a partir de 1554 de disfarçá-los de MÁRTIRES.
Um belo achado polêmico, mas que deixa seus amigos calvinistas desconcertados,
pois se opõem ao culto dos santos: faz sentido criar um martirológico huguenote
enquanto se criticam os santos católicos? Crespin foi suspeito de
desviacionismo. O Conselho de Genebra queria que se retirasse do seu livro o
nome malsonante de mártires, mas o autor fez questão: Para lançar no
esquecimento os crimes e sacrilégios cometidos pelos huguenotes, o que seria
melhor do que apodar-lhes com um nome que o adversário tem em tão alta estima?
O sucesso da manobra ultrapassou todas as expectativas, e o Livro dos mártires
de Crespin conseguiu persuadir os amotinados calvinistas de que eram os dignos
herdeiros dos primeiros cristãos. Patrick Cabanel assinala: O monumento de
Crespin sem dúvida contribuiu fortemente para dotar o protestantismo francês de
uma identidade vitimária, para não dizer padecente, posto que seus heróis
foram, por definição, vencidos pelo mundo, odiados pela multidão, acuados
incessantemente pela justiça e pelas autoridades. Esse é o livro do sacrifício
e da derrota. Claro, nem os perjuros, nem os covardes, nem os tíbios figuram
nele, mas sim os obstinados – que pagaram caro.
Obstinados:
eis a palavra. Bossuet justamente sublinha “o quão grande é a diferença entre a
coragem obstinada que a raiva inspira, e a verdadeira constância, sempre
regrada, sempre mansa, sempre pacífica e submissa às ordens públicas, tal como
foi a dos [verdadeiros] mártires”.
Sem
mesmo elevar-se até o julgamento propriamente teológico (que impede de
considerar como “mártir” quem morre por um erro), pode-se facilmente constatar,
com Bossuet, que a pretendida Reforma teve, desde a sua origem, “um espírito
contrário ao do Cristianismo e ao do mártir”. O grande bispo explica: Quando a
reforma era débil, ela realmente se mostrava sempre submissa e chegou a dar
como fundamento da sua religião que não julgava permitido o emprego da força, e
nem sequer resistir a ela. Mas logo se descobriu que isso fazia parte daquelas
modéstias que o temor inspira, um fogo coberto pela cinza: pois tão logo a nova
reforma tornou-se mais forte em algum reino, quis reinar sozinha.
Primeiro,
foram os bispos e padres que não tiveram mais segurança; segundo, os bons
católicos foram degredados, banidos, privados dos seus bens e, em algumas
partes, privados da vida pelas leis públicas; como, por exemplo, na Suécia,
ainda que se tenha desejado dizer o contrário. Mas o fato permanece.
Eis
até onde chegaram aqueles que tanto protestavam contra a força; e bastava
considerar o azedume, a acidez e a soberba publicada nos primeiros livros e nos
primeiros sermões desses reformados; suas inventivas cruentas; as calúnias com
que denegriam nossa doutrina; os sacrilégios, impiedades e idolatrias com que
não cessavam de nos acusar; o ódio de que se inspiravam contra nós; os saques
que resultaram das suas primeiras pregações; o amargor e a violência que
publicavam em seus cartazes sediciosos contra a missa, para julgar o que
devíamos esperar de semelhante começo.
Estes
que os huguenotes querem apresentar como “mártires” foram amiúde condenados por
atentados sacrílegos ou provocações blasfematórias. Eles queriam chocar,
incomodar, aterrorizar, e o conseguiram. A brutalidade iconoclasta que perturba
a França dos anos 1520 ― como preparação do paroxismo dos anos 1560 ― tem todas
as características do terrorismo. O ataque psicológico prepara o confronto
físico. O próprio Cabanel o reconhece a contragosto: E talvez a iniciativa da
violência, simbólica e não carnal, claro, tenha vindo dos protestantes: eles
cederam [...] à vertigem da iconoclastia [p. 216].
Impressionante
“talvez”, que, longe de diminuir a confissão, dobra o seu alcance, revelando o
peso das reticências que um protestante tem de vencer antes de se render à
evidência.
Os
terroristas calvinistas sabiam o que estavam fazendo e o risco que corriam.
Foram punidos segundo as leis da época, e não podiam deixar de sê-lo. Seria
concebível, nos nossos dias, que uma série de atentados contra os grandes
símbolos da religião laica ― lojas maçônicas, centros de “planejamento
familiar” etc. ― não terminasse na responsabilização dos autores desses
atentados?
O
“mártir huguenote por excelência”, Anne du Bourg, cuja imagem do suplício foi
divulgada pelos protestantes por toda parte (pois seu iconoclasmo tem limites),
foi perseguido inicialmente na justiça por ter injuriado o rei na face. Isso
não lhe bastava: desde a prisão, encontrou um meio de organizar o assassinato
dos seus juízes. Um deles foi massacrado, o presidente Minar; dois outros
conseguiram fugir. Depois disso, os magistrados não estiveram mais inclinados à
indulgência a seu respeito. Não é esse um curioso tipo de mártir? E não é evidente
que um tal exaltado teria perseguido os católicos com o máximo furor ― como
Gustavo Vasa, Henrique VIII ou Joana de Navarra ― se tivessem-no deixado agir?
Apenas a mitologia pode transformá-lo num campeão da liberdade de cultos.
Que
espécie de reformadores e mártires este novo evangelho produziu! No entanto, o
rancor, o desprezo, o desespero, e tudo que há de mais extremo nas paixões
humanas, até o ódio [...] não poderiam produzir outros frutos.
–
Outro mito, o suposto “massacre” de Wassy (1o. de março de 1562), que a
história oficial quer absolutamente tornar o início das Guerras de religião.
Bossuet já havia trazido esse drama a suas dimensões justas, apoiando-se na
autoridade de autores protestantes. A um pastor que invocava esse mito, ele replicava:
O Sr. Jurieu evoca o massacre de Wassy como justificativa para as suas armas,
sem responder uma palavra sequer aos testemunhos incontestáveis, mesmo de
autores protestantes, com os quais mostramos que o suposto massacre não passou
de um encontro fortuito, e de um pretexto que a rebelião, já decidida, queria
se dar.
A
mentira de Wassy já foi refutada dez vezes, cem vezes. Já se mostrou que não se
tratou de um massacre (unilateral), muito menos de uma iniciativa deliberada,
mas de uma escaramuça que acabou mal. Ela se deve a uma dupla provocação
protestante: após terem desafiado o edito real que lhes proibia de se reunirem
naquele lugar (a poucos metros da igreja onde o duque de Guise ouvia a missa
com seus homens), os huguenotes tiveram a brilhante idéia de atacar os soldados
católicos com pedradas. Dado o contexto, era o equivalente a acender uma faísca
sobre um barril de pólvora. No entanto, eles se declararam muito surpresos, e
totalmente escandalizados por terem sido repreendidos a disparos de arcabuzes.
Por que tanto ódio? Claro está que nem eles, nem a história laico-republicana
apresentam o contexto. E, sobretudo, os massacres bem mais cruéis (mas que,
dessa vez, só vitimaram católicos) ocorridos nos meses precedentes: Em
Montauban, no dia 13 de julho e, em seguida, no dia 15 de agosto de 1561:
incêndio de igrejas com massacres dos católicos que queriam defendê-las; Em
Montpellier, nos dias 19 e 20 de outubro de 1561: massacre de 250 católicos; Em
Nimes, no dia 21 de dezembro de 1561: novo massacre de católicos.
Duas
semanas antes do incidente de Wassy, um sínodo protestante de setenta pastores
(reunidos em Nimes, de 2 a 15 de fevereiro de 1562) decidira empreender a
destruição sistemática de todas as igrejas: ele foi presidido pelo Pastor Pierre
Viret, enviado à França pelo consistório de Genebra com um mandato de
“visitante”. Do mesmo modo, também antes de Wassy, desde o início dos anos
1560, uma terrível onda de iconoclastia assola e aterroriza o sul da França.
Dois anos antes de Wassy, um príncipe calvinista ainda anunciava (em 5 de março
de 1560) que “um grande golpe será em breve desferido”, cujo fim é o extermínio
de “todos os padres da França” ― nada mais nada menos. E não havia ninguém para
orquestrar esses tumultos, nenhuma palavra de ordem? Feita a pergunta, todos os
olhares instintivamente se voltam para Genebra. Mas jamais poderemos saber
mais, pois o devotado sucessor de Calvino na Meca calvinista, Teodoro de Beza,
que dispunha de documentação abundante sobre todo esse período, destruiu uma
parte após ter escrito sua História eclesiástica (1579). “Por razões de
segurança”, explica com benevolência o bom Cabanel, que acrescenta: A
documentação corria riso de cair nas mãos de leitores mal-intencionados, e
acarretar males a Genebra.
Precaução
nunca é demais. De resto, o mesmo Teodoro de Beza insiste a torto e a direito,
para encerrar o assunto, que a origem das Guerras de religião não deve ser
procurada em outra parte que não Wassy. Enquanto outros memorialistas
protestantes narram o incidente do 1o. de março de 1562 tal como foi, com seus
vinte e três mortos (número que é grande, sem deixar por isso de ser
relativamente pequeno), Beza amplifica-o desmesuradamente, faz dele o momento
decisivo da sua História eclesiástica, retorna a ele sem cessar e declara, com
um tom dramático, que esse massacre é: ...o começo primeiro das guerras civis
que se sucederam, de todos os males que sobrevieram e hão de sobrevir a toda a
Cristandade.
Por
que essa insistência? É que é preciso salvar o soldado Calvino! Esconder seu
rosto guerreiro. Colocar a responsabilidade da guerra civil nos ombros dos
católicos. E para tanto, não há outro meio que o de voltar os holofotes para
Wassy.
A
tagarelice dura ainda nos nossos dias. O periódico Cahiers Science et Vie sobre
as guerras de religião, mencionado acima, trata sete vezes do “massacre de
Wassy” em trinta páginas de dossiê! Visivelmente, para esse órgão de propaganda
do politicamente correto, nunca é suficiente. As imprecisões abundam (mas vão sempre
no mesmo sentido). O mais importante, contudo, não é aquilo que se diz, mas o
que querem ocultar a todo custo. A tática é fazer barulho, comover, martelar
regularmente os nomes de Wassy ou de São Bartolomeu como um toque lancinante de
tambor, a fim de impedir o leitor de refletir pausadamente e de se elevar até
uma visão inteligente do conjunto da situação. É preciso a todo custo desviar
sua atenção da realidade central, que se impõe imediatamente como uma
evidência, desde que se aceite considerá-la: o protestantismo tentou se
apoderar da França por meio do terror.
Para
desenvolver suas redes clandestinas, o protestantismo inicialmente simulou
mansidão (período da taqyia), reservando o terrorismo iconoclasta e os
assassinatos de padres a “lobos solitários”, oficialmente renegados pelo resto
da comunidade. O plano era ainda de tipo luterano: assenhorear-se da pessoa do
rei para protestantizar a França à força, em seu nome, como nos países do
Norte. Após alguns ensaios frustrados, os calvinistas preferiram a rebelião
armada. Nos anos 1560, julgaram-se suficientemente fortes para desencadear a
guerra (período da djihad). Eles a haviam preparado ativamente por pelo menos
dois anos quando ela finalmente explodiu em 1562. Wassy não passa de um pretexto.
Outra
evidência: se os católicos franceses não tivessem se defendido vigorosamente,
eles teriam sido protestantizados à força. Quem pode negar? Ninguém. Era
preciso, pois, a todo custo, desviar os olhares.
–
As lamentações sobre as Dragonadas ou sobre a Revogação do Edito de Nantes
decorrem da mesma estratégia diversionista. Se Luís XIV sucumbiu
desgraçadamente à influência do princípio do seu tempo: cujus regio, ejus
religio (todo príncipe teria o direito de impor sua religião aos seus súditos),
não se pode esquecer que este era precisamente o princípio dos países
protestantes. Não se pode esquecer, tampouco, que os privilégios que a religião
pretensamente reformada gozava em França desde o Edito de Nantes, não foram
obtidos senão pelo terrorismo e pela guerra civil. Os protestantes haviam,
então, submetido os católicos a coisas bem piores do que terão de suportar. Sem
deixar de nos compadecer pelos seus infortúnios de 1685, é preciso repetir que
os excessos de Luís XIV não tiram nada dos erros iniciais de uma religião que,
por toda parte, se impôs (ou tentou se impor) pelo terror.
Bossuet
― que procurou impedir toda violência contra os protestantes na sua diocese ―
já observava: Aqueles que não tiram os dragões da boca, e que pensam que basta
mencioná-los para defender a sua causa, devem, por sua vez, suportar que nós
lhes recordemos tudo que o reino sofreu por conta das suas violências, e ainda
sofre em nossos dias. Eles são culpados, por atos e por suas próprias
deliberações, das quais conservamos os originais, de ter então realizado, por
um poder usurpado, mais do que se queixam no presente de ter sofrido de um
poder legítimo. O fato foi narrado no livro Histoire des Variations e não foi
contestado. Nesse livro declaramos que tínhamos em mãos, no original, as ordens
dos generais e das municipalidades, a pedido dos consistórios, para constranger
os papistas a abraçar a reforma por meio de taxas de moradia, pela demolição
das suas casas, e pela identificação de seus tetos. Quem se afastava para evitar
essas violências era despojado de seus bens. Os registros das administrações da
cidade de Nimes, de Montauban, de Alais, de Montpellier, bem como outras da
facção estão repletos de tais decretos. Mas foram bem mais longe; uma
infinidade de padres, religiosos e católicos de todas as ocupações foram
massacrados em Bearne por ordem da Rainha Joana [de Navarra], sem terem
cometido outro crime que o da sua religião ou de seu estado religioso [...]
Aqueles
que se vangloriam do seu sofrimento e dos seus mártires são os verdadeiros
agressores, e o são do modo mais sanguinário.
Esses
dragões, cujas violências se proclamam tão alto, chegaram a tais excessos? E
tudo aquilo que neles se recrimina, e que eles realizaram sem ordem, quão aquém
não está das violências que os protestantes realizaram por ordem formal e bem
deliberada?
Um
sucesso frágil
Bossuet
já tinha explicado tudo. Mas quem ainda lê Bossuet?
Poderíamos
ser tomados de desencorajamento: não importa o que dissermos, não importa o que
falarmos, a lenda negra anticatólica, tão eficazmente disseminada pela escola
totalitária de Jules Ferry e pelo conjunto das mídias, parece ter ganhado a
partida. Ela se impõe e domina como déspota absoluta. Inventada para esconder
os crimes do protestantismo, ajudou sobretudo a descristianizar a França (para
maior proveito, não do luteranismo ou do calvinismo, mas da última
degenerescência do protestantismo liberal: a religião dos Direitos do homem).
A
França, que soubera vencer o terrorismo físico do século XVI, foi hoje vencida
pelo terrorismo intelectual da Educação totalitária.
Como
derrubar esse Golias? Talvez basta imitar Davi: mirar o lugar certo, o ponto
capital. Uma única verdade, bem colocada, pode ser suficiente para abatê-lo,
uma simples constatação histórica pode bastar para vencê-lo. Uma constatação
muito simples e historicamente incontestável: o protestantismo se impôs por
toda parte por meio do terror.
Em
Londres como em Genebra, na Alemanha como na Noruega, em Navarra como na
Dinamarca, na Escócia como na Suécia, na Islândia como na Irlanda, a lei é
universal: o protestantismo (que reclama o livre exame) se impôs pela
violência.
Se
essa formidável contradição interna não bastar para fazer com que o
protestantismo exploda em pleno vôo, então a lógica não serve para nada.
E
se essa constatação pode ser livremente negada, então a história não serve para
nada.
De
fato, ninguém tem a audácia de negá-lo. Contenta-se em desviar a atenção. Toda
a lenda negra anticatólica não passa de uma manobra diversionista. E se convém
denunciar as mentiras, é ainda mais importante gritar a plenos pulmões:
Diversionismo, diversionismo!
–
As acusações contra a Igreja (Inquisição, caso Galileu etc.)? Diversionismo!
Diversionismo para ocultar que a Igreja se estabeleceu pacificamente, após ter
sofrido três séculos de perseguição, enquanto que o protestantismo (como, em
seguida, a religião laica dos Direitos do homem), impôs-se pelo terror.
–
O elogio dos pretendidos “mártires” do protestantismo? Ainda diversionismo,
para ocultar sua tática terrorista.
–
Os lamentos sobre as dragonadas, a revogação do Edito de Nantes? Ainda
diversionismo! Discuta-se quanto quiser a atitude deste ou daquele rei
católico. Nenhuma das recriminações que se queira fazer não poderá suprimir o
dado fundamental: ele se via em face de uma nova religião que queria se
apoderar do país pela violência. Tudo o que tende a ocultar essa verdade
primeira não passa de uma manobra diversionista.
***
Por
uma reviravolta inacreditável, a religião que se impôs por toda parte por meio
do terror, transmite atualmente uma identidade vitimária. Assim como os corsos,
transmitindo uma vendetta familiar ao longo de vinte e cinco gerações, os
infelizes protestantes ainda vivem da cólera de seus ancestrais. Muitos dentre
eles parecem não ter outra religião a não ser o rancor contra a Igreja.
Vítimas,
certamente os protestantes o foram. Mas, antes de tudo, vítimas da revolta dos
seus chefes, que os enganaram, os aprisionaram numa lógica de ódio para, em
seguida, arrastá-los na espiral infernal provocação-repressão que caracteriza a
subversão terrorista.
Após muitos séculos, em face da descristianização que é a conseqüência final da sua revolta, não seria tempo para que eles abrissem finalmente os olhos e se libertassem desta cultura de ressentimento, a fim de retornar à sua mãe?
Fonte:
"Luterrorismo"- um século de terrorismo protestante | Permanência (permanencia.org.br)
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