Seja por sempre e em todas partes conhecido, adorado, bendito, amado, servido e glorificado o diviníssimo Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.

Nota do blog Salve Regina: “Nós aderimos de todo o coração e com toda a nossa alma à Roma católica, guardiã da fé católica e das tradições necessárias para a manutenção dessa fé, à Roma eterna, mestra de sabedoria e de verdade. Pelo contrário, negamo-nos e sempre nos temos negado a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II, e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram.” Mons. Marcel Lefebvre

Pax Domini sit semper tecum

Item 4º do Juramento Anti-modernista São PIO X: "Eu sinceramente mantenho que a Doutrina da Fé nos foi trazida desde os Apóstolos pelos Padres ortodoxos com exatamente o mesmo significado e sempre com o mesmo propósito. Assim sendo, eu rejeito inteiramente a falsa representação herética de que os dogmas evoluem e se modificam de um significado para outro diferente do que a Igreja antes manteve. Condeno também todo erro segundo o qual, no lugar do divino Depósito que foi confiado à esposa de Cristo para que ela o guardasse, há apenas uma invenção filosófica ou produto de consciência humana que foi gradualmente desenvolvida pelo esforço humano e continuará a se desenvolver indefinidamente" - JURAMENTO ANTI-MODERNISTA

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Eu conservo a MISSA TRADICIONAL, aquela que foi codificada, não fabricada, por São Pio V no século XVI, conforme um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ORDO MISSAE de Paulo VI”. - Declaração do Pe. Camel.

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Ao negar a celebração da Missa Tradicional ou ao obstruir e a discriminar, comportam-se como um administrador infiel e caprichoso que, contrariamente às instruções do pai da casa - tem a despensa trancada ou como uma madrasta má que dá às crianças uma dose deficiente. É possível que esses clérigos tenham medo do grande poder da verdade que irradia da celebração da Missa Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho”. - D. Athanasius Schneider

"Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa (desde que não se falte à verdade), sendo obra de caridade gritar: Eis o lobo!, quando está entre o rebanho, ou em qualquer lugar onde seja encontrado".- São Francisco de Sales

“E eu lhes digo que o protestantismo não é cristianismo puro, nem cristianismo de espécie alguma; é pseudocristianismo, um cristianismo falso. Nem sequer tem os protestantes direito de se chamarem cristãos”. - Padre Amando Adriano Lochu

"MALDITOS os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável SALVADOR seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteão de falsos deuses". - Padre Emmanuel

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06/02/2022

O carrasco que se toma por vítima: 1517-1617 um século de terror protestante

"A lenda negra da inquisição não surgiu sob o sol andaluz, mas nas brumas de Londres, perto da famosa Torre em que Henrique VIII e Elizabeth I mandavam torturar seus prisioneiros. Três séculos mais tarde, aos turistas admirados de encontrar lá esses instrumentos de tortura, os guias lhes contavam que só estavam lá guardados, que haviam sido trazidos da Espanha, onde serviram à Inquisição."

Yves Gerardin

 

1517-1617: UM SÉCULO DE LUTERRORISMO

O carrasco que se toma por vítima: o caso não é único, mas toma dimensões grandiosas entre os protestantes. Considerado no seu conjunto, o quadro é mesmo surpreendente: Durante mais de um século, cobriram a Europa de fogo e de sangue, suscitando guerras civis por toda parte (a Inquisição permitiu que Itália e Espanha escapassem).

Estabeleceram-se pelo Terror em todos os países que chegaram a dominar.

Por toda a parte, perseguiram, torturaram e massacraram padres e fiéis católicos, cujo único crime foi o de guardar a fé que haviam recebido.

Mas, por algum prodígio surpreendente, tal como o lobo que chega a vestir-se com a pele do cordeiro que ele mesmo matou, o protestantismo soube atribuir-se, após todos os seus crimes, um ar de respeitabilidade. Mais: faz-se passar, e toma-se a si mesmo por um pobre perseguido.

O protestantismo assassino

Os crimes do calvinismo na França foram descritos por Michel Defaye na sua brochura: Le Protestantisme assassin.

Muito antes do famoso Massacre de São Bartolomeu (agosto de 1572), os calvinistas já haviam planejado friamente o massacre de todos os padres da França. Plano executado em larga medida. Em 1580 (dezoito anos antes do fim da guerra civil), já se contavam – apenas na França – 8.760 padres e religiosos católicos massacrados pelos protestantes fora de qualquer combate. A correspondência de Teodoro de Beza mostra que ele acompanhava bem de perto a progressão dos massacres, com a satisfação de um general que registra suas vitórias. Não se tratava de atos de vingança (como veio a ocorrer em decorrência), mas da aplicação metódica de uma ideologia assassina: morte aos padres!

Os métodos sinistros de que Henrique VIII e Elizabeth I lançaram mão para estabelecer o protestantismo anglicano são igualmente bem conhecidos.

Mas o luteranismo também, o luteranismo sobretudo, foi imposto pelo terror. Na Alemanha, Lutero só desafiou o papa porque contava com o apoio dos príncipes que desejavam pilhar os bens da Igreja (para grande prejuízo dos pobres, que se viram desamparados). Quando os camponeses decidiram imitar os seus príncipes pilhando os seus castelos, foi tudo diferente! Assim que a vitória se inclinou para o lado dos príncipes, Lutero apoiou sem escrúpulos a mais sangrenta das repressões.

Por toda parte em que foi bem-sucedido, o luteranismo foi, antes de mais nada, um luterrorismo, imposto a todos os degraus da sociedade pela brutalidade e pela mentira.

Na Suécia (e, por conseguinte, na Finlândia), o principal luterrorista foi Gustavo Vasa.

Na Dinamarca (assim como na Noruega e na Islândia), o luterrorista chefe foi Cristiano III.

Comecemos nosso breve tour pelos cinco países luteranos do Norte da Europa.

Luterrorismo na Suécia

O príncipe Gustavo I Vasa (1496-1560) libertou a Suécia do jugo dinamarquês. Costuma-se louvar a sua resistência física, sua vontade de ferro, sua eloqüência e habilidade. Mas dificilmente se poderia negar seu autoritarismo, sua crueldade, maquiavelismo e ingratidão para com seus melhores servidores.

Para destruir a fé católica do seu povo, soube proceder por etapas, sempre dissimulando o passo seguinte, bem como o objetivo final. Essa astuta dose de violência e trapaça foi o segredo do seu êxito.

Um regime de terror

Primeira etapa: minar a autoridade dos bispos (enquanto pretendia ainda ser muito devotado à Igreja romana). A partir de 1521, o rei ataca Dom Peder Jacobsson, bispo de Västerås. O prelado teria sustentado – em correspondência privada, apreendida pelos agentes do rei – idéias injuriosas a respeito do soberano. Queixas acerca de novos tributos? Comentários inoportunos sobre a vida privada do rei? Não se sabe ao certo, pois os documentos desapareceram. Em todo caso, o rei acusa-o de alta traição. Não era preciso muito para que o rei se julgasse traído, como seu chanceler, mestre Knut, aprenderá rapidamente à sua custa. Este último fora o primeiro a propor a eleição de Gustavo Vasa durante a assembleia dos Estados gerais do país e, desde então, sempre o servira fielmente. Mas cometeu o crime de defender o bispo de Västerås, e por isso foi imediatamente deposto. O bispo e o chanceler serão finalmente condenados após uma paródia de julgamento; em seguida serão torturados, submetidos a diversas humilhações públicas e executados em 1527. A mensagem é clara: quem desafia Gustavo corre graves riscos.

Segunda etapa: apoderar-se dos bens da Igreja (mosteiros, catedrais, capítulos, presbitérios etc.). O princípio do confisco foi estabelecido publicamente em 24 de junho de 1527 (Recesso de Västerås), mas Gustavo tem de agir prudentemente, pois os camponeses, que se beneficiam da caridade das abadias, são muito ligados a elas (A supressão dos mosteiros nos países protestantes foi uma catástrofe para os pobres, sobretudo na Inglaterra e nos Países Baixos). Já em 1525, a expulsão dos monges de Gripsholm fez com que a população reagisse. Em 1529, começa uma rebelião nos arredores do mosteiro cisterciense de Nydala, quando o bailio Gotfrid Sure veio apoderar-se dele – muitos morreram, inclusive o bailio. Em 1530, Gustavo ordena a seus agentes que preparem com cuidado suas expedições, a fim de expulsarem os monges silenciosamente. Pouco a pouco, os trinta mosteiros da Suécia foram suprimidos, os monges expulsos, os prédios confiscados pelo rei e pelos nobres. Os conventos terão a mesma sorte. (A lei que proibia os mosteiros na Suécia só será abolida em 1952).

Enganar e submeter o povo

Terceira etapa: a protestantização. Era preciso ser ainda mais habilidoso, pois o povo abraçava a verdadeira fé e a liturgia católica. Olof Persson (mais conhecido sob a forma latina do seu nome: Olaus Petri) redige um manual de cerimônias (Kyrkohandbok, 1529) que mantém ainda a maior parte das cerimônias tradicionais, ao passo que suprime discretamente aquilo que exprime explicitamente a fé católica. Uma nova missa (dita missa sueca) foi imposta em algumas paróquias de Estocolmo. Exclui-se dela tudo o que lembra que a missa é um sacrifício; impõe-se a comunhão sob as duas espécies; mas conserva-se as formas exteriores tradicionais. Gustavo ordenou que o culto e a pregação fossem modificados aos poucos, levando-se em conta as disposições locais. A progressão rumo ao luteranismo se dá em velocidades diferentes conforme as regiões. As reações são desalinhadas, e mais fáceis de reprimir.

A primeira revolta estoura no Oeste, a partir de 1529. Gustavo consegue apaziguá-la comprometendo-se (de modo ambíguo) a manter os “antigos e veneráveis usos cristãos” e prometendo anistia completa aos insurgentes. Assim que a ordem foi restabelecida, manda prender e executar os chefes que tiveram a ingenuidade de crer nas suas palavras (notadamente, o juiz Nils Olsson e o jovem Måns Bryntesson).

Em 1531, os montanheses do norte, os dalecarlianos, protestam por sua vez contra a nova liturgia e o confisco dos sinos (que Gustavo quer converter em moeda). Os veteranos da independência estão à frente desta revolta dos sinos. Gustavo deve a esses rudes guerreiros o seu sucesso contra os dinamarqueses. É preciso não os ofender. Ele declara não ser o responsável pelas mudanças litúrgicas. Ao mesmo tempo, recomenda discrição aos pastores: suprimir genuflexões e persignações, mas manter provisoriamente o rito da elevação na missa, para não desagradar o povo. Quando a situação parecia ter se acalmado, mandou prender os líderes. Muitos foram executados no local. Outros foram julgados em Estocolmo. Um deles (Måns Nilsson, de Aspeboda) salvara a vida de Gustavo anos antes. Outro (Anders Persson, de Rankhytta) o abrigara em sua casa durante a guerra de independência. Pouco importa: declarados traidores e rebeldes, foram decapitados em 1534.

Em 1540, foram os camponeses do leste que se queixaram do esbulho das igrejas (Gustavo confiscara todos os seus vasos sagrados, crucifixos, relicários e ornamentos preciosos – para o máximo proveito do tesouro real). Protestam eles contra a nova liturgia em língua vulgar, mas, por falta de um líder, são facilmente esmagados.

Em maio de 1542, um grupo de paróquias da Esmolândia é chefiado por um simples camponês: Nils Dacke, que resiste às forças reais até julho de 1543. A repressão é impiedosa: suplício da roda para todos os que forem capturados pelo exército real. Mas Gustavo, por seu lado, perde mais de mil homens. Ele observará melancolicamente que esta guerra lhe custou 700.000 marcos: mais do que obteve ao longo de sete anos pilhando as igrejas do reino.

Os padres fiéis a Roma, até então mais ou menos tolerados se não fizessem barulho, tornam-se agora o inimigo público número 1 de Gustavo Vasa. A partir de então, são capturados, torturados e mortos sem nenhuma forma de processo. Em 1544, Gustavo ordena que todos os calvários sejam abatidos, proíbe as peregrinações e fecha à força os onze mosteiros que ainda subsistiam.

Pastores sob o terror

Em 1540, Gustavo confisca definitivamente a realeza sueca: de eletiva que era, torna-se hereditária.

No entanto, a Igreja sueca já havia sido confiscada desde 1528: de divina que era, tornou-se um serviço administrativo do Estado. Seus bispos são rebaixados ao nível de funcionários, a meio caminho entre o prefeito e o cobrador de impostos. São autorizados a celebrar a missa pontifical durante a sagração do rei (que precisa de um pouco de solenidade) mas, no dia-a-dia, têm como principal atribuição manter o povo obediente ao soberano e coletar as taxas eclesiásticas em benefício da coroa.

Os que recusam a sujeição devem deixar a Suécia. Johannes Magnus, arcebispo de Uppsala, e Hans Brask, bispo de Linköping, são compelidos ao exílio.

Gustavo dispensaria os bispos de bom grado. Para que sucessores dos Apóstolos? Superintendentes bem dóceis bastariam para substituir os pastores e executar as ordens do poder. A sagração episcopal, que transmite a plenitude do sacerdócio, não tinha nenhuma utilidade para este tipo de funcionário. Infelizmente, o povo mantinha-se ligado a ele. Numa carta de 7 de novembro de 1527, Gustavo constata que o “povo não quer se contentar com bispos não sagrados, muito embora esta sagração seja de pouca importância”. Para evitar problemas, decide sagrar seus superintendentes de diocese. Basta encontrar um bispo que faça as sagrações.

Da antiga hierarquia católica, apenas dois bispos subsistiam: o velho Ingmar de Växjö (inerte o suficiente para que Gustavo o deixasse morrer tranqüilamente na sua diocese) e Peder Månsson, bispo de Västerås. Sem ser luterano, este último jamais ousou opor-se ao rei. De todo modo, repugna-lhe sagrar bispos contra a vontade do papa. Para vencer suas resistências, certificam-no de que, após as sagrações, solicitarão uma confirmação papal. Cada um dos ordinandos assina uma declaração escrita neste sentido. Peder Månsson crê verdadeiramente nela? Não o sabemos. Em todo caso, a sagração ocorreu no dia 6 de janeiro de 1528. Em conformidade às exigências de Gustavo, os novos bispos fazem um juramento de obediência ao rei, não ao papa.

Em 1531, devido à revolta dos dalecarlianos, que exigem, entre outras coisas, um bispo validamente sagrado, Gustavo decide realizar uma nova sagração episcopal. Desta vez, Peder Månsson (bispo de Västerås) e Magnus Sommar (bispo de Strängnäs) não podem mais acreditar – nem sequer fingir acreditar – que Gustavo pedirá em seguida a confirmação papal. Antes de realizar a sagração, eles assinam secretamente – mas perante testemunhas escolhidas com cautela (dois doutores em direito e um professor de teologia) – um documento bastante curioso.

Recusando a heresia luterana, e deplorando os numerosos abusos “e inúmeros outros erros escandalosos”, os dois bispos declaram: Nós não somos capazes de nos opor a isto ao modo de uma muralha protegendo a casa de Deus, como é do nosso dever, e como faríamos se pudéssemos.

Eles protestam: Nós não aprovamos as eleições feitas, ou a fazer, dos intrusos que querem impor às igrejas da Suécia, com desprezo e em prejuízo da Sé de Roma, e isto ainda que nós mesmos realizemos a sagração dos bispos, constrangidos pela força e movidos por um temor capaz de estremecer mesmo homens fortes, do que nós protestamos aqui.

Acrescentam: Ademais, no tocante aos nossos escritos presentes ou futuros, selados ou não, acerca [...] da ordenação do arcebispo ou dos bispos intrusos, afirmamos e protestamos que não pretendemos nem entendemos atribuir-lhes nenhum direito ou autoridade, mas que todas estas coisas e cada uma delas feitas por nós em assuntos luteranos, por violência e temor, quer se trate de escritos, palavras, atos presentes ou futuros, em prejuízo da Sé de Roma, e de qualquer estado ou dignidade, nós as declaramos inteiramente nulas e desprovidas de efeitos.

Finalmente, concluem: E, uma vez que neste reino inexiste o recurso a notários, que poderiam redigir em forma de instrumento público nosso recurso ou protesto, rogamos aos veneráveis doutores supracitados [os dois doutores em direito] juntar suas assinaturas e selos aos nossos.

Redigido em Strängnäs, 10 de agosto de 1531.

Seguem as assinaturas e selos, ainda bem visíveis sobre o original, que foi descoberto nos arquivos de Strängnäs no final do século XIX.

Uma outra declaração do mesmo tipo (a um tempo clandestina e assinada diante de testemunhas) foi redigida em 27 de agosto, às vésperas da sagração, por dois futuros bispos: Sveno Jacobi (bispo de Skara) e Jonas Boetii (Växjö). Eles declaram que apenas aceitaram esta sagração para evitar o cárcere e a ruína das suas igrejas, e juram que hão de solicitar a confirmação de Roma “na hora e na ocasião oportunas”. Detalhe revelador: antes de esse documento ter sido descoberto (no século XIX), esses dois homens sempre passaram por bons luteranos. Quantos outros terão igualmente escondido suas convicções?

Não há como não recriminar essa fraqueza, sobretudo da parte de homens obrigados a defender a fé ao risco da própria vida, como são os bispos. Mas que dizer da religião que se estabelece por esses meios?

O historiador Magnus Nyman mostrou que, no início do século XVII, boa parte da população sueca ainda não havia compreendido que não estava mais sob a autoridade de Roma. O sistema protestante, porém, instalou-se solidamente. Quando o segundo filho de Gustavo Vasa, João III, esboça um retorno à Igreja Católica (ao que parece, ele converteu-se secretamente em 6 de maio de 1578), é confrontado com uma resistência terrível. Seu filho, Sigismundo III, católico sincero, será obrigado a fugir da Suécia. Sessenta anos mais tarde, a Rainha Cristina da Suécia também terá de fugir às escondidas – abandonando a coroa – para converter-se ao catolicismo (1654). Desde 1595, uma conversão de tal sorte consistia em um caso de alta traição, passível de pena de morte.

A constatação é terrível, mas inevitável: em todos os níveis da sociedade sueca – na base como no topo, nos leigos como nos clérigos – o protestantismo impôs-se pelo terror e pela mentira. Como negar que esse luteranismo foi, antes de tudo, um luterrorismo?

Finlândia: uma exceção ao luterrorismo?

Há um advogado do protestantismo no recinto? Ao invés de defender Gustavo Vasa, ele dirigirá o olhar para o leste.

― Chega de Suécia! Consideremos a Finlândia. Veja esse belo país, examine a sua história, aprecie a continuidade que se observa aí entre o cristianismo medieval e o de hoje. Nenhuma ruptura, nenhuma violência. Como, diante de tão belo espetáculo, poderíamos falar em luterrorismo?

Realmente, os historiadores protestantes amam a Finlândia. Relatam comovidos que sua nova religião impôs-se aí pacificamente. Dizem, repetem, repisam-no com curiosa insistência. Percebe-se sua felicidade ao sugerir que existe algum país que possam apresentar em que as coisas tenham se desenrolado bem. Mas seria isso verdade?

Uma protestantização lenta e discreta

Em realidade, na Finlândia, as igrejas não escaparam da pilhagem. Desde 1541, Gustavo Vasa mandou que fossem confiscados, para seu proveito, os objetos de ouro e a prataria, bem como ornamentos preciosos. Mas a pilhagem fazia-se discretamente, sem manifestações iconoclastas, para não ofender a população. Essa discrição, ou antes, dissimulação, será a característica principal da “Reforma” finlandesa e o segredo do seu sucesso. Pouco a pouco, os velhos padres são substituídos por pastores que não receberam ordenação válida, mas que continuam a cantar em latim e a ouvir as confissões dos fiéis, como se nada tivesse acontecido. A nova missa sueca é introduzida em certas localidades a partir de 1531, mas em muitos lugares conserva-se o ritual latino. Tudo se dá muito lentamente. Em 1582, ainda se editavam as coletâneas tradicionais de cânticos em latim para as paróquias finlandesas.

O Rei Gustavo Vasa por vezes se impacientava. Ele recriminou um “bispo” luterano, nomeado em 1554, por pontificar como um bispo papista. Mas a calma do país bem vale essas concessões. A Igreja luterana finlandesa continuou assim até os dias de hoje honrando publicamente a Santíssima Virgem e rezando pelas almas do purgatório – de modo bem pouco luterano.

Execuções sangrentas

Não obstante, execuções cruentas ocorreram. Em 1595, decidiu-se protestantizar à força. As paróquias recebem a ordem de suprimir o rito de elevação na missa. Os padres católicos deveriam ser denunciados e expulsos. A partir de 1598, são passíveis de prisão, o que por vezes significa a morte (o Pe. Johannes Jussula, levado à Suécia, morreu na prisão após ter sido torturado). A pena de morte foi, em seguida, expressamente promulgada contra os padres católicos e mesmo, em 1617, contra todo papista encontrado no território.

A protestantização da Finlândia foi feita mais pela astúcia do que pela violência, é certo; mas não do modo plenamente doce e pacífico que nos querem fazer crer. De qualquer forma, jamais teria ocorrido sem o luterrorismo sueco.

Luterrorismo na Dinamarca

Na Dinamarca, dois reis devem ser mencionados: Cristiano II e Cristiano III.

O Rei Cristiano II (autor do “banho de sangue de Estocolmo” em 1520, no qual a elite sueca [ACMJ1] foi massacrada) foi o primeiro a convocar pregadores luteranos, que causaram ali os mesmos problemas que em outras partes. Em Copenhague, dois dias depois do Natal de 1530, um bando de luteranos invadiu a Catedral de Nossa Senhora durante a missa e começou a destruir as estátuas, saquear os livros, demolir o mobiliário e profanar os lugares de todas as maneiras possíveis, até serem expulsos. Cristiano II, porém, temia pelo seu trono (que terminará por perder). Oscilando sem cessar entre o catolicismo e o protestantismo, em razão do contexto político, jamais tomou um partido definido.  

O Rei Cristiano III impôs o protestantismo à força. Ele havia participado da Dieta de Worms em 1521. Muito germanizado (quase nunca falava dinamarquês), queria submeter seu povo à religião alemã: a de Lutero. Soube dissimular suas pretensões para alcançar o trono real. Não hesitou prometer fidelidade à Igreja Católica na sua sagração (1536). Mas logo tirará a máscara.

O golpe de Copenhague (1536)

Desde cedo, Cristiano III preparou um golpe para que fosse declarado chefe da Igreja dinamarquesa. Os bispos foram convidados com outros representantes da nação a uma Assembleia nacional em Copenhague – a prisão os esperava. Ao longo da noite, as ruas da cidade foram bloqueadas e, desde as quatro da manhã, homens armados prendiam os homens da Igreja. O arcebispo de Lund, Torben Bille, e o bispo de Roskilde foram encarcerados. Seus colegas tiveram a mesma sorte (o bispo Joachim Rønnow, que conseguiu escapar por uma janela, foi aprisionado no dia seguinte). Assim que os oito bispos do país foram presos, a reunião teve início (12 de agosto de 1536). A Igreja não possuía nenhum advogado na Assembleia que decidiu o seu destino. Os deputados perceberam claramente como deveriam votar se quisessem evitar problemas. Bom conhecedor da natureza humana, Cristiano III afaga com uma mão e chicoteia com a outra. Avisa discretamente aos deputados mais influentes que receberão uma parte dos despojos dos mosteiros. Com unanimidade – uma digna antevisão das repúblicas soviéticas – a Assembleia de 1536 votou pela adoção total e definitiva do luteranismo.

Guerra aos monges, paz aos curas

Em 1537, uma nova liturgia (luterana, em dinamarquês) foi adotada oficialmente. A tática é proceder por etapas, para evitar perturbações entre o povo. Num primeiro momento, os pobres padres de paróquias não são muito visados. Faz-se a caça aos monges (mosteiros confiscados, recalcitrantes exilados). Sobretudo, Cristiano substitui os bispos por sete funcionários submissos a ele (chamados de superintendentes). Em seguida, inútil apressar-se, jovens pastores, formados nas ideias luteranas, necessariamente hão de se suceder aos velhos curas. Em vez de atacar diretamente as verdades católicas, era mais eficiente começar por silenciá-las e esperar que os fiéis as esquecessem.

O método era lento, mas eficaz, pois mantinha a massa dentro da estrutura oficial. Surgiam por vezes refratários. Para esmagá-los, a Dieta de Copenhague declarou, em 1613, que os católicos eram inábeis para toda função pública, e privou-os do direito de herança. Em 1624, instituiu a pena de morte para todos os padres católicos (medida que só será revogada em 1849). Na Dinamarca, assim como na Alemanha ou na Suécia, a “Reforma” merece o nome de luterrorismo.

Luterrorismo na Noruega

Na Noruega (conquistada pelo rei dinamarquês Cristiano III), a pretendida Reforma é antes de tudo uma obra de pilhagem.

Pilhagem organizada

Apenas na cidade de Bergen, destruiu-se a catedral, o palácio episcopal, três conventos e outras nove igrejas, com ordem de direcionar “todos os materiais” (sobretudo o ouro e a prata) para a Dinamarca. O que não pudesse ser levado à Copenhague deveria ser vendido localmente, em benefício do Tesouro real.

O mesmo se deu em Oslo, Stavanger e Nidaros (Trondheim). A cada saque, o piedoso rei luterano acompanha de perto o tesouro das catedrais. Sem esquecer o bronze dos sinos e o ferro dos cercados, que são remetidos para a Dinamarca após terem sido transformados em lingotes. Os pequenos santuários rurais não são poupados. Em 1552, Cristiano III ordena aos superintendentes luteranos “procurar se não restam igrejas supérfluas para serem demolidas”.

O rei sabe como suscitar o interesse dos nobres dinamarqueses na “Reforma” norueguesa, atribuindo-lhes uma parte do butim: a Abadia de Nonneseter, com todos os seus bens e terras, foi atribuída ao senhor Vincent Lunge. O tesouro da igreja dos Apóstolos de Bergen será graciosamente ofertado à sua viúva, pelos serviços rendidos.

E os bispos?

Os historiadores protestantes afirmam normalmente que todos (ou quase todos) os bispos noruegueses passaram sem dificuldade para o luteranismo. Mas a realidade é bem diferente.

A Noruega contava então com um arcebispado (Nidaros, hoje em dia Trondheim) e quatro dioceses (Hamar, Bergen, Stavanger, Oslo).

O arcebispo de Nidaros, Olav Engelbrektsson, fora convidado para participar da famosa Assembleia nacional de Copenhague (em 1536), em que todos os bispos foram presos. Ele suspeita da armadilha e não vai até lá. Os soldados dinamarqueses, contudo, prenderam-no em 1537, apesar de uma heroica resistência da população (liderada por Einar Fjeld) e do socorro do Almirante norueguês Kristoffer Trondsen. O arcebispo morreu no exílio, em 6 de fevereiro de 1538.

Em Hamar, foi preciso também uma verdadeira expedição militar (15 mil homens) para tirar o bispo católico (Mogens Lauritssøn) dos seus fiéis, em 1537. Intimado, em nome do rei dinamarquês, a acatar o luteranismo ou a abandonar a sua sé, o bispo recusa as duas soluções. Conduzido pelos soldados, partiu abençoando o seu povo, que viera em massa dar-lhe adeus. Morreu numa cela dinamarquesa.

O último bispo católico de Bergen, Olav Torkellsson, opôs-se firmemente ao luteranismo e sua resistência lhe valeu a prisão. Foi finalmente liberado, e adquiriu um estado bem mais modesto. Prometera ele não se opor ao usurpador luterano (Gjeble Pederssøn) que ocupara a sua sé? É o que se diz, mas isto não é certo. De todo modo, jamais aderiu à heresia. (Quanto a Gjeble Pederssøn, este nunca foi bispo católico.)

O último bispo de Stavanger, Hoskuld Hoskuldsson, morreu no cárcere.

Restou Oslo, onde o último bispo católico, Hans Rev, recebeu escandalosamente do Rei Cristiano III o título protestante de superintendente. O rei teve a habilidade de não lhe pedir uma profissão de fé luterana. Parece que o bispo jamais aderiu explicitamente aos erros de Lutero, os quais combateu antes da prisão dos bispos dinamarqueses por Cristiano III. Cooptar um bispo católico para avalizar a nova estrutura era uma vantagem suficientemente importante para que não lhe fossem demasiado exigentes.

Descontentamento popular

O povo norueguês manifestou por bom tempo sua recusa da heresia. Os relatos oficiais mencionam movimentos de insatisfação por ocasião das mudanças litúrgicas. Falam de pastores injuriados ao ensinarem as novidades luteranas, quando não expulsos das igrejas pelos paroquianos. Em Setesdal, um primeiro pastor se viu obrigado a fugir sob ameaças de morte, e seu sucessor foi morto no interior mesmo da igreja. Algumas paróquias ofereceram dinheiro às autoridades civis para que não lhes fossem enviados pastores. Fiéis organizavam orações públicas para implorar “a volta da fé antiga, com a doutrina do papa”. Em 1552, o rei teve de obrigar por decreto os camponeses de Nidaros “a assistir aos ofícios quando o superintendente [luterano] viesse visitar as igrejas”.

Foram necessárias quatro gerações para destruir a fé católica. Em 1613, um relatório oficial nota que ainda se encontrava, tanto na nobreza como no povo, fortes inclinações em favor da “doutrina papista”. Os próprios pastores tornaram-se objeto de desconfiança. Os superintendentes, ao visitar as paróquias, observavam que suas bibliotecas continham apenas obras católicas. Em 1627, o relatório diocesano de Glostrup trata de um pastor, de nome Lauritz, que declara publicamente, na cátedra, aos “seus simples e pobres fiéis”, que a religião romana é a verdadeira; que se deve invocar os santos, porque, desde o Céu, eles vêem tudo o que se passa sobre a terra; que a Santíssima Virgem foi isenta de todo pecado. Pior ainda: teria acrescentado que outros pastores pensavam como ele, ainda que não ousassem dizê-lo publicamente, pois “não há dois ou três pastores sinceros no país”.

Em poucas palavras, na Noruega, assim como em outras partes, a religião luterana foi imposta pela força e pela astúcia a uma população que não a desejava.

Luterrorismo na Islândia

O luteranismo também foi imposto na Islândia pelo exército dinamarquês. Assim como na Noruega, mosteiros e igrejas foram pilhados em proveito da Dinamarca, enquanto que as bibliotecas e os conventos foram queimados para apagar todo vestígio do passado católico.

O país compreendia duas dioceses: Skálholt no sul, Hólar no norte.

O último bispo católico de Skálholt, Ögmundur Pálsson, foi capturado pelos dinamarqueses e enviado para a Dinamarca, onde morreu na prisão, em 1542.

O último bispo de Hólar, Jón Arason, jurou lutar até a morte contra a heresia. Ele apelou ao seu povo e, com um pequeno exército de 900 homens, conseguiu expulsar os dinamarqueses da ilha. Contudo, estes últimos voltaram mais numerosos e capturaram o bispo, decapitando-o em 1550.

Superintendentes luteranos vieram então da Dinamarca para dirigir as igrejas. Assumiram o título de bispos para enganar o povo, mas a sucessão apostólica foi rompida. Foi o fim da Igreja de Jesus Cristo na Islândia, ainda que, como ocorreu na Finlândia, muitos usos tradicionais fossem conservados na liturgia, bem como o culto dos santos.

DO TERRORISMO FÍSICO AO TERRORISMO INTELECTUAL

Há um paradoxo: o protestantismo, que por toda parte se impôs pelo terror, conseguiu obter uma imagem pacífica e não-violenta, remetendo à Igreja a responsabilidade pelas torrentes de sangue que fez correr.

No imaginário coletivo, o protestante é manso e perseguido, ao passo que o católico é um odioso perseguidor.

Como tal inversão da realidade pôde ter ocorrido?

O tempo dos falsários

Primeiramente, a história nem sempre é escrita pelos vencedores. Em terras protestantes, onde os papistas foram eliminados, ela foi facilmente de sabor protestante. Na França, ela não foi católica. Vencedores nos campos de batalha, os católicos foram compelidos ao silêncio pela autoridade real. Os Editos de pacificação promulgados após cada uma das Guerras de Religião impediam que se honrassem os mártires. Sob pretexto de se preservar a paz, ao invés de um dever de memória, houve um dever de amnésia. Entre os 8.760 padres e religiosos católicos cujo assassinato foi recenseado, nenhum receberá as honras da beatificação. Os heróis da Liga católica serão igualmente ocultados, e suas obras capturadas e queimadas por ordem de Henrique IV (1o. de abril de 1594) com pena de morte para os que ousarem conservá-las em seus domicílios. É imperativo que o silêncio cubra as Guerras de Religião. Mas um silêncio unilateral. Os protestantes, por sua parte, não esquecem a famosa, a terrível, a sinistra Noite de São Bartolomeu que arruinou tão brutalmente as suas aspirações. Eles a conservam com um espírito de vingança, e a propaganda anglo-saxã lança continuamente óleo ao fogo.

Na França, no século XVII, paradoxalmente, a argumentação poderosa de Bossuet reforça esse movimento. Ele expõe, de modo irresistível, as contradições e variações incessantes da doutrina protestante. Todos os que são sensíveis à lógica abjuram dos erros. Os demais têm de fugir do terreno racional a todo custo, e refugiam-se no sentimento, ou antes, no ressentimento. Põe-se em marcha uma espiral de vitimização, reforçada pelas tribulações impostas por Luís XIV.

Ao mesmo tempo, o protestantismo tira proveito de sua fragmentação para diluir suas responsabilidades. Ao falar das vítimas, é unificador: soma-as todas. Ao falar de crimes, é o inverso: ele não é jamais culpado, pois não tem uma autoridade central. A culpa é sempre da seita mais próxima!

Por outro lado, assim como ocorreu com todas as revoluções instaladas, o protestantismo adquiriu um aspecto conservador. Desde o século XVII, um luteranismo respeitável sucedeu ao luterrorismo. Ele exibe o ar rigoroso, o rosto severo e as roupas pretas e austeras de um pastor virtuoso, cujas mãos só sabem manejar a Bíblia. Seria possível acusar tão digno personagem de ter cometido crimes na sua juventude?

Finalmente, a melhor defesa é o ataque. Para ocultar seus crimes, o protestantismo compreendeu logo que deveria antes de tudo desacreditar sua vítima: pô-la na situação do acusado, para impedir suas queixas. Vociferar incessantemente contra ela, cobri-la de recriminações acerca de tudo e de qualquer coisa, para colocá-la na defensiva. É isto o que faz há cinco séculos, com sucesso crescente. À Lenda áurea, que encantou a idade média, o protestantismo soube opor uma lenda negra, cujo estribilho é conhecido por todos: a impiedosa Inquisição, a terrível colonização espanhola, a abominável Noite de São Bartolomeu, o tenebroso caso Galileu etc. Todos eles mitos anticatólicos, repisados, desenvolvidos, amplificados no século XVIII, e impostos às crianças da França pela Educação totalitária de Jules Ferry, mas criados pela máquina protestante. Seu intuito, para além de atacar a Igreja, é desviar a atenção, esconder os verdadeiros esqueletos escondidos nos armários protestantes.

A Lenda negra

Quer ouvir um advogado do protestantismo? Imediatamente, sem palavra alguma em defesa do seu cliente, ele parte para o ataque:

– A perseguição dos protestantes pela Igreja católica não é mito nenhum! Quem ousará negar os carrascos da Inquisição espanhola ou do rei de França? Quem negará o massacre de Wassy, de São Bartolomeu, a Dragonada ou a revogação do Edito de Nantes?

Visto que ele não tem outro argumento, aceitemo-lo para os fins da discussão, e comparemos. Escutemos o que recrimina nos católicos e comparemos com a realidade protestante. O contraste será bastante útil para distinguir as características da violência protestante e compreender a especificidade do luterrorismo.

Aqui, apenas essa comparação nos interessa. Não se trata de refutar toda a lenda negra, já bem analisada por especialistas como Charles Barthélemy, Jean Guiraud, Jean Dumond ou Jean Sévillia. Acrescentamos apenas, sobre as Guerras de religião, uma menção especial para a obra de Jean Dumond: L’Église au risque de l’histoire. Ele defende corajosamente a Liga (ao contrário de Sévillia) e apresenta uma documentação tão vasta e tão sólida que o historiador protestante Pierre Chaunu admitiu ter se impressionado “com a extensão e a qualidade da [sua] informação”. Dumont nunca é citado nas bibliografias oficiais: ele merece aqui nossas homenagens.

Contudo, o advogado protestante se impacienta, e retorna ao seu refrão: repressão da heresia, Inquisição, guerras de religião, São Bartolomeu, Dragonada… Sigamos em frente, e façamos uma pequena viagem pelos argumentos da auto-vitimização protestante.

Repressão dos heréticos

A repressão dos heréticos? O verdadeiro, o enorme escândalo aqui, é que protestantes possam pretender escandalizar-se com isso. Os Estados protestantes não baniram severamente o culto católico ― freqüentemente com pena de morte ― até o século XIX, ou mesmo XX? Não perseguiram eles ferozmente os católicos que simplesmente quisessem guardar os ensinamentos de Cristo? Não os vimos se arrependerem disto. Por que aberração ― ou hipocrisia ― indignam-se eles com a intolerância dos papistas, se manifestaram, no mínimo, o mesmo contra eles?

Bossuet observava: Não tenho necessidade de me explicar sobre a questão de saber se os príncipes cristãos estão no direito de se servir do poder do gládio contra seus súditos inimigos da Igreja e da santa doutrina, porque, neste ponto, os protestantes estão de acordo conosco. Lutero e Calvino escreveram livros apenas para estabelecer, sobre este ponto, o dever do magistrado. Calvino veio a praticá-lo contra Miguel Servet e Valentin Gentil. Mélanchton aprovou sua conduta numa carta que escreveu a esse respeito.

A disciplina de nossos reformados permite também o recurso ao braço secular em certos casos, e encontramos entre os artigos da doutrina da Igreja [calvinista] de Genebra que os ministros [os pastores protestantes] devem submeter ao poder do magistrado os incorrigíveis que desprezam as penas espirituais e, em particular, os que ensinam novos dogmas indistintamente.

O campeão do protestantismo francês contra Bossuet, o Pastor Pierre Jurieu, admite ingenuamente: Por toda parte, [a Reforma] foi feita pela autoridade dos soberanos. [...] Assim, ela se deu em Genebra pela autoridade do Senado; na Suíça, pelo conselho soberano de cada Cantão; na Alemanha, pelos príncipes do Império; nas Províncias Unidas [Países baixos holandeses] pelos Estados; na Dinamarca, na Suécia, na Inglaterra, na Escócia pela autoridade dos reis e dos parlamentos; e esta autoridade não se limitou a dar plena liberdade de religião aos reformistas, mas foi a ponto de TIRAR AS IGREJAS DOS PAPISTAS, QUEBRAR SUAS IMAGENS, PROIBIR O EXERCÍCIO PÚBLICO DO SEU CULTO, e isto ocorreu normalmente POR TODA PARTE: e mesmo, em muitos lugares, chegou a proibir o exercício particular [=privado] do papismo.

Pois o Pastor Jurieu, após ter recusado a autoridade da Igreja, teme a anarquia religiosa. Ele reclama, pois, para proteger a sua fé, a intervenção da única autoridade que subsistia: a dos príncipes e magistrados. Não pode suportar que outros protestantes queiram liberar-se dela. Ele refuta seus adversários observando que o protestantismo foi imposto por toda parte pelo poder político: Com efeito, Genebra, as Suíças, as repúblicas e cidades livres, os eleitores e príncipes do Império, a Inglaterra, a Escócia, a Suécia e a Dinamarca lançaram mão da autoridade do magistrado soberano para abolir o papismo e para estabelecer a reforma.

A França não é exceção: Ainda que a reforma tenha começado na França sem a autoridade dos soberanos, ela não veio se estabelecer sem a autoridade dos grandes; e se os reis de Navarra, os príncipes de sangue e os grandes do reino não tivessem intervindo [Bossuet comenta: “...revoltando-se contra seus reis e afundando a sua pátria no sangue das guerras civis”] a verdadeira religião teria sucumbido inteiramente, como ocorre hoje.

E para demonstrar aos protestantes liberais a terrível conseqüência da sua recusa do poder doutrinal dos príncipes, Jurieu ironiza: Aí está [segundo seus princípios], a Reforma estabelecida no mundo pela violência, pelo constrangimento, por vias injustas e criminosas. Estes senhores são pessoas muito decentes para quererem continuar numa religião assim constituída e que fez pior do que o maometismo!

Bossuet retoma os argumentos de um e outro partido para concluir: Os protestantes ferem-se de morte uns aos outros. Um diz que a religião universalmente introduzida pela autoridade e pela força não é uma religião, mas uma hipocrisia; e que forçar as consciências dessa maneira é o mais puro e verdadeiro anticristianismo. Outro diz: sai, então, desta reforma que, por toda parte, não teve outra fundação! [...] É assim que os dois partidos deixam-se mutuamente sem defesa alguma. [...] A reforma fez todo o contrário do que havia proposto: gabava-se de persuadir os homens pela evidência da verdade e pela palavra de Deus, sem mistura alguma de autoridade humana; essa era a máxima, mas, nos fatos, não conseguiu se estabelecer nem se manter sem essa autoridade que vinha de destruir; e, como sua autoridade eclesiástica tinha fundamentos muito débeis, percebeu que não poderia se fixar sem a autoridade dos príncipes: de modo que sua religião, como obra puramente humana, tira sua força apenas deles e não é, para dizer a verdade, mais do que uma política.

Quando a autoridade real lhes falta (como se deu na França), eles se vêem obrigados a recorrer aos atentados:

A força e a autoridade são tão necessárias à reforma que, na falta de um poder legítimo, foi preciso empregar aquele que as armas e a sedição dão aos rebeldes.

Em poucas palavras, tendo empregado a coação e a violência por toda parte, os protestantes não têm nada a repreender aos católicos neste terreno. Esta primeira conclusão é suficiente para mostrar a indecência das suas jeremiadas.

Mas é preciso ir além.

Contar os mortos?

Será preciso considerar o aspecto quantitativo, contar os mortos, os feridos, os torturados em cada campo? E comparar o peso dos cadáveres?

Deixaríamos de bom grado esse gênero de contabilidade macabra aos que não têm outros argumentos. Protegeríamos a paz dos cemitérios. Mas os protestantes lamuriosos não têm esta reserva. Seus uivos infatigáveis ― mas fatigantes ― acabam por nos obrigar a perguntar-lhes: Querem realmente fazer esta comparação?

Querem realmente comparar o número de condenações à morte decretadas pelo grande espantalho da lenda negra, o célebre Torquemada, inquisidor, com as que são atribuídas a este bravo pequeno juiz luterano de Leipzig, de nome Benedikt Carpzov (1596-1666) e que segue totalmente ignorado do grande público? Um “homem excelente”, que “leu, ao longo de sua vida, cinqüenta e três vezes a Bíblia inteira”, nos diz a História geral do protestantismo. E muito modesto, diga-se: jamais reclamou sua inserção no livro dos recordes, muito embora tenha, na sua brilhante carreira de caça às bruxas, sentenciado 20 mil pessoas à morte! Fosse ele católico, seu sucesso midiático estaria garantido: o mundo inteiro conheceria o seu nome. Infelizmente, era luterano, e teve de ceder a Torquemada o lugar de grande perseguidor.

Querem realmente comparar o número de execuções sob a Rainha Maria Tudor – que a facção protestante apelidou de Bloody Mary (Maria, a sangrenta) – com o das vítimas dos fundadores do protestantismo anglicano, Henrique VIII e Elizabeth?

Poderíamos continuar a lista, mas o essencial não está aí. Evitemos fixar em cifras, demasiado discutidas e sempre secundárias. O fato mais importante não é de ordem quantitativa.

Uma diferença capital

Mesmo deixando de lado a questão principal, que é religiosa (onde está a verdadeira Igreja fundada por Cristo?), para não ir além da estrita justiça humana (o direito natural), é radical a diferença entre:

a violência protestante, essencialmente agressiva, e
a violência católica, essencialmente defensiva.

É absurdo colocar no mesmo nível o agressor e o agredido, o invasor e o invadido, o usurpador e o usurpado, sob o pretexto fácil de que houve golpes de ambos os lados. Realmente, que há de mais iníquo?

Uma sociedade decadente encontrará advogados para colocar os malefícios nos ombros das vítimas: se a senhora tivesse deixado o ladrão agir, ele não teria necessidade de feri-la! Que poderia ser mais cínico?

É este, no entanto, o argumento protestante. Se a população tivesse consentido em ver sua fé ser arrancada, bem como sua lei, seus costumes, sua civilização, e não tivesse reagido, não haveria problema! Todo mal vem da intolerância católica!

Ainda hoje, os historiadores protestantes batem nessa tecla. Quem duvidar, poderá abrir a narrativa das Guerras de religião feita por Patrick Cabanel (diretor de estudos na prestigiosa École Pratique des Hautes Études). Por acaso ele se inquieta com os atentados que os protestantes multiplicaram contra a religião milenar da França? De modo algum! Os protestantes lutam pelos seus direitos. Eles já são, ao seu modo, os campeões dos direitos do homem. Os que querem guardar a velha identidade católica da sua terra parecem, por outro lado, não ter nenhum direito de defesa. Nenhuma escusa. Cabanel não poupa esforços para lhes tornar odiosos. Dir-se-ia que ele merece as palavras irônicas de Bossuet: Quem não admirará esses reformados? São os santos do Senhor, não se pode tocar neles. Estão sempre prontos para reclamar de perseguição, mas lhes é permitido devastar tudo o que for católico. A julgar pelo que dizem, receberam ordem do Altíssimo.

Quando a minoria quer fazer a lei

Um ingênuo poderia se admirar de que os historiadores modernos sejam tão favoráveis a uma MINORIA que buscava a ferro e a fogo impor sua lei à totalidade da nação, e se perguntar se isso é democrático. Mas não esqueçamos que a religião democrática não consiste em fazer a vontade do povo, mas, antes, em submeter o povo, por bem ou por mal, ao culto da grande Deusa (e aos ritos eleitorais que a acompanham). Não há democracia para os inimigos da Democracia, como se vê. Ora, o protestantismo vai no sentido do progresso, uma vez que se opõe à Igreja. Apesar do seu apego lamentável ― mas provisório ― a alguns restos de cristianismo, ele constitui uma etapa indispensável rumo à era gloriosa da Democracia e dos Direitos do Homem. Contrariamente ao que uma aritmética primária faria crer, era a minoria protestante ― minoria iluminada ― que representava a democracia, a quem, infelizmente, a maioria obscurantista recusou se submeter (o que prova sua intolerância e seu fanatismo).

Como vimos, essa é a tese sub-entendida num Cabanel, e será desenvolvida sem subterfúgios por todos os propagandistas do Pensamento único. Não se vive mais na realidade, e sim numa ideologia militante. Contudo, a realidade persiste, bem como esta característica da violência protestante: Não foi como em alguns países (a Espanha, por exemplo), com os poderes públicos protegendo a imensa maioria no exercício da sua religião ― e contra os perigos da divisão religiosa ― com rigores por vezes excessivos; foi uma minoria audaciosa que tentou, a ferro e fogo, mudar as crenças de toda a população e que, após ter adquirido sucesso ao preço de massacres inomináveis, legalizou as suas violências [...]

Muito embora tenha sido abafada por clamores interessados, a verdade persiste, e as declarações contra as represálias católicas não provam nada. As guerras religiosas naturalmente amplificam o furor das guerras civis. Elas voltam-se contra Deus e contra a pátria, e este dilaceramento supremo eleva a ferocidade humana a proporções desconhecidas. Mas, ainda que fosse verdade que os fiéis da antiga Igreja ultrapassaram por vezes os direitos de defesa, não deixa de estar registrado em todos os documentos autênticos de nossos anais que eles foram atacados com um encarniçamento sem igual, e que não foi senão pela morte dos fortes, pela opressão dos fracos, pela cumplicidade tirânica das coroas, que seus adversários impuseram novidades impopulares a certas províncias da Europa.

Muito longe de reclamar uma ilusória liberdade religiosa, o povo francês pedia instantemente proteção contra a heresia:

O que nos impressiona mais, nos artigos particulares [do Edito de Nantes], é a unanimidade em favor do catolicismo demonstrada pelas cidades e pelos senhores que se renderam a Henrique IV. A supressão do protestantismo é reclamada por toda parte como o maior dos benefícios.

Após ter sublinhado “a generalidade das reclamações contra a introdução legal da heresia no reino mui cristão”, comenta o mesmo historiador: Mesmo um partidário da liberdade religiosa terá de convir que constitui uma singular alteração do seu significado o fato de ser imposta pelo rei a uma nação que prefere a antiga unidade de fé de seus pais; e que é estranho, se esse gênero de progresso é uma conseqüência natural do desenvolvimento da humanidade, que seja preciso tanta astúcia somada a tanta tirania para torná-lo aceito.

A Inquisição: legítima defesa

Compreende-se o quanto a violência protestante difere da Inquisição católica, que ― será ainda preciso repeti-lo? ― jamais visou à conversão forçada. Longe de ser um instrumento de conquista e de proselitismo, a Inquisição era uma instituição de legítima defesa. A Igreja protegia a fé de seus filhos; o poder civil defendia uma sociedade que já era católica, onde a fé, estabelecida de modo pacífico, havia formado naturalmente uma civilização cristã.

Não há nada em comum com os métodos de um Gustavo Vasa (Suécia e Finlândia), de um Cristiano III (Dinamarca, Noruega, Islândia), de um Henrique VIII (Inglaterra) ou de uma Joana d’Albret (Navarra), que usam astutamente de violência e mentiras para agredir seu próprio povo, para roubar sua fé ancestral e fazer com que engulam uma religião nova, que ele preferiria vomitar.

Consideremos por um instante a famosa Inquisição espanhola. Os cinco grandes processos que puseram fim às tentativas luteranas na Espanha custaram a vida de 67 hereges no total. Estes últimos não foram perseguidos por simples opiniões, mas por atos de rebelião, pois haviam se conjurado para derrubar a ordem estabelecida. Circunstância agravante: muitos deles eram padres. Continuavam tranqüilamente a gozar das honras eclesiásticas, enquanto trabalhavam secretamente para destruir a fé católica que haviam jurado defender. Que instituição poderia subsistir sem punir tais traições?

O chefe da conjuração, o Pe. Agostinho Cazalla, observou melancolicamente antes de subir na fogueira (21 de maio de 1554): Se tivessem esperado por mais seis meses antes de nos pegar, seríamos nós que lhes faríamos o que hoje nos fazem.

Não se poderia justificar melhor a decisão dos juízes. Em face da agressão protestante, a sociedade espanhola estava numa situação de legítima defesa. Se não agisse imediatamente, um grande incêndio começaria, como ocorreu na França, com centenas de igrejas destruídas, milhares de religiosos assassinados, dezenas de massacres nos quatro cantos do país. Era preciso opor-se ao luterrorismo enquanto havia tempo.

Voltaire escreveu: Na Espanha não ocorreu, ao longo dos séculos XVI e XVII, nenhuma destas revoluções sangrentas, destas conspirações, nenhum destes tormentos cruéis que observamos em outras cortes da Europa (...) Enfim, não fosse pelos horrores da Inquisição, nada haveria para recriminar à Espanha.

Joseph de Maistre comenta com bom senso: Não sei se há cegueira maior. “Não fosse pelos horrores da Inquisição, nada haveria para recriminar à Espanha”, que só escapou dos horrores que desonraram todas as demais cortes por meio da Inquisição.

E, em outra passagem: Quem considerar a severidade de Torquemada sem pensar no que ela evitou, parou de raciocinar.

E ainda: Os grandes males políticos, sobretudo os ataques violentos desferidos contra o corpo do Estado, jamais podem ser prevenidos ou rechaçados sem que seja por meios igualmente violentos.

A Inquisição sempre foi popular na Espanha, porque ela defendia verdadeiramente o povo. A lenda negra da inquisição não surgiu sob o sol andaluz, mas nas brumas de Londres, perto da famosa Torre em que Henrique VIII e Elizabeth I mandavam torturar seus prisioneiros. Foi nessa torre que morreu o Beato Nicholas Owen, durante uma sessão de tortura que ocorreu antes mesmo do início do seu julgamento. Também nessa torre o Padre John Gerard foi submetido a tortura, antes de conseguir fugir. Porém, três séculos mais tarde, aos turistas admirados de encontrar lá esses instrumentos de tortura, os guias lhes contavam que só estavam lá guardados, que haviam sido trazidos da Espanha, onde serviram à Inquisição.

Era assim que a Inglaterra protestante negava seus crimes imputando-os à Inquisição espanhola.

A educação totalitária

O que os guias da Torre de Londres faziam no varejo, a Educação Totalitária de Jules Ferry fará no atacado, ampliando-o a toda a França.

Casado com uma calvinista, rodeado por conselheiros do mesmo culto (Léon Say e Conrad de Witt), Jules Ferry literalmente confiará a escola supostamente “neutra” aos protestantes:

Nos gabinetes do ministério, o protestante Ferdinand Buisson dirige o ensino primário; o protestante Élie Rabier o ensino secundário; o protestante Louis Liard o ensino superior. Uma protestante, a Sra. Kergomard, é a inspetora geral do ensino infantil.

Para padronizar a formação dos mestres, as diferentes Escolas Normais são encabeçadas por duas Escolas Normais Superiores que cuidam da formação dos professores, sob a direção do protestante Félix Pécaut.

Para o ensino secundário das moças, uma outra Escola Normal Superior foi fundada em Sèvres: sua primeira diretora, Julie Favre, é filha de um pastor. (Nem todas as Escolas Normais simples são dirigidas por protestantes, mas não raro o são: Sra. Bourguet em Paris, o Pastor Joseph Goy em Toulose, etc.)

Há outro centro estratégico de propaganda: o Museu Pedagógico. Nele, reinam como mestres os protestantes Bonet-Maury e Jules Steeg.

Finalmente, os protestantes Gabriel Monod, Alphonse Aulard e Charles Seignobos cuidam dos manuais de história, com a bela “neutralidade” que podemos imaginar.

Gabriel Monod (1844-1912) merece menção especial. Ele inicialmente cogitou tornar-se pastor, como seu avô, seu bisavô e quatorze dos seus primos. Mas da fé protestante não guardou mais que o ódio à Igreja (ele dirá do protestantismo, pouco antes de morrer: “Não mantive a crença, mas no fundo, sou um velho huguenote”). Para satisfazer essa raiva, ele escolheu a história. Em face da Sorbonne, que tinha o grave defeito de não ter sido dominada pelos historiadores protestantes (ela não tardará a sê-lo, graças a um habilidoso sistema de cooptação), fundou-se, à custa do Estado, a École des Hautes Études (1868), onde Gabriel Monod fazia sua pregação huguenote. Para contrapor-se à renomeada Revue des questions historiques, considerada católica demais, Monod também fundou, em 1876, a Revue historique, que se tornou uma verdadeira máquina de guerra contra a Igreja. O sectarismo anticatólico é aí tão violento, que Gustave Fagniez, cofundador do periódico, afasta-se em 1881.

Num contexto assim, quem poderia supor que o protestantismo fosse narrado de modo imparcial, ou apenas honesto, aos estudantes franceses?

Komintern e Calvintern

É fácil ocultar aos franceses as atrocidades do luterrorismo sueco ou norueguês. Mais difícil é passar em branco os atentados calvinistas dos quais muitas igrejas francesas ainda trazem as marcas. Mas isso não é o mais importante: o essencial é dissimular as intenções totalitárias do calvinismo. Lançar no esquecimento a sua organização, a sua estratégia, e tudo o que um historiador americano pôde qualificar com o nome tão evocativo de Calvintern, por analogia ao Komintern soviético. Com efeito, Robert Kingdon assinala as semelhanças...

...entre o movimento comunista internacional apadrinhado por uma organização chamada Komintern, com seu quartel-general em Moscou, destinado a solapar as sociedades ocidentais difundindo o comunismo por todo o mundo, e um movimento calvinista internacional apadrinhado por aquilo que gostaria de chamar de Calvintern, com seu quartel-general em Genebra, destinado a solapar as sociedades católicas difundindo o cristianismo reformado por toda Europa.

Entre outras coisas, os dois movimentos parecem-me estruturalmente semelhantes, organizados ao redor de um princípio então denominado “centralismo democrático”, com unidades locais, células ou congregações, cada qual possuindo uma autonomia considerável e, por isso mesmo, capaz de agir independentemente de outras unidades que poderiam estar sob ameaça, mas todas submetidas a um centro ideológico único e totalitário.

Nessa empreitada internacional de subversão calvinista, a França foi a primeira visada.  Toda uma rede, solidamente organizada, trabalha para subjugar o país. Essa é a primeira coisa a se ter em mente para compreender o conjunto dos acontecimentos, e é isso que a mitologia huguenote ― piedosamente auxiliada pela Educação totalitária ― visa a dissimular. É vantajoso indignar-se das reações! Os agentes subversivos tornam-se inocentes vítimas da intolerância católica.

Mitologia huguenote

Durante mais de um século, a escola de Jules Ferry comoveu os pequenos católicos franceses com histórias sobre: os “mártires” calvinistas, o “massacre de Wassy” (sistematicamente apresentado como o “início das guerras de religião”),
a Noite de São Bartolomeu, as dragonadas de Luís XIV,
finalmente, a famosa Revogação do Edito de Nantes, com seus exilados e seus camisards.

Repassemos rapidamente a ladainha: – No centro está o Massacre da Noite de São Bartolomeu, que se tornou um pivô essencial do curso de História gratuita, laica e obrigatória imposta aos estudantes franceses (alguns manuais escolares não lhe consagram menos de quatro ilustrações). Mesmo nos dias de hoje, ela sobrevive ao naufrágio organizado do ensino de história. Nem uma palavra, por outro lado, dos 3 mil católicos massacrados em Orthez três anos antes, nem dos 860 católicos massacrados em Montbrison no dia 15 de julho de 1562 (dez anos antes do São Bartolomeu), ou dos 567 católicos massacrados em Lauzerte-en-Quercy no dia 15 de agosto de 1562, para tomar apenas alguns exemplos entre muitos. Os cadáveres protestantes parecem ser muito mais interessantes! Eis o mito do protestante-vítima solidamente instalado na cabeça dos alunos das escolas “neutras”.

– Mas, como o São Bartolomeu data de 1572, era preciso explicar as guerras que o precediam. Para inocentar seus correligionários, um propagandista protestante, Jean Crespin (1520-1572), cuida a partir de 1554 de disfarçá-los de MÁRTIRES. Um belo achado polêmico, mas que deixa seus amigos calvinistas desconcertados, pois se opõem ao culto dos santos: faz sentido criar um martirológico huguenote enquanto se criticam os santos católicos? Crespin foi suspeito de desviacionismo. O Conselho de Genebra queria que se retirasse do seu livro o nome malsonante de mártires, mas o autor fez questão: Para lançar no esquecimento os crimes e sacrilégios cometidos pelos huguenotes, o que seria melhor do que apodar-lhes com um nome que o adversário tem em tão alta estima? O sucesso da manobra ultrapassou todas as expectativas, e o Livro dos mártires de Crespin conseguiu persuadir os amotinados calvinistas de que eram os dignos herdeiros dos primeiros cristãos. Patrick Cabanel assinala: O monumento de Crespin sem dúvida contribuiu fortemente para dotar o protestantismo francês de uma identidade vitimária, para não dizer padecente, posto que seus heróis foram, por definição, vencidos pelo mundo, odiados pela multidão, acuados incessantemente pela justiça e pelas autoridades. Esse é o livro do sacrifício e da derrota. Claro, nem os perjuros, nem os covardes, nem os tíbios figuram nele, mas sim os obstinados – que pagaram caro.

Obstinados: eis a palavra. Bossuet justamente sublinha “o quão grande é a diferença entre a coragem obstinada que a raiva inspira, e a verdadeira constância, sempre regrada, sempre mansa, sempre pacífica e submissa às ordens públicas, tal como foi a dos [verdadeiros] mártires”.

Sem mesmo elevar-se até o julgamento propriamente teológico (que impede de considerar como “mártir” quem morre por um erro), pode-se facilmente constatar, com Bossuet, que a pretendida Reforma teve, desde a sua origem, “um espírito contrário ao do Cristianismo e ao do mártir”. O grande bispo explica: Quando a reforma era débil, ela realmente se mostrava sempre submissa e chegou a dar como fundamento da sua religião que não julgava permitido o emprego da força, e nem sequer resistir a ela. Mas logo se descobriu que isso fazia parte daquelas modéstias que o temor inspira, um fogo coberto pela cinza: pois tão logo a nova reforma tornou-se mais forte em algum reino, quis reinar sozinha.

Primeiro, foram os bispos e padres que não tiveram mais segurança; segundo, os bons católicos foram degredados, banidos, privados dos seus bens e, em algumas partes, privados da vida pelas leis públicas; como, por exemplo, na Suécia, ainda que se tenha desejado dizer o contrário. Mas o fato permanece.

Eis até onde chegaram aqueles que tanto protestavam contra a força; e bastava considerar o azedume, a acidez e a soberba publicada nos primeiros livros e nos primeiros sermões desses reformados; suas inventivas cruentas; as calúnias com que denegriam nossa doutrina; os sacrilégios, impiedades e idolatrias com que não cessavam de nos acusar; o ódio de que se inspiravam contra nós; os saques que resultaram das suas primeiras pregações; o amargor e a violência que publicavam em seus cartazes sediciosos contra a missa, para julgar o que devíamos esperar de semelhante começo.

Estes que os huguenotes querem apresentar como “mártires” foram amiúde condenados por atentados sacrílegos ou provocações blasfematórias. Eles queriam chocar, incomodar, aterrorizar, e o conseguiram. A brutalidade iconoclasta que perturba a França dos anos 1520 ― como preparação do paroxismo dos anos 1560 ― tem todas as características do terrorismo. O ataque psicológico prepara o confronto físico. O próprio Cabanel o reconhece a contragosto: E talvez a iniciativa da violência, simbólica e não carnal, claro, tenha vindo dos protestantes: eles cederam [...] à vertigem da iconoclastia [p. 216].

Impressionante “talvez”, que, longe de diminuir a confissão, dobra o seu alcance, revelando o peso das reticências que um protestante tem de vencer antes de se render à evidência.

Os terroristas calvinistas sabiam o que estavam fazendo e o risco que corriam. Foram punidos segundo as leis da época, e não podiam deixar de sê-lo. Seria concebível, nos nossos dias, que uma série de atentados contra os grandes símbolos da religião laica ― lojas maçônicas, centros de “planejamento familiar” etc. ― não terminasse na responsabilização dos autores desses atentados?

O “mártir huguenote por excelência”, Anne du Bourg, cuja imagem do suplício foi divulgada pelos protestantes por toda parte (pois seu iconoclasmo tem limites), foi perseguido inicialmente na justiça por ter injuriado o rei na face. Isso não lhe bastava: desde a prisão, encontrou um meio de organizar o assassinato dos seus juízes. Um deles foi massacrado, o presidente Minar; dois outros conseguiram fugir. Depois disso, os magistrados não estiveram mais inclinados à indulgência a seu respeito. Não é esse um curioso tipo de mártir? E não é evidente que um tal exaltado teria perseguido os católicos com o máximo furor ― como Gustavo Vasa, Henrique VIII ou Joana de Navarra ― se tivessem-no deixado agir? Apenas a mitologia pode transformá-lo num campeão da liberdade de cultos.

Que espécie de reformadores e mártires este novo evangelho produziu! No entanto, o rancor, o desprezo, o desespero, e tudo que há de mais extremo nas paixões humanas, até o ódio [...] não poderiam produzir outros frutos.

– Outro mito, o suposto “massacre” de Wassy (1o. de março de 1562), que a história oficial quer absolutamente tornar o início das Guerras de religião. Bossuet já havia trazido esse drama a suas dimensões justas, apoiando-se na autoridade de autores protestantes. A um pastor que invocava esse mito, ele replicava: O Sr. Jurieu evoca o massacre de Wassy como justificativa para as suas armas, sem responder uma palavra sequer aos testemunhos incontestáveis, mesmo de autores protestantes, com os quais mostramos que o suposto massacre não passou de um encontro fortuito, e de um pretexto que a rebelião, já decidida, queria se dar.

A mentira de Wassy já foi refutada dez vezes, cem vezes. Já se mostrou que não se tratou de um massacre (unilateral), muito menos de uma iniciativa deliberada, mas de uma escaramuça que acabou mal. Ela se deve a uma dupla provocação protestante: após terem desafiado o edito real que lhes proibia de se reunirem naquele lugar (a poucos metros da igreja onde o duque de Guise ouvia a missa com seus homens), os huguenotes tiveram a brilhante idéia de atacar os soldados católicos com pedradas. Dado o contexto, era o equivalente a acender uma faísca sobre um barril de pólvora. No entanto, eles se declararam muito surpresos, e totalmente escandalizados por terem sido repreendidos a disparos de arcabuzes. Por que tanto ódio? Claro está que nem eles, nem a história laico-republicana apresentam o contexto. E, sobretudo, os massacres bem mais cruéis (mas que, dessa vez, só vitimaram católicos) ocorridos nos meses precedentes: Em Montauban, no dia 13 de julho e, em seguida, no dia 15 de agosto de 1561: incêndio de igrejas com massacres dos católicos que queriam defendê-las; Em Montpellier, nos dias 19 e 20 de outubro de 1561: massacre de 250 católicos; Em Nimes, no dia 21 de dezembro de 1561: novo massacre de católicos.

Duas semanas antes do incidente de Wassy, um sínodo protestante de setenta pastores (reunidos em Nimes, de 2 a 15 de fevereiro de 1562) decidira empreender a destruição sistemática de todas as igrejas: ele foi presidido pelo Pastor Pierre Viret, enviado à França pelo consistório de Genebra com um mandato de “visitante”. Do mesmo modo, também antes de Wassy, desde o início dos anos 1560, uma terrível onda de iconoclastia assola e aterroriza o sul da França. Dois anos antes de Wassy, um príncipe calvinista ainda anunciava (em 5 de março de 1560) que “um grande golpe será em breve desferido”, cujo fim é o extermínio de “todos os padres da França” ― nada mais nada menos. E não havia ninguém para orquestrar esses tumultos, nenhuma palavra de ordem? Feita a pergunta, todos os olhares instintivamente se voltam para Genebra. Mas jamais poderemos saber mais, pois o devotado sucessor de Calvino na Meca calvinista, Teodoro de Beza, que dispunha de documentação abundante sobre todo esse período, destruiu uma parte após ter escrito sua História eclesiástica (1579). “Por razões de segurança”, explica com benevolência o bom Cabanel, que acrescenta: A documentação corria riso de cair nas mãos de leitores mal-intencionados, e acarretar males a Genebra.

Precaução nunca é demais. De resto, o mesmo Teodoro de Beza insiste a torto e a direito, para encerrar o assunto, que a origem das Guerras de religião não deve ser procurada em outra parte que não Wassy. Enquanto outros memorialistas protestantes narram o incidente do 1o. de março de 1562 tal como foi, com seus vinte e três mortos (número que é grande, sem deixar por isso de ser relativamente pequeno), Beza amplifica-o desmesuradamente, faz dele o momento decisivo da sua História eclesiástica, retorna a ele sem cessar e declara, com um tom dramático, que esse massacre é: ...o começo primeiro das guerras civis que se sucederam, de todos os males que sobrevieram e hão de sobrevir a toda a Cristandade.

Por que essa insistência? É que é preciso salvar o soldado Calvino! Esconder seu rosto guerreiro. Colocar a responsabilidade da guerra civil nos ombros dos católicos. E para tanto, não há outro meio que o de voltar os holofotes para Wassy.

A tagarelice dura ainda nos nossos dias. O periódico Cahiers Science et Vie sobre as guerras de religião, mencionado acima, trata sete vezes do “massacre de Wassy” em trinta páginas de dossiê! Visivelmente, para esse órgão de propaganda do politicamente correto, nunca é suficiente. As imprecisões abundam (mas vão sempre no mesmo sentido). O mais importante, contudo, não é aquilo que se diz, mas o que querem ocultar a todo custo. A tática é fazer barulho, comover, martelar regularmente os nomes de Wassy ou de São Bartolomeu como um toque lancinante de tambor, a fim de impedir o leitor de refletir pausadamente e de se elevar até uma visão inteligente do conjunto da situação. É preciso a todo custo desviar sua atenção da realidade central, que se impõe imediatamente como uma evidência, desde que se aceite considerá-la: o protestantismo tentou se apoderar da França por meio do terror.

Para desenvolver suas redes clandestinas, o protestantismo inicialmente simulou mansidão (período da taqyia), reservando o terrorismo iconoclasta e os assassinatos de padres a “lobos solitários”, oficialmente renegados pelo resto da comunidade. O plano era ainda de tipo luterano: assenhorear-se da pessoa do rei para protestantizar a França à força, em seu nome, como nos países do Norte. Após alguns ensaios frustrados, os calvinistas preferiram a rebelião armada. Nos anos 1560, julgaram-se suficientemente fortes para desencadear a guerra (período da djihad). Eles a haviam preparado ativamente por pelo menos dois anos quando ela finalmente explodiu em 1562. Wassy não passa de um pretexto.

Outra evidência: se os católicos franceses não tivessem se defendido vigorosamente, eles teriam sido protestantizados à força. Quem pode negar? Ninguém. Era preciso, pois, a todo custo, desviar os olhares.

– As lamentações sobre as Dragonadas ou sobre a Revogação do Edito de Nantes decorrem da mesma estratégia diversionista. Se Luís XIV sucumbiu desgraçadamente à influência do princípio do seu tempo: cujus regio, ejus religio (todo príncipe teria o direito de impor sua religião aos seus súditos), não se pode esquecer que este era precisamente o princípio dos países protestantes. Não se pode esquecer, tampouco, que os privilégios que a religião pretensamente reformada gozava em França desde o Edito de Nantes, não foram obtidos senão pelo terrorismo e pela guerra civil. Os protestantes haviam, então, submetido os católicos a coisas bem piores do que terão de suportar. Sem deixar de nos compadecer pelos seus infortúnios de 1685, é preciso repetir que os excessos de Luís XIV não tiram nada dos erros iniciais de uma religião que, por toda parte, se impôs (ou tentou se impor) pelo terror.

Bossuet ― que procurou impedir toda violência contra os protestantes na sua diocese ― já observava: Aqueles que não tiram os dragões da boca, e que pensam que basta mencioná-los para defender a sua causa, devem, por sua vez, suportar que nós lhes recordemos tudo que o reino sofreu por conta das suas violências, e ainda sofre em nossos dias. Eles são culpados, por atos e por suas próprias deliberações, das quais conservamos os originais, de ter então realizado, por um poder usurpado, mais do que se queixam no presente de ter sofrido de um poder legítimo. O fato foi narrado no livro Histoire des Variations e não foi contestado. Nesse livro declaramos que tínhamos em mãos, no original, as ordens dos generais e das municipalidades, a pedido dos consistórios, para constranger os papistas a abraçar a reforma por meio de taxas de moradia, pela demolição das suas casas, e pela identificação de seus tetos. Quem se afastava para evitar essas violências era despojado de seus bens. Os registros das administrações da cidade de Nimes, de Montauban, de Alais, de Montpellier, bem como outras da facção estão repletos de tais decretos. Mas foram bem mais longe; uma infinidade de padres, religiosos e católicos de todas as ocupações foram massacrados em Bearne por ordem da Rainha Joana [de Navarra], sem terem cometido outro crime que o da sua religião ou de seu estado religioso [...]

Aqueles que se vangloriam do seu sofrimento e dos seus mártires são os verdadeiros agressores, e o são do modo mais sanguinário.

Esses dragões, cujas violências se proclamam tão alto, chegaram a tais excessos? E tudo aquilo que neles se recrimina, e que eles realizaram sem ordem, quão aquém não está das violências que os protestantes realizaram por ordem formal e bem deliberada? 

Um sucesso frágil

Bossuet já tinha explicado tudo. Mas quem ainda lê Bossuet?

Poderíamos ser tomados de desencorajamento: não importa o que dissermos, não importa o que falarmos, a lenda negra anticatólica, tão eficazmente disseminada pela escola totalitária de Jules Ferry e pelo conjunto das mídias, parece ter ganhado a partida. Ela se impõe e domina como déspota absoluta. Inventada para esconder os crimes do protestantismo, ajudou sobretudo a descristianizar a França (para maior proveito, não do luteranismo ou do calvinismo, mas da última degenerescência do protestantismo liberal: a religião dos Direitos do homem).

A França, que soubera vencer o terrorismo físico do século XVI, foi hoje vencida pelo terrorismo intelectual da Educação totalitária.

Como derrubar esse Golias? Talvez basta imitar Davi: mirar o lugar certo, o ponto capital. Uma única verdade, bem colocada, pode ser suficiente para abatê-lo, uma simples constatação histórica pode bastar para vencê-lo. Uma constatação muito simples e historicamente incontestável: o protestantismo se impôs por toda parte por meio do terror.

Em Londres como em Genebra, na Alemanha como na Noruega, em Navarra como na Dinamarca, na Escócia como na Suécia, na Islândia como na Irlanda, a lei é universal: o protestantismo (que reclama o livre exame) se impôs pela violência.

Se essa formidável contradição interna não bastar para fazer com que o protestantismo exploda em pleno vôo, então a lógica não serve para nada.

E se essa constatação pode ser livremente negada, então a história não serve para nada.

De fato, ninguém tem a audácia de negá-lo. Contenta-se em desviar a atenção. Toda a lenda negra anticatólica não passa de uma manobra diversionista. E se convém denunciar as mentiras, é ainda mais importante gritar a plenos pulmões: Diversionismo, diversionismo!

– As acusações contra a Igreja (Inquisição, caso Galileu etc.)? Diversionismo! Diversionismo para ocultar que a Igreja se estabeleceu pacificamente, após ter sofrido três séculos de perseguição, enquanto que o protestantismo (como, em seguida, a religião laica dos Direitos do homem), impôs-se pelo terror.

– O elogio dos pretendidos “mártires” do protestantismo? Ainda diversionismo, para ocultar sua tática terrorista.

– Os lamentos sobre as dragonadas, a revogação do Edito de Nantes? Ainda diversionismo! Discuta-se quanto quiser a atitude deste ou daquele rei católico. Nenhuma das recriminações que se queira fazer não poderá suprimir o dado fundamental: ele se via em face de uma nova religião que queria se apoderar do país pela violência. Tudo o que tende a ocultar essa verdade primeira não passa de uma manobra diversionista.

***

Por uma reviravolta inacreditável, a religião que se impôs por toda parte por meio do terror, transmite atualmente uma identidade vitimária. Assim como os corsos, transmitindo uma vendetta familiar ao longo de vinte e cinco gerações, os infelizes protestantes ainda vivem da cólera de seus ancestrais. Muitos dentre eles parecem não ter outra religião a não ser o rancor contra a Igreja.

Vítimas, certamente os protestantes o foram. Mas, antes de tudo, vítimas da revolta dos seus chefes, que os enganaram, os aprisionaram numa lógica de ódio para, em seguida, arrastá-los na espiral infernal provocação-repressão que caracteriza a subversão terrorista.

Após muitos séculos, em face da descristianização que é a conseqüência final da sua revolta, não seria tempo para que eles abrissem finalmente os olhos e se libertassem desta cultura de ressentimento, a fim de retornar à sua mãe?

Fonte: "Luterrorismo"- um século de terrorismo protestante | Permanência (permanencia.org.br)

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