A idade média europeia foi composta por pessoas de grandes valores morais e religiosos, acredito que um dos maiores exemplos de rei, militar, cristã, cavaleiro, administrador e homem, seja o jovem rei Balduíno IV, mesmo acometido de uma doença degradante, jamais deixou de ser uma pessoa de virtude e um verdadeiro cristão e rei.
Nada foi também quanto início das Cruzadas, nada mais triste que o seu declínio, o brilho que no início resplandecia de valores cristãos fora obscurecido por valores mundanos.
Assim os reis no auge do medievo Europeu era a figura paterna da qual se originou na Grécia antiga e em Roma, não uma mera figura decorativa, mas um ungido por Deus, encarregado de fazer florescer o reino de Deus no mundo material enquanto a Igreja no mundo espiritual.
“A realeza foi, a princípio, em Roma o que havia sido na Grécia. O rei era o grão sacerdote da cidade; e, ao mesmo tempo, o juiz supremo; em tempos de guerra, comandava o exército dos cidadãos. A seu lado estavam os chefes de família, patres, que formavam o senado. Não havia senão um rei, porque a religião prescrevia a unidade no sacerdócio e no governo”. A Cidade Antiga, Fustel de Coulanges
E de números incontáveis de reis, rainhas e elementos da nobreza, cheios de virtudes, amor a Deus e imbuídos de amor para com os pequenos, alguns se destacaram, sobre os demais e entre eles, na minha opinião há este, desde a sua infância preparado para o reinado, demonstrou o seu valor, não só como rei e guerreiro, mas como cristão e homem.
Um monarca, jovem, ousado, virtuoso, um dos mais heroicos cruzados, modelo de soberano, exímio cavaleiro e guerreiro, comparável ao grande São Luís IX, passa quase esquecido na história, não só pelos seus feitos, mas pelo que era pelo que tornou exteriormente, de uma belo infante a uma criatura desfigurada, fraca, doente.
- Trezentos cavaleiros cristãos, liderados pelo Rei Balduíno, vencem 20 mil sarracenos;
- Saladino, sultão do Egito, enfrentou Balduíno IV várias vezes sendo sempre derrotado;
- Morte de Balduíno IV, Rei de Jerusalém aos 24 anos.
No ano de 1160 nascera em Jerusalém o herdeiro do trono Balduíno, filho de Amaury I de Jerusalém e de Inês de Courtenay.
Inteligente, educado aos nove anos de idade, Balduíno passou a ser educado pelo historiador Guilherme de Tiro, que um dia quando o jovem príncipe brincava com outras crianças, notou que ao ser atingido pelas outras crianças não esboça ter sentido dor enquanto as demais queixava quando eram atingidas. Indagado a razão de não acusar a dor, respondeu o pequeno Balduíno que não era ferido pelos colegas. Guilherme de Tiro observou que tanto as mãos quanto os braços da criança estavam adormecidos. Informado o rei Amaury, de logo buscou os melhores médicos disponíveis, que descobriram que se tratava da lepra, infelizmente nada podiam fazer na época, apenas utilizavam emplasto, unguentos e outros tratamentos disponíveis a época. Início de uma doença que iria transformar a bela imagem de uma criança cheia de vitalidade em um jovem de aspecto horrível e deformado.
Em 1174 morre prematuramente o rei Amaury, Balduíno foi aclamado rei de Jerusalém aos 13 anos, ainda criança “dotado de uma grande vivacidade de espírito, se bem que gaguejando ligeiramente como seu pai, e de uma excelente memória”, escreve seu historiador e preceptor, Guilherme de Tiro, a doença ainda não demonstrava aparente, e o jovem rei de um aspecto belo já tinha a responsabilidade de um grande monarca, que nos anos seguintes colocaria a prova suas virtudes, até a sua morte em 1185 aos 24 anos.
Em 26 de junho 1176, o nefasto sultão Saladino, talvez movido por uma descrença nas qualidades do jovem, então com 15 anos, assediou a cidade de Alepo. Balduíno IV e o Conde de Trípoli, Raimundo III, partem em socorro da cidade, e com grande vitória, impõem a Saladino sua primeira derrota, uma grande vitória sobre os muçulmanos.
No ano seguinte, Balduíno cedeu parte de sua tropa para o Conde de Flandes para uma expedição em Hamas, Saladino sabendo que Jerusalém ficaria desguarnecida, reuniu um exército para atacar o reino e o único que poderia apoiar Balduíno, que não dispunha de mais de 500 militares, caiu enfermo, o rei que já tinha o efeito da doença as suas portas, reuniu o que tinha do exército e mandou uma mensagem a todo reino convocando todos que podiam portar armas, porém o Saladino interceptou o reforço próximo a Jerusalém sendo todos capturados e trucidados.
Acreditando que já tinha conseguido a vitória, Saladino dispersou parte de exército que em debandada, pilhou, matou e fizeram prisioneiros por onde passavam. O sultão ismaelita mandou então reunir todos os prisioneiros e com uma crueldade tremenda esmagou as cabeças de todos.
Com a relíquia da Santa Cruz a testa de suas tropas, levada pelo bispo de Belém, Balduíno marchou com o que tinha, cerca de 300 soldados, contra o exército maometano de aproximadamente 20 mil homens. Os homens de Balduíno IV vendo então o tamanho da força inimiga começaram a temer e a fraquejar. O rei, que já começava a aparecer os sinais da lepra, desce de seu cavalo e diante da relíquia do Santo Lenho se prosta por terra, com lágrimas derramando rezou diante da Santa Cruz, vendo o exemplo do monarca, os soldados juraram diante da sagrada relíquia não fugir. Rumando o exército cristão para Saladino, eis que uma tempestade de areia surgiu, encobrindo os cristãos e cegando os maometanos, causando uma nova e terrível derrota a Saladino, que foge mais uma vez com a ajuda dos mamelucos que salvaram a sua vida de uma morte certa. Após a vitória Balduíno IV retornou a Jerusalém rendendo graças a Deus na igreja do Santo Sepulcro. Aos 17 anos, triunfando contra os inimigos de Deus e da sua Igreja, já era um grande guerreiro e rei, igualando em maturidade aos grandes heróis da cristandade, mas a doença progredia, infligiu aos islamitas muitas derrotas, das quais jamais esqueceram.
Miguel, o Sírio, Patriarca da Igreja jacobita, contemporâneo da época descreve os acontecimentos, reproduzido por René Grousset no livro Histoire des Croisades et du royaume franc de Jérusalem: “O Senhor teve piedade dos cristãos. Todo mundo tinha perdido a esperança, porque o mal da lepra começava a aparecer no jovem rei Balduíno, que enfraquecia, e desde então cada um tremia. Mas o Deus que fazia aparecer sua força nos fracos inspirou o rei doente. O resto de suas tropas reuniu-se em torno dele. Ele desceu de sua montaria, prosternou-se com a face contra a terra diante da Cruz e rezou com lágrimas. À vista disto, o coração de todos os soldados se enterneceu. Eles estenderam todos a mão sobre a verdadeira Cruz e juraram jamais fugir; e, em caso de derrota, olhar como traidor e apóstata quem fugisse em vez de morrer. Montaram de novo nos cavalos e avançaram contra os turcos, que se regozijavam, pensando já os ter derrotado. Vendo os turcos, de quem a força parecia um mar, os francos deram-se mutuamente a paz e pediram uns aos outros um mútuo perdão. Em seguida engajaram a batalha. No mesmo instante o Senhor fez cair violenta tempestade, que levantava a poeira do lado dos francos e a lançava no rosto dos turcos. Então os francos, compreendendo que o Senhor havia aceitado seu arrependimento, tomaram coragem, enquanto os turcos deram meia-volta e fugiram. Os francos os perseguiram, matando e massacrando (os maometanos) durante o dia todo”.
Dominique Paladilhe, no livro Le Roi Lépreux, descreve assim Balduíno em 1183, “Do belo menino louro, que nove anos antes havia recebido com fausto a coroa, não restava senão um inválido, um ser decaído, repugnante. O belo rosto não era senão placas de carne marrom, fechando três quartas partes das órbitas, das quais todo olhar fugira para sempre, cortando-o do mundo, mergulhando-o numa noite eterna. Suas mãos elegantes estavam reduzidas ao estado de cotos. Seus dedos amortecidos haviam caído uns após outros, putrefatos. Seus pés haviam tido a mesma sorte e estavam como encolhidos pelo mais cruel dos torcionários chineses. Coberto de placas e bolhas, o resto do corpo não estava diferente para se ver. [...] ao preço de esforços por vezes espantosos, ele continuava a assumir seu papel de rei. Jamais havia faltado a um combate, jamais fugido a uma responsabilidade”.
Em novembro de 1183, Saladino que já acumulava inúmeras derrotas ao jovem rei, reúne o maior contingente que dispunha e avança contra a Crac de Moab. Tomando conhecimento das intenções do ímpio sultão, que já o imaginava agonizante, invalido, e totalmente enfermo, Balduíno ergue de seu leito, mal podendo andar, sua mão reduzida a tocos, deitado em uma liteira, reúne um exército e vai em socorro da fortaleza cristão. Com uma energia fora do comum, ele não renuncia a sua obrigação real. Se dirige com a sua força em apoio aos cristãos sitiados e com a sua aproximação os muçulmanos se retiram, o grande Saladino fugia amargava mais uma derrota, pois a simples presença do rei leproso provocou a sua derrota.
O ano seguinte, volta Saladino com um exército ainda maior, praticamente dobrara os seus guerreiros, os cristãos em Crac viram com angústia a chegada de uma multidão infinita de mulçumanos. Balduíno vai em defesa, em número muito menor. Saladino ao ver a chegada do rei, lhe abateu novamente a sensação da derrota, foge Saladino ele e uma multidão de guerreiros maometanos, novamente se curvam ao rei leproso, e amargam mais uma derrota.
A 13 de março de 1185, Balduíno IV, rei de Jerusalém, rendeu sua alma a Deus, em presença se seus vassalos, dignitários e bons companheiros de guerra.
"Tendo vivido pouco, encheu a carreira de uma larga vida; porque a sua alma era agradável a Deus; por isso ele apressou a tirá-lo do meio das iniquidades. E os povos estão vendo isto, e não entendem e nem refletem nos seus corações que a graça de Deus e a sua misericórdia está sobre os seus santos, e que os seus olhares estão sobre os escolhidos. Mas o justo morto condena os ímpios vivos, e a mocidade acabada prontamente a larga vida do injusto. Porque eles verão o fim do sábio, e não compreenderão o desígnio de Deus sobre ele, e nem porque o Senhor o pôs a salvo". (Sab 4, 13-17)
O Reino latino de Jerusalém
– Fundado por Godofredo de Bouillon, duque da Baixa Lorena (atual França) e grande guerreiro cristão, em 1099, à frente da Primeira Cruzada.
– Extensão: chegou a ser maior do que o atual Estado de Israel, ocupando todos os Lugares Santos.
– Estados que lhe eram feudatários (também cristãos): Condado de Trípoli e Principado de Antioquia.
Principais reis
Godofredo de Bouillon (1099-1100)
Balduíno I (1100-1118)
Balduíno II (1118-1131)
Foulques d’Anjou (1131-1144)
Balduíno III (1144-1162)
Amauri I (1162-1174)
Balduíno IV (1174-1185)
Balduíno V (1185-1186)
A partir de 1186, no reinado de Guy de Lusignan, acentuam-se as disputas pessoais, o que ocasiona derrotas ante os muçulmanos, com o desmembramento progressivo do Reino. Extinto definitivamente em 1291, com a invasão dos mamelucos (milícia turco-egípcia).**
** Gregório Lopes, O Rei Leproso em: catolicismo.com.br
Fontes:
catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=01FB49EB-5BEE-4B29-A3267106A4A70902&mes=Fevereiro2004
catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/4EEAC2FB-3048-313C-2E836237B9AA66BB/mes/Abril1992
Heróis medievais: Balduíno IV (heroismedievais.blogspot.com)
TFP – Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade
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