Era uma noite sombria; um céu sem estrelas pesava sobre a terra, como uma cobertura de mármore negro sobre um túmulo.
E nada perturbava o silêncio dessa noite, salvo um barulho estranho, como de um leve bater de asas, que de vez em quando era ouvido acima dos campos e das cidades.
E então as trevas se tornaram espessas, e todos sentiram sua alma se apertar e o frisson correr em suas veias.
E numa sala pintada de negro e iluminada por uma lâmpada avermelhada, sete homens repugnantes e terríveis estavam sentados sobre sete tronos de ferro. Eles tinham escrito sobre a testa os sete pecados mortais: cada um carregava um dos sete pecados e todos reunidos ao mesmo tempo. O olho humano não poderia distinguir se eram demônios ou homens possessos pelo demônio.E no meio da sala se elevava um trono feito por ossos humanos, e, no pé do trono, em forma de escabelo, estava um crucifixo entornado; e diante do trono, uma mesa de ébano, e sobre a mesa, um vaso cheio de sangue vermelho e espumoso e um crânio humano.
E os sete homens pareciam pensativos, e do fundo de suas órbitas profundas, de tempos em tempos, seus olhos deixavam escapar faíscas de um fogo lívido.
E um deles, tendo se levantado, se aproximou do trono chancelando, pisando sobre o crucifixo.
Nesse momento seus membros tremeram, e ele pareceu prestes a desfalecer. Os outros o olhavam imóveis; eles não fizeram o menor movimento; porém algo aconteceu sobre sua testa, e um sorriso que não é humano contraiu seus lábios.
E aquele que tinha parecido prestes a desfalecer estendeu a mão, tomou o vaso cheio de sangue, o derramou no crânio e o bebeu.
E essa bebida parecia fortificá-lo.
E endireitando a cabeça, saiu esse grito de seu peito, como uma surda reclamação: “Maldito seja Cristo, que nos tirou a liberdade da carne e do pecado!”
E os seis outros homens se levantaram juntos, e todos juntos soltaram o mesmo grito: “Sim, maldito seja Cristo, que nos tirou a liberdade da carne e do pecado!”
Depois do que, tendo se sentado novamente em seus tronos, o primeiro disse:
- “Meus irmãos, o que faremos para reaver nossa liberdade e destruir o reino de Cristo? Lá onde ele reina, não podemos reinar, e nossa causa é a mesma, porque um pecado é o aliado de todos os pecados. Que cada um proponha o que lhe parecer bom. Eis o conselho que dou. Antes de Cristo vir, quem nos perturbava em nossas cobiças e luxúrias? Sua religião nos arrebatou a liberdade. Reconquistemos a liberdade e aboli a religião de Cristo”.
E todos responderam: “É verdade. Aboli a religião de Cristo”.
E um segundo se dirigiu rumo ao trono, pegou o crânio humano, derramou sangue nele, o bebeu e em seguida disse: “Para abolir a religião de Cristo, é preciso roubar a verdadeira ciência dos homens, porque a verdadeira ciência conduz por si mesma à doutrina de Jesus Cristo. Louvemos então o valor das ciências, recomendemos a difusão das luzes, multipliquemos os métodos de ensino, mas confiemos as escolas aos mestres da iniquidade, inundemos a terra com livros ímpios e mentirosos. É assim que poderemos abolir a verdadeira ciência”.
E todos responderam: “É verdade. Aboli a verdadeira ciência”.
E tendo feito o que tinham feito os dois predecessores, um terceiro disse: “Quando tivermos abolido a religião de Cristo e corrompido as fontes da verdadeira ciência, teremos feito muito, mas ainda haverá o que fazer. É preciso difundir entre cada povo os erros, os vícios e as desordens de todos os povos”.
E tendo bebido o sangue, um quarto disse: “Temos os nossos interesses, e os príncipes têm os deles; e não lhes convém que a impiedade e o erro prevaleçam no meio dos povos. Logo eles poderiam se armar contra nós e defender a religião de Cristo, visto que a religião de Cristo é a base mais sólida dos tronos. Logo, é preciso excitar a revolta e propagá-la por todos os territórios da terra. Então os príncipes perecerão sob os punhais, ou eles serão forçados a se exilar e vaguear pelo mundo; eles serão impotentes contra nós, e não defenderão a religião de Cristo”.
E todos responderam: “É verdade. Propaguemos a revolta em todos os territórios da terra”.
E um quinto, tendo bebido o sangue, disse: “Enquanto a espada da justiça for afiada, as revoluções serão impossíveis, e os povos não ousarão brincar com o carrasco. É preciso pregar a mitigação das penas; é preciso rebaixar as penas pelas doçuras da misericórdia; é preciso assegurar a impunidade a todos os crimes e tirar o corte da espada da justiça”.
E todos responderam: “Retiremos o corte da espada da justiça”.
E um sexto disse: “Reconheço a utilidade de suas propostas; porém para arrancar a probidade do coração dos homens, é preciso embriagá-los com a volúpia. Multipliquemos os prazeres do corpo; ofereçamos aos artesões prazeres sensuais…; pervertamos o julgamento e, por isso, perverteremos o coração do homem”.
E todos responderam: “É verdade. Pervertamos o julgamento e o coração do homem pela volúpia”.
Então o sétimo tendo, como os outros, bebido no crânio humano, falou da sorte, com os pés sobre o crucifixo: “Morte ao infame e guerra eterna entre ele e nós. Mas como separar os povos dele? Enquanto houver templos, altares e sacerdotes de Cristo, essa esperança é inútil. Ouçam-me: Abatamos os templos, dissipemos o patrimônio do altar e persigamos os padres. E não haverá mais ninguém que apoie os direitos de Cristo, e nada que o recorde aos povos. E o povo será um rebanho sem pastor; ele seguirá nossa voz e reinaremos sobre os templos abatidos e os povos depravados”.
E todos responderam: “É verdade. Abatamos os templos, dissipemos o patrimônio dos altares e persigamos os padres”.
E subitamente a lâmpada que iluminava a sala se apagou, e os sete homens se separaram nas trevas.
E foi dito a um justo, que nesse momento vigiava e rezava diante da cruz: O conselho do ímpio perecerá. Adore, sofra, espere”.
Mgr Rosset. La Franc-Maçonnerie et les moyens pour arreter ses ravages. Tradução de Robson Carvalho. Paris, Librairie Victor Lecoffre, 1882.
FONTE: DOMINUS EST - http://catolicosribeiraopreto.com/maldito-seja-cristo-que-nos-tirou-a-liberdade-da-carne-e-do-pecado/ - Publicado em 25/11/2014
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