Nossa Senhora de Jasna Gora (Montanha Clara), a Padroeira da Polônia, Rainha e Mãe do povo polonês, protege esse país profundamente católico. Uma história de resistência, luta e vitória.
Valdis Grinsteins
“Desejaria conhecer o santuário de Nossa Senhora da Montanha Clara, em Czestochowa? Poderemos ir lá hoje à tarde”. Foi o convite que me fez um amigo polonês. Não poderia vir em melhor momento. Aceitei-o agradecido, aproveitando a oportunidade para esclarecer com meu amigo algumas dúvidas históricas sobre a imagem.
O outono europeu tem algo de conto de fadas. A natureza apresenta misturados todos os tons de verde, amarelo e até vermelho,
mas aos poucos vai tomando um ar de melancolia que influencia as pessoas. Eu esperava, portanto, ver nas fisionomias algo dessa melancolia do inverno que começa. Curiosamente, não a vi. Ou melhor, não a vi no santuário. Pois a cidade de Czestochowa tem, infelizmente, muitíssimas construções da época comunista — banais, deselegantes, descuidadas, sem beleza nenhuma — com uma capa de sujeira que as torna mais feias do que já são. Na cidade nota-se melancolia nas fisionomias. Mas o santuário é como uma espécie de intervalo, um oásis no meio da tristeza.
O santuário é visível de toda a cidade, devido à sua torre esguia. Chegando mais perto, percebem-se suas muralhas, que o rodeiam por completo.
Apesar de ser um dia de semana, havia muita movimentação. E no estacionamento havia carros com chapas de todas as regiões da nação.
Num país tão mariano, tão cheio de imagens, santuários, centros de peregrinação, etc, é justamente este o santuário por excelência, ao qual nenhum outro disputa a preferência. Isto tem uma explicação histórica que passo a relatar.
Uma imagem da resistência
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Hereges suecos disparam os canhões durante o cerco ao santuário |
No ano de 1655, suecos protestantes invadiram a Polônia. Ao contrário das outras invasões, rapidamente repelidas, esta passou à História como “o dilúvio”, pois cobriu rapidamente todo o país. Estava em jogo um problema de legitimidade: quem tinha realmente direito ao trono. Uns sustentavam que era o rei sueco Carlos Gustavo, outros o rei João Casimiro. Mesmo sendo protestante, Carlos Gustavo conseguira conquistar o apoio de quase toda a nobreza polonesa, especialmente daqueles que tinham se pervertido ao calvinismo. Os principais castelos do país se renderam sem luta, foram caindo todos. Só permaneceu resistindo o santuário de Czestochowa, um dos muitos do país, não especialmente conhecido.
Um exército sueco cercou o local e começou a bombardear os prédios. Vários milagres aconteceram, como o de balas disparadas que rebotavam ao golpear as paredes do santuário. Os protestantes tentaram render os combatentes por todos o meios militares ou psicológicos, mas Frei Kordecki, superior do local, heroicamente recusou quaisquer compromissos. E foi justamente esta intransigência que levou à vitória. A situação mudou tão rapidamente, que os suecos perderam todos os castelos com a mesma velocidade com que os tinham ganho. E o único santuário que resistiu ficou sendo o santuário por excelência do país.
A Virgem da Montanha Clara
Ao ver a imagem pela primeira vez, o que mais me chamou a atenção foi sua seriedade. Uma seriedade profunda. Não há nada de sorriso ou face de benevolência ingênua. Não. Mas é uma seriedade que nada tem de chocante, ou que afaste as pessoas. Pelo contrário, é essa seriedade que atrai as pessoas. Elas sabem que seus pedidos vão ser tratados com profundidade, com maternal solicitude.
No rosto da imagem, duas cicatrizes bem marcadas, fruto duma profanação dos hereges hussitas no século XV. Várias pessoas, talvez de boa vontade mas de pouco descortino psicológico, tentaram ao longo dos séculos pintar as cicatrizes de modo a dissimular a ferida. Nada conseguiram, pois as cicatrizes voltavam a aparecer. Isto faz parte da seriedade de Nossa Senhora: mostrar que tem inimigos, que sabe da sua existência, e que Ela protege seus filhos.
Alegrou-me especialmente ver a quantidade de pessoas se confessando. Diante de cada confessionário uma fila, sendo que havia pelo menos uns 10 sacerdotes dedicados a atender os penitentes. Isto num dia normal, porque em dia de festa há confessionários em toda a igreja, fora e até no pátio externo, cada um com sua respectiva fila de penitentes.
Outra característica muito simpática é que numa capela do lado externo do santuário, a cada quinze minutos, aparece um padre para dar a comunhão aos que a pedem. Os fiéis comungam sempre de joelhos e recebem a eucaristia na boca.
Os cânticos são tradicionais. No santuário ainda se mantém uma antiga tradição das cortes, quando a entrada ou saída do rei era assinalada com músicas. Aqui, para o fechamento ou abertura do altar da imagem da Rainha do Céu, uma banda de trompetes interpreta uma música antiga, majestosa e sacral.
Na sala do tesouro pudemos observar alguns dos numerosos mantos da Virgem. Há literalmente de todos os tamanhos e estilos, alguns realmente valiosos, como um feito inteiramente de âmbar do Báltico, todo amarelo brilhante.
Há igualmente um museu dedicado ao histórico cerco protagonizado pelos protestantes, onde pudemos ver numerosas armas dos defensores do santuário, uniformes, estandartes, bem como algumas das balas disparadas pelos hereges suecos.
Mas o que chama especialmente a atenção são as contínuas peregrinações ao local. Não são peregrinos isolados, se bem que também os há. O mais comum é ver chegar uma peregrinação de professores, logo outra da marinha de guerra, seguida por uma promovida por doutores de tal universidade, de fiéis da paróquia tal, dos estudantes do último ano ginasial de todo o país, ou uma simpática e buliçosa peregrinação de crianças de escolas católicas do leste. Uma peregrinação saindo quando a outra está entrando, e a terceira ainda ocupando o local. Nos intervalos das missas os fiéis podem caminhar de joelhos em um percurso por trás do altar, que permite aproximar-se da imagem e vê-la de perto.
A verdadeira glória só nasce da dor
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Vista atual do santuário de Jasna Gora |
Conforme comentava o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, só traz glória aquilo que é árduo, difícil e trabalhoso de realizar. E não podemos negar que o cerco de Czestochowa foi realmente difícil para os defensores. Tiveram que permanecer fiéis quando todos, literalmente todos, tinham abaixado a cabeça. Mas a perseverança deles ficou até hoje registrada na memória nacional, pois conquistaram a admiração da nação de forma profunda.
Peçamos a Nossa Senhora que o povo polonês por ela protegido cumpra também hoje sua função de ser a pedra de escândalo moral numa Europa descristianizada. Quando todos baixam as cabeças diante de crimes como o aborto, que continue sendo a Polônia o país que se opõe até o fim, não transige, e pela intransigência desperta a consciência dos outros, obtendo de Maria Santíssima a vitória.
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