Francisco Goya (1746 - 1828), Museu do Prado.
A doutrina da inutilidade das boas obras era o grande agente corruptor. À sua sombra organizava-se a licença autorizada.
Afirma-o, entre muitos outros, Diogo André com a autoridade de quem, como inspetor, empreendeu inúmeras viagens e recolheu muitas observações, publicadas em 1568:
“A fim de que saiba o mundo inteiro que não são papistas e não põem a sua confiança nas boas obras, os nossos luteranos diligenciam por não praticar nenhuma.
“Em vez de jejuar, comem e bebem noite e dia; em vez de socorrer os pobres, acabam de esbulhá-los; em vez de orar, blasfemam e desonram a Jesus Cristo, por modos que excedem a ousadia dos próprios turcos.
“Finalmente, em vez da humildade cristã, aninham no coração o orgulho e o amor do erro. Tais são os costumes dos nossos evangélicos”.
Fonte: Jacob Andreas, Erinnerung nach dem Lauf der Planeten gestellt,Tübingen, 1508, pp. 140 ss.
Insistamos um pouco mais em mostrar como o desmando geral dos costumes se apresentava evidentemente como uma consequência das doutrinas e da pregação da Reforma.O reitor protestante I. Rivius escreve em 1547:
Eis a obra-prima do fanatismo! |
“Se és adúltero ou libertino, dizem os pregadores, crê simplesmente e serás santo.Em 1525, Jorge, duque de Saxônia, escrevia ao corifeu reformador:
“Nem temas a lei, porquanto Cristo a cumpriu e satisfez pelos homens... Semelhantes discursos levam à vida ímpia”.
Fonte: I. Rivius, De Stultitia mortalium, Basilae, 1557, I. 1, p. 50 s.
“Quando se viu maior número de adultérios como depois que escreveste: se uma mulher é estéril, una-se a outro e os filhos sejam alimentados pelo primeiro marido. E outro tanto façam os homens?”.E como não haveria de ser assim quando se ouvia Lutero ensinando desde 1523:
Fonte: Enders, V, 289; ed Jena, 1556, III, 211.
“Deus só te obriga a crer e a confessar.
“Em todas as outras coisas te deixa livre e senhor de fazer o que quiseres, sem perigo algum de consciência; antes é certo que, de si, ele não se importa, ainda mesmo se deixasses tua mulher, fugisses do teu senhor e não fosses fiel a vínculo algum.
“E que se lhe dá, se fazes ou deixas de fazer semelhantes coisas?”.
Fonte: Weimar, XII, 131 ss
A tentação de Santo Antônio, detalhe. Hieronymus Bosch (1450 — 1516) |
“entre os católicos os pecados atribuem-se às pessoas, entre os luteranos às doutrinas e às pessoas”.
Räss, Die Convertiten seit der Reformation,Freiburg i. B., 1866, I, 522.
Fechemos esta primeira série de testemunhas acerca da corrupção geral desencadeada pelo protestantismo com o depoimento de Pedro Arbiter, interessante sobretudo no ponto de vista da psicologia dos primeiros reformadores:
“Porque permanecem alguns fiéis ao papismo e outros a ele voltam depois de o haver renunciado, senão porque de tal modo os cega o espírito das trevas, que, quer entre nós, quer entre eles, consideram como nonada o que deveriam estimar como coisa principal e atribuem, pelo contrário, gran-díssima importância ao que não na tem nenhuma?Ironia das coisas! A depravação dos costumes da Igreja Romana fora o pretexto da revolta religiosa que se apresentou ao povo sob o especioso nome de Reforma.
“Porquanto, que vale todo o bem do mundo, que é a perfeição, a sabedoria, a autoridade, a ordem, a concórdia e as outras virtudes que admiramos entre os papistas, se a doutrina é má e para a salvação só a doutrina é indispensável?...
“Permiti que vos dê um conselho? Para julgar entre a Igreja papista e a nossa, atendei à doutrina e não às aparências”.
Fonte: P. Arbiter, Die christl. Busselehre mit der papitschen verglichen, Magdeburg, F. 2, 3.
Ora, diante da corrupção avassaladora que babilonizava os povos, diante dos desmandos protestantes, a cuja comparação os costumes católicos eram confessadamente a perfeição, a ordem, a sabedoria, e outras virtudes admiráveis, que fazem os paladinos da regeneração do cristianismo?
Em lugar de arrepiarem carreira, proclamam a dissolução moral uma bagatela para desprezar-se e apelam cinicamente para a doutrina, – para esta doutrina, que abalando os princípios, negando a liberdade, inculcando o pecca fortiter, assegurando a certeza da salvação sem virtudes, a inadmissibilidade da graça, emancipara as consciências da lei e da responsabilidade, abrira a porta a todos os desmandos, soltara o freio a todos os apetites brutais, estimulara todas as paixões, divinizara o pecado!
Eis a obra-prima do fanatismo!
Fonte: http://lumenrationis.blogspot.com.br/p/pe-lonel-franca-sj.html#15073114
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