"Formação
de uma direita com fundamentos gravemente errôneos, com fundamentos contrários
àquilo que Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou"
Sermão para a Solenidade Externa de Nossa Senhora do Rosário
02.10.2016 – Padre Daniel
Pinheiro, IBP
Em nome do Pai…
Ave Maria…
O Rosário encontra sua origem no início da Igreja, quando muitos
começaram a recitar Ave-Marias e Pai Nossos no lugar dos 150 Salmos. O Rosário,
com a forma praticamente idêntica à que conhecemos hoje, foi dado por Nossa
Senhora a São Domingos. Foi a arma que ela deu contra a heresia cátara: uma
heresia não materialista, mas espiritualista, heresia de direita poderíamos
hoje dizer. Heresia que despreza a matéria e o corpo como se fosse mal e que
afirma que existe em cada homem uma partícula da divindade, uma heresia
gnóstica.
O Rosário também foi a arma dada por Nossa Senhora na vitória
dos católicos contra os muçulmanos na batalha naval de Lepanto. Os católicos em
todo o mundo rezavam o Terço a pedido do Papa São Pio V.
Nossa Senhora, caros católicos, esmaga as heresias e os
erros. E temos inúmeros erros em nossos tempos.
Muitos, em nossos
tempos, têm os olhos mais abertos para erros à esquerda: materialismo,
socialismo, comunismo. Mas não vêem os erros à direita.
Está ocorrendo a
formação de uma nova direita (tão nova quanto a velha) no Brasil e em algumas
partes do mundo. Formação de uma direita com fundamentos gravemente errôneos,
com fundamentos contrários àquilo que Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou e que a
sua Igreja propaga de modo fiel pelo seu magistério constante ao longo dos
séculos, pelo seu magistério infalível. Uma nova direita baseada em falsas
filosofias e falsos profetas.
Interessante notar que
essa direita torta começa a se desenvolver com maior vigor de uns dez anos para
cá, coincidindo mais ou menos com o reconhecimento da liberdade para a Missa no
Rito Romano Tradicional pelo Papa Bento XVI. Vendo, com isso, a possibilidade
de nascer uma sociedade fundada sobre os bons princípios católicos e da lei
natural, o inimigo tinha que infiltrar os meios católicos mais sérios. Os
católicos mais sérios não se deixarão levar pelo socialismo ou esquerdismo. É
pela direita que o inimigo colocará o veneno. É pela direita, com ideias
tortas, que o demônio procurará manter o seu reino. O demônio não está preocupado
se as almas estão no erro pela esquerda, pela direita ou pelo centro. Para ele,
basta que estejam no erro. E quanto mais esse erro se assemelhar à verdade,
mais ele conseguirá enganar. Para o demônio, basta que se negue uma verdade da
doutrina católica. Não precisa mais do que isso. Basta ir contra a doutrina
social constante da Igreja, por exemplo, defendendo o liberalismo econômico.
Basta afirmar que todas as religiões são expressões distintas de uma mesma
religião (defendendo a união transcendente delas), como se no fundo todas
fossem expressões distintas de uma mesma verdade, o que vai contra o fato de
que existe uma só revelação feita por Deus e uma só religião verdadeira, a
Católica, que se opõe contraditoriamente às outras religiões (Ver o Syllabus de
Pio IX e a Enc. Pascendide São
Pio X). Basta negar que o Papa é Papa. Basta apoiar a maçonaria. Basta prestar
um culto de personalidade a um homem. E a nova direita não tem apenas um, mas
vários erros. Bastaria um, mas tem vários.
Muitos católicos se
iludem com a direita por ser anti-esquerdista, anti-socialista e
anti-comunista. E combatem um erro caindo em vários outros. Isso não pode ser
feito. O bom para ser bom tem que ser integralmente bom. Bonum ex integra causa diz
a boa filosofia de São Tomás de Aquino. O mal para ser mal basta que tenha um
defeito.
Combater o socialismo
com o liberalismo, ainda
que seja somente econômico é um erro grave. O liberalismo é a independência com
relação a Deus. O liberalismo econômico é
a independência da economia com relação às leis morais e com relação a Deus. A
finalidade última da economia no liberalismo econômico se torna o lucro sem
subordinação alguma à finalidade última do homem: conhecer, amar e servir Deus.
(Ver Encíclicas Rerum Novarum, Divini Rdemptoris, Quadragesimo Anno, Centesimus Annus)
Muitos católicos se
iludem: eu sigo essa direita em política, mas não nas ideias de teologia, de
religião ou de filosofia. Ora, é claro que a política dessa nova direita deriva
das ideias tortas em outros pontos como a filosofia e a religião. Não dá para
separar as coisas. A atuação política dessa direita é simplesmente um meio
rápido de propagar essas ideias erradas e contaminar os católicos com erros
graves em todos os âmbitos. A política nada mais é do que a aplicação para a
sociedade das concepções filosóficas e religiosas que a pessoa tem. Quem segue
a política da nova direita seguirá necessariamente a sua filosofia errônea e a
sua religião errônea, muitas vezes com capa de catolicismo exterior. Irá contra
a doutrina católica.
A nova direita diz
defender uma alta cultura. O que é a alta cultura? De modo interessante, a
maçonaria (ver Encíclica Humanum
Genus) difundiu muito as suas ideias erradas por meio de círculos
culturais e literários ao longo da história. Usou como pretexto a cultura para
difundir suas ideias erradas. Sob pretexto de cultura muitos erros se
disseminam. Assim diz São Pio X a propósito de como os modernos espalharam e
espalham seus erros (Enc. Editae Saepae):
“também eles subverteram a doutrina, a lei e instituição da Igreja, tendo
sempre sobre os lábios o grito de cultura e de civilização, não porque se
preocupassem sobre isso, mas porque com esses nomes grandiosos podem mais
facilmente esconder a malícia de seus pensamentos.” A cultura verdadeira é a
cultura que leva à verdade, ao bem. Quer dizer, a verdadeira cultura leva para
Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Verdade, o Bem. A verdadeira cultura se
submete e favorece a lei natural e a lei divina. A verdadeira cultura é a
cultura cristã católica, que admite a lei natural e a única revelação que
existe: a católica. A cultura católica vai no sentido do reinado social de
Nosso Senhor Jesus Cristo. A nova direita quer o reinado social de Cristo? Não
consta que queira. Ao contrário, no espaço amplo dessa alta cultura propagada
pela nova direita, pode entrar qualquer coisa, e certamente entram coisas
contra a lei natural e contra a doutrina católica, que é a doutrina de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
A nova direita se diz
conservadora e afirma que todos os conservadores devem se unir. O que é o
conservadorismo? O protestante, que rejeita a autoridade da Igreja estabelecida
por Deus e que estabelece, assim, um dos pilares de todo o pensamento moderno,
colocando o homem no lugar de Deus, é conservador? O liberal em economia,
rejeitando a submissão da economia a Deus e a suas leis, é conservador? Aquele
que vai contra o aborto, mas defende a contracepção, é conservador? Aquele que
se diz católico, mas sorrateiramente escapa da doutrina da Igreja dizendo-se
médico, economista ou filósofo é conservador? Qualquer coisa, praticamente,
pode ir entrando nesse conceito de conservador. Uma confusão generalizada é a
união dos rotulados conservadores. E rotulados conservadores por quem? É uma
boa pergunta. Pode o católico unir-se a um não católico para combater um mal,
como o aborto, por exemplo? Sim, mas com condições precisas: os católicos não
podem aprovar ou conceder nada que esteja em conflito com a revelação divina ou
com a doutrina da Igreja, mesmo nas questões sociais, dizia o Santo Ofício em 5
de junho de 1948 orientando solidamente os católicos. E como dizia São Pio X (Il fermo proposito),
o católico que quiser atuar de forma mais política deve se lembrar, antes de
tudo, de ser em toda circunstância católico e de se mostrar verdadeiramente
católico. Assim, uma união vaga e sem critérios muito bem determinados pelos
católicos seria combater um erro favorecendo vários outros.
Direita e esquerda. O
demônio age com as duas mãos – a esquerda e a direita – para mais facilmente
dominar. Infelizmente, muitos católicos têm um problema de torcicolo, para a
esquerda. Só conseguem ver os problemas na esquerda e não vêm os problemas na
direita ou se vêem ficam procurando pretextos para não condenar esses erros.
Não é, em geral, para a teologia da libertação que o inimigo tentará levar os
católicos mais sérios que começaram a compreender as coisas. Ele tentará levar
para a direita. Com erros. Às vezes bem sutis, com capa de catolicismo, claro.
Muitos católicos,
infelizmente, têm se consagrado a se tornarem direitistas. Conhecem autores e
autores direitistas eivados de erros. Mas não conhecem o básico da doutrina da
Igreja. Não conhecem os documentos papais denunciando os erros modernos. Por
isso, não têm uma visão realmente ampla e profunda dos problemas, mas veem
apenas os problemas na esquerda, porque lhes torceram o pescoço para ver
problemas apenas na esquerda. Falam da infiltração da esquerda, falam da
conspiração esquerdista, mas não se dão conta que a infiltração contra a Igreja
vem também da direita, que a direita está no mesmo plano.
Os católicos iludidos
pelas ideias direitistas se entregam com frequência à política. É o centro da
vida deles. E é o por aí que o erro vai se infiltrar. Pelas ideias políticas
tortas é a própria religião que se perverterá. E a política está na moda.
Muitos estão obcecados por ela. Esquecem-se de fazer a própria parte.
Esquecem-se de se santificar e de cuidar das próprias famílias. Esquecem-se de
que a alma de todo apostolado é a santidade, fundada na verdade católica íntegra.
Assim também no campo político. O Cardeal Pie, grande defensor, no século XIX,
da realeza social de Nosso Senhor Jesus Cristo, afirmava que a “questão social
será resolvida pela questão religiosa, e a questão religiosa diz respeito
sobretudo à questão do culto.” Podemos acrescentar: a questão do culto diz
respeito sobretudo à questão da Missa.
Caros católicos, como
pai preocupado com os filhos, digo: não sejam de direita nem de esquerda. Nem
de centro. Nem de centro esquerda. Nem de centro direita. Sejam católicos.
Ponto. Plenamente. Aderindo inteiramente e com toda docilidade à doutrina
infalível da Santa Igreja Católica. Sem concessões. Sem orgulho. Sejam
católicos. É isso que os levará à vida eterna. É isso que salvará a família de
vocês. É isso que colocará ordem novamente na sociedade. Estamos vivendo muito
claramente o que São Paulo disse: “virá um tempo em que (muitos) nao
suportarão a sã doutrina, mas acumularão mestres em volta de si, ao sabor das
suas paixões, (levados) pelo prurido de ouvir. Afastarão os
ouvidos da verdade e os aplicarão às fábulas.” Acumularão mestres que dizem
estar sempre certos ou que se afirmam profetas inerrantes. Ao padre, como diz
São Paulo, cabe: pregar a palavra, insistir a tempo e fora de tempo,
repreender, corrigir, admoestar com toda a paciência e doutrina.
Que Nossa Senhora, que
esmaga os erros e as heresias, possa esmagar também esse erro que se dissemina
nos meios católicos e na nossa pátria. Rezemos o Santo Rosário para que ela nos
ajude.
Em nome do Pai, e do
Filho e do Espírito Santo. Amém.
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