“Cristo quis fazer-se conhecido
pela sua vida virtuosa e não pelo nascimento segundo a carne”
Roosevelt Maria de Castro
O presépio invenção do século XIII de São Francisco de
Assis, está ligado diretamente ao Natal. As famílias tradicionais católicas o
montava no primeiro Domingo do Advento, deixando o local em que seria colocado
o Menino Jesus vago até a noite de Natal, quando era introduzido e o desmontavam
no dia 02, na Festa da Apresentação no Templo, quando encerra o ciclo do Natal.
Mas esse costume tradicional foi se perdendo trocando o
presépio por figuras ou motivos pagãos, como o papai Noel ou outras aberrações
que são utilizadas para indicar a festa de Natal descristanizada, paganizada perdendo o
seu real significado.
Não só o Natal foi alterado o seu real significado, outras festas cristãs também sofreram influência da sociedade ateia, como o primeiro de janeiro,
que deixou de ser comemorado como a Circuncisão de Nosso Senhor para ser
lembrada como a Fraternidade Universal, a festa da Páscoa, que trocaram Nosso
Senhor por uma figura absurda de um coelho, a não observância das quatro
Temporas a festa da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, que apesar de relativamente nova foi
trocada por uma festa comercial do dia das crianças.
Essas trocas de festas cristãs por comemorações pagãs ou até
mesmo a sua extinção, é observada na própria Igreja, ao retirar do altar o Sacrário, relegando a um canto ou a uma capela longe dos olhos
dos fiéis, possibilitou que a sociedade acelerasse a paganização do sociedade e a descrença dos fiéis.
Observamos também que, na noite em que Nossa Senhora e São
José chegaram a Belém não encontraram uma hospedaria, foram alojados em um
estábulo, uma gruta, escondidos, como acontece hoje, a retirada
dos motivos cristãos das festas, o afastamento de Nosso Senhor Jesus Cristo do
Natal, da Páscoa, a retirada do Sacrário do centro das igrejas ou ainda a
própria Igreja Católica que é tratada como uma ONG e não mais como uma
instituição Divina.
Nosso Senhor veio ao mundo em um estábulo, no frio, junto
aos animais. Assim nasceu Nosso Redentor.
Há controversas quanto ao dia 25 de dezembro como sendo o
dia do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, não vamos entrar aqui em
méritos de ser ou não ser esse ou aquele dia.
Segundo o que consta, depois do ano 350 a Igreja teria
fixado o dia 25 de dezembro como o dia do nascimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo, porém o Papa São Telésforo (126 a 136) instituiu a Missa do Galo e
alguns atribuem a ele também as três Missas do dia de Natal. Santo Agostinho de
Hipona, na obra A Trindade, livro IV capítulo V diz: "Existe a crença de que
Ele foi concebido a 25 de março(...)Diz a tradição que nasceu no dia 25 de
dezembro. Portanto, de 25 de março (festa da Anunciação) a 25 de dezembro
(Natal) contam-se duzentos e setenta e seis dias". Livro escrito entre os anos
de 400 e 416.
Santo Tomás de Aquino na IIIa Pars Q35 Art 8 da Suma
Teológica diz: “Como se disse, Cristo quis nascer quando começou a tomar
incremento a luz do dia, para mostrar que vinha para fazer crescerem os homens
da luz divina, como diz o Evangelho (Lc 1, 79): Para alumiar os que vivem de
assento nas trevas e nas sombras da morte. – Semelhante, escolheu para o tempo
da sua natividade o rigor do inverno, a fim de sofrer por nós os padecimentos
da carne”.
Escolheu para o tempo
da sua natividade o rigor do inverno. No hemisfério norte o inverno inicia
em dezembro e ainda, por volta do dia 22 ocorre o solstício de
inverno, quando a noite é mais longa que o dia. Nosso Senhor Jesus Cristo é o
sol, a luz, nada mais conveniente que Ele nasça no dia em que as trevas estão
maiores que a luz.
A terra simboliza Adão e o sol simboliza a Nosso Senhor
Jesus Cristo. Quando o homem estava mais afastado da luz e do calor de Deus,
houve o nascimento do Menino Jesus, a gnose estava tomando força.
Sabemos que o presépio é a representação do nascimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo por imagens, criado por São Francisco de Assis no
século XIII, e essas imagens representam indivíduos, fatos, nações, profecias,
histórias, símbolos.
Temos representado o Menino Jesus, Nossa Senhora, São José,
os pastores, os magos do oriente, animais e anjos, no centro é colocado uma manjedoura,
que a partir do dia 25 de dezembro deve ser colocado o Menino Jesus.
Tudo é colocado em uma só representação, mas é sabido que os
fatos se deram em uma sucessão de eventos, que foram postos juntos para
demonstrar a unidade na doutrina.
O presépio representa a alma dos homens que se preparam para
receber o Menino Jesus, prefigura também a segunda vinda, no final dos tempos.
“Pois por isso o mesmo
Senhor vos dará este sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o seu
nome será Emanuel”. (Isaias 7, 14)
Na sequência da natividade temos, primeiro a ida de Nossa Senhora e
São José para Belém, a busca pelo local para pousada e o nascimento, depois numa segunda sequência a visita
dos Magos e na terceira sequência a circuncisão, a purificação de Nossa
Senhora e a apresentação do Menino Jesus no Templo de Jerusalém.
“E tu Belém, (chamada)
Efrata, tu és pequenina entre os milhares de Judá, mas de ti é que me há de
sair (o Messias) aquele que há de reinar em Isreal, e cuja geração é desde o
princípio, desde os dias da eternidade” (Miqueias 5, 2).
Belém de Judá – Bethleem significa a “casa do pão”, nome
dado por causa da sua fertilidade, tinha o sobrenome Efrata, a fértil. Pátria
de Davi. Erguia-se sobre um monte a 822 metros, rodeada de vales. De clima
frio, caindo muita neve no inverno, derretendo rápido. A leste estão as colinas
onde Davi e Amós pastoreavam, estendendo um pequeno vale que vai até o Mar
Morto, onde Jacó apascentavam o seu gado, e onde conforme São Jerônimo, os
pastores que ouviram os anjos e o Gloria, estavam.
Santo Tomás de Aquino comenta: “Por isso (Cristo), escolheu
acertadamente, para sua natividade Belém (...) – E além disso, por esse modo,
desprezava a glória humana, pois, os homens se gloriam quando trazem a sua
origem de cidades nobres e fazem disso cabedal de sua honra. Cristo, ao
contrário, quis nascer numa cidade obscura e sofrer o opróbrio numa cidade
nobre”.
Continua o Santo Doutor Angélico: “Cristo quis fazer-se
conhecido pela sua vida virtuosa e não pelo nascimento segundo a carne. Por
isso quis ser educado em Nazaré. E nascer em Belém quase como peregrino”.
“E estando ali,
aconteceu completarem-se os dias em que devia dar à luz. E deu à luz o seu
filho primogênito, e o enfaixou, e reclinou numa manjedoura, por que não havia
lugar para eles na estalagem (...) E eis o sinal: encontrareis um menino
envolto em panos, e deitado numa manjedoura”. (S. Lucas 2, 6-12)
“Por quanto um menino
nasceu para nós, e um filho nos foi dado e foi posto o principado sobre o seu
ombro; e será chamado (...) Príncipe da Paz”. (Isaias 9, 6)
O homem estava em inimizade com Deus, pelo pecado original,
com a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo o homem pode restabelecer essa
amizade.
No presépio temos as figuras de dois animais em destaques,
obviamente, por ser o presépio retratado em um estábulo, fazia necessário a existência
de animais, nesse caso é um boi e um burro.
“O boi conhece o seu
possuidor, e o jumento o presépio do seu dono, mas Israel não me conheceu, e
meu povo não teve inteligência”. (Isaias 1, 3)
O boi representa os judeus e o jumento os pagãos. O boi é um
animal criado para servir ao homem, para o trabalhar a terra no arado. Em geral
trabalhando em duplas, alinhados por uma peça, canga ou jugo, que passa pelo
pescoço alinhando os dois animais, os deixando subjugados, sob o domínio do
homem. Os judeus estavam sob o domínio das Leis, estavam sob o jugo das Leis.
O jumento, que representa os pagãos os gentios, não possui o
jugo, está sem a Lei, Nosso Senhor Jesus Cristo veio para todos os povos, para
os judeus e para os gentios.
Temos também as figuras dos pastores e dos Magos. Os
primeiros simbolizam as pessoas humildes e também aos judeus e os Magos
simbolizam os sábios e os ricos.
Diz Santo Tomás de Aquino: “E assim como na segunda
manifestação, primeiro foi anunciada a Graça de cristo aos Judeus, pelo próprio
Cristo e pelos Apóstolos, e depois aos gentios, assim também com Cristo vieram
ter primeiro os pastores, como habitando mais perto, e depois vieram de regiões
remotas os Magos, que foram as primícias das gentes”.
Por tanto Nosso Senhor Jesus Cristo manifestou primeiro aos
pastores, representando os Apóstolos e aos outros judeus crentes a quem
primeiro tiveram a Revelação da Fé de Cristo, no dia da Natividade. Em seguida a
Fé de Cristo chegou à plenitude das gentes, prefigurada nos Magos, simbolizando
os pagãos, e em terceiro à plenitude dos judeus, os justos, prefigurados no
Templo.
Em Belém os pastores representavam os judeus, treze dias
após, na mesma Belém os Magos representando os pagãos e após quarenta dias os
justos, simbolizados pela apresentação no Templo.
Os pastores, que representam os judeus, foram anunciados por
um anjo e os Magos, que representavam os pagãos, foram anunciados por uma
estrela que os guiou até o Menino Jesus.
Santo Tomás de Aquino: “Por isso foi convenientemente
manifestada a sua natividade pelos anjos, que são ministros de Deus. Donde o
anjo ter a aparecido resplendente de luz, para mostrar que quem tinha nascido
era o esplendor da glória paterna.
Os justos não precisavam de nenhuma aparição visível dos
anjos, mas lhes bastava a inspiração interior do Espírito Santo, para a
perfeição deles”. (ST IIIa Pars Q36 art. 5).
Os pastores, que representavam o povo judeu, foram avisados
por um anjo. Como os judeus sempre tiveram a presença de anjos, conforme narra
no Antigo Testamento, eles não ficariam escandalizados e saberiam que o que foi
anunciado era a vinda do Messias, por isso a necessidade de eles aparecerem
como anjo.
Os Magos, que eram a prefigura do povo pagão, não tinham a
Revelação, desconheciam ao Deus verdadeiro, mas conheciam as estrelas e sua
ciência. Era prudente que lhes fossem anunciado de forma que eles saberiam
entender, interpretar. A anunciação dos Magos prefiguravam a constância dos
gentios (ST IIIa Pars, Q.36 a. 8), assim os anjos apareceram em forma de
estrela aos Magos.
Diz Santo Tomás: “Assim como a estrela dos Magos não seguiu
o curso das estrelas do céu, assim também os cometas, que aparecem de dia, não
mudam o seu curso habitual”.
“E eis que a estrela,
que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até que, chegando sobre (o
lugar) onde estava o Menino, parou. E, entrando na casa, encontraram o Menino
com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se, O adoraram; e, abrindo seus tesouros, lhe
ofereceram presentes de ouro, incenso e mirra”. (S. Mateus 2, 9-11)
Os Magos ofereceram a mirra, o ouro e o incenso. A mirra era
a significação de que Ele que devia morrer e ser sepultado em favor do gênero
humano; o ouro, que Ele era o Rei cujo reino não tem fim; e o incenso, que ele
era o Deus que se deu a conhecer na Judéia, e se manifestou aos que não o
procuravam. (Santo Irineu – Contra as Heresias).
A mirra também simboliza o reconhecimento do sacerdócio de
Nosso Senhor Jesus Cristo, os nossos sacrifícios diários; o ouro a nossa razão,
a nossa inteligência a serviço de Nosso Senhor; o incenso às nossas orações.
Nosso Senhor escolheu um estábulo para que chegasse ao
mundo. Na Palestina no tempo da natividade, eram frequentes as grutas naturais, por
causa dos acidentes de terreno, onde se faziam abrigos para homens e animais.
A gruta, simbolicamente, tem uma concepção que, para entrar
nela devemos nos abaixar e, para encontrar a Verdade, o Amor, a Redenção,
devemos nos humilhar, nos rebaixar e até, se necessário, nos rastejar, só acha
a verdade quem se humilha.
Nosso Senhor Jesus Cristo foi colocado em uma manjedoura, um
cocho, que é onde coloca alimentos para os animais, e neste estábulo os animais
nos representa e aqui, simbolicamente, Nosso Senhor lembra a eucaristia, o Pão
Vivo, um alimento colocado no cocho para alimentar os animais no estábulo, que
somos nós, esses animais, na Igreja. “Se
não comerdes a carne do Filho do homem (...), não tereis vida em vós (...) O
que come a minha carne (...)tem a vida eterna: E eu o ressuscitarei no último
dia. (...) Por que minha carne verdadeiramente é comida (...) O que come a
minha carne (...) esse fica em mim, e eu nele (...) Assim o que se alimenta com
a minha carne, esse mesmo também viverá em mim”. (São João 6, 54-58)
Após o nascimento, Nossa Senhora se fez envolto o Menino
Jesus em panos: “E o enfaixou e o
reclinou em uma manjedoura”. (São Lucas 2, 7). Esse enfaixar em panos nos
leva a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que estava velada em sua humanidade. Por de trás dos panos brancos, temos as limitações humanas que possuía, a fome,
a sede, o sono, o cansaço.
Assim como a hóstia é um pão branco, que confessamos
ser o verdadeiro Deus e o verdadeiro Homem, que estão presentes nas espécies,
envolto pela brancura do pão, assim está o Menino Jesus envolto na brancura dos
panos no presépio. O colocar das faixas e o deitar na manjedoura, cocho, local
em que comiam os bois, os judeus, e os burros, os pagãos.
O presépio também nos recorda o Calvário, o envolvimento do
Menino Jesus nos panos brancos no levam ao sepulcro em Jerusalém, onde Jesus
foi envolto em panos, no Sudário, e posto na sepultura, ressuscitando no terceiro dia.
A Hóstias ao guardá- las no Sacrário, são revestidas por um véu.
Assim a Igreja, também é prefigurada no presépio, sendo um estábulo,
onde há animais, que somos nós.
Os animais, que simbolizam os judeus e os pagãos, são
convidados para a ceia, eles deixam a sua sujeita, ali no estábulo e se
alimentam ali também.
Na Igreja, ao entrarmos, nos benzemos com água benta e nos
ajoelhamos, como que rebaixamos para entrar na gruta de Belém. Nos confessamos,
onde deixamos a nossa sujeira e nos alimentamos com o Pão da Vida a eucaristia.
Na igreja, nas antigas, quando eram orientadas, os fiéis entravam pela porta do oeste, pelo ocidente, pelo lado sujo, pelo lado oxidado, pela região da morte e nos dirigimos para o oriente, para o leste, onde jaz o altar, de onde vem a
salvação, de onde vem o Nosso Senhor Jesus Cristo, na segunda vinda. Ele virá do oriente para onde nos dirigimos, ao nascer do sol, de
onde irradia a luz.
Ali no nascente, o padre nos oferece o Sacrifício, ali nós nos alimentamos com a Hóstia, que é Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a verdade. Por
isso que nos é dado na língua, por ser a Verdade, não na mão, para não manipularmos a verdade, pois a verdade não pode ser manipulada.
Fonte
- Santo Irineu de Lião – Contra as Heresias – Livro III B –
Editora Paulus 2009;
- Padre Antônio Pereira de Figueiredo – Bíblia Sagrada –
Volumes X; XI e XVII – Editora das Américas 1950;
- Santo Tomás de Aquino – Catena Aurea – Vol I – Editora Ecclesiae
2018;
- Santo Tomás de Aquino – Suma Teológica – Vol IV IIIa Pars –
Editora Ecclesiae 2016;
- Emerson Takase - O que o presépio tem a nos ensinar - Flos Carmeli vídeos - 2017.
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