"Ronins eram samurais que haviam perdidos seus senhores (daimyo), viviam, às vezes, como mercenários ou mesmo como bandidos."
Do outro lado do mundo, nas Filipinas, em 1582, em Cagayán, aconteceu uma luta inusitada, provavelmente, a única na história, na qual estavam de um lado, a katana e de outro lado, o acero toledano. Cuidavam-se de duas escolas completamente diferentes da arte de guerrear, uma espanhola; outra, japonesa.
Nesta época, fins do séc. XVI, era o início da excelente colonização espanhola nas Filipinas, que transformou um povo descrente, portador de hábitos incivilizados, em católicos; cidades foram fundadas, universidades foram criadas, igrejas e mosteiros foram edificados, um barroco típico surgiu etc.
Porém, os japoneses faziam comércio e dominavam áreas costeiras das Filipinas, nessa ocasião, agindo como piratas; e normalmente, sempre abusavam das populações nativas, coisa infelizmente tradicional no Império do Sol Nascente, haja vista os abusos cometidos por eles contra os povos subjugados no contexto do Império Colonial Japonês, no qual, coreanos, chineses etc. sofreram brutalmente.
É importante dizer que estas barbaridades decorriam do paganismo e não pelo fato de serem japoneses, aliás boa parte deste povo recebeu bem a fé católica no séc. XVI (levada pelo apostolado de Portugal) e com bravura e martírio, os japoneses conversos enfrentaram brutal perseguição dos compatriotas de alma pagã.
Ronins eram samurais que haviam perdidos seus senhores (daimyo), viviam, às vezes, como mercenários ou mesmo como bandidos. Aliás, mesmo entre os samurais, houve os que abandonavam o bushido (código de honra), praticavam abusos, mudavam de lado nas guerras, faziam chantagens e agiam como mercenários ou ladrões.
Pois bem, em 1582, certos ronins piratas, por volta de 1.000, liderados por Tay Fusa atormentavam a costa filipina e como isto atrapalhava os objetivos dos espanhóis nas Filipinas, estes resolveram colocar os piratas para correr e impedir que voltassem.
Juan Pablo de Carrión, de 69 anos, foi encarregado desta missão, porém, conseguiu reunir apenas 40 ou 50 homens. Poderia enfrentar os japoneses com tamanha desproporção de forças? Como era de costume na Espanha, o número era ignorado.
Sucederam-se, então, batalhas no mar e em terra, precedida do grito de guerra: “Santiago”! Ambos os lados tinham espadas (a katana de um lado e o acero toledano de outro) e armas de fogo, os japoneses tinham arcabuzes portugueses.
Com melhor técnica, os espanhóis conseguiram, após várias manobras, derrotar no mar os japoneses, o que incluiu até invasão do barco inimigo por parte dos espanhóis. Nestes embates marítimos, muitos japoneses pularam no mar e se afogaram.
Na sequência, houve desembarque, os espanhóis montaram posição em terra e os japoneses, por volta de 600 homens, tentaram negociar rendição mediante indenização, mas isto foi recusado. Houve, então, uma luta de 600 contra 40! E impressionante, os espanhóis venceram! Os japoneses literalmente fugiram, mas os espanhóis foram atrás deles ainda derrubando alguns até a expulsão definitiva do território.
Sem dúvida nenhuma, uma vitória espetacular com alma da Reconquista.
Depois disto, os episódios de pirataria rarearam bastante e os japoneses só voltaram com força nas Filipinas, no contexto da Segunda Guerra Mundial.
O acero toledano venceu a katana, o catolicismo reinou, em mais um caso de sucesso da aliança entre a espada e a cruz. O Império onde nunca o sol se põe venceu o Império do sol nascente.
São Paulo, 6 de outubro de 2019
Marcelo Andrade
Fonte: https://floscarmeliestudos.com.br/as-espadas-do-fim-do-mundo/
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