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Plinio Corrêa de Oliveira |
A Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes
Guararapes foi construída nas primeiras décadas do século XVII, nas terras
doadas pelo capitão Alexandre Moura, o proprietário do Engenho Guararapes, no
atual município de Jaboatão dos Guararapes.
No topo daquelas mesmas terras, nos anos de 1648 e
1649, os luso-brasileiros comandados por João Fernandes Vieira, André Vidal de
Negreiros, Filipe Camarão e Antônio da Silva travaram as batalhas decisivas
contra os protestantes holandeses. Em 1654, os batavos abandonariam para sempre
o Nordeste do Brasil.
Agradecendo à vitória conseguida, o general
Francisco Barreto de Menezes solicitou a construção de uma pequena capela,
dentro da própria Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes,
em louvor a Nossa Senhora dos Prazeres. Nas paredes da capela mor, estão os
restos mortais de dois dos heróis dos Guararapes: João Fernandes Vieira e André
Vidal de Negreiros.
“A 19 de fevereiro de 1649 deu-se nos Montes dos
Guararapes a segunda grande vitória dos insurretos pernambucanos sobre os
hereges flamengos, graças à proteção da Virgem que, dando-lhes ânimo e ardor,
fê-los derrotar o exército herético, muito superior em número ao dos
católicos”.
Eu não posso deixar de fazer uma observação sobre
este particular: graças a Nossa Senhora dos Prazeres de Guararapes, os
exércitos católicos de luso-pernambucanos derrotaram o exercito herético que
era muito maior.
A Igreja militante tem
sua história militar. Quer
dizer, a história de seus feitos em campo de batalha, inspirados pela causa d’Ela,
levados a cabo por Seus filhos, guiados e cobertos de indulgências por
Prelados, Papas, santos convocados para isso, protegidos pelos Anjos e por
Nossa Senhora em campo de batalha. Isto faz parte, pois, da história militar da
Igreja, na qual vemos constantemente fatos como esse de Guararapes, em que católicos lutam contra exércitos consideravelmente
maiores.
Qual é o significado
desta característica? Deus
não poderia evitar que o adversário tão freqüentemente tivesse mais força do
que os católicos? Não poderia fazer com que tivéssemos duas vezes mais força do
que o adversário? Não seria uma coisa tão bonita comparecer em campo de
batalha, raso, liso e aberto, duas vezes mais católicos do que sarracenos,
calvinistas ou luteranos, etc. e derrotá-los?
Como um general orgulhoso poderia ficar contente no
fim do dia de uma batalha assim! Ele rememoraria o combate e diria: “Bonum
certamem certavit – eu combati o bom combate; eu tinha um inimigo inferior a
mim; eu dispus as tropas de tal maneira, elas marcharam de tal outro modo;
quando chegou no momento de eu as passar em revista elas gritavam (e até agora
eu me lembro disso...): ‘viva o nosso grande general!’ Minhas
plumas e as minhas bandeiras estavam ao vento, eu as via sacudidas pela brisa
da vitória. Depois – não estou me colocando na perspectiva da batalha dos
Guararapes – demos a ofensiva, meus canhões atiraram aquelas bombas
incandescentes; meu plano se executou ponto por ponto! E na hora em que eu quis,
na hora do meu plano, o meu inimigo, dobrado pela minha mão de ferro, pediu a
cessação das hostilidades no ponto em que imaginei. Que linda vitória, que
coisa maravilhosa!...”
Isto é mais bonito ou menos bonito do que uma
narração diferente? E os senhores já estão imaginando como seria a outra
narração:
“Somos menos numerosos do que os adversários. Vamos
fazer uma disposição de tropas a mais sapiencial que se possa imaginar. Vamos
nos aplicar, nos empenhar em lutar com todas as forças, mas é mais ou menos certo
que seremos derrotados. Porém vamos voltar nossos olhos para Nossa Senhora, e
aquilo que nossas poucas forças não conseguirem, Nossa Senhora conseguirá! Ela
não nos apoiará se não lutarmos até à última gota de nosso sangue, é bem
verdade, mas não nos basta a última gota de nosso sangue derramado: é preciso
muito mais! Entretanto, em certo momento em que tudo parecer perdido, em que os
planos pessimistas se confirmarem, alguém no meu exército - e não serei eu –
dará um brado, e será um soldado anônimo que dirá: ‘São Miguel, valei à nação
lusa sempre fiel’. E os outros replicarão: ‘São Miguel, protegei os índios
novos cristãos, mas que são fiéis à vossa Igreja em lugar desses apóstatas’. E
neste momento algo de enigmático se passará e fugirão os inimigos da Igreja
Católica, Apostólica, Romana.”
Qual das duas batalhas é a mais bonita? Os senhores
já estão vendo...
Para o general orgulhoso, pretensioso, é a primeira
batalha. Ele previu tudo, ele sabia tudo, ele podia tudo, e tudo aconteceu
inexoravelmente como ele queria... A segunda batalha é para o general católico
e humilde, que poderá dizer: “Com o
favor de Nossa Senhora, fiz tudo, deitei até a última gota de meu sangue,
é verdade. Mas que beleza quando o sobrenatural rasgou os
céus, em que uma força invencível desceu e que os próprios Anjos vieram lutar
ao meu lado! que maravilha quando passei de general a soldado raso de São
Miguel Arcanjo! E em que ele – por causa da lucidez de sua inteligência
angélica – abriu uma frente de combate em que eu não havia pensado, e
assim ele ganhou a vitória da qual eu fui um pobre instrumento. Dobro os
joelhos em terra e canto o Magnificat e o Te Deum.”
Esta é a vitória católica que se repete constantemente
na história militar da Igreja e que se repete nesta gloriosa e tão querida
batalha dos Guararapes, em que se conseguiu expulsar esse quisto trazido por
aqueles holandeses, de maneira a obter a integridade da população nacional e,
com a integridade da população nacional, a integridade da fé católica,
apostólica e romana.
Acho que nunca será suficiente nós insistirmos sobre a beleza maior do papel da
graça do que do mero emprego dos recursos da natureza.
Se alguma coisa eu devesse acrescentar, diria o seguinte:
em geral os historiadores apresentam as narrações das batalhas de um modo
científico, mas omitem o estado de espírito dos tais grandes generais que
resolveram vencer na hora certa, que fazem, acontecem, pretensiosos
extraordinários. Pois quase todos foram guiados por uma certa intuição que eles
chamam a sua “estrela”, e que provavelmente é uma comunicação com algo de não
sobrenatural que tinham.
Napoleão mesmo, ditando suas memórias em Santa
Helena, falando a respeito do declínio de sua carreira militar, dizia: Fui
derrotado por isto, por aquilo e por aquilo outro. Sobretudo notei, a partir de
tal ponto - eu não me lembro qual era – que minha estrela estava em declínio.
Os senhores vêem que esses tais generais tem a
noção da superstição deles, que depois não é apresentada pelo historiador tolo, que faz apenas a
descrição do que se passou na ordem da natureza, sem levar em consideração o
aspecto dos imponderáveis. Na realidade, quando se aprofunda na análise de tais
relatos, eles mesmos tinham lá seus lumes tutelares, em geral preternaturais,
uma vez ou outra sobrenaturais, em função dos quais eles deitavam toda a
confiança de sua vitória.
Aqui fica, portanto, uma reflexão sobre um ponto a respeito do qual
jamais será suficiente insistir.
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