Dom Lourenço Fleichman OSB
(…)
“Porque toda a ação do atual bispo de
Roma, como ele gosta de se nomear, parece ter esse objetivo: tratar das coisas
de modo naturalista, horizontal. Seu modo de ser é de atitudes que poderiam vir
de um Ghandi, ou de um Luther King, mas não poderia ser a de São Francisco de
Assis, do Cura d´Ars, ou de um São Francisco de Sales. A santidade, o espírito
sobrenatural que sobra nesses grandes santos, falta na simplicidade humanitária
de Francisco I.
Tampouco devemos nos escandalizar
demasiado, visto que rezar em árabe, ou ouvir orações dos hereges inimigos da
Igreja dentro do Vaticano não representa nada de novo no mundo da nova igreja
ecumênica de Vaticano II.
No Editorial da Revista Permanência 274,
que acaba de ser lançada, eu trato da atuação do Cardeal Kasper, junto com o
próprio papa, na destruição da família, do matrimônio católico.
Quando eu escrevi o Editorial não havia
acontecido esta reuniaozinha demoníaca.
Ela me inclina a considerar a crise da
Igreja sob um aspecto novo, conseqüência do sofrimento gigantesco que tem sido
a apostasia de tantos bispos, padres e fiéis espalhados pelo mundo todo. Muitos
já escreveram sobre a Paixão da Igreja. De Gustavo Corção, na década de 70, a
Dom Marcel Lefebvre, nos anos 80, e depois, na pluma de muitos padres da
Tradição.
Parece claro que Nosso Senhor quis levar
a sua Esposa, a Santa Igreja, a sofrer algo semelhante ao que Ele mesmo sofreu
em sua Paixão. Como Jesus Cristo, a Igreja está sendo desfigurada há mais de 50
anos. Apresenta-se de tal forma flagelada em todo o seu Corpo, que mais parece
uma Esposa das Dores, sem beleza, irreconhecível.
Parece, de fato, possível, descrever a
Paixão da Igreja nos mesmos moldes usados por Isaías para profetizar sobre a
Paixão de Cristo, ou na descrição impressionante do Salmo 21 sobre o Cristo
padecente. Assim vive a Igreja desde os anos 60, desde a morte do papa Pio XII,
ocorrida em outubro de 1958.
Nesse ponto nos deparamos com o medo
terrível de alguns autores de lidar com esta situação que me parece ser mais
real do que metafórica. Nesse ponto desviam a atenção da realidade, afirmando
que “as portas do Inferno não prevalecerão sobre ela” (S. Mateus, 16, 18), logo
a crise há de passar e tudo voltará ao normal.
Me parece que não podemos agir assim.
Porque Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, é mais divino do que a sua Igreja. Ele
aceitou sofrer a Paixão medonha e iníqua para nos salvar. Mas foi além. Aceitou
a morte. Ora, afirmar que a Igreja não pode morrer porque as portas do Inferno
teriam prevalecido sobre ela, é o mesmo de afirmar que as portas do Inferno
prevaleceram contra Cristo, o que seria uma grande heresia e uma blasfêmia.
Nós sabemos que Cristo morreu por nossos
pecados, ressuscitou ao terceiro dia, e a morte não terá mais império sobre
ele. Logo, podemos sim, afirmar que a Igreja poderá passar pela morte, já que é
evidente que ela passa pela Paixão.
A questão
seria, pois, de compreender em que consiste essa morte da Igreja. Morte de tal
forma eficaz e fecunda que representaria para a vida social do Corpo Místico de
Cristo, o que a morte física de Nosso Senhor representou para o início do
Cristianismo. Porque Cristo morreu no início da obra da nossa Redenção; a
Igreja morreria no fim dela. Jesus Cristo morreu para apagar e extirpar do
mundo o Pecado original e suas conseqüências; a Igreja morreria para apagar e
extirpar do mundo o Pecado terminal, essa realidade imaginada pelo gênio de
Gustavo Corção no final do seu livro O Século do Nada, e
que consistiria na obra da grande apostasia, último lance do demônio antes do
grande combate de Nosso Senhor contra o Anti-Cristo.
Levemos nossa reflexão adiante, e
consideremos que a morte de Nosso Senhor foi um acontecimento da sua natureza
humana. De fato, Deus não morre. Jesus não morreu enquanto Deus, mas apenas
enquanto homem. Morreu depois de ter ficado completamente desfigurado,
irreconhecível, sem beleza, ou seja, sem que nada no seu Corpo manifestasse a
Divindade que permanecia ali escondida, apagada, mas viva. Nessa hora Jesus
lança seu último brado, oferece ao Pai o seu espírito, dá o último sopro de sua
vida natural. Morre a natureza humana.
Levemos, pois, essa comparação à vida da
Igreja. Como dissemos, há 50 anos que a Igreja é flagelada, desfigurada,
cuspida, pregada a uma dura Cruz, que foi apagando dela toda beleza, ou seja,
toda manifestação da sua seiva divina, da sua santidade, do seu sacerdócio, dos
seus Sacramentos. Tudo isso foi demolido, vilipendiado, rebaixado e
dessacralizado. A Paixão da Igreja nos mostra a Esposa de Cristo nua como
Cristo na Cruz. Seus sacramentos já não são integralmente católicos, a pregação
dos padres já não converte ninguém, a vida sacerdotal e religiosa está muito
longe da santidade, e tudo se resume num amálgama rasteiro e sem vida
sobrenatural.
Nesse momento, a morte da Igreja poderia
advir pelo extermínio do sopro de vida humana que ainda lhe restaria. Cristo
morreu assim, a Igreja pode, muito bem, morrer também. No momento em que a vida
divina já não aparece mais, basta cessar a vida natural e humana, e a Igreja já
não viveria mais.
Ora, me parece que a obra do papa
Francisco consiste em tirar do resto de vida que ainda restava na Igreja, seu
sopro natural. Levantou-se este estranho papa contra tudo o que é natural, as
únicas coisas que ainda restavam na pregação dos seus predecessores.
Sobre o aborto, ele afirmou que não
devemos mais tratar desse assunto;
Sobre o adultério, ele afirmou que não
se deve mais imputar o pecado, podendo comungar os divorciados que vivem em
novo casamento.
Sobre a família, ele afirmou, ao
aplaudir o discurso do Card. Kasper, que é preciso aceitar essa nova família do
mundo moderno, regida pelo divórcio.
Sobre os graves pecados contra a
natureza, ele induziu a sua prática ao afirmar que um padre não pode julgar o
pecado de homossexualidade.
Sobre a Religião, sobre o culto que se
deve prestar ao único e verdadeiro Deus, ele confirmou o ecumenismo de João
Paulo II e de Bento XVI, retirando da Igreja até mesmo o pouco de prevalência
que os outros ainda guardavam para ela.
Os papas que o precederam na obra
nefasta de Vaticano II não ousaram negar a verdade da natureza das coisas.
Demoliram a seiva sobrenatural, mas guardaram, ao menos tentaram guardar, a
família, a luta contra o aborto, a condenação dos atos sexuais contra a
natureza etc.
O que restava de vida natural na Igreja
está desaparecendo. E não restará mais nada.
Nossa Esperança sobrenatural, no
entanto, não nos permite desanimar. Ao contrário. Não sejamos fracos como foram
os Apóstolos, que fugiram diante da morte de Cristo, e iam tristes pelo
caminho, ou se esconderam no Cenáculo com medo dos judeus. Porque Cristo
ressuscitou ao terceiro dia. A Igreja, ela também ressuscitará. A vida divina
que não a abandona, mesmo quando o Corpo humano da Igreja morre como Cristo
morreu, ressurgirá da morte para uma vida nova.
Então estaremos no júbilo e na alegria.
A Santa Igreja se apresentará a nós em seu Corpo glorioso, como Jesus se
apresentou diante dos Apóstolos e de seus discípulos. Então terá chegada a hora
do derradeiro combate contra o Anti-Cristo, e Jesus o derrotará, enfim, com o
sopro da sua boca”.
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