A
corrupção generalizada é de fato um mal que assola o Brasil há décadas, não
sendo exclusividade de um partido ou de um grupo. Contudo, é o cúmulo da
sordidez utilizar a corrupção endêmica e generalizada como artifício para
desviar a culpa de grupos e partidos que verdadeiramente tem culpa. O fato de o
PT não ser exclusivamente culpado não significa que não tenha nenhuma culpa. O
fato de não serem autores ou causadores da corrupção endêmica, sistemática e
institucionalizada no Brasil, não significa que não tenha que ser punido ou
investigado por seu roubo endêmico, sistemático e institucionalizado. Acusam
FHC, PSDB, ditadura militar e multinacionais, mas não se admite a culpa do PT e
seus líderes; ao contrário, estes fazem ato em defesa da Petrobrás, afirmam que
há uma luta para incriminar o PT e ameaçam guerra, como se o partido fosse um
poço de inocência.
O fato torna-se agravante porque o
PT se intitulava o partido da ética no começo da década de 1990; ainda porque a
liderança do PT na Câmara dos Deputados em 2002 elaborou o documento "O Brasil não esquecerá - 45 escândalos que marcaram o governo FHC/PSDB".
Porém, repetiram ampliadamente no mínimo a metade dos erros de que acusam
outros corruptos, levando a cabo o velho preceito de Lenin “xingue-os do que
você é, acuse-os do que você faz”.
A política no Brasil é realmente um
poço de lama. Obviamente, a corrupção institucionalizada tem origem anterior à
ditadura militar e não é causada por multinacionais que entraram no Brasil na
época. Quais multinacionais estão envolvidas em escândalos? A Hyundai? A BP? A
Honda? A Ford? A Mercedes-Benz? Ao contrário, tais empresas e muitas outras
geram emprego e renda para o povo, além de impostos para os governos;
desenvolvem tecnologia e participam diretamente do avanço sócio-econômico do
Brasil nos últimos anos. Não resta dúvida de que muitas pagam baixos salários a
seus funcionários, sonegam impostos, formam cartéis e cometem outras
irregularidades. Então que se identifique os culpados e os punam, mas colocar
neles a culpa pela corrupção endêmica da política no Brasil?
Antes disso, é necessário
compreender o que está implícito na afirmação de que a origem da
institucionalização da corrupção no Brasil é de multinacionais que entraram no
país durante o governo militar, a saber: fazer recair a culpa dos problemas
atuais na ditadura militar, sendo todo o resto conseqüência daquele período.
Seríamos tão inocentes a ponto de acreditar que antes do regime militar não
havia corrupção na política brasileira? Agora se torna oportuno esquecer todas
as mazelas da República Velha? Ademais, o início da abertura do Brasil ao
capital estrangeiro foi no governo de Juscelino Kubsticheck de Oliveira, quase
uma década antes do início do período militar.
Por fim, utilizam a reforma política
como um prato cheio para desviar a atenção do Petrolão, sob argumentos de que o
problema da corrupção no Brasil não é culpa do PT e sim do sistema eleitoral. Para
começar, o roubo bilionário na Petrobrás não foi realizado para financiar
eleições, e sim para financiar apoio de parlamentares para o governo federal.
Ademais, não só no caso da Petrobrás, mas na maioria dos casos de corrupção
envolvendo a prestação de serviços públicos realizado por empresas sob
concessão do governo, não há multinacionais extorquindo os governos, mas
empresas ligadas a políticos (ou empresas de fachada) que existem em função de
superfaturar obras e serviços para fortalecer os caixas de partidos ou
enriquecer políticos.
É necessário esclarecer ainda que desde
o período imperial as eleições no Brasil são fraudadas (lembrando que neste período
havia eleições para deputados). O fim da monarquia, as ditaduras, a
redemocratização e as diversas constituições, especialmente a “constituição
cidadã” de 1988 não conseguiram resolver o problema. O que faz a classe falante
e os políticos brasileiros pensarem que esta reforma política resolverá? O
financiamento público de campanhas não as tornaria mais baratas, ao contrário,
tornaria os produtos e serviços realizados no Brasil ainda mais onerosos, visto
que neles incidiriam impostos a fim de financiar as campanhas. Além disso, o
que impediria os partidos de fazer caixa 2? A lei? A moral? A Justiça? O medo
da punição?
Fica evidente, portanto, que o
Brasil carece sim de uma reforma, mas esta é intelectual e moral antes de ser política
e eleitoral, visto que são mentes sadias e espíritos retos que agigantam o
destino de uma nação; a corrupção é endêmica e sistemática e não foi
institucionalizada pelo PT ou PSDB, mas nas últimas décadas, os governos destes
partidos roubaram endêmica e sistematicamente o Brasil, o que não coloca em pé
de igualdade escândalos do Mensalão e do Petrolão com escândalos anteriores,
pois aqueles estão entre os piores casos de corrupção no país. Triste é saber
que as pessoas envolvidas em tais casos seguirão impunes, a corrupção
continuará um problema endêmico, sistemático e institucionalizado e que a
reforma política e eleitoral suplantará a restauração intelectual e moral do
povo brasileiro.
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