Nós, a quem o Príncipe dos Pastores constituiu Pastor e guarda destas inumeráveis ovelhas, remidas com o Seu Sangue, não podemos contemplar a olhos enxutos o gravíssimo perigo que correm. Lembrados do nosso dever pastoral, com solicitude paternal, meditamos contìnuamente no modo de as ajudar, chamando em auxílio o zelo indefesso dos que a isso estão obrigados por justiça ou caridade. Pois que aproveita aos homens poderem fàcilmente lucrar o mundo inteiro, com uma distribuição e uso mais racional das riquezas, se com isso vêm a perder a sua alma? Que aproveita ensinar-lhes os princípios da boa economia, se com avareza sólida e desenfreada se deixam arrebatar de tal maneira do amor dos próprios bens, que ouvindo os Mandamentos do Senhor – fazem o contrário?
A raiz e fonte desta defecção da Lei Cristã na vida social e económica, e da consequente apostasia da Fé Católica para muitos operários, é a desordem das paixões, triste efeito do pecado original; foi ele que destruiu a admirável harmonia das faculdades humanas, e dispõe o homem a deixar-se arrastar fàcilmente pelas más paixões, e a preferir os bens caducos da Terra aos Eternos do Céu.»
Cada um de nós só pode ser aquele que é, e não qualquer outro. Cada um de nós só podia ter nascido no seu próprio tempo, no seu próprio espaço, e com a sua própria e determinada genealogia – e não qualquer outra.
As almas não são criadas para depois serem unidas aos corpos; o objecto da Criação Divina é o composto corpo-alma, como que recriado a partir da base genética dos progenitores.
As almas só se diferenciam, incluindo na sua identidade sexual, através dos corpos, e nos corpos, dos quais constituem a forma espiritual, enquanto substâncias, enquanto inorgânicos e enquanto vivos.
A união do corpo e da alma, antes de ser ontológica, é transcendental; após a morte ocorre uma separação ontológica, mas persiste a união transcendental, a qual constitui, precisamente, o objecto onde actua a omnipotência Divina para operar a Ressureição Final. Tal união transcendental permite ainda compreender a conservação da identidade do Corpo Sagrado de Nosso Senhor Jesus Cristo, depois da Sua morte e antes da Ressureição; além de que o Verbo de Deus continuou hipostàticamente unido ao Corpo e à Alma. São Tomás de Aquino explica, que se fosse celebrado o Santo Sacrifício da Missa, durante o tempo em que Nosso Senhor permanecia no sepulcro, sob a espécie de Pão estaria só o Sagrado Corpo do Senhor, e sob a espécie do vinho estaria só o Preciosíssimo Sangue, mas a alma do Senhor, ontològicamente separada do Corpo, não estaria na Sagrada Eucaristia. É Doutrina da Santa Madre Igreja, que o Sangue do Senhor, vertido durante a Sua Paixão e Morte, foi integralmente recolhido na Ressurreição, porque continuava hipostàticamente unido ao Verbo de Deus.
O Catecismo de São Pio X, à questão: Para que me criou Deus?
Responde: Deus criou-vos para O conhecerdes, O amardes, e servirdes, nesta vida, e para O gozardes eternamente na outra vida. Efectivamente, NÓS NÃO VIEMOS AO MUNDO POR UM ACASO BIOLÓGICO. A NOSSA EXISTÊNCIA, COM TODAS AS SUAS VICISSITUDES, FOI OBJECTO DA INTELIGÊNCIA E DA VONTADE ETERNA DE DEUS.
NÃO EXISTE LIBERDADE HUMANA FORA DA INTELIGÊNCIA E DA VONTADE DIVINA. A liberdade, também psicológica, de toda a criatura espiritual, NÃO CONSTITUI UM ABSOLUTO, possui seu último fundamento Metafísico na Inteligência e Vontade Divina.
Toda a nossa vida é conhecida por Deus, Eternamente, e com ilimitada resolução. Nenhuma decisão nossa pode jamais “surpreender” a Deus, todavia tal não elimina a nossa liberdade, pois esta, como já se afirmou, depende totalmente de Deus, da Sua Inteligência e da Sua Vontade.
Deus e o homem, não devem ser concebidos como duas entidades finitas, em relação fenomenal recíproca, de forma que quanto mais age uma delas, menos amplitude permanece para a outra; não; Deus não constitui uma entidade intramundana, concorrendo evolutivamente para a transformação das realidades e dos entes contingentes; DEUS SITUA-SE INFINITAMENTE ACIMA DAS CAUSAS CRIADAS; CONSEQUENTEMENTE A RAZÃO TRANCENDENTAL E METAFÍSICA, ÚLTIMA, DO COMPORTAMENTO DESTAS, SÓ PODE RESIDIR EM DEUS, MESMO TRATANDO-SE DA LIBERDADE HUMANA, QUE APENAS NA ASSEIDADE DIVINA ENCONTRA A SUA RAZÃO DE SER.
A nossa vida mortal possui assim um valor transcendente, cuja causa exemplar, causa eficiente, causa instrumental e causa final, RESIDE EM NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.
Causa exemplar: Na exacta medida em que Nosso Senhor, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, percorreu todos os caminhos de um homem mortal, excepto no pecado, ou em qualquer espécie de imperfeição moral; mas igualmente isento de qualquer imperfeição física ou intelectual, INTRÌNSECAMENTE, decorrente do pecado original; já que Nosso Senhor assumiu, EXTRÌNSECAMENTE, as imperfeições da natureza num mundo ferido pelo pecado de Adão e Eva. Nosso Senhor sentiu todo o peso da miséria ontológica da condição humana; todas as Acções e Palavras do Senhor consubstanciam a INFINITA RIQUEZA DA VIDA DIVINA, TORNADA TAMBÉM VIDA HUMANA, NO SEIO DO MUNDO PECADOR; todos os gestos do Senhor constituem causa exemplar absoluta da nossa pobre vida, de todas as vidas, em qualquer época, em qualquer lugar, e em quaisquer circunstâncias. Quaisquer que sejam as vicissitudes da nossa vida, sempre encontraremos nos Santos Evangelhos, salutar e soberana ilustração Sobrenatural, aconselhamento amigo, d’Aquele que sendo Deus, se tornou Um de nós, para nos salvar, isto é, para nos levar até Ele – Eternamente.
Causa eficiente: Pois que, enquanto Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo é o Criador de todos os Anjos e todos os Homens, na Ordem Natural, e na Ordem Sobrenatural, a Causa Principal de todas as Graças, de todos os Sacramentos, a começar pelo Santo Sacrifício da Missa, de todos os milagres, considerados em sentido estrito, bem como de todos os benefícios Sobrenaturais dispensados às criaturas espirituais, e será a Causa Principal da Ressurreição da carne, no último dia.
Causa Instrumental: Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto Homem, é Causa Instrumental Primária e eminente de todas as Graças Sacramentais, bem como do Santo Sacrifício da Missa, enquanto Sacerdote e enquanto Vítima, e será a Causa Instrumental eminente da Ressurreição da carne, no último dia.
Causa Final: O Princípio de Tudo, constituirá também o Fim de Tudo, nomeadamente, formalmente, da criatura espiritual. O Verbo de Deus fez-Se Homem, para que os homens atingissem por meios Sobrenaturais, o seu Fim Celestial – a participação acidental na Glória Infinita da Trindade Santíssima.
Quem se atreverá a proclamar que a vida humana não tem sentido? Evidentemente, considerada, abstractamente, como privada dos Bens Divinos, mesmo naturais, a vida, em si mesma, não possuiria qualquer sentido, e então, talvez, o mais lógico fosse disparar todos os engenhos nucleares que existem, para liquidar definitivamente um sofrimento colectivo inútil e absurdo; embora cumpra assinalar, que no plano rigorosamente metafísico, na base do ateísmo, é impossível o suicídio, pois na ausência de Ser não se pode fundamentar uma operação em ordem a um fim.
Mas não: Por muito mau que o mundo moralmente seja, haverá sempre um “resto de Javé” irreversìvelmente fiel ao Deus Santo; e esta constitui, aliás, uma das grandes lições do Antigo Testamento, mas que é universal e perpètuamente válida.
Ensina-nos a Sacrossanta Religião Católica, que com a maior frequência, os mais humildes e desprezados deste vale de lágrimas, são precisamente aqueles cujas vidas, e cujos pensamentos, palavras e obras, melhor reflectem a Imagem Sobrenatural de Nosso Senhor Jesus Cristo, porquanto na sua exiguidade humana e terrena, ocultam na sua alma os Bens, e a própria felicidade do Céu; e no seu anonimato suplicante, constituem muitas vezes verdadeiros pára-raios das Divinas vinganças, expiando, na Terra, faltas que são de outros, e irradiando no lume ardente da sua Caridade, as infinitas e beatíficas maravilhas, que segundo São Paulo: “Nenhum olho viu, nenhum ouvido ouviu, nem jamais passou pela mente do homem”.
As vidas dos santos constituem o maior testemunho de que nenhum homem nascerá e viverá jamais em vão, enquanto souber amar Sobrenaturalmente a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo por amor de Deus; e na Cruz terrena da sua vida fizer resplandecer aquele Tesouro Sobrenatural que poder algum deste pobre mundo lhe poderá arrebatar.
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