Deus é Infinito, e absolutamente transcendente ao mundo; mesmo depois da Revelação Sobrenatural, mesmo com o auxílio da Graça, o homem mortal, em virtude do pecado original, sentirá sempre, em maior ou menor grau, uma opacidade, que proveniente do mundo, do corpo, e até do demónio, lhe procurará afastá-lo de Deus, projectando-o para a Terra e para a vida dos sentidos, e das vaidades do mundo. Sòmente Maria Santíssima viveu sempre livre desse vínculo terreno, por Graça especialíssima de seu Divino Filho. Mesmo os maiores santos, ao menos enquanto principiantes nos caminhos de Deus, tiveram de empregar toda a sua energia (que lhes vinha de Deus) para vencer esse vínculo terreno, embora posteriormente conquistassem (não por esforço natural, mas por obra da Graça) aquela Paz Sobrenatural, na qual o cumprimento da Lei Divina constitui fonte de uma inefável felicidade.
Mas o que é a felicidade?
Trata-se de uma questão assaz ventilada pelo mundo, quase sempre pelas piores razões. Poder-se-ia responder, em termos rigorosamente filosóficos, que a felicidade constitui como que uma plenitude dos entes, quando encontram realizados – na sua finitude, na sua dispersão, e aparente fragmentação – os objectivos a que legìtimamente aspiram – NÃO EXISTE VERDADEIRA FELICIDADE NO ERRO E NO MAL, APENAS UMA APARÊNCIA. Logo, segundo o liberalismo, haveria tantas “felicidades” quantas as aspirações radicadas nos entes racionais, quaisquer que elas fossem; visto que a “felicidade animal” resulta apenas da implementação sensitiva dos instintos, os quais constituem, em si mesmos, um princípio de Ordem.
O liberalismo utilitarista assimila a felicidade a uma satisfação individualista de valores próprios, sem referência alguma a um Padrão Objectivo e Transcendente. John Stuart Mill (1806-1873), patriarca do liberalismo de tradição inglesa, afirmou na sua obra “On Liberty”: “Se toda a humanidade, menos um indivíduo, professasse uma determinada opinião, e esse indivíduo professasse a opinião oposta; a humanidade não teria mais direito a impor a sua opinião ao indivíduo, do que este, se acaso pudesse, teria de impor a sua opinião à humanidade.”
Lamentàvelmente, quando se trata da Fé Católica, NÃO EXISTE O CONCEITO DE OPINIÃO – SÒMENTE EXISTE A VERDADE OBJECTIVA E O ERRO. O problema é precisamente este – AS OPINIÕES PERTENCEM AO MUNDO, EXPRIMEM O MUNDO NA SUA RELATIVIDADE; E NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, QUE É O CAMINHO A VERDADE E A VIDA – VENCEU O MUNDO.
A Criação, por necessidade metafísica, exprime numa pluralidade contingente de Géneros, Espécies e Indivíduos, tanto quanto é possível, as riquezas infinitas de Deus Uno e Trino. Não foi por um acto de vontade, puramente arbitrário, de Deus, que na Criação existe tão grande variedade de entes; certamente Deus poderia criar, ou não criar, poderia criar um tipo de mundo de preferência a outro; todavia a essência mesma do Acto Criador, exige, metafìsicamente, que as maravilhas Incriadas sejam expressas por uma harmoniosa diversidade. É precisamente aqui que surge o problema do mal moral, que Deus não quer, em si mesmo considerado, porque é privação qualificada de ser, mas que permite na unidade do Todo, na exacta medida em que, no conjunto, o Bem ressalta mais ostensivamente por contraste com o mal.
Precisamente porque os entes possuem Metafìsica e Teològicamente uma origem comum – pois que todos foram criados por Deus Nosso Senhor, e devem-n’O glorificar, fundamentalmente, pelo Conhecimento e pelo Amor – então a felicidade, em sentido ontológico, desses entes espirituais, só pode consubstanciar-se no acordo mútuo, numa sã e plurifacetada socialização, igualmente pela qualificação no conhecimento e no amor, MAS SEMPRE SEGUNDO A LEI ETERNA, FONTE COMUM DE TODA A ORDEM, CRIADA OU POSSÍVEL. Assinala-se deste modo, a VIRTUDE SOBRENATURAL, COMO FUNDAMENTO DA VERDADEIRA FELICIDADE, DAQUELES ENTES QUE SE REGULAM PELA FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE. E NESTE ENQUADRAMENTO, LÓGICAMENTE, A FELICIDADE TERRENA DOS ENTES VIRTUOSOS SERÁ PERFEITAMENTE HOMOGÉNEA COM A FELICIDADE CELESTE OU BEATITUDE, PORQUE A RAIZ DE AMBAS RESIDE NO AMOR SOBRENATURAL A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS, E AO PRÓXIMO POR AMOR DE DEUS.
Já o filósofo Aristóteles consignara a suprema beatitude terrena como sendo constitutiva da actividade superior da razão.
A felicidade não pode ser concebida como um objectivo EXTRÍNSECO à operação moral, objectivo a ser atingido por meios que LHE NÃO SÃO HOMOGÉNEOS. Não. A felicidade deve constituir a sanção transcendental, natural ou Sobrenatural, para o resultado ontológico de uma actividade segundo as Leis de Deus Nosso Senhor, nosso Criador e Possuidor da Chave das Essências.
O erro fatal, mortal, de todo o liberalismo, como de todo o modernismo, é constitutivo desta PERDA EMINENTE DE SER – CONSIDERAR A OPERAÇÃO DO INDIVÍDUO COMPLETAMENTE DESLIGADA DA SUA PRÓPRIA CONDIÇÃO DE CRIATURA SUBMETIDA ÀS NECESSIDADES TEOLÓGICAS E METAFÍSICAS.
Além disso, a Lei Eterna, segundo o intelectualismo Tomista, é intrínseca e metafìsicamente a própria Essência Divina, Infinitamente Simples, e não resultante de um decreto arbitrário de Deus Criador; daqui decorre que a verdadeira felicidade das criaturas constitui, e só pode constituir, uma função Metafísica do Ser. O próprio Deus Uno e Trino, É INFINITAMENTE FELIZ NA SUA ASSEIDADE, NA SUA ETERNIDADE; PORQUE POSSUI O SER POR SI MESMO, SEM O TER RECEBIDO DE OUTREM. POR ISSO NÃO EXISTE – É.
Nesta perspectiva se configura o quão fundamental é uma recta concepção, natural e Sobrenatural, de Deus Nosso Senhor; o menor erro transtorna e aniquila todo o Dogma, toda a Moral, e toda a sã filosofia.
Quando os modernistas “marcham” contra o aborto – É TUDO CARNAVAL, TUDO APARÊNCIAS, TUDO ENGANO, TUDO HIPOCRISIA SOCIAL. Exactamente, porque uma vez destruído o princípio da Fé Católica, OS DIREITOS E O BEM ESTAR DAS PESSOAS CONCRETAMENTE EXISTENTES, PASSAM LÒGICAMENTE À FRENTE DAQUILO QUE NÃO PODERÁ DEIXAR DE SER CONSIDERADO COMO CONSTITUINDO UM DIREITO HIPOTÉTICO DE UM ENTE EM PROJECTO. TUDO O MAIS É PURA HIPOCRISIA.
A “felicidade” modernista é bem sintetizada pelo ateu Bergoglio no aforismo satânico: VIVE E DEIXA VIVER. Giordano Bruno foi muito sàbiamente executado pela Inquisição Romana (1600) por menos blasfémias do que as proferidas por Bergoglio.
Assim como para a seita conciliar a “fé” cria o seu próprio objecto; assim o indivíduo cria a sua própria “felicidade,”instituindo imanentemente a moldura de valores que a encerra e proporciona. Só que, por infelicidade, tais valores só poderão subsistir como condição da própria aniquilação. Tal como afirmava Monsenhor Lefebvre – NÃO FICA NADA.
A FELICIDADE É SER, TUDO O QUE TRANSPÕE OS LIMITES DO SER ILUDE A VERDADEIRA FELICIDADE, NAUFRAGANDO NO INFERNO.
NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, COM O EXEMPLO DA SUA VIDA MORTAL, DA SUA PAIXÃO E MORTE, EDIFICOU ETERNAMENTE A MURALHA QUE SEPARA TODO O BEM DE TODO O MAL, INDICANDO SOLENEMENTE O SEU AMOR E A SUA GLÓRIA COMO O PRINCÍPIO E O FIM DA FELICIDADE DAS CRIATURAS ESPIRITUAIS, E QUE CONSTITUI PARTICIPAÇÃO FORMAL, SOBRENATURAL, NA PRÓPRIA FELICIDADE DIVINA.
Belíssimo texto...
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