Caso teológico – pastoral – Apoio às
Mulheres Separadas que optaram por permanecer fieis ao Sacramento do Matrimônio
e por isso não contraíram segunda união.
Ao escrever estas
linhas, pretendo alertar especialmente ao Clero Diocesano das muitas
dificuldades porque passa uma mulher que vive desta maneira.
Vivo há 21 anos
esta condição e quero deixar claro que não pretendo defender o meu caso , e sim
lutar por esta causa.
Colocarei algumas
das experiências tristes que vivenciei ao longo destes anos e também as queixas
e mágoas de outras mulheres com as quais tive convivência.
Importante frisar
que a participação do leigo que vive no mundo, contribui para a compreensão das
realidades vigentes, atualizando sempre a Igreja sobre a discussão de temas
importantes, não deixando assim nada abandonado ou esquecido.
É como leiga que
participa e ama a Igreja que pretendo abrir o meu coração.
Penso que a
Igreja se despersonaliza quando concede benefícios para aliviar as
consciência.
Ela deve ser
misericordiosa e acolhedora como Jesus o foi, porém não frágil a ponto de se
perder.
As pastorais devem
sempre seguir a linha da Igreja Romana para não perder o foco levando em conta
demasiadamente o momento histórico, correndo assim o risco de se desvirtuar
perdendo a unidade.
Porque quero defender esta causa
A maioria especialmente
das mulheres que vivem esta situação de opção pela VIDA CELIBATARIA na
fidelidade ao sacramento do matrimonio, que o recolhessem como indissolúvel,
não encontram nas paróquias a que pertencem o apoio e a solidariedade de que
necessitam.
Não há nem espaço,
nem reconhecimento pelas dores do abandono e muito menos pelos esforços de
viver nos dias de hoje uma vida casta pela qual não optou.
Importante saber
que estas mulheres não tem vocação religiosa. Nasceram e são chamadas para
serem esposas e mães, sendo que por muitas vezes assistem a falência de seu
maior projeto que é o de constituir uma família.
Na maioria das
vezes estas mulheres tem culpa sim no processo de separação, principalmente nos
dias de hoje onde elas não são tão heróicas quanto as mulheres cristãs do
passado, mas a grande maioria delas não quer ver a sua família desestruturada.
Não existe pastoral
que cuide destas pessoas. Elas assistem o apoio que as paróquias oferecem nos
casos em que se busca uma segunda união, sendo esta uma tentativa da nossa
Igreja de correr atrás das ovelhas perdidas, oferecendo retiros específicos
para estes casais ou mesmo concedendo cargos de ministros nas suas paróquias e
deixando de lado completamente estas outras.
Muito pelo
contrário o que se ouve dentro das igrejas e muitas vezes por parte até de
pessoas atuantes nas pastorais é a desconfiança e a curiosidade por saber o
motivo que leva alguém a viver desta forma não sendo raro ouvir esta pergunta:
”porque você não se casou de novo?”.
Isto mostra a
ignorância religiosa ou mesmo indiferença pelo sacrifício e dor por que passa
esta pessoa que tem um casamento e uma vida de família desfeita.
Se a igreja
pretende investir na família, primeiramente tem que rever algumas posturas
bastante comuns tais como não ter olhos ou espaço no sentido de valorizar
aqueles que oferecem a Cristo e à Igreja a fidelidade ao sacramento do
matrimônio nas suas vidas.
Os filhos
permanecem unidos e a família embora truncada com a ausência do pai, prossegue
quando a esposa não vê só sua realização como mulher ou como
profissional, mas luta e vive a maternidade responsável, mantendo a família sob
um mesmo teto vivendo no amor, na paciência e na dor solidária.
Inúmeras pessoas
entram com o pedido de nulidade de seu matrimônio para contraírem uma segunda
união na esperança de serem felizes novamente e deparam com uma nova decepção e
arrependimento.
É preciso valorizar
alegria de viver o caminho estreito ficando muitas vezes só, por amor a Deus e
obediência à Igreja, uma vez que esta opção sempre leva à felicidade maior
porque Deus assim o quis e por isso necessita destas pessoas para a construção
do seu Reino
Porque eu fiz esta opção
Tive formação
católica desde criança e sempre conheci a posição da Igreja a respeito da
matéria
O fiz por pura
obediência a Deus e a Igreja.
Sempre achei que
tinha que viver o que acreditava por mais difícil que fosse. (coerência).
Tive apoio integral
de minha família com respaldo emocional e afetivo.
Tive apoio de
amigos que conheci na renovação carismática (em 88 o movimento estava no auge).
Estas pessoas não mediam esforços em me ouvir, me aconselhar, rezando sempre por
mim e demonstrando o amor de Cristo através deles.
Tive um diretor
espiritual excelente do Opus Dei que me estimulava a ter uma atitude heróica
diante do mundo e ao mesmo tempo levantava minha auto-estima mostrando o amor
do Pai e me dizia que este talvez fosse este o meu caminho de santificação, o
que me moveu em grande parte a decidir por esta estrada.
Muitas vezes me
inspirei nos sacerdotes jovens que abriram mão de tudo para servir à Cristo. Eu
não havia optado por tal desprendimento, mas ao observar especialmente estes
sacerdotes fieis me inspirei na coragem deles para inovar numa postura nem um
pouco resignada, porém atuante e contraditória no mundo de hoje.
Mas acima de
qualquer coisa, contei com a graça de Deus. Nunca antes, nem mesmo agora senti de
forma tão concreta o amor do Pai e Sua doce proteção. Este amor era tão
sensível, tão real que se manifestava em pequenos milagres no cotidiano da
minha vida. Assim Ele se mostrava presente e eu não me sentia só.
Nunca fui uma
mulher forte e é por isso que a graça de Deus se fez tão presente em minha vida
de forma tão explícita. Nesta ocasião sempre repetia as palavras de São Paulo:
“tudo posso naquele que me fortalece”.
Comecei a ler a
Sagrada Escritura e pedi a Deus que me fizesse compreender a Sua vontade na
minha vida, e na Palavra encontrava um reforço para as minhas convicções.
Textos que li e que responderam às minhas
inquietações
“é
por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repudio das
mulheres; mas no começo não foi assim. Ora eu vos declaro que todo aquele que
rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimonio falso, e desposa uma outra,
comete adultério. E aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também
adultério.” (Mateus 19, 7).
“todo
aquele que rejeitar sua mulher, dê-lhe carta de divorcio. Eu, porém vos digo:
todo aquele que rejeita a sua mulher, a faz tornar-se adúltera, a não ser que
se trate de matrimonio falso; e todo aquele que desposa uma mulher rejeitada
comete um adultério” (Mateus 5, 31).
“aos
casados mando (não eu, mas o senhor) que a mulher não se separe do marido. E,
se ela estiver separada que fique sem se casar, ou que se reconcilie com seu
marido. Igualmente o marido não repudie a sua mulher” (s. Paulo aos coríntios
7-10à 11).
“quem
repudia sua mulher e se casa com outra, comete adultero contra a primeira. E se
a mulher repudia o marido e se casa com outro, comete adultério.” (marcos
10-11).
“todo
o que abandonar sua mulher e casar com outra, comete adultério; e quem se casar
com a mulher rejeitada comete adultério também” (Lucas 16-18).
E.
“assim a mulher casada está sujeita ao marido pela lei enquanto ela vive; mas,
se o marido morrer, fica desobrigada da lei que a ligava ao marido. Por isso,
enquanto viver o marido, se se tornar mulher de outro, será chamada de
adultera. Porém morrendo o marido, fica desligada da lei, de maneira que, sem
se tornar adúltera, poderá casar-se com outro homem”. (s.Paulo aos romanos 7 –
2e3)
Como se sente uma mulher
que fez esta opção
Muitas mulheres que
conheci e que viveram também esta situação mas que não tinham o apoio afetivo
da família e espiritual da Igreja sucumbiram numa espécie de profunda
depressão.
Uma delas que por
muitos anos tentei ajudar tornou-se viciada em jogos, bebia e fumava muito,
hoje está doente, fazendo hemodiálise e a espera de um rim para transplante.
Esta senhora teve todo o apoio financeiro do ex marido, mas de nada valeu
para curar a dor da rejeição.
Outra senhora que
conheci de família bastante católica começou sua procura de Deus de forma
alucinada, querendo encontrar uma resposta para sua solidão. Andou por todos os
movimentos religiosos da Igreja Católica, tumultuou bastante pois na verdade
não queria o amor de Deus, mas o carinho e compreensão das pessoas. Acabou
virando esotérica e participa de retiros com gurus e a ultima vez que a vi,
achei que estava bastante perturbada.
Uma terceira não
conseguiu superar o trauma apesar de ser também muito católica e contar com a
ajuda de muita gente. Até hoje se sente infeliz e está sempre seduzindo as
pessoas para elevar sua auto estima.
São muitos os casos
que conheço de mulheres que se sentem desta maneira:
1. Excluídas da sociedade pois a maioria dos eventos
são para casais e uma mulher sozinha sempre se sente mal, mesmo que seja bem
acolhida.
2. Excluídas da proteção da lei que rege o direito de
família por que hoje quando há uma separação o juiz diz a esta mulher que ela é
forte, jovem e que vá trabalhar mesmo que nunca tenha trabalhado, ficando para
a outra muitas vezes todos os benefícios de que ela esposa antes usufruía.
3. Excluída da maioria dos movimentos da Igreja:
Equipe de Casais, Casais que trabalham nas Pastorais da Igreja em cursos de
noivos etc.
Estas mulheres têm
que ter uma postura muito austera na Igreja – Paróquia, pois ainda temem os
comentários que surgem quando elas têm uma relação mais cordial com o pároco.
O Pároco por sua
vez deve se acautelar com estas mulheres carentes que muitas vezes encontram no
Sacerdote o homem completo cujo apoio e admiração buscavam nos seus maridos.
Qual seria a
solução para estes casos?
É complicado para o
sacerdote e é arriscado para a mulher rejeitada, como pode a Igreja trabalhar
com isto.
No meu ponto de
vista a Igreja deve:
1. Mencionar a existência destas pessoas e coloca-las
num patamar de dignidade e não de infelizes que precisam de compreensão de toda
a comunidade.
2. Não sugerir de imediato que seu casamento deve ser
nulo para que elas busquem no Tribunal Eclesiástico esta declaração de nulidade
e tentem uma nova relação na qual provavelmente serão tão infelizes quanto
antes, pois muitas vezes o problema está nelas mesmas.
3. Mencionar a importância de viver com respeito esta
condição, pois são como as “Viúvas do Antigo Testamento”, amadas e amparados
por Deus. São as viúvas de marido vivo dos novos tempos.
Depois de conhecida
pelo povo de Deus esta personagem quase sempre camuflada em beata ou amarga
como “Mulher Digna”, só então sugiro uma Pastoral
Para Mulheres Fieis ao Sacramento do Matrimônio.
Esta Pastoral
deverá ser dirigida por uma senhora leiga, bem formada que viva esta situação e
que esteja disposta a dar seu tempo, sua experiência e seu amor às
demais.
O pároco dará um
suporte nesta pastoral e até poderá ser eventualmente o diretor espiritual, mas
nunca aquele que trata diretamente com ela.
Agora que
conheci o Regnum Chisti
Agora trabalhando
no “CENTRO SACERDOTAL BOM PASTOR” que é um apostolado do Regnum à
serviço do clero, comecei a focar meus olhares para o clero diocesano e para as
paróquias que freqüentei ao longo desta caminhada.
Sinto-me na
obrigação de alertar para mais este pequeno detalhe:
Nós leigos
encontramos muitas vezes mais apoio espiritual por parte de sacerdotes de
variados movimentos religiosos do que num pároco ou vigário de uma paróquia.
Penso e aqui vai a
minha indagação: Seria o excesso de trabalho burocrático e a necessidade de se
ordenar sacerdotes tão urgente que esta matéria como outras estaria num
segundo plano ?
Como Igreja eu falo
no sentido de alertar e não é claro de cobrar: Há uma necessidade urgente da
Igreja de rever certos critérios para deixar de ser tão relativista no que se
refere a moral.
Ela deve ser é
claro, sempre cheia de misericórdia, não tão radical quanto no passado, pois
Cristo sempre foi amor e compreensão, mas nem tão frouxa como tem sido nos
nossos tempos onde ela se despersonaliza e muitas das vezes perde a noção de
pecado.
Dizem alguns que as
seitas crescem porque a Igreja Católica é muito exigente. Muito pelo contrário
como podemos observar eles são ultra radicais e trocam a nossa Igreja que por
muitas vezes exige pouco de seus fiéis.
Trabalhar no Centro
Sacerdotal me levou a ter um olhar mais amplo da Igreja, pois não foco
somente na Igreja que vive à minha volta isto é: Meu diretor espiritual, as
Igrejas que escolho para assistir a missa etc Observo um pouco mais longe. Olho
para as paróquias e párocos e tenho vontade de falar como membro leigo,
desta realidade.
Conclusão
Quando conheci o REGNUMCHRISTI comecei
a me encantar com esta busca do equilíbrio que foi a figura do Cristo que viveu
o amor no sentido pleno e a obediência ao Pai acima de tudo.
Amor…misericórdia….obediência
Ser radical no
amor, na obediência.
Ser compreensiva
com o pecador .
A Igreja é um
legado de Cristo e me senti imbuída da ânsia de lutar por esta Igreja ainda
peregrina em busca da perfeição.
Luto e sofro por
ela desde menina e foi este o motivo que me levou a falar sobre este caso que
parece tão particular, tão sem importância, mas que na verdade acaba refletindo
no comportamento da família que é um dos maiores bens a ser preservado e
protegido pela própria Igreja de Cristo.
Nos dias de hoje a
posição da mulher é em grande parte responsável por muitos desatinos da
sociedade e cabe à Igreja ir aos poucos modificando estes conceitos, sem
radicalismo, sem opressão, mas com firmeza.
O código civil
brasileiro concede às concubinas o mesmo direito das esposas legítimas. Foi
tirado da “antiga esposa” todo o privilegio que tinha por ser mãe e esteio da
família.
Foi a própria
mulher que lutou por isso e hoje vive a frustração de se confundir com qualquer
namoro eventual de seu marido, por que a lei segue os “usos e costumes” e
sua moral só foca o comportamento do homem naquele momento histórico.
É preciso resgatar
a Dignidade da mulher e daí vem a importância das paróquias no sentido de
valorizar as mulheres que lutam por viver desta maneira.
Só valorizando a
postura destas mulheres, a Igreja coerente conseguirá valorizar o casamento
novamente e por conseqüência a família.
Não há outro
caminho.
Não há outra
lógica.
Termino minhas
palavras com os dizeres do Padre Marcial Maciel LC – junho de 1985:
“…
para alguns, o matrimônio não é mais que um contrato social, para outros é um
estado de vida em que ambos compartilham totalmente sua vida, sua pessoa e seu
destino; mas para o católico, o matrimônio é muito mais (…), é caminho de
santidade porque dentro dele se vive para amar sem egoísmos e sem interesses
pessoais (…)”
Meu nome é
Maria de Almeida Prado Costa.
Namorei 5 anos.
Fiquei casada 13
anos.
Tive 5 filhos.
Estou
separada 21 anos.
“Agradeço à Deus
por todos os dias da minha vida e por tudo de maravilhoso que Ele me concedeu
ao longo destes anos”.
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