“Há muitos católicos vivendo o devaneio da próxima chegada de um grande rei católico que restabeleça a ordem social cristã assegurando um longo período de paz e prosperidade”
No
centenário das aparições de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em consequência
de interpretações equivocadas das revelações feitas pela Virgem Santíssima em
Fátima e em La Salette, em razão também da confusão gerada pelas explicações
dadas aos segredos confiados aos videntes, em razão, outrossim, de outras
aparições não reconhecidas pela Igreja (verdadeiras ou falsas), igualmente em
virtude de interpretações temerárias dos escritos de São Luís Maria Grignion de
Montfort, ressurge em nossos dias o erro do milenarismo, também conhecido como
quiliasmo. Com efeito, os tempos aflitivos em que vivemos, carregados de
tribulações as mais diversas, geram um caldo de cultura propício para o
milenarismo. O fato é que hoje há muitos católicos vivendo o devaneio da próxima
chegada de um grande rei católico que restabeleça a ordem social cristã
assegurando um longo período de paz e prosperidade.
Sonhar ou desejar a vinda de Dom Sebastião não é pecado, desde
que não se perca o senso da realidade e não se fuja ao cumprimento dos deveres
concretos que incumbem a todos os católicos na terrível hora presente. Eu
também desejo a vinda de Dom Sebastião. Nas minhas orações rogo a Virgem
Imaculada, Rainha das Vitórias, que nos providencie, senão um Dom Sebastião, ao
menos um Antonio de Oliveira Salazar, um Generalíssimo Francisco Franco, um
Duque de Caxias que limpe o Brasil das ratazanas saídas do esgoto e guindadas
ao poder pela mentira universal das urnas.
Para combater o milenarismo traduzo abaixo o verbete
correspondente do conceituadíssimo Dizionario di Teologia Dommatica,
do cardeal Parente e dos monsenhores Piolanti e Garofalo, figuras
eminentes da escola romana. Como se sabe, infelizmente, após o Vaticano II o
cardeal Parente aderiu ao modernismo mitigado. Já o monsenhor Piolanti
manteve-se fiel à boa doutrina e foi duramente perseguido. Apesar de autor de
uma monumental obra teológica (seu tratado sobre os sacramentos é considerado
uma das melhores produções teológicas), não recebeu o capelo cardinalício, foi
nomeado apenas cônego da Basílica de São Pedro, tendo sido inclusive proibido
de ali pregar.
Traduzo o verbete milenarismo conforme se encontra na IV edição
do Dizionario (Editrice
Studium – Roma, 1957).
Milenarismo (ou quiliasmo): erro escatológico, segundo o qual Jesus
Cristo deve reinar visivelmente mil anos sobre esta terra, no fim do mundo.
Segundo as diversas formas que o erro assume, os acontecimentos do fim do mundo
teriam uma sucessão um tanto diversa.
Para os mais antigos propugnadores do milenarismo, o reino
terreno de Cristo realizar-se-ia entre a primeira ressurreição, própria dos
justos (os únicos participantes das alegrias do reino de milenário) e a
segunda, reservada aos réprobos, à qual seguiria o juízo universal e a sentença
eterna das penas (inferno) e dos gozos (paraíso). Entre os milenaristas
posteriores há uma incerteza sobre a cronologia do reino: alguns o consideram
antecedente ao juízo universal, outros sucessivo. Mas o ponto capital, no qual
os milenaristas se dividem é constituído pelos gozos, que segundo alguns seriam
de índole sensual (milenarismo carnal), segundo outros de ordem espiritual
(milenarismo espiritual).
O milenarismo carnal é de origem judaica. Segundo uma antiga
tradição rabínica, a história do mundo deve concluir-se no âmbito de sete mil
anos, dos quais os primeiros seis representariam a primeira parte da semana
mosaica ( a idade pré-messiânica), o último o sábado, o milênio de repouso e de
festa, no qual seria instaurado o reino messiânico, no pacífico gozo de todos
os bens temporais (riquezas, submissão de todos os povos, triunfo de Israel).
No século II da era cristã Cerinto aplicou esta teoria ao capítulo 20 do
Apocalipse de São João. O erro retomado, com ligeiros matizes, no século III,
por Nepote bispo de Arsione e por Corácio, no século IV por Apolinário de
Laodicéia, foi refutado pelos Padres e pelos escolásticos; no século XVI
reapareceu em ambientes protestantes e difundiu-se largamente entre os
pietistas e outras seitas (menonitas, mormons, irvigianos, adventistas).
O milenarismo espiritual teve origem em Papias, que, em oposição
a Cerinto, entendeu no capítulo 20 do Apocalipse um reino pleno de alegrias
espirituais ainda que rico de bens temporais. Esta forma de milenarismo, mais
ou menos mitigada, manifestou-se em Santo Irineu, São Justino, Tertuliano,
Comodiano, Vitorino de Petabio, Hilarião, Metódio de Olimpo, Zenão de Verona, e
também em São Jerônimo e em Santo Agostinho, os quais na maturidade rejeitaram
tal concepção. Na Idade Média verificou-se um fanático retorno a esta ideologia
em Joaquim de Fiore, Gerardo Segarelli, frei Dolcino (cf. Dante, Inferno,
XXVIII, 55-60) e Humberto de Casale. Desde o fim do século XVIII não faltaram
teólogos e exegetas, que viram com bons olhos o milenarismo mitigado: por ex.,
M. Lacunza, R. Eizaguirre, C. Morrondo, I. Ramos, B. Ughi (La via, 2ª
edição, Firenze 1949: posta no Index aos 20 de julho de 1950).
O milenarismo carnal, sendo diametralmente oposto ao espírito
cristão (cf. Mt. 22.30; Rm. 14, 17; I Cor. 15, 50), foi repelido desde o
princípio como uma heresia. Cerinto foi refutado por Caio Romano e por Orígenes
(De principiis, 2, 11; PG 11, 241). Nepote e Corácio foram
persuadidos de erro por São Dionísio de Alexandria (Eusébio, o.c., VII, 24: ibid., 20, 691).
Apolinário de Laodicéia foi combatido, também por este erro, pelos
maiores escritores cristãos dos séculos IV e V (Basílio, Gregório Nazianzeno,
Jerônimo, Epifânio, Teodoreto). Também o milenarismo espiritual,
que seduziu tantas inteligências, não tem nenhum fundamento, mas ao
contrário opõe-se diretamente ao ensinamento dos símbolos da fé (cf. Denz-U,
423), nos quais não se fala senão de duas vindas de Cristo, uma in humilitate e
outra in gloria,
com o fim de cumprir o juízo universal, a que seguirá imediatamente a retribuição
final para cada um: Mt. 16, 27: “Filus hominis venturus est in gloria
Patris sui cum Angelis, tunc reddet unicuique secundum opera sua”. Nesta
perspectiva o milênio não pode realizar-se.
Tais e outros argumentos bíblicos e patrísticos levaram os mais
respeitados teólogos (São Tomás, IV Sent., d. 43, q. 1, a. 3, qc. 1; São
Roberto Belarmino, De Romano Pontifice,1. 3, capítulo 17) a
considerar o milenarismo mitigado como temerário, senão errôneo. Recentemente o
Santo Ofício (21 de junho de 1944) declarou: “Systema millenarismi mitigati
tuto doceri non potest” (AAS, 36, 1944, p. 212).
Em relação com o milenarismo está a teoria da idade áurea da
Igreja. Segundo um anônimo anglicano (Of the State of the Church to future
age, Londres, 1664), deve chegar um tempo em que, abolido o papado e a
prepotência dos governos absolutistas, será estabelecida uma democracia
civil-religiosa, na qual os cidadãos gozarão de uma paz duradoura, não
perturbada por nenhum mal físico e moral, todos dedicados ao gozo dos benefícios
decorrentes do progresso das ciências e das artes. Este “sol do futuro” atraiu
a atenção de muitas personalidades do anglicanismo (por ex., Tomás
Newton, bispo de Bristol) e no século XIX foi largamente difundido na
Inglaterra por Waughan e na França por Agier. No fim do mesmo século a rósea
concepção foi acolhida, com diversas modificações,(especialmente no tocante ao
Papado) por vários autores católicos ( v.
gr. Calllegari, Courtrai, Bigou, Schneider, Cabellero Infante,
Alvarez Navarro). Um pouco diferente é o sistema de renovação escatológica
defendido pelo cônego E. A. Chaubaty em três consideráveis tomos ( Etudes…sur l’avenir de
l’Eglise catholique selon le plan divin ou la régénération de l’humanité et la
rénovation de l’univers, Poitiers 1890-93). No fim do mundo os homens
presentes aos cataclismas previstos pela Sagrada Escritura sobreviverão à
conflagração universal e darão origem a uma progênie pura, sem pecado original,
destinada a constituir uma nova Jerusalém, na qual reinará visivelmente Jesus
Cristo, auxiliado pelo seu vigário, o papa.
Semelhantes concepções são fundamentalmente errôneas porquanto
contrárias ao conceito evangélico do reino de Deus na terra, no qual haverá
sempre sofrimentos (Mt. 5, 11; Lc. 9, 23; Jo. 15, 20; At. 14, 25; Rm. 8, 29) e
as imperfeições (Mt. 13, 24-30, 47; Lc. 10, 3). Deve considerar-se a opinião de
Chaubaty gravemente errônea, pois que nega quanto definido pelo Concílio de
Trento a respeito do pecado original, que atinge todas as gerações descendentes
de Adão (Denz-U, 792). Ademais, a obra do cônego andegavense foi posta no Index
aos 18 de dezembro de 1896.
BiBl. – A. Chiappelli, Le idee millenarie dei
cristiani, Napolis, 1888; L. Abzberger, Geschichte der
christlichen eschatologie innerhalb der vornicänischen Zeit, Friburgo
in Br. 1896; V. Ermoni, Les phases sucessives de l’erreur
millénariste, revue des questions historiques, 69-70 (1901), p.
353-88; L. Gry, Le millénarisme dans ses origines et son
developpement, Paris, 1904; R. Janin, Le millénarisme et
l’Eglise Grecque, in Echos d’Orient, 27
(1928), p. 201 ss; C. I. Plessis, Le
sens de l’histoire. Les derniers temps, Paris, 1936; G. Bardy, Millénarisme,
in DTC, X, coll. 1700-63.
A. P (Antonio Piolanti)
Anápolis, 22 de março de 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Antes de postar seu comentário sobre a postagem, leia: Todo comentário é moderado e deverá ter o nome do comentador. Comentário que não tenha a identificação do autor (anônimo), ou sua origem via link e ainda que não tenha o nome do emitente no corpo do texto, bem como qualquer tipo de identificação, poderá ser publicado se julgar pertinente o assunto. Como também poderá não ser publicado, mesmo com as identificações acima tratadas, caso o assunto for julga impertinente ou irrelevante ao assunto. Todo e qualquer comentário só será publicado se não ferir nenhuma das diretrizes do blog, o qual reserva o direito de publicar ou não qualquer comentário, bem como de excluí-los futuramente. Comentários ofensivos contra a Santa Madre Igreja não serão aceitos. Comentários de hereges, de pessoas que se dizem ateus, infiéis, de comunistas só serão aceitos se estiverem buscando a conversão e a fuga do erro. De indivíduos que defendem doutrinas contra a Verdade revelada, contra a moral católica, de apoio a grupos ou ideias que contrários aos ensinamentos da Igreja, ao catecismo do Concílio de Trento, ferem, denigrem, agridem, cometem sacrilégios a Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, a Mãe de Deus, seus Anjos, Santos, ao Papa, ao clero, as instituições católicas, a Tradição da Igreja, também não serão aceitos. Apoio a indivíduos contrários a tudo isso, incluindo ao clero modernista, só será publicado se tiver uma coerência e não for qualificado como ofensivo, propagador do modernismo, do sedevacantismo, do protestantismo, das ideologias socialistas, comunistas e modernistas, da maçonaria e do maçonismo, bem como qualquer outro tópico julgado impróprio, inoportuno, imoral, etc. Alguns comentários podem ser respondidos via e-mail, postagem de resposta no blog, resposta do próprio comentário ou simplesmente não respondido. Reservo o direito de publicar, não publicar e excluir os comentários que julgar pertinente. Para mensagens particulares, dúvidas, sugestões, inclusive de publicações, elogios e reclamações, pode ser usado o quadro CONTATO no corpo superior do blog versão web. Obrigado! Adm do blog.