"Nosso Senhor triunfa. O Coração Imaculado de Maria triunfa sobre os erros. A Igreja Triunfa. A verdade triunfa."
Sermão para o 4º Domingo depois da Páscoa
14.05.2017 – Padre Daniel Pinheiro, IBP
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Nosso Senhor, no Evangelho de hoje, promete aos apóstolos que
enviará o Espírito Santo e que Ele lhes ensinará toda a verdade. A Revelação
divina, caros católicos, se encerra, portanto com a morte do último apóstolo,
São João Evangelista, em torno do ano 100. A partir da morte do último
apóstolo, nenhuma verdade nova pode ser revelada. E a verdade, que foi ensinada
por Nosso Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito aos apóstolos, nos é transmitida
fielmente pela Igreja. Ela não pode, claro, ser alterada.
Retomemos ainda hoje, caros
católicos, nossa breve história das heresias, esses erros que se opõem à
verdade revelada.
Passamos ao século XII, com a
heresia cátara, também chamada de albigense, em virtude da principal cidade que
ocuparam, chamada Albi, no sul da França. A heresia cátara, espalhada pela
Europa, vinda provavelmente do leste, tem diversas nuances. Essencialmente,
porém, a heresia cátara é a velha heresia gnóstica que vai serpenteando ao
longo da história sob diversas capas. Ela retoma basicamente os mesmos
princípios do gnosticismo e do maniqueísmo. Professa o dualismo, afirmando a
existência de dois deuses: um bom, criador do espírito, e um mal, criador da matéria.
O princípio mal teria aprisionado as emanações divinas ou partículas divinas na
matéria, sendo que o objetivo é precisamente libertar-se da matéria, que,
segundo eles, é má. Tudo isso é absurdo, como já dissemos. Existe um só
princípio, Deus, que é bom, e criador de todas as coisas, inclusive da matéria,
que é um bem. Não existe um princípio mal equivalente a Deus. O mal
absoluto não existe, ao contrário do que prega o gnosticismo. O mal é ausência
de ser. O mal absoluto seria a total ausência de ser, quer dizer, não
existiria. O demônio não é princípio equivalente a Deus ou quase equivalente,
mas é uma pobre criatura, com grande capacidade, mas que nada pode fazer sem a
permissão de Deus, que permite os males para que deles venham um bem superior, como
permitiu o pecado original para que daí viesse a Encarnação do Verbo.
Com essa oposição à matéria,
como se fosse má, esses hereges se opunham fortemente ao matrimônio, pois esse
gera um novo ser material. Chegavam ao ponto de evitar comer tudo o que fosse
de origem animal e que viesse de reprodução. Eram favoráveis ao aborto e ao
suicídio. Defendiam também a reencarnação, até que a partícula divina se
purificasse e fosse liberada da matéria. Toleravam, porém, bastante o chamado
amor livre e uniões incapazes de gerar filhos, bem como as uniões contra a
natureza. Encontramos muitas dessas consequências em nossa sociedade atual:
contra o casamento aberto à vida, contrária à procriação, mas favorável a todo
tipo de união estéril, favorável à proliferação daqueles que se recusam a comer
coisas de origem animal (vegetarianos e veganos), favorável à doutrina da
reencarnação, que se encontra difusa em boa parte da sociedade. Era uma heresia
tremenda contra a Igreja e com gravíssimas consequências para a sociedade, como
se pode deduzir dos seus erros. Como contrária à matéria, conduz ao fim da
própria sociedade.
O Papa Inocêncio III a ela se
opôs com vigor, enviando missionários. É nesse contexto que surgirá São
Domingos com o Rosário e com a sua ordem religiosa, a Ordem dos Pregadores
)dominicanos), rezando a Nossa Senhora e pregando a doutrina católica. É aqui
que surgirá também a Inquisição, tão caluniada pelos inimigos da Igreja e sobre
a qual falaremos em outra ocasião. A Inquisição que foi criada justamente para
que houvesse um julgamento devido e justo dos hereges, já que a população,
diante de erros tão graves, buscava muitas vezes fazer justiça com as próprias
mãos e o poder civil também não procedia sempre do modo devido.
Com a heresia cátara,
novamente a heresia gnóstica vem mais claramente à tona ao longo da história.
Atraindo muitas almas, em momentos de crise da sociedade. Mas a Igreja
permaneceu firme.
Surge nos séculos XIII e XIV
a heresia dos fraticelli. Heresia
derivada de uma má compreensão de São Francisco de Assis. Afirmavam a
existência de duas igrejas: uma material, corrupta e com o Papa como chefe.
Outra espiritual, pobre (pauperismo), pura e santa, da qual faziam, parte,
evidentemente, os fraticelli. Para
eles, os padres e bispos pecadores perdiam a autoridade e o poder de
administrar os sacramentos. Opunham-se também ao sacramento do matrimônio,
renovando esse outro erro grave e comum ao longo da história. Ao mesmo tempo,
parece que se inclinavam a certo sensualismo. No terreno social, combatiam a
riqueza como se fosse um mal em si, favorecendo, então, teorias contrárias ao
direito natural de propriedade privada. Opunham-se, assim, à Igreja tal como
fundada por Cristo: uma sociedade visível, hierárquica, tendo por chefe São
Pedro e seus sucessores. Renovam a heresia donatista ao negar a autoridade de
governo e o poder de administrar os sacramentos ao padres e bispos pecadores.
Iam mesmo contra a lei natural ao não reconhecer que os bens materiais são, em
si bons, cabendo aos homens fazer bom uso deles ou não. A riqueza não é por si
má. É indiferente. O que é preciso é utilizá-la bem e estar desapegado dela,
como diz Nosso Senhor: bem-aventurados os pobres de espírito, isto é, aqueles
que usam dos bens terrenos desapegados deles e somente para alcançar o céu. Os fraticelli foram condenados por Bonifácio VIII, João
XXII e combatidos por São João Capistrano que tentou convertê-los.
Os fraticelli foram
muito influenciados por Joaquim de Fiore, morto em 1202, e que defendia a
chegada da Idade do Espírito Santo, a Idade do amor, em que a sociedade seria
perfeita já nessa terra e em que todos seriam iguais, como se igualdade fosse,
em si, um bem. Essas idéias darão origem às teorias que quererão fazer o
paraíso aqui nesse mundo. Defendia também a pobreza como um bem absoluto,
defendia o fim da Igreja visível, o fim dos sacramentos, o fim do culto
visível, uma interpretação meramente espiritual da Sagrada Escritura e sem a
autoridade do Magistério. Essas ideias completamente erradas, contrárias ao
ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, tiveram uma grande influência nas
mentalidades. Vemos muito disso ainda hoje, de modo vulgar, quando se defende
uma Igreja não institucional, quando se defende um amor vago entre todos,
quando se rejeita a autoridade, quando se defende uma paz fora da verdadeira
ordem e quando se defende o igualitarismo. A aparente austeridade de Joaquim de
Fiore e dos Fraticelli permitiu, em certa medida, a
popularização dessas ideias tortas. Com grande prejuízo para a verdade, para a
Igreja e para a salvação das almas.
Passamos, finalmente, a duas
heresias que preparraam amplamente o terreno para o protestantismo. A heresia
de João Wycliffe e a heresia de João Hus. João Wycliffe estudou em Oxford, Inglaterra,
em meados do século XIV. Terminou aderindo a certas ideias de Joaquim de Fiore,
em particular à questão da pobreza absoluta, e a um nacionalismo que começava a
aflorar na Inglaterra, opondo o rei à Igreja. Começou a atacar a vida monástica
e defendeu o confisco dos bens da Igreja. Iniciou, igualmente, campanha contra
o Papa, afirmando que o único Papa era o próprio Cristo, indo claramente contra
as palavras de Cristo, que estabeleceu Pedro e seus sucessores como o
fundamento de sua Igreja. Propôs a Sagrada Escritura como única fonte da
Revelação, negando a tradição e negando a autoridade do Magistério da Igreja.
Negou a presença real de Cristo sob as aparências de pão e vinho nas espécies
consagradas, contra as palavras claras do Senhor. Opôs-se ao sacramento da
confissão, a que chamava de invenção tardia, e opôs-se também às imagens
sagradas e às indulgências. Confissão instituída tão claramente pelo Salvador
após a sua ressurreição e culto das imagens difundido na Igreja desde o seu
início, praticamente. Foi condenado por Gregório XI em 1377 e pelo Concílio de
Constança, confirmado, nesse ponto, pelo Papa Martinho V.
João Hus, Professor da
Universidade de Praga desde 1396, terminou seguindo basicamente as mesmas
ideias de Wycliffe, pois havia grande intercâmbio entra as faculdades inglesas
e as universidades da Boêmia. Isso em função do casamento do Rei Ricardo II da
Inglaterra com Ana da Boêmia. João Hus terminou sendo condenado pelo mesmo
Concílio de Constança.
Prezados católicos, vemos
como a Igreja está, ao longo de sua história, em constante combate contra o
erro, contra a mentira, contra o mal. Como Nosso Senhor em sua vida pública
teve de se opor ao erro dos saduceus e dos fariseus o tempo inteiro para o bem
das almas. Devemos estar seguros de que Nosso Senhor governa a barca da Igreja.
Que ela não vai naufragar. Nosso Senhor triunfa. O Coração Imaculado de Maria
triunfa sobre os erros. A Igreja Triunfa. A verdade triunfa.
Em nome do Pai, e do Filho, e
do Espírito Santo. Amém.
Fonte: https://missatridentinaembrasilia.org/2017/05/15/sermao-historia-das-heresias-v-cataros-fraticelli-wycliffe-e-hus/
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