“O homem comum pensa que os
Princípios Católicos são uma tirania e roubam a liberdade – que loucura! Na
realidade são esses Princípios que corroboram e solidificam a liberdade,
entendida aqui como liberdade psicológica.”
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa São Pio X, num trecho da sua
encíclica “E Supremi Apostolatus”, promulgada em 4 de Outubro de 1903:
«Detemo-nos
especialmente nas funestíssimas condições na qual se encontra a Humanidade.
Quem não vê que a sociedade humana, mais do que em épocas passadas, encontra-se
prisioneira de MAL ESTAR GRAVÍSSIMO E PROFUNDO, QUE CRESCENDO CADA VEZ MAIS E
CORROENDO-A PROFUNDAMENTE, ENCAMINHA-A PARA A RUÍNA? Vós compreendeis,
veneráveis irmãos, qual seja esse mal: DISTANCIAMENTO E APOSTASIA DE DEUS.
Nisso, nada é mais adequado do que a palavra do Profeta: “Eis que aqueles que
se distanciam de Ti – perecerão” (Sl 72, 27). Vemos, portanto, que em força do
ministério pontifício que nos fora confiado, era para nós obrigatório acorrer
para remediar a tão grande mal, avaliando como dirigido a nós aquele Mandamento
Divino: “Hoje eu te constituo sobre as Nações e sobre os Reinos, para arrancar
e para destruir, para construir e para plantar”(Jr 1,10). Mas sabendo da nossa
fragilidade, relutámos em assumir essa tarefa urgente e dificílima.
Uma
vez que agradou à Vontade Divina elevar a nossa baixeza a tanta sublimidade de
poder, reunimos coragem n’Aquele que conforta; e pondo mãos à obra, apoiados na
Virtude Divina, proclamamos não ter no pontificado outro programa senão o de
“RESTAURAR TUDO EM CRISTO”(Ef 1,10), de tal modo que esteja “tudo e todos em
Cristo”(Cl 3,11) – Não faltarão, seguramente, os que MEDINDO COM
PARÂMETROS HUMANOS AS COISAS DIVINAS, procurando escrutar quais sejam nossas
intenções secretas, dobrando-as a objectivos terrenos e estudos parciais. Para
romper qualquer tipo de vã lisonja, comunicamos a esses, com toda a franqueza,
que não queremos ser outra coisa – nem, com a Divina ajuda, outra coisa seremos
diante da sociedade humana – a não ser ministro de Deus, de Cuja Autoridade
somos depositários. Os interesses de Deus são os nossos; por eles estamos
decididos a gastar todas as forças e a nossa própria vida. Por isso, se alguém
de vós pede uma palavra de ordem, que seja a expressão da nossa vontade, sempre
daremos esta e não outra: “RESTAURAR TUDO EM CRISTO”.
Esta
magnífica missão nos traz grande entusiasmo, veneráveis irmãos, pois
acompanha-nos a certeza de que teremos em todos vós cooperadores generosos. Se
disso duvidássemos, teríamos injustamente que reter-vos incônscios ou
descuidados DAQUELA GUERRA SACRÍLEGA, que agora, em toda a parte, se move e se
mantém contra Deus. Uma vez que contra o próprio Criador “amotinam-se as Nações
e os povos meditam coisas vãs” (Sl 2,1), de tal modo que é comum o grito dos
inimigos de Deus: “Afasta-te de nós” (Jo 21,14). E em consonância com isso,
vemos na maior parte dos homens a inexistência do respeito ao Eterno Deus, não
tendo presente o Seu supremo valor nas manifestações da vida privada e pública;
ao contrário, com todo esforço e artifício, procura-se fazer com que a memória
de Deus e Seu conhecimento SEJAM COMPLETAMENTE DESTRUÍDOS.»
As
hierarquias traçadas pelo homem são em geral frágeis e caducas, pois reflectem
a profunda instabilidade psicológica das pessoas comuns, sempre em busca de
realidades contingentes e em geral pecaminosas. Frequentemente tenho afirmado,
que quanto mais uma alma se afasta de Deus mais necessidade tem de uma contínua
diversificação e renovação de estímulos. Ora então imaginemos o que é uma
sociedade, uma civilização, em que quase todas as almas desconhecem a Deus
Nosso Senhor e mais ainda a Sua Graça Santificante – ESSA É A NOSSA DITA
CIVILIZAÇÃO. Exactamente por este motivo, o caos reina nas almas e nos corpos,
em todas as instituições e em todas as estruturas, todos se agitam em busca de
algo QUE NUNCA ENCONTRARÃO, a saber, a felicidade perfeita fora de Deus Nosso
Senhor e da Sua Santíssima Lei.
O
católico que permanentemente se lamenta do “peso tremendo da Lei Divina”, esse
católico poderá possuir a Fé Teologal, mas jamais a Caridade Sobrenatural e a
Graça Santificante. Efectivamente, A LEI DIVINA SOBRENATURAL CONSTITUI O NOSSO
MAIOR BEM, ATÉ MESMO O NOSSO ÚNICO VERDADEIRO BEM. QUEM NÃO ENTENDER ISTO, NADA
ENTENDE DA FÉ CATÓLICA.
Quem
escreve estas linhas sempre se amargurou com a ausência do sentido de
hierarquia da existência que a grande maioria dos homens projecta na sua vida.
Tudo o que Deus Nosso Senhor criou é hierárquico, e tal não podia deixar de
ser, visto que Deus podia criar, ou não criar, todavia não poderia abolir da
Criação a sua natureza hierárquica, pois esta é intrìnsecamente constitutiva da
Verdade e do Bem Incriado.
É
no domínio do matrimónio e realidades afins que mais cruamente se manifesta a
desordem dos comportamentos humanos. Tal se verificou logo em Adão e Eva quando
perderam a Graça Santificante, e porque a perderam, tiveram vergonha da sua
nudez, do seu corpo criado directamente por Deus, possuindo assim uma santidade
ontológica própria; e tal aconteceu porque a paixão sexual desordenada já havia
conquistado os membros dos nossos primeiros pais.
É
suficiente proceder à leitura da Sagrada Escritura, que é aliás extremamente
singela nas suas descrições, para aquilatar da corrupção sexual do Género
Humano, sobretudo do varão, visto ser através deste que se propaga o pecado
original. Esta subversão, atingindo o âmago das fontes da vida, não podia
deixar de se repercutir em toda a vida familiar e social, minando toda a
existência humana. Quer se queira, quer não, a Lei Divina, Natural e
Sobrenatural, constitui a sexualidade humana como possuindo o objectivo
fundamental e qualificado da procriação; os fins secundários da manutenção e
nutrimento da fidelidade entre os cônjuges, NÃO PODEM CONTRARIAR O FIM
PRIMÁRIO. O Direito Canónico de 1917, acrescentava como fim secundário – o
remédio da concupiscência; tal significava a função necessàriamente ORDENADORA,
HIERARQUIZADORA, que o matrimónio deve possuir no que concerne aos extravios da
concupiscência, sobretudo masculina. Consequentemente, a essência do
matrimónio, ordenando os cônjuges na incolumidade das fontes da vida, deve, pelas
suas propriedades essenciais da unidade e indissolubilidade, HIERARQUIZAR E
RECTIFICAR TODA A SOCIEDADE.
A
Lei Divina estatui a verdadeira castidade conjugal – não aquela que brota
castigadamente de um fariseísmo familiar, e que geralmente desagua nos piores
vícios – mas aquela castidade Sobrenatural que vem de Deus Nosso Senhor, e que
longe de ser penosa, é razão sublime de verdadeira felicidade, daquela
felicidade que constitui um real antegozo da vida Celestial, porque dimana do
mesmo e único Princípio da Verdade Incriada, da Verdade ordenadora, da Verdade
hierarquizadora.
Neste
mundo verificamos que na ordem da natureza cada realidade ocupa o lugar e a
função que teleològicamente lhe compete, sem mais nem menos. Quando o homem
altera essa ordem – sofre as consequências; como é possível verificar na
deterioração, ainda muito pequena, das condições do planeta Terra para
sustentar a vida. No plano moral e religioso sucede exactamente a mesma coisa:
quando uma sociedade não possui como esteio e finalidade essencial a Verdade e
o Bem Incriados; quando uma sociedade não constitui o matrimónio católico como
Lei única do Estado. Quando uma sociedade não proclama a Religião Católica, o
Dogma Católico, a Moral Católica, como a única com direito a integral cobertura
por parte da força pública do Estado; Quando uma sociedade não estrutura o seu
ensino totalmente na base da Fé Católica, em todas as matérias, em todos os
graus, em todos os estabelecimentos, públicos e privados – ESSA SOCIEDADE
PERECERÁ, E NAS FASES EXTREMAS DA SUA DECADÊNCIA OFERECERÁ A TUTELA ESTATAL A
TODAS AS ABERRAÇÕES CONTRANATURA.
Mas
a observância estrita da Lei de Deus Nosso Senhor por parte das pessoas, das
instituições e das sociedades, constituiria como que uma sementeira fecunda na
boa terra de Deus, regada e nutrida pelas riquezas infinitas da Graça Divina,
aproveitando em máxima plenitude as potencialidades naturais e Sobrenaturais da
Criação e do próprio Género Humano. A LEI DIVINA, NATURAL E SOBRENATURAL,
CONSTITUI O ÚNICO VERDADEIRO NUTRIMENTO DA ALMA HUMANA, SUBLIMANDO
INFINITAMENTE, NA ORDEM SOBRENATURAL, AS GRANDES CAPACIDADES CONFERIDAS POR
DEUS NA SUA CRIAÇÃO.
Mas
não é esta a Humanidade que temos, nem nunca tivemos, a não ser em certas
comunidades, certas aldeias, em que foi possível, no passado, criar uma espécie
de microclima religioso e moral – o que hoje é quase impossível realizar.
O
homem comum pensa que os Princípios Católicos são uma tirania e roubam a
liberdade – que loucura! Na realidade são esses Princípios que corroboram e
solidificam a liberdade, entendida aqui como liberdade psicológica. QUANTO MAIS
SANTA É UMA PESSOA, MAIS LIVRE É; PORQUE PARTICIPA DA VERDADE E DA SANTIDADE DE
DEUS NOSSO SENHOR; PORQUE O LUME DIVINO NA SUA ALMA LHE CONFERE,
TENDENCIALMENTE, A IMPECABILIDADE MORAL. NOSSA SENHORA, POR EXEMPLO, FOI
MORALMENTE IMPECÁVEL, NÃO SÓ DE FACTO, MAS DE DIREITO, POR PRIVILÉGIO DIVINO. O
SEU MOVIMENTO INTERIOR ESPIRITUAL ERA LIBÉRRIMO, MAS SÓ A PODIA CONDUZIR À
VERDADE E AO BEM. Neste quadro conceptual, os santos, quanto mais progridem na
santidade mais merecem e mais Graças atraem, e mais fácil para eles se torna o
cumprimento da Lei de Deus.
Muito
pelo contrário, o homem do mundo, imerso na heresia e no pecado, com as
faculdades da alma cavernosa arruinadas por uma privação de ser moral, na Ordem
Natural e na Ordem Sobrenatural, escravizado no corpo e na alma a paixões que o
subjugam, encontra-se com a liberdade psicológica debilitadíssima, imobilizado
que está pela recusa dos Bens Eternos. Neste quadro conceptual, o seu demérito
reside cada vez menos nas acções torpes que actual e concretamente pratica, e
cada vez mais na resolução essencial da sua liberdade transcendental,
construída sem Deus e contra Deus.
Constitui
um enorme erro considerar que a possibilidade de pecar demonstra a existência
de liberdade; É PRECISAMENTE O CONTRÁRIO, É UMA FALHA DA LIBERDADE.
Já
pensámos como a Criação é maravilhosa? Desde a matéria opaca até à perfeita
espiritualidade angélica, tantas e tão grandes belezas; todavia, como dizia
Nosso Senhor Jesus Cristo: “Até os cabelos da nossa cabeça estão contados” e
“Nenhum passarinho passará desapercebido diante de Deus” (Lc 12, 6-8). Nada
escapa à Providência Divina, mas as criaturas inferiores estão necessàriamente
ordenadas ao serviço dos entes espirituais; e mesmo os santos Anjos guardam os
homens e as instituições. Toda a Ordem é inexoràvelmente hierárquica. E toda a
Lei, Divina ou humana, promana da Ordem e a ela deve conduzir. As leis humanas,
quaisquer que sejam, devem reflectir fielmente a Lei Divina, a fim de que todos
e cada um, segundo a sua natureza, sejam movidos para o seu fim próprio, e o
conjunto da Criação seja, Sobrenaturalmente, Escatològicamente, consumado.
LOUVADO
SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa,
4 de Junho de 2017
Alberto
Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
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