“A meditação ou reflexão
pessoal que fazemos sobre o dom divino ou sobre o mistério que escolhemos na
leitura serve para um duplo objeto: um intelectual e outro afetivo”
Pe. João Batista de A. Prado
Ferraz Costa
Com certa frequência algumas
pessoas me pedem uma palavra sobre a oração mental, sobre o melhor modo de
fazê-la, se há um método acessível às pessoas comuns, que querem unir-se a Deus
por meio da oração, a fim de conhecer melhor sua santa vontade, ter força
para cumprir seus mandamentos e , por fim, pela sua graça, vir a constituir com
Deus um só espírito (1 Cor. 6, 17).
Em consideração a essas pessoas
que me confiaram em algumas ocasiões o seu desejo de que lhes desse uma
orientação a respeito, proponho-me a reproduzir a seguir, puxando pela memória,
o que aprendi nos tempos de seminário, durante o ano de espiritualidade. E
confesso que é o que sempre apreciei e tentei observar ao longo destes anos.
Em primeiro lugar, é oportuno
esclarecer que quem deseja adquirir o hábito de uma boa meditação, que
realmente dê frutos de reforma dos costumes para ajustar-se à santa lei de
Deus, deve, antes de tudo, ter uma reta intenção, evitando uma busca indiscreta
da meditação como meio de alcançar, por exemplo, fenômenos místicos
extraordinários. A boa meditação deve ter por fim, simplesmente, ajudar o
cristão a ter uma consciência clara da vontade de Deus a seu respeito, ajudá-lo
a cumprir fielmente seus deveres de estado, a fim de agradar a Trindade
Santíssima em tudo, pela obediência aos divinos mandamentos no dia a dia. Os
dons extraordinários, as consolações, as iluminações, tudo isto é realmente
extraordinário. Deus dá quando quer e a quem quer. Ninguém se ponha a meditar
para ser um “místico iluminado”. Ou pior ainda para vir a ser guru de uma seita
de eleitos que clandestinamente chegaram à plena verdade desconhecida daqueles
que trilham o caminho ordinário.
Dito isto, reproduzo o método por
mim adotado, aprendido no Seminário Nossa Senhora Corredentora, da Fraternidade
São Pio X, nas aulas de Espiritualidade. Se não me falha a memória, chama-se
método de meditação segundo São Sulpício, porque era o método ensinado naquele
célebre seminário francês.
O método
consiste:
Preparação:
1) pôr-se
na presença de Deus, dizendo, por exemplo, ó meu Deus, que com vossa imensidão
encheis céus e terra, eu me humilho em vossa presença e vos peço perdão dos
meus pecados;
2) em
seguida, procura-se uma sincera contrição das próprias faltas;
3) invocação do Espírito Santo e
de Nossa Senhora.
Corpo da
meditação:
1)
Adoração de Nosso Senhor Jesus Cristo, considerando, por exemplo, sua bondade e
sabedoria;
2)
Considerações: convencer-nos da verdade meditada, convencer-nos dos nossos
deveres, excitar nossa vontade, elevar-nos a Deus;
3)
Afeições e orações (atos de fé, de esperança e de caridade);
4) Resolução (particular e geral)
Conclusão:
1)
agradecimento;
2)
contrição pelas negligências e distrações;
3) ramalhete espiritual (escolher
algumas palavras para nos recordar os frutos da meditação durante o dia)
Nota: o tempo ideal de uma
meditação é de 30 a 40 minutos diariamente, se possível logo pela manhã. É
recomendável que na noite anterior se escolha um texto, principalmente da
Sagrada Escritura (os Santos Evangelhos, as epístolas ou os livros sapienciais
do Antigo Testamento), que sirva de subsídio para as reflexões.
Pode-se fazer a meditação em
forma de exame de consciência, verificando se nossa vida se conforma com uma
verdade evangélica ou mandamento da lei de Deus (por exemplo, espírito de
desapego dos bens terrenos, temperança, etc)
O fim da meditação é conhecer a
Deus, evitar o pecado e praticar a virtude. Não é transformar-se em guru ou
mago ou astrólogo caldeu!
Outro método muito bom de
meditação é aquele ensinado pelo grande Dom Chautard, que consite em:
1)Representar-me uma cena viva
para substituir às distrações e preocupações: por exemplo, representar em nossa
mente uma cena da vida de Jesus, de Nossa Senhora, dos santos apóstolos ou de
algum outro santo, como São João Batista etc. Pôr, então, minha razão, fé e
coração diante de Nosso Senhor ensinando uma verdade ou virtude.
2)Excitar minha vontade de
harmonizar minha vida com o ideal entrevisto e deplorar o que for contrário.
3)Prevendo os obstáculos,
decidir-me a quebrá-los, suplicando o auxílio da graça divina. Para desenvolver
esta meditação, é recomendável utilizar-se, como subsídio, do capítulo X do
Evangelho segundo São Mateus que nos ajuda a tomar consciência dos deveres de
discípulo do Senhor.
Para remate destas instruções
traduzo o parágrafo 9 do Breve Catecismo da vida de oração, do Pe. Gabriel de
Santa M. Mag., O.C.D. :
Por que meditar?
A meditação ou reflexão pessoal que fazemos sobre o
dom divino ou sobre o mistério que escolhemos na leitura serve para um duplo
objeto: um intelectual e outro afetivo.
O objeto intelectual é compreender melhor o amor de
Deus por nós, segundo se manifesta no mistério ou no dom que consideramos, e
assim convencer-nos cada vez mais do chamamento ao amor que Deus dirige a nossa
alma.
O objeto afetivo é mover a vontade ao exercício do
amor e a sua manifestação, respondendo ao convite divino.
A meditação afigura-se assim como a preparação imediata para a
conversação afetuosa com o Senhor. (Burgos, Editorial Monte Carmelo, 1989)
É despiciendo dizer que hoje,
mais que em outros tempos, a oração é mais necessária que nunca. É, com efeito,
o único recurso que nos resta em uma sociedade que voltou as costas para Deus.
O homem, hoje, considera-se senhor absoluto de tudo, quer manipular todas as
criaturas para sua utilidade. Mas esqueceu-se que só saberá utilizá-las bem,
colocá-las realmente a seu serviço, se se convencer de que todo bem perfeito
vem do alto e descende do Pai das luzes (São Tiago, 1, 17).
Anápolis,
24 de abril de 2018.
Festa de São Fiel de Sigmaringen.
Mártir
capuchinho.
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