“A Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo não foi
disposta para ser presenciada pelo povo em geral, mas apenas por algumas
testemunhas previamente escolhidas”
Pe. David Francisquini
Pode parecer surpreendente, mas a Ressurreição de Nosso
Senhor Jesus Cristo não foi disposta para ser presenciada pelo povo em geral,
mas apenas por algumas testemunhas previamente escolhidas, como os apóstolos e
os discípulos.
Ao contrário da Paixão de Cristo, que, como
afirma Santo Tomás de Aquino, foi manifestada a todo o povo e transcorreu numa
natureza passível, mortal, conhecida de todos pela lei comum, como ele descreve
em sua Suma Teológica.
Como a Ressurreição se operou para glória
do Pai, não convinha por isso que fosse revelada a todos, mas somente àqueles
que tinham a missão de difundir a Boa Nova por toda a Terra.
Não há prova tão convincente da divindade
de Jesus Cristo quanto à sua Ressurreição gloriosa três dias depois de ter
padecido e morrido na Cruz. A verdade da Ressurreição — sem a qual, segundo São
Paulo, nossa fé seria vã — transparece nas páginas dos Evangelhos que narram o
aparecimento de Jesus Cristo a seus discípulos, falando, comendo e bebendo com
eles, além de oferecer seu divino Corpo para ser tocado, bem como mostrando o
sinal dos cravos.
Os discípulos ficaram reluzentes de alegria
e júbilo incontido. Não lhes restavam dúvidas de que Cristo ressurgira dos
mortos. Mais ainda. Pode-se dizer que a Ressurreição foi gloriosa, pois Cristo
não quis conviver com os seus fiéis discípulos como outrora, mas
aparecendo-lhes de quando em quando, para não dar a entender que seu corpo era
mortal, mas um corpo imortal.
Nisso, a verdade da Ressurreição apresenta
um esplendor que nos confirma na fé e na esperança de podermos contemplar Jesus
Cristo um dia no Céu. Na verdade, ao ressuscitar impassível, glorioso e com
frequentes aparições, Ele quis certificar os seus discípulos dessa verdade
sublime.
Cristo teve o cuidado minucioso de não
induzi-los ao erro, acreditando que vivia como antes. Para isso aparecia-lhes
de quando em quando, de maneira surpreendente e inusitada, pondo-se de repente
entre eles estando fechadas as portas, ou então desaparecendo igualmente a seus
olhos.
A psicologia do Salvador e a sua divina
capacidade de ensinar tornaram sua didática muitíssimo superior à nossa,
respeitando, contudo, o processo humano de aprendizado. Com efeito, Cristo
procura ensinar seus fiéis discípulos a se guiarem pela fé, pela razão, pelo
raciocínio, pela lógica, pela disciplina e pela coerência, constituindo uma
verdadeira escola de formação.
Ele quis gravar em seus corações a verdade
de que é verdadeiro Deus e Salvador do mundo. Não estabeleceu a escola das
aparências, dos sentimentos, do ver para crer. Quis e quer assentar os
alicerces da verdadeira doutrina, o luzeiro que enxota as trevas do paganismo.
Uma palavra surpreendente repreendeu Tomé,
que havia dito que só acreditaria se tocasse a mão no lado e o dedo nas chagas
do Mestre, ensinando com isso a todos os seus irmãos na fé. De fato, Jesus
surge entre eles e manda Tomé tocar seu divino lado e suas chagas gloriosas.
Tomé as toca e, em seguida, faz a sua profissão de fé exclamando: “Meu
Senhor e meu Deus!”.
Jesus, por sua vez diz: “Tu, Tomé,
creste porque viste. Bem-aventurados aqueles que não viram e creram”.
Nosso Senhor ressalta a fé ao destacar a doutrina por meio do tato, o último
dos sentidos do homem… Afinal, Tomé não havia acreditado em seus companheiros
que lhe haviam dado a boa-nova da ressurreição de Cristo.
Somente no domingo, no mesmo dia da
Ressurreição, Cristo apareceu cinco vezes, como narram os Santos Evangelhos:
primeiramente, às santas mulheres no Santo Sepulcro; depois, ainda a elas,
quando voltavam do Sepulcro; outra vez a Pedro; uma quarta vez aos discípulos
de Emaús, e, por fim, a vários discípulos reunidos no Cenáculo, sendo que Tomé
não se encontrava entre eles.
Antes de sua gloriosa Ascensão ao Céu,
Nosso Senhor apareceu várias vezes a seus discípulos, inclusive a Tomé [pintura ao lado],
que estava com eles, no Mar de Tiberíades e no monte da Galileia, para lhes
indicar que Aquele mesmo Cristo que fora crucificado e tratado duramente pelo
ódio lhes aparecera.
A escola de formação fundada por Jesus
Cristo ficou gravada profunda e perenemente nas almas de seus discípulos,
dando-lhes a esperança da vitória de Cristo na Terra, conquistando-a para o
reino de Deus. Não há um lugar nesse Vale de Lágrimas onde não se tenha noção
de que a Igreja Católica é a Igreja fundada por Jesus Cristo, a Arca da Aliança
e Porta do Céu, que convida a todos a tomarem parte d’Ela.
Tal escola nunca foi, não é, jamais será a
desse ecumenismo pós-conciliar banal, que confirma as pessoas no erro. Ao
ressuscitar, Nosso Senhor disse a seus discípulos: “Ide por toda parte e pregai
o Evangelho; quem crer e for batizado, será salvo, e quem não crer será
condenado”. Portanto, a Ressurreição de Cristo vem manifestar a divindade e a
indefectibilidade da Santa Igreja, fora da qual não há salvação.
No ato de fidelidade dos Apóstolos e dos
discípulos do Senhor se assentam os fundamentos da Civilização Cristã na Terra.
O esplendor e a grandeza dessa civilização, hoje quase em ruínas, conheceram o
seu auge de glória na Idade Média. Outra civilização — mais esplendorosa, mais
majestosa, mais hierárquica —, dar-se-á contudo com o Reino de Maria,
profetizado em Fátima: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará.”
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