"E não é ainda tudo: de fato, quanta gente tem a terceira narina e ainda não sabe?"
Giovannino Guareschi
[Tradução: Gederson Falcometa]
Não:
caro leitor, o Seu ressentimento é sem razão. O próprio fato de que o senhor,
embora sendo comunista militante leia também os jornais que não são do Seu
partido, o próprio fato de que o senhor embora considerando-se ofendido, me
escreva assinando com nome, sobrenome e endereço, mas não somente isso, não me
chame fascista, reacionário e traidor do povo, estão a demonstrar que o senhor
não pode em nenhum modo ser compreendido na categoria dos homens com três
narinas.
Esse
negócio da terceira narina é – o reconhecemos – um achado gráfico notabilíssimo
enquanto permite definir um tipo e uma mentalidade com o simples auxílio de um
buraco, um pequeno buraco o qual, praticamente, se resolve em um circulozinho
de rapidíssima atuação.
Polemicamente
é um motivo válido e por isso eu lhe uso sem parcimônia de maneira que muitos
já tem aceitado a terceira narina como um dado de fato, mas hoje precisamente
por isto sinto o dever de fazer uma precisão.
Eu me explico sempre com exemplos e Lhe
digo, caro leitor, que na categoria «intelectuais ou similares» considero ter
direito a terceira narina aquele «Socialista nenniano» que há três números
enviou a assinatura por Brera lire explicando que «A arte não precisa de
academias». Três narinas tem os membros da comissão toponomástica que, em
Veneza, tirou a uma rua o nome de Gabriele D’Annunzio para lhe dar outro nome.
Três narinas tem a comissão que a Prumo substituiu o nome da Praça Humberto I
com aquele de Praça Bresci (assassino de Humberto I). E assim vai.
No
campo menos intelectual considero pertencente a categoria dos trinarinas os
demonstrantes da Garfagnana que por protesto abriram as barragens dos
“beijinhos” hidroelétricos.
E
agora viremos a precisar junto ao conceito de «trinarina» aquele de «sem terra
trinarina».
O
fato é fresco e ainda flagrante de democracia progressiva, aconteceu na Emília
Romagna, na fazenda Grizzaga de Collegarola. Esta fazenda foi adquirida pela
busca de um mineiro imigrante que veio do exterior com suas economias. O antigo
proprietário permaneceu na fazenda como lavrador ainda por 17 anos, depois veio
a ter atritos com o minerador repatriado, e o novo proprietário obteve a sua
sentença de despejo. Uma multidão de sem terras se opôs e o prefeito deixou
para tempos melhores o despejo. Interveio o Ministério do Interior, mas os sem
terras ainda se movimentaram e a coisa acabou em nada. O ex mineirador
(promovido pelos progressistas emilianos a «negreiro»)
encontrou uma nova sistematização para o lavrador, o despejo teve lugar e
chegou na fazenda um novo lavrador.
Mas a Câmara do Trabalho
ordenou aos sem terras a permanecerem «mobilizados
e em vigilante prontidão» e o novo lavrador recarregava armas e
cargas, e aterrorizados os sem terras desapareciam. Foi encontrado um outro
arrendatário e eis que uma semana faz ignorados os«mobilizados
e em vigilante prontidão»se fartaram de esperar: entram na fazenda,
derrubam seis oliveiras e cortam 190 (cento e noventa) cepas de videira fazendo
encontrar afixado o seguinte cartaz:
«Este
é o primeiro exemplo, camponês fascista! Assim também será de vós!».
A
saber abatido como uma oliveira. E o camponês se torna «fascista»porque, para os sem terras trinarinas,
qualquer obstáculo que seja a sua marcha é«fascista».
Eis,
caro leitor: quando dissemos a Itália dos sem terras aludimos a Itália destes
sem terras, e por sem terras de três narinas, entendemos exatamente estes que
infelizmente são muitos.
No
caso específico, também tem direito a terceira narina, os dirigentes daquelas
Câmaras do Trabalho (esperamos que a República Italiana não se funde sobre este
trabalho) que são, a meu parecer, os verdadeiros responsáveis por estes
exemplos. Então, devem receber a singela homenagem, precisamente, por
praticarem a terceira narina.
Admitido,
contanto que, ainda não a tenham.
Caro
leitor, eu poderia continuar a lhe elencar exemplos. Mas agora o conceito lhe
deve ser bem claro. E por essa razão o senhor não deve se sentir tocado quando
me vê a desenhar tipos com trinarinas.
Porque
no meu conceito base, a terceira narina tem uma função completamente
independente das outras duas: serve de descarga para expulsar do cérebro a
massa cinzenta e permitir ao mesmo tempo o acesso a ele das diretivas do
partido que a ele devem precisamente substituir. O qual, cérebro, se vê,
pertence agora a um outro século. Não digo, como os meus inimigos pessoais
desejariam, a uma outra era. Porque a terceira narina existia também na outra
era, mas era proibido mostra-la, e todos deviam tê-la habilmente mascarada.
Não
tenho mais nada a lhes dizer. Naturalmente a terceira narina não é uma
estreítissima prerrogativa das esquerdas: eu creio que existam muitos outros,
distribuídos um pouco em cada lugar. O problema é que ainda estão tampadas por
motivos prudenciais ou outro e ainda não se podem ver. Desse modo, se vai
adiante o negócio, temo que será rapidamente colocada em vígor a lei do talião:
«Olho por olho, narina por narina» E não é ainda tudo: de fato, quanta gente
tem a terceira narina e ainda não sabe? O confesso que eu também às vezes,
relendo aquilo que escrevi e que, infelizmente já está publicado (por exemplo a
história do campo minado do n.12), me olho perplexo no espelho.
Atentos
então a terceira narina!!!
Giovannino Guareschi
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