Caros Católicos, estamos hoje no último domingo do ano litúrgico, em que
Nosso Senhor Jesus Cristo fala de sua vinda gloriosa no final dos tempos, a fim
de julgar os vivos e os mortos. Em geral, a transição de períodos é propícia
para refletir sobre nossas atitudes. Para terminar, então, com fruto esse ano
litúrgico e começar o seguinte, gostaria que refletíssemos sobre a verdadeira
beleza da liturgia tradicional e a compreendêssemos.
Com muita freqüência ouvimos que nós aderimos à liturgia tradicional
porque ela á mais bonita, mais bela, como se nossa adesão a ela fosse simples e
puramente subjetiva, quer dizer, uma questão de simples preferência pessoal, de
sensibilidade pessoal: “acho essa Missa mais bonita, então quero assistir a
essa Missa.” Ao contrário, caros católicos, nossa adesão à liturgia tradicional
deve se dar por motivos objetivos,
que se encontram no próprio rito e não
somente em nossas disposições pessoais e subjetivas, disposições que têm
pouquíssima importância.
A beleza do rito tradicional nos faz, de fato, amá-lo. A beleza, no
entanto, é algo objetivo, que se encontra na coisa que é bela,
independentemente do sujeito. Assim, a Basílica de São Pedro, no Vaticano é
bela, independentemente de nós. As catedrais góticas são belas independentemente
de nossa sensibilidade. Também o contrário é verdade. Infelizmente, muitas
Igrejas modernas são feias, independentemente de nossos gostos. Assim, se
alguém acha feio o que é objetivamente bonito ou acha bonito o que é
objetivamente feio essa pessoa tem um real problema de julgamento, como aquele
que acha que o aborto é moralmente lícito tem um problema em seu juízo moral.
A beleza é algo objetivo, que está no objeto. E três são os elementos da
beleza. Primeiro, a integridade. Segundo, a harmonia ou proporção. Terceiro, o
esplendor da beleza, quer dizer, a clareza com que a integridade e a proporção
ou ordem da coisa se manifestam. Quando algo possui esses três elementos –
integridade, harmonia, e esplendor – ele é belo e, como belo, agrada aos
sentidos, à inteligência. Se a beleza agrada aos sentidos, temos a beleza
sensível. A beleza mais nobre, porém, é a espiritual, aquela que é percebida
pela inteligência e que atrai a vontade: a beleza da verdade, a beleza de uma
vida virtuosa, por exemplo. É por isso que a vida de um santo nos causa
admiração: ela é bela porque a virtude é íntegra e ordenada.
A Missa tradicional é de uma beleza – objetiva, claro! – que não pode
ser medida. Tal beleza é única na Santa Igreja. E mesmo aqueles que se opõem à
liturgia tradicional reconhecem isso. Reconhecem a beleza do canto, dos
paramentos, do ritual. Todavia, a verdadeira beleza da Missa Tradicional é
muito mais profunda do que os cantos, os paramentos, pois a Missa Tradicional
possui os três elementos da beleza – integridade, harmonia ou ordem, e
esplendor – em grau eminente.
A Missa Tradicional é, antes de tudo, íntegra. Ela expressa de maneira
perfeita a doutrina da santa Igreja, tal como ensinada por Cristo e transmitida
pelos apóstolos e seus sucessores até os nossos dias. Entre esses pontos de
doutrina, podemos citar três dogmas que na liturgia nova foram infelizmente
bastante atenuados, embora não tenham sido negados formal e completamente. O
primeiro é o dogma da presença real, verdadeira e substancial de Cristo sob as
espécies de pão e de vinho, presença que é distinta e imensamente superior à
presença de Cristo na Sagrada Escritura ou entre discípulos que rezam. Na missa
tradicional, a presença real se manifesta claramente. Para citar, então, alguns
exemplos: toda vez que o Pe. deve tocar nas espécies sagradas ele deve fazer
uma genuflexão antes e uma depois. É também obrigatório guardar unidos os dedos
que tocaram o Santíssimo Sacramento, soltando-os somente depois da purificação,
feita com água e vinho que o sacerdote bebe depois. O sacerdote faz a
genuflexão, no momento da consagração, antes e depois da elevação. O respeito e
a reverência ao Santíssimo sacramento obrigam os fiéis a receberem a sagrada
comunhão na boca e, salvo impedimento, de joelhos. A presença real de NSJC em
corpo, alma, sangue e divindade é claramente afirmada na Missa Tradicional.
O segundo dogma claramente manifestado no rito tradicional é o do
sacerdócio ministerial, quer dizer, a diferença essencial que existe entre o
sacerdócio do Padre e o sacerdócio dos fiéis. Quem realiza a renovação do
sacrifício da Cruz é Cristo, sacerdote principal. Mas ele realiza a renovação
do sacrifício do Calvário por meio do Padre. Padre que é o instrumento
escolhido por Nosso Senhor e ao qual os fiéis devem se associar. No rito
tradicional isso é bem claro: o sacerdote não é jamais definido como presidente
da assembléia ou o primeiro entre iguais; o sacerdote reza o cânon, quer dizer,
a oração eucarística e as palavras da consagração em voz baixa, para
indicar que seu poder sacerdotal independe do povo. O Pai Nosso, que na
liturgia romana é uma oração sacerdotal é rezada unicamente pelo sacerdote.
Todos os paramentos sacerdotais da Missa Tradicional – sempre obrigatórios –
indicam a diferença entre o sacerdote e o fiel. Diferença que não significa,
evidentemente, maior ou menor santidade, mas simplesmente uma participação mais
profunda no sacerdócio de Cristo. Cristo fundou a Igreja como uma sociedade
hierárquica: nós vemos isso claramente na Missa Solene do RITO tradicional na
qual padre, diácono e sub-diácono estão sempre em posição hirárquica. E nessa
sociedade hirárquica, o papel de oferecer o sacrifício cabe unicamente ao
sacerdote. Os fiéis devem se associar ao sacerdote no culto litúrgico.
O terceiro dogma claramente expresso é o dogma de que a Missa é um
sacrifício propiciatório, além de ser um sacrifício de adoração, de ação de
graças e sacrifício pelo qual pedimos os bens necessários para nossa salvação.
A Missa é um sacrifício propiciatório, quer dizer, pelo qual pedimos a Deus
perdão pelos nossos pecados e pelo qual ele nos concede esse perdão se estamos
bem dispostos. Já na subida ao altar o Pe. pede a Deus que afaste de nós as
nossas iniqüidades. Nas inúmeras e sublimes orações do ofertório da Missa
Antiga está expressa essa finalidade propiciatória: repetidas vezes o Padre
perde perdão pelos seus pecados, por suas faltas. Também nas orações que pedem
a aplicação dos frutos da Missa aos fiéis defuntos está expresso o caráter
propiciatório da Missa. Eis então a integridade da Missa Tradicional:
correspondência clara e perfeita ao dogma católico. Correspondência clara e
perfeita que infelizmente está ausente na liturgia renovada.
A Missa é também ordenada, proporcional, bem disposta. Eis aqui o
segundo elemento da beleza. Ela possui a preparação próxima, que são as orações
ao pé do altar. Ela contém a Missa dos Catecúmenos, com o Intróito, o Kyrie e o
Glória. Ela possui as leituras, que são antes de tudo um ato de culto a Deus e
à Revelação Divina contida na Sagrada Escritura. Por isso as leituras em latim
não são feitas voltadas para o povo. Ela possui a Missa dos fiéis, com um
ofertório. Ofertório que nos mostra bem as finalidades da Missa: adoração, ação
de graças, súplica para alcançar as graças necessárias e súplica para obter o
perdão de nossos pecados. Ofertório que deixa claro que a Missa é a renovação
não sangrenta do sacrifício da cruz e que trata desde já o pão e o vinho como
se fossem o Corpo e o Sangue de Cristo para que nosso espírito humano, lento
para compreender, possa compreender melhor a natureza da Santa Missa e
participar mais perfeitamente do sacrifício de Cristo. Depois do ofertório vem
o Cânon, o venerável Cânon Romano, rezado em voz baixa, obra-prima da Tradição
da Igreja, e fixado desde o século VI, praticamente. Cânon Romano que expressa
de maneira clara a doutrina da Igreja sobre a Missa. Não se trata de uma oração
fabricada em escritórios por pretensos especialistas. Depois vem a consumação
do Sacrifício feita pela comunhão do sacerdote, única comunhão necessária para
a integralidade da Missa. Finalmente, vem a ação de graças por tão sublimes
benefícios e o pedido para que possamos aproveitar verdadeiramente dos frutos
da Missa e da comunhão que recebemos.
A Missa Tradicional é, então, íntegra, ela expressa perfeitamente toda a
doutrina católica, sem omissões, sem ambigüidades. Ela é ordenada,
proporcional: nela não falta nada e cada oração, cada parte, desde a oração ao
pé do altar ao último Evangelho, passando pelo ofertório e consagração, cada
uma dessas partes está perfeitamente disposta. E essa integralidade e essa
ordem são claras e evidentes para quem assiste à Missa Tradicional. Quem
assiste à Missa tradicional percebe rapidamente a integralidade de sua doutrina
e a harmonia de suas partes. A beleza da Missa tradicional se manifesta com
clareza. A Missa tradicional é, então, verdadeiramente bela, mas de uma beleza
objetiva, que se encontra no próprio rito, tal como a Igreja, sobretudo por
meio de Papas Santos, a formou ao longo dos séculos.
Nosso amor pela liturgia tradicional não deve ser fundado em sobre
razões sentimentais, mas, ao contrário, deve ser fundado nessa beleza que
decorre da integridade doutrinal e da ordem perfeita de suas partes, e da
manifestação desses dois elementos. Como dissemos, a beleza, fundada nesses
três elementos – integridade, ordem e esplendor – agrada à inteligência. Como
Deus é o ser inteligente por excelência, podemos dizer que a Missa Tradicional
lhe agrada de maneira particular por sua beleza eminente. Mais uma vez repito:
essa beleza é objetiva: porque há a integridade da doutrina, há uma harmonia
perfeita de suas partes e porque há, finalmente, a manifestação clara dessa
integridade e dessa harmonia. Quando dizem, então, que preferimos essa liturgia
por simples gosto pessoal ou sentimental porque ela é mais bonita, devemos
responder que ela é sim mais bonita e que a preferimos por causa disso. Mas
devemos afirmar que a beleza está fundamentada em aspectos doutrinais,
teológicos, espirituais. Preferimos essa Missa porque sendo íntegra e ordenada
agrada a Deus de uma maneira que não pode ser medida e porque, agradando a
Deus, faz um bem imenso e maior às almas.
Devemos, então, lutar pela beleza da liturgia, que não é simplesmente a
beleza dos paramentos, do canto litúrgico, embora tudo isso seja também
necessário e indispensável. Devemos lutar por essa beleza profunda e
espiritual, quer dizer, pela beleza que está intimamente ligada à doutrina
católica. Uma liturgia bela é agradável a Deus e faz bem às nossas almas. É por
esse motivo que nós, no IBP, nos obrigamos a celebrar exclusivamente a Missa
Tradicional. Unamo-nos, então, caros católicos, a essa bela liturgia que ocorre
agora sobre o altar. Unamo-nos por meio de uma verdadeira participação, que não
consiste em fazer barulho ou gestos, mas que consiste a oferecer nossa vida em
união ao sacrifício de NSJC. Somente por Ele, com Ele e nEle podemos fazer algo
que tenha valor diante de Deus. Unindo-nos a essa bela liturgia, tão agradável
a Deus, possamos também nós sermos agradáveis a Deus, confessando a integridade
da fé católica e a guardando íntegra, ordenando toda a nossa vida a Deus e
manifestando isso em todas as nossas ações. Peçamos, então, a Deus que nos
conceda, por essa bela liturgia, a graça de levarmos uma bela vida, quer dizer,
uma vida de virtude, uma vida santa. Peçamos a Deus a propagação dessa bela
liturgia que gera a beleza de uma vida santa.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.
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