Amigos, salve Maria.
Mais um excelente texto relacionado ao ódio que
devemos sentir pela heresia enviado por Rodrigo Maria. Trata-se de artigo
de Antonio Socci, publicado na Revista 30 Dias, edição brasileira, de janeiro
de 1991, páginas 64-67.
Observem atentamente que o Vaticano II é uma velha
raposa cuja metodologia já existia anteriormente tendo sido descoberta e
combatida por Santo Hilário. Os argumentos que o santo usa para combater o arianismo
são essencialmente os mesmos argumentos que devemos usar para combater o
conciliarismo. Mas o mais impressionante mesmo é que aquilo que ele diz dos
inimigos, seus modos de agir, são idênticos aos modos de agir dos
"papas", "bispos", "sacerdotes" e demais
membros
da anti-igreja hoje instalada em Roma como se fosse a Igreja Católica, onde
fora ninguém se salva.
Vale mesmo muito a pena ser lido este texto.
Queremos agradecer ao Rodrigo por estar cumprindo sua palavra de enviar
aos poucos o antigo conteúdo de seu finado, e heróico blog.
Finalizando, notem ainda que a conduta de
Santo Hilário diante da heresia e dos hereges é aquela que hoje todos os
católicos devem procurar imitar, a medida em que Deus lhes dá graças para isso.
(Nota do blog
Cum Ex Apostatus Officio - Sandro Pelegrineti
de Pontes)
A heresia sob máscara de ortodoxia: pequeno resumo
da luta de Santo Hilário de
Poitiers contra o arianismo
Ambrósio, um jovem
funcionário do Império Romano, foi eleito bispo de Milão em 374 por aclamação
popular, para sua grande surpresa: tinha sido batizado apenas oito dias antes.
Uma coisa parecida acontecera alguns anos antes em Poitiers, cidade
da Gália no extremo noroeste do Império. Em 350, a pequena comunidade cristã da
cidade escolheu como bispo um intelectual jovem e rico chamado Hilário,
convertido poucos meses antes.
Hilário era casado e
tinha uma filha. Ele também ficou surpreso com aquela escolha. Nos seguintes,
se referiu a ela como 'o peso que me foi entregue'. Naquela época, Poitiers era
uma típica cidade de província. Tinha um bom nível econômico, estava distante
das principais rotas comerciais e a população - pelo menos nas esferas mais
altas - preferia a 'doce vida' em vez das atividades culturais.
As escolas de
prestígio, para os jovens mais ambiciosos, estavam em Bordeaux. As primeiras
notícias sobre a presença de cristãos em Poitiers remontam ao ano 300. Deviam
ser poucos, na verdade. A comunidade recém-nascida era frequentada
principalmente por pessoas simples. É possível que a Igreja nascente não tenha
sequer despertado muita atenção na cidade.
Todavia, o caso de
Hilário teve muita repercussão mais tarde. O jovem nascera por volta de 315 em
uma rica família de patrícios, uma das mais importantes da cidade. A família
era de estirpe senatorial e, naturalmente, pagã. Hilário tinha diante de si a
perspectiva luminosa do sucesso ou, para usar as suas palavras, 'o doce
sensualismo do ócio e da riqueza'.
Hilário era um homem
da alta sociedade. Casou-se e sua mulher deu à luz uma filha logo em seguida.
Aos trinta anos, já realizado, continuava a experimentar uma inquietude que não
conseguia acalmar. Daí nasceu a sua paixão pela literatura, onde encontrava o
pensamento da morte, o absurdo da vida, o desânimo diante da evidência da
fragilidade de todas as coisas e a vida mesma engolida pelo nada. Não sabemos
como, mas este jovem de sucesso descontente com a vida conheceu o pequeno grupo
de cristãos dePoitiers. Mais tarde, narrando essa experiência, escreveu:
'O meu espírito agitado e inquieto viu então brilhar um raio de esperança mais
vivo do que esperava'.
Depois de aprofundar
a amizade com os cristãos, Hilário foi batizado em uma vigília de Páscoa. O
anúncio de Cristo o dominou totalmente: 'Não devemos pensar que Ele deixou de
ser Deus, mas que Deus veio na carne, em nada diferente de nós. O meu espírito
abraçou esta doutrina com alegria. Assim, a carne me conduziu a Deus, a fé me
chamou a um novo nascimento. A inteligência humana não interferiu no trabalho
do meu espírito: o seu olhar era muito limitado para essa imensidão'. Até
aquele momento, a pequena comunidade vivia com simplicidade, dedicando-se
unicamente ao apostolado e às obras de misericórdia.
O próprio Hilário,
uma vez eleito bispo - ou seja, depois de 350 - leu aos seus fiéis o Evangelho
de São Mateus, explicando o significado. O bispo havia morrido naquele ano, e
os fiéis escolheram Hilário para ocupar o seu lugar. Nada sabemos sobre sua
mulher e sua filha. Hilário falava sobre si mesmo só por obediência. Sabemos,
porém, que se dedicou inteiramente à sua vocação. Começou a pregar e
provavelmente a partir daí a sua pessoa, a sua história e a comunidade cristã
se tornaram um dos assuntos mais debatidos em e controvertidos em Poitiers. O temperamento forte e convincente de Hilário
era do tipo que deixa marcas e obrigam a tomar posição.
Naquele tempo, a
Gália era quase completamente pagã. Por isso, Hilário não descansava. Ordenou
muitos jovens da comunidade - inclusive Martinho, que acabava de deixar o
exército e se estabelecera em Poitiers com Hilário - e
construiu casas em que podiam viver em comum e ajudarem a anunciar o Salvador.
A sua missão durou quase seis anos. Todavia, em 355 aconteceu algo decisivo
para Hilário. Na Gália, quase nada se sabia sobre a heresia ariana, que estava
devastando a Igreja. Só o bispo de Tréves, que havia hospedado Atanásio durante
um dos seus períodos de exílio, tinha algumas informações. Hilário não participou
dos sínodos de Arles (353) e de Milão (355), que o imperador herege Constâncio
havia convocado para condenar Atanásio e difundir o arianismo no Ocidente.
Não podemos dizer que
Hilário conhecia os documentos da Igreja e a sua história recente, uma vez que
disse muitos anos depois que 'nunca ouvira falar do Credo de Nicéia antes de
ser exilado'. O Concílio de Nicéia se realizou em 325 e definiu o Símbolo
católico, condenando definitivamente Ário. Hilário não sabia de nada, mas 'os
Evangelhos e os Apóstolos' lhe ensinaram o Credo de Nicéia, como escreveu anos
mais tarde. Assim se explica a furiosa batalha que travou contra Saturnino,
bispo de Arles e líder do arianismo na Gália, em 355. Para Hilário, era evidente que a salvação
estava ameaçada, ainda que mantivesse uma aparência "católica".Ele
nem precisou ler os documentos do Concílio de Nicéia: a fé era suficiente. 'Foi
assim que aprendi, foi nisso que acreditei (...) Os ímpios doutores que o nosso século produz chegaram muito tarde para
mim. A minha fé, na qual Tu, Senhor, me instruíste, não teve esses mestres.
Antes que se falasse deles, eu confiei em Ti, e assim me regenerei em Ti'.
Hilário dizia que 'a
fé não é uma questão de filosofia' e que 'o seu ardor e o amor da sua verdade
são ignorados pelo mundo e pela sua falsa sabedoria'. Ário, o grande herege, já
estava morto e o seu erro fôra condenado pela Igreja. Todavia, foi naquela
época que o seu erro se alastrou por toda a Igreja, graças ao arbítrio do poder
imperial de Constâncio e à máscara de ortodoxia. Ário negava claramente a
divindade de Jesus; agora, havia um embuste sútil. Valente, Ursásio, Ausêncio, Gemínio e Gaio se diziam católicos mas na
verdade eram arianos. Hilário dizia que eles "se disfaçavam de anjos de
luz e cancelavam Cristo das inteligências e das consciências (...) Lembrai-vos que todos os hereges da hora
presente se recusam a admitir que a sua pregação - que segundo eles é conforme
à Escritura - é blasfema. Marcelo leu justamente que Jesus Cristo é o
Verbo de Deus, mas de fato não sabe o que leu. Fotino, por sua vez, fala bem de
Jesus Cristo como homem, mas ignora o que isso significa (...) Todos eles têm a Escritura nos lábios, mas
não conhecem o sentido da Escritura: assim, sem ter fé, apelam para a sua fé!"
(N do r. - qualque semelhança com os papas e bispos conciliares não é mera
coincidência, a heresia se recicla séculos após séculos, os métodos são sempre
os mesmos).
Esse é o tom da carta
que Hilário enviou a Constâncio, enquanto tentava reunir os bispos da Gália
para que renegassem o que haviam decidido em Arles sob a pressão de Constâncio.
Hilário queria principalmente que a condenação de Atanásio, o grande e
solitário defensor da verdadeira fé, fosse anulada e que os arianos fossem
novamente condenados. Isso foi suficiente para provocar a ira do imperador, que
mandou prender Hilário e o exilou na Ásia Menor com um decreto do Concílio de
Béziers (356). Assim, o Ocidente perdeu o seu Atanásio e ficou indiferente
diante da heresia que minava a raiz da fé católica.
Hilário, que tinha 40
anos, teve de deixar a sua terra, a sua comunidade e a sua família. A mesma
sorte coube aos últimos bispos católicos: Eusébio de Vercelli, Osio de Córdova,
Dionísio de Milão, Lucífero de Cagliari e o papa Libério, [então firme na defesa
da fé,] aprisionado e humilhado por Constâncio. A provação do exílio fortaleceu
Hilário. Ele pôde conhecer a Igreja do Oriente e aprofundar o conhecimento do
arianismo. Escreveu uma de suas obras mais importantes, o tratado Da fé
contra os arianos, conhecido como De Trinitate. Escreveu também
uma outra carta a Constâncio, mais dura e veemente que a primeira, na qual o
acusou de sacrilégio contra Libério, sucessor de Pedro: 'Tu levaste a guerra até Roma, privaste-a do
seu bispo e, desgraçado, não sei se foste mais ímpio expulsando-o ou
exilando-o'.
Hilário participou do
Concílio de Selêucia e soube dos resultados desastrosos do sínodo ocidental de
Nike. A apostasia universal estava
próxima; o Símbolo de Nicéia estava para ser substituído pelo Credo dos
hereges, que pareciam ter conquistado a Igreja. Hilário estava angustiado e as
suas palavras demonstram a sua ansiedade: "Os pastores devem gritar para que os mercenários se dispersem. Ofereçamos
as nossas vidas pelas ovelhas, porque ladrões estão dentro de casa e o leão nos
rodeia". Era uma tribulação "jamais vista desde o princípio do
mundo".
Hilário diz que esse
tempo era pior que o de Nero: "Eu teria certeza do triunfo diante de
inimigos declarados, porque não teria dúvida que se trata de perseguidores, que
querem que reneguemos a fé com suplícios, com o ferro e com o fogo (...) Mas hoje nós lutamos contra uma perseguição
camuflada, contra um inimigo cheio de suavidade, como Constâncio, o Anticristo.
Ele não dilacera as costas, mas afaga. Não desterra para a vida (eterna), mas
enriquece para a morte. Não aprisiona materialmente (o que faria apreciar a
verdadeira liberdade) mas honra no seu palácio para aprisionar. Não flagela os
flancos, mas se apodera do coração. Não corta as cabeças mas mata a alma (...)
Confessa Cristo para negá-lO; diz que se preocupa com a unidade (da Igreja)
para impedir a paz (verdadeira), reprime as 'heresias' para que não hajam
cristãos (...) Te leva
a toda parte na sua boca e faz de tudo em todas as ocasiões para que Tu, Senhor
Jesus, não sejas reconhecido como Deus, igual ao Pai". (N. do
r. - Hilário aqui parece estar falando de Padre Ratzinger, dos demais papas
conciliares e do Vaticano II. É a cobra mordendo o rabo, é o ciclo que nunca se
encerra relacionado a luta entre Deus e o demônio).
Depois de três anos
de exílio, Hilário era muito mais incômodo no Oriente que na sua pequena Poitiers.
Segundo Sulpício Severo, os arianos começaram a denunciá-lo como "semeador
de discórdia e perturbador do Oriente". Em 360, Constâncio resolveu
mandá-lo de volta à Gália, onde foi recebido com entusiasmo. "Hilário foi
o maior protagonista do Concílio de Paris (361), que excomungou os bispos
arianos de Arles e Périgueux. Todavia, Hilário não se considerava o chefe de
uma "facção" em luta com outras, mas um pastor da Igreja. Ele foi
"o libertador da Igreja da Gália", como reconheceu Sulpício. Nesse
período, Martinho, em torno do qual começavam a se reunir jovens cristãos que
queriam se dedicar totalmente a anunciar Cristo, voltou a Poitiers.
A antiga amizade se reforçou depois de anos de perseguições e aventuras que os
levaram às extremidades do mundo. Ambos tinham muita coisa a contar e estavam
preocupados com o estado da Igreja.
Martinho descreveu a
Hilário a trágica situação da Itália setentrional, sobretudo a perfídia de
Ausêncio, bispo de Milão, que o expulsara daquele território. Hilário ficou
impressionado e decidiu continuar a batalha na Itália, com Eusébio e Vercelli.
"Hilário partiu para Milão e convocou todos os bispos italianos para
destituir Ausêncio, que havia usurpado a cátedra expulsando o bispo Dionísio.
No seu Liber contra Auxentium, Hilário
o chama de anjo de satanás, inimigo de Cristo, maldito devastador de almas,
renegador da fé confessada com a mentira e ultrajada com a blasfêmia".
Os inimigos de
Hilário tinham razão em denunciá-lo como fomentador de divisões e lutas na
Igreja. Hilário realmente o era, e o foi desde o início, intuindo que "sob o belo nome de paz nós caímos aos poucos
na unidade da heresia" (N. do r. - como isso serve para os membros
da nova igreja...). Depois da terrível luta daqueles anos, havia um grande
desejo de recuperar a paz e a unidade na Igreja, e o poder político fazia disso
uma bandeira para justificar a intervenção na vida da Igreja. Hilário, porém,
prosseguiu a sua luta contra Auxêncio, ainda que fosse acusado de louco semeador de discórdia na Igreja por
causa disso. "O nome da paz
é certamente admirável, e belo é o pensamento da unidade, mas quem pode pensar
que exista outra paz e outra unidade fora da paz e da unidade da Igreja e do
Evangelho, ou seja, de Cristo?". Em outras palavras, a "unidade da heresia" não é a unidade de
Cristo.
Apesar disso, Hilário
não conseguiu expulsar Auxêncio, que contava com o apoio do poder imperial.
Naquele período, sucederam-se no trono imperial Constâncio, Juliano o Apóstata
e Valentiano. Auxêncio permaneceu em Milão até a morte, em 373. Hilário voltou
a acusar o poder imperial, que estendia os seus tentáculos dentro da Igreja.
Assim, ele retoma as idéias das cartas a Constâncio, porque "todo aquele que renega que Cristo é
exatamente como foi anunciado pelos Apóstolos, é Anticristo". A
peste ariana, que quase prevaleceu, pulverizou-se ao encontrar a fé de Atanásio
e Hilário. No final de 367, o grande Hilário morreu na sua cidade. Combateu o
bom combate e deixou uma herança: "Unum
moneo: cavete Antrichristum" (Uma só advertência: cuidado com o
Anticristo).
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