O
catolicismo modernizado cavou sua própria cova: pregando um Deus que
é pura condescendência, transformou-se em um catolicismo agnóstico,
que apesar de não negar a existência de Deus, vive independente de
Deus, porque para ele Deus é desconhecido. Se Deus sempre me dá
razão, se sempre abençoa as minhas escolhas, se sempre se ajusta a
mim e à minha vontade, Deus desaparece da minha vida. É a tragédia
da Igreja pós-conciliar, que se tornou agnóstica.
Tradução:
Carlos Wolkartt – Catolicidade.com
Um Deus que
não pede mais nada aos homens é como se não existisse. Este é o
desfecho trágico de uma Igreja pós-conciliar que, esposando uma
visão mundana da misericórdia, chega a um agnosticismo prático.
Sim, porque se é verdade que existe um ateísmo prático, aquele que
vive como se Deus não existisse, apesar de não negar explicitamente
a sua existência, existe também um agnosticismo prático, aquele
que fala de um Deus que permanece desconhecido, que não fala com
clareza aos homens, de quem o homem consegue aquilo que quer
dependendo da ocasião, um Deus que, no fundo, existe só para
beneficiá-lo, sem pedir muito.
Parece ser
justamente essa a situação de grande parte do catolicismo hodierno,
concretamente vivido pela maioria dos batizados.
Prega-se um
Deus puramente misericordioso, um Deus de consolação, que não pede
a conversão pessoal, que não pede uma mudança de vida. Um Deus
pronto para acolher os novos rumos da sociedade, pronto para declarar
que as imoralidades, se vividas com o coração, no fundo não são
propriamente imorais. Os debates em torno do último sínodo dão
amplo exemplo disso. O matrimônio não existe mais em nosso ocidente
decadente, então vamos nos apressar em dizer que Deus não pede uma
indissolubilidade absoluta. As pessoas não se casam mais, então
vamos nos apressar em dizer que, se no convívio houver amor sincero,
isso de alguma forma compensa o sacramento... E discursos como esses,
não só referentes ao matrimônio, poderíamos citar vários.
No fim das
contas, podemos dizer que estamos diante de uma nova mensagem de
Deus, de um Deus que não pede nada aos homens, de um Deus que não
proíbe nada. Na época da revolta estava em alta o termo “é
proibido proibir”; hoje este slogan habita na Igreja renovada, na
Igreja do pós-Concílio. “É proibido falar de um Deus que
proíbe”: parece ser este o slogan com o qual se redesenhou os
quadros dos católicos comprometidos e sobretudo do clero. Querem um
clero que acolha, sem recordar o dever urgente da conversão. É
proibido falar de castigo, de penitência, de temor de Deus. As
pessoas necessitam de consolação, dizem, precisam recuperar a
confiança na Igreja — então, por favor, não proíbam! É um
refrão maçante.
Com uma
borracha se apaga toda a Sagrada Escritura, todo o Evangelho e todo o
Antigo Testamento. Fala-se de um Deus que não cabe na Revelação,
de um Jesus emprestado do laicismo maçônico, que não corresponde a
nenhuma passagem do Evangelho. Um Senhor que não indica a estrada da
vida, pedindo aos homens para se afastar do pecado — mas um Senhor
que se apressa em contemplar o que os homens fazem em sua embriaguez
de pecado.
Mesmo os
esforços da hierarquia parecem destinados a controlar apenas aquela
parte da Igreja que insiste em pregar um Deus que perdoa os pecados,
que castiga o pecador, para que o homem possa se arrepender e voltar
a uma vida santa. O “é proibido falar de um Deus que proíbe”
transformou-se em “chega de uma Igreja que proíbe”. Com efeito,
ainda há algo proibido em nossas paróquias e em nossas igrejas?
É de se
perguntar o que pensam, fiéis e pastores, quando na missa é
proclamada a Palavra de Deus, quando escutam os profetas que anunciam
os castigos de Deus e convidam à conversão, quando no evangelho se
fala dos últimos tempos, do juízo final e do retorno glorioso de
Cristo.
Justamente
nos anos em que se fala tanto, na Igreja, do diálogo com os judeus,
o Antigo Testamento é censurado por completo. É um Deus moderno que
está no centro de muitas igrejas, um Deus burguês que abençoa as
escolhas emancipadas dos homens, em sintonia com os tempos, um Deus
que não pede mais nada para ninguém.
Mas toda
essa falsidade já está castigada. Sim, porque um Deus que não te
pede nada é um Deus que, de fato, não existe. Isso é verdade
também no dia-a-dia das pessoas: o que não faz o homem diante de um
Deus que sempre lhe dá razão?
Nós
cavamos nosso próprio túmulo.
O
catolicismo modernizado cavou sua própria cova: pregando um Deus que
é pura condescendência, transformou-se em um catolicismo agnóstico,
que apesar de não negar a existência de Deus, vive independente de
Deus, porque para ele Deus é desconhecido. Se Deus sempre me dá
razão, se sempre abençoa as minhas escolhas, se sempre se ajusta a
mim e à minha vontade, Deus desaparece da minha vida. É a tragédia
da Igreja pós-conciliar, que se tornou agnóstica.
É por isso
que na Igreja de hoje se fala tanto da própria Igreja e do mundo, e
quase nunca de Deus.
Vivendo o
Santo Natal recordamos, porém, que Deus veio ao mundo, se fez homem,
mostrou o Seu rosto, falou-nos através dos séculos no Antigo e no
Novo Testamento, nos ensinou e nos pediu, e nós devemos escutá-Lo e
obedecê-Lo. E a Igreja deve ser simplesmente o eco fiel do Senhor
que fala.
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