"O inimigo empenhou-se e esforça-se para que Cristo seja um estranho nas universidades, nas escolas, nas famílias, nas administrações e justiça, na atividade legislativa, na reunião das nações, onde se decide sobre a guerra ou paz."
Arai Daniele
Não se pense que vou criticar estes dois importantes autores; vou seguir o que disseram de essencial, a partir da definição da natureza da «Revolução» como processo uno, total e dominante. Quando se procura colocá-la no tempo histórico é que surgem diferenças. Parece-me poder explicá-lo indo bem além do processo histórico que destruiu a Idade Média com o processo igualitário e a Reforma, até a «Crise do homem contemporâneo». De fato seria redutivo limitar uma definição da «Revolução» por antonomásia à crise do homem medieval ou moderno com a crise da consciência européia. Nesse sentido é junto dizer que “As muitas crises que abalam o mundo hodierno do Estado, da família, da economia, da cultura, etc. não constituem senão múltiplos aspectos de uma só crise fundamental, que tem como campo de ação o próprio homem. Em outros termos, essas crises têm sua raiz nos problemas de alma mais profundos de onde se estendem para todos os aspectos da personalidade do homem contemporâneo e todas as suas atividades” (Plínio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra Revolução, 3a edição, Chevalerie Artes Gráficas e Editora Ltda, São Paulo, 1993, p. 13).
Aqui há que salientar que a crise nas profundezas da alma é crise de natureza religiosa, que na sociedade humana é crise na vida civil extensiva à vida na Igreja. Tudo remonta às origens da crise nascida de uma rebeldia induzida por ação diabólica mos primórdios da história humana, que tornou-se rebelião contra Jesus Cristo e a Sua Palavra divina concretizada na ação contra a Sua única Igreja desde o início da era cristã.
Assim hoje o centro da crise não se encontra somente na esfera político – social, mas na Igreja Católica, donde hoje irradia uma rebelião diabólica, gnóstica e ecumenista contra Deus Uno e Trino.
Por tudo isto nunca é demais repetir Pio XII que sobre essa rebelião universal descreve como ela afeta o “organismo misterioso de Cristo” porque avança com ardis enganosos: “Cristo sim, mas Igreja não. Depois: Deus sim, Cristo não. Finalmente o grito ímpio: Deus morreu, aliás nunca existiu. Segue a tentativa de edificar a estrutura do mundo sobre fundamentos que nós não hesitamos em indicar como a principal responsável da ameaça que pesa sobre a humanidade: uma economia sem Deus, um direito sem Deus, uma política sem Deus. O inimigo empenhou-se e esforça-se para que Cristo seja um estranho nas universidades, nas escolas, nas famílias, nas administrações e justiça, na atividade legislativa, na reunião das nações, onde se decide sobre a guerra ou paz.” (Pio XII, discurso aos homens da ACLI, 12-10-52). O Papa via, já então, o processo avançado ao ponto de considerar vão “ir ao seu encontro para tentar travá-lo e impedir que semeie ruína e morte”, mas que se devia “vigiar… a fim de que o lobo não acabe por penetrar no redil para raptar e dispersar a grei”.
O Papa sabia pois a situação de grave risco de revolução interna em que deixava a Igreja.
Quanto è revolução no plano social, Orlando Fedeli remonta o processo à sorrateira obra de corrupção moral do final da Idade Média com o “Roman de la Rose”, preparatória do curso revolucionário para desencadear tendências desregradas de orgulho e sensualidade na alma humana, orquestradas depois pela Maçonaria, manipulando paixões que geram conflitos e revoluções, tudo finalizado à envolver e destruir a Igreja Católica.
Sobre a natureza da Revolução, penso que foi visto o que basta para saber que se trata do processo universal da alma humana tornada rebelde com o Pecado Original. Então se pode dizer que como a rebelião é de pessoas a Revolução o é das sociedades, num processo de rebeliões que se somaram e organizaram cada vez mais ao longo da história.
Tudo orquestrado pelo espírito satânico suscitador do curso comum de paixões segundo os tempos. Se antes não o conseguiu devido ao forte impulso religioso inato dos homens e portanto das sociedades, que refreava a liberdade, com o progredir do poder humano sobre a natureza, cresceu também a vontade de emancipação e a ânsia de liberdades ligadas ao orgulho e à sensualidade da alma humana enfraquecida pela queda original.
Aqui se manifestou o desígnio de Redenção com a Encarnação do Filho de Deus.
Desde então o mundo humano dispôs do mais veraz e consistente freio para as paixões desordenadas e para a elevação ao seu fim último de amor a Deus com o Cristianismo.
Mas a acesa luta, ao mesmo tempo terrena e ultra terrena, nunca arrefeceu. O avanço no domínio material reforçou cada vez mais as paixões concupiscentes, açuladas pela sede de liberdade, fazendo fraquejar o desejo de elevação espiritual ligado ao Cristianismo. Foi então que o espírito de revolução se alastrou em modo crescente, abatendo bastiões para atingir o seu maior obstáculo, a Igreja Católica, defendida na lei de Estados cristãos.
A hora da Profecia de Fátima
Já dissemos muitas vezes que a Mensagem profética de Nossa Senhora de Fátima tem necessariamente unidade histórica, visto seu objetivo constante de defesa da Fé e da Igreja diante dessa Revolução crescente. Por isto pode-se dizer que Fátima é a última Mensagem na sequência das outras, da Rue Du Bac, de La Salette e de Lurdes; todas para prevenir de perigos ligados à vida e à ordem civil, reforçando os bastiões da Fé.
Chegamos assim ao católico Portugal, cujos reis tinham posto a coroa aos pés de Maria Virgem, a Mãe de Deus que é desde então a Rainha dessa ilustre e especial Nação.
Ali a revolução protestante não vingou, como nenhuma blasfêmia na linguagem.
Assim foi até o reinado de D. João V, quando a decadência iniciou, ferindo a tradicional unidade religiosa da Nação. Vamos seguir este processo marcado por eventos terríveis, que podemos demonstrar terem influenciado pesadamente o curso da história européia e mundial até hoje. Se isto não foi ainda reconhecido, a Aparição de Fátima lembra a fazê-lo, numa leitura pautada pela Revelação, que indica a ação do Amor divino com graças, mas também castigos para salvar almas criadas à imagem e semelhança de Deus.
Vamos iniciar essa lembrança através de Costa Brochado no seu «Fátima à Luz da História».
Pródomos da Divisão Religiosa em Portugal
“A quebra da unidade religiosa do país é obra política do Marquês de Pombal, e resultou, como em toda a Europa, do absolutismo que está na base da longa e porfiada campanha dos juristas e filósofos contra as doutrinas da Igreja. Estudámos, noutros trabalhos (Infante D. Henrique e Afonso de Albuquerque), a evolução desse acontecimento que veio a rematar no reinado de D. José, depois de ter acompanhado, durante muitos séculos, a curva acidentada das lutas religiosas travadas em toda a parte.
“O problema, no fundo, consistia em saber se era da Igreja que o poder civil tinha a sua autoridade, ou se o monarca a recebia directamente de Deus. Ao cabo de longas lutas e discussões, chegou-se à conclusão, com o semi-maquiavélico Descartes, de que Deus dá o direito àqueles a quem empresta a força. E é incontestável que estes princípios dominavam nos alvores do século XVIII. Todavia, importa esclarecer que nunca, em Portugal, até esta data, as reivindicações políticas dos monarcas tiveram propósitos contra a fé católica, mas unicamente visavam libertar o poder real da soberania da Santa Sé. O problema abre-se, com toda a clareza, após a Restauração, quando as Cortes de 1641, perante as dificuldades surgidas para o reconhecimento de D. João IV, em Roma, resolveram que o Reino tinha o poder de entronizar o monarca, «porquanto este poder lhe ficou quando os Povos a princípio transferiram o seu no Rei, para os governarem» (Lopes Praça. Colecção de Leis e Subsídios para o Estudo do Direito Constitucional Português). Claro que esta atitude era meramente política, sabido de que forma aquele Rei e as Cortes deram provas, como adiante veremos, da mais firme ortodoxia. Mas a verdade é que aqui fica resolvido o velho conflito entre a teoria do direito divino providencial e o sobrenatural, transferindo-se para os povos o mandato divino que até aí os monarcas defendiam, com o apoio dos juristas, receberem directamente de Deus. A teoria das Cortes portuguesas, apesar de indirectamente parecer seguir o rastro das ideias revolucionárias do século XVI, não colidia com os melhores princípios católicos, contando-se às dezenas, por toda a parte, os teólogos e canonistas autorizados que defendiam essa doutrina. Restaurava-se, portanto, o Reino de Portugal na melhor ortodoxia, parecendo assegurado pelas Cortes de 1641 o caminho liso do futuro, sem em nada se atingir a fé católica nem diminuir a autoridade e o prestígio da Santa Sé. Mas, logo a seguir, no reinado de D. Pedro II, o absolutismo faz sua trágica aparição, começando a endeusar-se o monarca, à imagem e semelhança do que sucedia em quase toda a Europa. Os reis queriam mandar descricionàriamente, sem as peias morais da Religião nem os limites que o império da Igreja constantemente punha a todos os seus excessos. Foi, então, que o Protestantismo, inteiramente ao serviço do Estado contra a Igreja, seduziu, directa ou indirectamente, quase todos os monarcas europeus levando-os a desligar a moral da Religião e a admitir, com Maquiavel, que esta não passava de um instrumento ao serviço do Estado.
“Em Portugal, a revolução começou suavemente num misto de inconsciência e boa-fé no reinado de D. João V, o qual, ao passo que se desfazia em serviços à Igreja, até merecer o título de Fidelíssimo, não hesitava em cortar relações com a Santa Sé, por o Papa se ter negado a conceder o chapéu cardinalício ao Núncio da sua Corte.”
“Em 1645-46, as Cortes de Lisboa, sob proposta de El-Rei D. João IV, tomaram como Rainha Padroeira de Portugal a Bem-Aventurada sempre Virgem Maria, Mãe de Deus, sob a invocação da Imaculada Conceição, comprometendo-se a pagar o feudo anual de 50 cruzados de ouro à Capela de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.
O Rei, o Príncipe herdeiro, e os três Estados, juraram dar a vida, se necessário fosse, para confessar, e defender sempre que Nossa Senhora foi concebida sem pecado original. Para conferir um carácter imorredoiro ao acto, foi mandado que em todas as entradas de cidades, vilas e lugares do Reino se colocasse uma lápide com inscrição comemorativa. Na universidade de Coimbra, os lentes fizeram o solene juramento de defender o Mistério da Imaculada Conceição, ficando os alunos igualmente obrigados a pronunciá-lo quando tomassem qualquer grau.”
No reinado de D. João V (1705-1750) iniciou-se a decadência. Pretendendo imitar a monarquia francesa, este torpe rei possuía uma concepção decorativa da religião.
“A criação do Patriarcado de Lisboa em 1716, insere-se nesta política, que da parte do rei, não possuía nenhum conteúdo, nem propósito sobrenatural, conquanto D. João V tivesse auxiliado o Papa Clemente XI na batalha de Matapão, contra os turcos.
O título de “Fidelíssimo” que o rei procurava obter, e obteve, destinava-se sòmente a satisfazer o orgulho humano do monarca. Paralelamente, na sua vida privada, o rei e parte da nobreza dedicavam-se a transformar conventos em lupanares de luxo, exercendo verdadeiro lenocínio sobre as freiras, de forma sistemática e totalmente amoral – foi a época dos “freiráticos”; e neste particular a corte portuguesa terá ultrapassado em devassidão as suas congéneres europeias.
“O castigo não podia tardar: Efectivamente, em 1 de Novembro de 1755, um violentíssimo terramoto destruiu Lisboa, provocando cerca de 30.000 mortos.
Um sacrificado missionário Jesuíta Italiano, o Padre Malagrida, não tergiversou em publicar opúsculos denunciando justamente o terramoto como um castigo divino – acabou garrotado no rossio, por ordem do Marquês de Pombal. Expoente máximo do despotismo iluminado em Portugal, o Marquês de Pombal, primeiro-ministro do fraco rei D. José I (1750-1777), foi quem, indiscutìvelmente, tornou ateu o Estado Português, ainda que, evidentemente, salvaguardasse todas as aparências do Estado Confessional – utilizando a Igreja Católica, ùnicamente, como factor de coesão político-social.
Pombal laicizou completamente a Inquisição, transformando-a de Direito num Tribunal de Estado, o que de facto já era; laicizou o ensino, seguindo as orientações dos intelectuais iluministas, anti-católicos; declarou livres os índios do Brasil para os subtrair ao controle das beneficentes reduções jesuítas, ordem que também expulsou em conluio com as cortes iluminadas europeias; aconselhava-se Pombal com ateus notórios como Ribeiro Sanches, judeu, que o encorajou a suprimir a distinção entre cristãos velhos e cristãos novos, o que o mesmo é dizer, inoculou o mais mortal veneno no sangue da Nação Portuguesa, cujo berço fora a Sacrossanta Fé Católica.
Para além disso Pombal foi igualmente um criminoso de delito comum, na forma como lidou com os proscritos filhos de Santo Inácio e sobretudo pela pendor vil com que arrematou bodes expiatórios para o atentado contra D. José I; sabe-se também que não pagava as dívidas pessoais, contando com o temor que inspirava aos credores.”
Todo poder ao iluminista Pombal para alterar Portugal
Sobre a obra do Marquês de Pombal e a reconstrução de Lisboa arrasada pelo terremoto de 1755, haveria que contar muito mais do que superficialmente se sabe e se escreve.
Tudo gira em torno desse personagem que rompeu o espírito de unidade católica de Portugal com as idéias iluministas que visavam uma nova ordem civil e religiosa.
O fato é que este poder pesou também no resto da Europa onde se discutia como Deus podia ter castigado justamente o país que parecia o mais católico no dia de Todos os Santos com um terrível terremoto mais um devastador tsunami. Não se conta, porém, que o castigo continuou com um poder absoluto revolucionário nas mãos de um tirano de crueldade e impiedade únicas. A obra iníqua de Pombal está até hoje encoberta pela sua boa administração. Será preciso aprofundar aqui esta questão, porque nos tempos modernos o governo de aspecto material dos países, à custa do aspecto espiritual, passou a ser o mais importante. Eis o que faz a Revolução. Assim a obra de Pombal, como a de Napoleão e mais tarde de Lênin e de Mao Tse Tung, restaram como exemplares, apesar de seus massacres que também foram tremendos no plano civil da justiça e especialmente da Religião.
Este foi o maior perigo do mal causado pela Revolução, do qual a Mensagem profética de Fátima veio alertar ontem como hoje. É perigo que pende sobre a vida das almas na forma dos pecados. Dentre estes o crescente desamor pela Religião que nos foi legada com o preço inestimável do Sangue divino.
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