"Construtor não só do lar, mas de culturas e civilizações, quando procedente do campo costuma o homem civilizá-lo, tornando-o aprazível, acolhedor e encantador."
Pe. David
Francisquini
Ao observar um passarinho fazer seu ninho, vemos como
Deus o dotou de um instinto muito apurado, pelo qual ele o arranja de tal modo
que proporciona segurança e conforto aos filhotes, ademais de abrigo para a
mãe. Depois de ter criado a ‘prole’, voa para outros lugares, enquanto sua
descendência tocará a própria vida.
Com o homem, rei da criação, é diferente. Dotado por
Deus de qualidades e perfeições muitíssimo superiores às dos pássaros, além da
sensibilidade ele possui faculdades espirituais que são a razão e a vontade, as
quais dão rumo à sua existência. Sua natureza pede que ele trabalhe e acumule,
para assegurar seu futuro e o de sua família.
Construtor não só do lar, mas de culturas e
civilizações, quando procedente do campo costuma o homem civilizá-lo,
tornando-o aprazível, acolhedor e encantador. Como o eram outrora as fazendas,
pequenas cidades campestres que, sem dispensar o conforto e bem-estar
proporcionados às condições da época, irradiavam um ambiente católico.
Nas minhas idas e vindas pela região rural da minha
paróquia, situada ao norte do estado do Rio de Janeiro, pude constatar tal
realidade, hoje infelizmente desaparecida. Dela só subsistem escombros. O êxodo
rural devastou o campo. Acabaram as lavouras de café, de milho, de arroz e de
feijão. A figura lendária do meeiro ficou relegada aos anais da história.
Detentor de direitos e de uma carteira de trabalho –
contrapartida oferecida pelo getulismo ao afeto e à proteção de que então
gozava –, o trabalhador braçal foi se despojando de um e de outro para cair na
pobreza moral resultante da substituição do patrão pelo Estado.
Iludido muitas vezes pelo faiscar de lantejoulas das
metrópoles e dos costumes corrompidos com as quais a televisão o enleia, já não
mais suporta o campo – nem, muitas vezes, podendo o patrão suportar o ônus de
mantê-lo –, vem aninhar-se nas periferias das cidades, onde infelizmente
proliferam as drogas, a violência e a depravação geral dos costumes.
Trocou a vida regrada, silenciosa e contemplativa do
campo, sua dura e heróica labuta – que começava com o nascer do sol e o cantar
dos pássaros, e que com o sol e os pássaros se encerrava –, para viver no
anonimato de um conglomerado desumano onde fervilham as cacofonias e não raro
os maus odores, símbolos das más paixões que nele imperam.
De um patamar superior de reflexão e análise oferecido
pela natureza virginal desceu para a irreflexão, a indolência e a imprevidência
com que se contentam os que se acomodam com o pouco que ganham, mal dando para
sustentar e atender às outras necessidades prementes que não seja a comida.
Quando vivia no campo ele praticava a religião. Hoje,
dada a situação em que vive infelizmente ele não ensina mais o catecismo e a
história sagrada a seus filhos e nem ele mesmo dá exemplo de vida religiosa,
temperante e temente a Deus. Confinado em casas populares, há uma pressão da
própria situação e do ambiente para limitar o número de filhos.
Cumpro a promessa feita e retomo o tema da procura de
almas em nossos campos – hoje tão desfigurados em relação a um passado não
muito remoto – onde patrões e empregados viviam em perfeita harmonia na troca
amistosa de bons ofícios do compadrio reinante. Tal concórdia não era fruto
espontâneo da natureza, mas da fé religiosa que a todos iluminava.
Dada a situação em que vive infelizmente a maior parte
das pessoas que se mudou para as cidades, os pais deixaram de ensinar o
catecismo e a história sagrada a seus filhos, pois nem eles mesmos dão exemplo
de vida religiosa, temperante e temente a Deus. Confinados em casas populares,
sofrem pressão do ambiente para limitar o número de filhos.
Os pretextos se encontram numa “cartilha” na qual os
novos citadinos “aprendem” que a vida se tornou implacável e não comporta mais
uma prole numerosa a ser educada e alimentada. Enquanto moravam no campo eles
usufruíam da fartura de alimentos, da largueza retratada no espaço, além do
ganho, resultando em bem-estar, tranqüilidade e alegria de situação.
Contudo, ninguém está disposto a trocar a vida – ainda
que precária – da cidade pela vida temperante do campo, mesmo com todas as
condições de conforto da cidade. No vazio de nosso interior, até há pouco
estuante de vida e símbolo de abundância e fertilidade, repercute o eco das
desastradas políticas que resultaram no enorme êxodo rural.
Enquanto pastor e orientador de almas, não creio poder
inocentar de culpa os promotores de tal política. Com justa razão reclamam os
nossos proprietários de terra dessa política agrária que mantém as mãos
estendidas para os ditos sem-terra, oferecendo-lhes toda sorte de regalias,
enquanto aqueles que têm vocação agrícola ficam abandonados e até ameaçados.
Um ruralista autêntico reclamou comigo que trabalha
mais para o governo que para seu próprio sustento. Alega ter virado praticamente
um concessionário do Estado e não mais um legítimo proprietário. A todo o
momento recebe visitas de órgãos governamentais para cobrar isso ou aquilo,
além de lhe impor mil e uma obrigações sem nenhuma contrapartida.
Aliás, parece que tudo se encontra assim nesse pobre
Brasil. A figura do proprietário vai desaparecendo em detrimento da figura de
mero concessionário do Estado. Qual um deus laico e impostor, o Estado se
apresenta como onisciente, onipotente e onipresente ao querer saber de tudo,
abarcar tudo e controlar tudo.
Outro camponês me lembrou a figura do chupim – pássaro
símbolo da preguiça, da depredação e do aproveitador – que ao “chupar” os ovos
do tico-tico e botar lá os seus, faz com que o tico-tico os incube para ele,
além de criar os filhotes os alimentando por longo período. Só depois de muito
adultos que eles vão sair da tutela do tico-tico para novas patifarias.
Vai celeremente desaparecendo a verdadeira liberdade
dos filhos de Deus. A ferrenha escravidão imposta pelo Estado faz aumentar
dia-a-dia o crescente desânimo entre os produtores rurais, e também urbanos,
obrigados tanto uns como os outros a carregar nas costas uma máquina estatal
cada vez maior.
A classe média dá mostras de cansaço, e, sem
desmerecer a nobreza do legítimo funcionalismo público, o que vemos são as
filas sem-fim dos concursos a um cargo municipal, estadual ou federal. Afinal,
todos querem fazer parte da nova aristocracia, a nomenklatura, que pouco produz
e leva a maior parte dos frutos e dos esforços de quem trabalha.
Com a livre iniciativa cerceada, as mentalidades vão
mudando a ponto de quase todos reclamarem da presença do Estado na solução dos
problemas do cotidiano na segurança, na saúde, na educação, enfim, na solução
de todos os problemas, inclusive na eliminação da pobreza. A conseqüência só
pode conduzir ao acomodamento e ao torpor das individualidades.
Ao promover o bem comum, o Estado jamais poderá ser um
fardo para a sociedade. Seu papel é criar condições para que os indivíduos
desenvolvam seus talentos e contribuam para o sadio progresso da nação, e não
como vimos assistindo no Brasil. Por ocasião das eleições, jornais noticiaram
que os “dependentes” do Estado seriam capazes de eleger o presidente.
O que me faz levantar uma pergunta: – Que
autenticidade tem uma democracia baseada nesses termos?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Antes de postar seu comentário sobre a postagem, leia: Todo comentário é moderado e deverá ter o nome do comentador. Comentário que não tenha a identificação do autor (anônimo), ou sua origem via link e ainda que não tenha o nome do emitente no corpo do texto, bem como qualquer tipo de identificação, poderá ser publicado se julgar pertinente o assunto. Como também poderá não ser publicado, mesmo com as identificações acima tratadas, caso o assunto for julga impertinente ou irrelevante ao assunto. Todo e qualquer comentário só será publicado se não ferir nenhuma das diretrizes do blog, o qual reserva o direito de publicar ou não qualquer comentário, bem como de excluí-los futuramente. Comentários ofensivos contra a Santa Madre Igreja não serão aceitos. Comentários de hereges, de pessoas que se dizem ateus, infiéis, de comunistas só serão aceitos se estiverem buscando a conversão e a fuga do erro. De indivíduos que defendem doutrinas contra a Verdade revelada, contra a moral católica, de apoio a grupos ou ideias que contrários aos ensinamentos da Igreja, ao catecismo do Concílio de Trento, ferem, denigrem, agridem, cometem sacrilégios a Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, a Mãe de Deus, seus Anjos, Santos, ao Papa, ao clero, as instituições católicas, a Tradição da Igreja, também não serão aceitos. Apoio a indivíduos contrários a tudo isso, incluindo ao clero modernista, só será publicado se tiver uma coerência e não for qualificado como ofensivo, propagador do modernismo, do sedevacantismo, do protestantismo, das ideologias socialistas, comunistas e modernistas, da maçonaria e do maçonismo, bem como qualquer outro tópico julgado impróprio, inoportuno, imoral, etc. Alguns comentários podem ser respondidos via e-mail, postagem de resposta no blog, resposta do próprio comentário ou simplesmente não respondido. Reservo o direito de publicar, não publicar e excluir os comentários que julgar pertinente. Para mensagens particulares, dúvidas, sugestões, inclusive de publicações, elogios e reclamações, pode ser usado o quadro CONTATO no corpo superior do blog versão web. Obrigado! Adm do blog.