"Muitos tem afirmado que o Brasil está sendo passado a limpo, mas cada vez que se cava, mais se percebe quão fundo o lixo está enterrado."
Paulo Roberto de Oliveira Santos
A Terra de Santa Cruz, há tempos mudada
para Brasil, é o exato retrato de sacralidade transmutada em banalidade, de
algo divino, eterno, sublime considerado apenas do ponto de vista da matéria,
da riqueza, do perecível, do descartável. A vida na polis brasileira tem se
tornado o contrário das possibilidades de alcançar a felicidade, sendo possível
no máximo o prazer carnal, a satisfação dos mais baixos instintos humanos, que
o impedem de ordenar sua alma sensitiva e viver segundo sua natureza racional,
capaz de conhecer a verdade, não ser escravo dos apetites e alcançar a
verdadeira felicidade.
A afirmação de Aristóteles sobre a
nobreza da ciência política continua válida; de fato, a política continua sendo
uma das mais elevadas ciências, pois tem em vista o cuidado com o bem comum, a
criação de possibilidades para que as pessoas possam alcançar a felicidade. Segue-se
daí a importância de se proclamar com veemência que a política tem um indelével
aspecto moral, que é uma ciência normativa, isto é, determina regras, impõe
normas e pune aquele que não as cumpre. Não se deve, entretanto, pressupor que
a regra por si só é boa ou ruim, mas ela torna-se má, chegando a adquirir
características de tirania se não visar o fim último do homem. Por isso, a lei
positiva deve dar exatidão jurídica aos fatos sociais para ordenar retamente a
vida em comum, e justamente por isso deve observar sempre a retidão moral, pois
o objetivo da lei e do ordenamento social a que ela aspira é sempre o fim
último do homem, isto é, sua felicidade.
Porém, o que é a felicidade? Seria
a fama, o sucesso, a riqueza, os prazeres? Mas não são estes elementos apenas
acidentais na vida humana tendo em vista a satisfação de sua parte material?
Mas não teria o homem uma alma com aspirações a serem satisfeitas e que são,
por natureza, bem mais elevadas do que as aspirações materiais?
Obviamente, alcança-se a satisfação
da alma através do corpo, visto que o homem é unidade substancial: são dois
elementos que se fundem em uma só substância. Portanto, o cuidado com o corpo é
inteiramente justificável tendo em vista o cuidado com a alma. Assim sendo,
saúde, moradia, segurança e especialmente educação deveriam ser as mais
elevadas ocupações dos governos. Contudo, apesar da redundância do assunto, o
mesmo se torna cada vez mais urgente e grave, pois se trata de vidas humanas,
seres da mais alta dignidade.
Absurdos, entretanto, ocorrem
diariamente, bem diante de nossos olhos, banalizando a vida e dispensando ao
ser humano um tratamento pior que o dispensado aos animais. É inteiramente
desnecessário mencionar o inescrupuloso descaso com os hospitais, com as
escolas, com a infraestrutura do Brasil, com a falta de moradia, de saneamento,
de segurança e tantas outras coisas que agridem a dignidade humana a todo
segundo no Brasil.
Entretanto, é grave o desperdício
de dinheiro no país. Se é redundante mencionar as bilionárias somas perdidas
para a corrupção, é importante refletir: porque 513 deputados federais? Porque
81 senadores? Porque gastar mais de R$ 860 milhões com o Fundo Partidário,
valor este que pode ser aumentado para até R$ 7 bilhões? Qual a razão da
existência de deputados estaduais, sendo que há os vereadores (que deveriam ser
chamados deputados municipais), já tem a atribuição de cuidar dos municípios, e
os senadores e deputados, tem a atribuição de cuidar da União? Porque o
presidente da Câmara dos Deputados, que já tem residência oficial, ainda dispõe
de auxílio-moradia? Aliás, para que tantas verbas parlamentares se os salários
dos parlamentares já são tão elevados? Para que eleições a cada dois anos?
Foram citados apenas alguns
exemplos do absurdo desperdício de dinheiro público brasileiro, mas já são suficientes
para afirmar, sem sombra de dúvida, que é possível reduzir impostos e ao mesmo
tempo aumentar o auxílio oferecido às pessoas, além de estender o auxílio a
quem precisa. Isso, obviamente, precisaria também ser revisto, pois quantas
pessoas recebem auxílios sem verdadeira necessidade? Quantas pessoas teriam
condições de receber auxílios dos governos por determinado período, até que
tenham condições de se desenvolver por conta própria? Quanto deste dinheiro não
poderia ser investido em saúde, educação, segurança, infraestrutura? Quantas
empresas não poderiam ser criadas ou crescer, gerando mais emprego, renda,
riqueza e autonomia para as pessoas se os impostos fossem reduzidos? E quanto
as pessoas teriam maiores condições de alcançar a felicidade nestas condições?
Por outro lado, ao mesmo tempo em que
se desperdiça tanto, se rouba tanto da população, se investe ou incentiva
tantas outras coisas que impedem as pessoas de alcançar a felicidade e que divergem
do bem comum: o incentivo à promiscuidade e à contração de doenças, através da
distribuição de preservativos; o incentivo à cultura gay; o incentivo ao uso de
drogas; o adestramento e ideologização que ocorre nas escolas invés de uma
verdadeira educação. Obviamente, todos estes fatores desestabilizam a família,
base da sociedade, além de inviabilizar o trabalho dos profissionais da saúde,
da segurança, da educação. Conclusão: o governo não se contenta em roubar e
desperdiçar dinheiro, não investindo onde precisa, mas colabora ainda com a
destruição das migalhas que ainda restam, do pouco que ainda é possível fazer.
Diante deste quadro, não é coisa
boa acreditar que o impeachment resolverá os problemas do país. Muitos tem
afirmado que o Brasil está sendo passado a limpo, mas cada vez que se cava,
mais se percebe quão fundo o lixo está enterrado. E para acabar com esta
sujeira ainda falta muito. O que ocorre é que problemas morais são tratados
como se fossem problemas meramente materiais, fenomenológicos: é o mesmo que
trocar o nome de Terra de Santa Cruz, que remete ao sagrado, ao sublime, por
Brasil, nome retirado de uma madeira, que lembra o profano, o descartável, o
útil. Em qual país queremos morar: Terra de Santa Cruz ou Brasil? Cidade de
Deus ou Cidade dos Homens?
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