"O relativismo moral de Henrique VIII teve como
consequências o repúdio de sua legítima esposa, a ruptura com Roma e o
nascimento da herética igreja da Inglaterra.
(Primeiro encontro
de Henrique VIII com Ana Bolena – Daniel Maclise (1806 – 1870). British
Institution, Londres)."
Para além do relativismo caotizante dos nossos
dias, um auspicioso novo mundo se prenuncia
Ítalo Nóbrega
Sou
católico praticante, vou à Missa, com frequência me confesso e comungo, dou
esmolas. Enfim, faço tudo que um bom católico faz, mas não tenho nada contra
quem pratica outra religião. Respeito os outros e trato-os bem, pois cada um
deve escolher a igreja que mais lhe agrade, conforme a sua própria vontade.
Acho bom o casamento monogâmico e
indissolúvel, mas se não deu certo, é melhor cada um ter nova oportunidade (ou
várias) para ser feliz. Cada um deve se preocupar é com a excessiva imoralidade
na família, com as violências sexuais.
Não se deve abordar o problema do
homossexualismo com as crianças, pois elas ainda não têm maturidade para
entender essas coisas. Mas não condeno quem pratique o homossexualismo, pois
quem sou eu para julgar?
E as drogas? E o aborto? Defendo
o direito à vida, mas há tanta facilidade para se usar anticoncepcionais, que
uma gravidez indesejada não precisa acontecer; e não acho conveniente
interrompê-la, caso se apresente depois de um descuido.
Quero deixar bem claro que não
sou e não quero me passar por radical.
*
* *
Calma, caro leitor, não defendo essas ideias, todas condenáveis
pela moral católica tradicional. Aliás, se as defendesse, não
estaria escrevendo nas páginas de Catolicismo.
Apenas apelei à minha fantasia para retratar a mentalidade de muitíssimos
católicos de hoje, mesmo alguns que se consideram praticantes. É difícil
encontrar atualmente, dentro ou fora da Igreja Católica, quem não pense de
forma semelhante em pelo menos algum desses temas.
Imagino que o leitor perceba
facilmente o nexo profundo entre esses pontos, que pode ser resumido em uma
palavra: relativismo. Tomado em seu sentido filosófico, o
relativismo adota como um de seus pressupostos a impossibilidade de se alcançar
pleno conhecimento sobre a realidade tal como ela é. O que conhecemos através
dos sentidos seria mera aparência, sendo-nos impossível conhecer o objeto em
toda a sua complexidade.
Um
mundo sem o senso de contradição
Para os relativistas, qualquer
conhecimento adquirido não seria determinado pela realidade, mas pela impressão
que ela nos causa. O conhecimento se torna assim puramente subjetivo, podendo
variar de acordo com o tipo intelectual, a capacidade, as circunstâncias, e
mesmo as necessidades de quem o adquiriu.
Aquilo que é verdade para mim
pode não ser verdade para outro, que pode tomar por falso o que tomei por
verdadeiro. Seriam inexistentes o conhecimento absoluto e a verdade absoluta,
isto é, independente das condições subjetivas de quem os conheceu.
De acordo com o pensamento
lógico, duas afirmações contraditórias não podem ser verdadeiras ao
mesmo tempo, o que na prática se denomina senso de contradição.
Quem não seja alienado mental sabe que um hipopótamo não é um avestruz, por
exemplo. Mas o relativista radical afirma que uma pessoa pode entender de uma
forma, e outro de outra forma.
Expandindo-se para além da esfera
filosófica, o relativismo penetrou em outros campos, como o moral e o
religioso. Pode-se afirmar que ele domina a mentalidade contemporânea, e a
consequência é a perda do senso de contradição. O senso de contradição só
existe em nós quando aceitamos a existência de verdades que se impõem pela
própria realidade. Por incrível que pareça, o relativista se considera dono da
verdade, ao mesmo tempo que nega a existência da verdade. Para ele, a verdade
absoluta é que não existem verdades absolutas. Haja contradição!…
Negação
dos preceitos morais
Se não há distinção entre verdade
e erro, entre bem e mal, não há matéria para o senso de contradição, e uma
decorrência da falta desse senso são posições antagônicas coexistindo nas
almas. Leis morais transcendentes, por exemplo, deveriam se impor a todos os
seres humano, mas o relativismo nega a existência de tais leis. Daí a aceitação
e incentivo ao hedonismo, liberando para todos o prazer pessoal e egoísta, ao
invés de cultivar valores superiores como a obediência a Deus e o amor ao
próximo. Usufruir o prazer tornou-se a finalidade da vida, ao contrário de amar
e servir a Deus.
A influência do relativismo na
esfera religiosa resulta na afirmação de que todas as religiões são boas (dá no
mesmo afirmar que todas são ruins), uma espécie de consenso no ecumenismo
moderno, e é preciso aceitar todas as pessoas do jeito que elas são. No campo
moral, o resultado é a negação dos preceitos morais, ou pelo menos daqueles que
mais importunam os libertinos, ecumenistas e relativistas.
Violenta manifestação esquerdista profana igreja no
centro de Santiago do Chile e retira de seu interior, sem nenhuma reação dos
presentes, um antigo Crucifixo, que é brutal e sacrilegamente golpeado, atirado
ao chão e quebrado.
|
|
Abominável
ofensa a Deus
Nesse estado se encontra a
mentalidade moderna, e dela participam muitos católicos. Afirma-se a existência
de Deus por meio de palavras, mas ela é negada nas obras. Fica-se indiferente
diante de tantos pecados, blasfêmias e profanações, como se ninguém estivesse
sendo ofendido com tudo isso. Quando tomam alguma posição, as pessoas o fazem
pela metade: alguém se diz católico, mas em seguida tolera a heresia; defende
um ponto da moral, mas nega outro em seguida. Ao negar a existência de uma
verdade absoluta, em última análise o relativista nega a existência de um Deus
verdadeiro e imutável. Um modo de fazê-lo consiste em simular uma atitude de
indiferença, como quem diz: “Deus não faz bem nem mal”.
A verdade e o erro são aceitos,
como se não houvesse oposição entre ambos. Mas o Apocalipse é implacável com
essa posição de pessoas que parecem adeptas da que foi denominada “igreja de
Laodiceia”: “Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente; oxalá fosses
frio ou quente”. E depois de assim definir bem tais pessoas, define
melhor ainda o que lhes acontecerá: “… mas, como és morno, nem frio
nem quente, vou vomitar-te” (Apoc. 3, 15-16). É bom nos precavermos…
Retorno
à casa paterna
E Deus, como fica? Nada menos do
que destronado, expulso do universo que Ele mesmo criou. Vê seus filhos
indiferentes à sua existência, nessa coexistência pacífica entre o bem e o mal,
entre a verdade e o erro. Quão imensa é a dor de um pai expulso de sua casa
pela própria família! Um Pai que é a Inocência e a Verdade encarnadas para a
Redenção dos homens! Assim se encontra Deus no mundo de hoje.
Essa mentalidade relativista
impregnou de tal forma as almas, que a reversão desse quadro só será possível
por meio de um imenso e merecido castigo, seguido de completo arrependimento e
de uma prodigiosa graça de Nossa Senhora. Não se pode colocar vinho novo num
odre velho, antes de esvaziá-lo e extinguir o odor do vinho velho. Assim também,
é necessário nos desapegarmos da mentalidade nefasta de nosso século, antes de
sermos vivificados pela graça extraordinária de uma grande conversão.
Como fazê-lo? Como nos
desapegarmos dessa mentalidade? Por meio da quebra de tudo aquilo que nos
mantém atrelados a esse estado de coisas.
Uma longa doença prepara o
moribundo, naturalmente apegado à vida terrena, para a noção clara de que
comparecerá diante de Deus. Não será a situação caótica de nossos dias
comparável a uma enfermidade fatal, que nos deve preparar para comparecermos
diante de Deus? Não será ela o prenúncio de um novo mundo que deverá nascer das
ruínas deste em que vivemos? A própria Mãe de Deus nos alertou em Fátima para o
enorme castigo que cairia sobre o mundo, se ele não se convertesse.
Para além dos catastróficos dias
que virão, há a promessa da vitória. E é com os olhos
nessa promessa da Santíssima Virgem que, esperançosos, devemos atravessar esses
dias terríveis que nos conduzirão de volta Àquele que é “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).
É completamente contrário à Sagrada Escritura e à Tradição supor uma conversão geral do mundo. O Dogma do mundo como primeiro e mais terrível inimigo da alma foi revelado por Nosso Senhor Jesus Cristo. Uma conversão universal é absolutamente contrária a este dogma. Além disso as potencialidades teológicas sobrenaturais (não em sentido metafísico)da Humanidade encontram-se exauridas. O autor deste artigo é anti-tomista. São Tomás é bem claro ao reservar a ordem Sobrenatural a um pequeno número de eleitos. Mas toda a Escritura e toda a Tradição apontam formalmente para a GRANDE APOSTASIA FINAL.
ResponderExcluirAlberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral - Lisboa
Constitui um erro profundo o prenúncio desse novo mundo de conversão para Cristo. A APOSTASIA PROGRESSIVA DOS ÚLTIMOS SEIS SÉCULOS É ABSOLUTAMENTE IRREVERSÍVEL. Além disso,Nosso Senhor Jesus Cristo revelou formalmente que O MUNDO É E SERÁ SEMPRE UM INIMIGO DAS ALMAS SANTAS. TODA A SAGRADA ESCRITURA E TODA A TRADIÇÃO APONTAM DOGMATICAMENTE PARA UMA APOSTASIA FINAL ABSOLUTA.O AUTOR DESTE ARTIGO NÃO É TOMISTA, SENÃO SABERIA QUE A SALVAÇÃO ETERNA É PARA UM MUITO PEQUENO NÚMERO DE ELEITOS, E QUE OS HOMENS SEMPRE SERÃO MAUS E INIMIGOS DO NOME CRISTÃO.
ResponderExcluirAlberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral - Lisboa
A tese do artigo no que concerne ao "auspicioso"mundo novo - É falsa, contradizendo directamente o Dogma da maldade intrínseca do mundo, revelado por Nosso Senhor Jesus Cristo.Toda a Sagrada Escritura e toda a Tradição convergem no anúncio de uma apostasia final absoluta e irreversível. São Tomás é bem claro na asserção da condenação eterna da grande maioria dos homens.O mundo nunca foi nem nunca será senão o maior inimigo das almas que verdadeiramente são de Nosso Senhor.
ResponderExcluirAlberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral -Lisboa