“Ajudai-nos, por vossa
misericórdia, que sejamos Santos, pois, nos mandais que o sejamos; ou, ao
menos, já que não somos santos, a conhecer que o não somos, senão miseráveis
pecadores”
Padre Manuel Bernardes
Quaeretur peccatum illius, et non invenietur. (Sl 9, 10)
Há
umas coisas que se buscam para se acharem, e há também outras, que para se não
acharem é que se buscam. A mulher do Evangelho buscava a jóia, e o pastor
buscava a ovelha, para achar um a ovelha e outro a jóia. Pelo contrário,
aqueles exploradores, que foram em busca de Elias, quando desapareceu da terra,
buscavam-no para o não acharem. Foi o caso: sendo arrebatado Elias em um carro
de fogo, disseram alguns zelosos que queriam buscá-lo, porque poderia estar aí
lançado em algum monte ou vale. Sabia Eliseu muito bem que Deus o tinha
transportado para si, e disse-lhes: não há para que o buscar. Eles, pelo
contrário, instaram tanto, até que lhes disse: buscai embora: Coegeruntque
eum, donec acquiesceret, et diceret: Mittite (4 Rg 2). Partiram
cinqüenta homens expeditos, cada um por diferente parte a procurar Elias —
três dias andaram por cerros e campos e vales, sem descobrir rastro do que
buscavam, até que, cansados, tornaram a Eliseu, o qual lhes disse com grande
descanso: Não vos disse eu, que o não buscásseis? Numquid non dixi
vobis: Nolite mittere? Pois se Eliseu estava certo que o não haviam de
achar, porque ali havia especial mistério e obra de Deus, para que deixou estes
pobres homens irem cansar-se debalde? Oh, que obrou como prudente! Se o não
buscaram, a qualquer tempo haviam de dizer: Se nós o tivéssemos buscado, pode
ser que o tivéssemos achado. Ah, sim. Pois buscai-o, embora: Mittite.
Porque se não achareis a Elias, ao menos achareis o desengano. Porque há coisas
que se buscam para o mesmo efeito de se não acharem.
Tal foi também o
pecado original a respeito de MARIA Santíssima Senhora nossa Sempre pura e
Imaculada. Diz o Real Profeta que se buscaria e não se acharia: Quaeretur
peccatum iilius et non invenietur. Nas Letras Sagradas muitas vezes a
conjunção Et vale o mesmo que a causal Quia,
e faz então o Texto este sentido: que o pecado se havia de buscar, porque se
não havia de achar. Edmundo Rozeto lê deste modo: Quaere peccattum
illius, quoad non invenies. Buscai o seu pecado, até o não achares. Eutímio
diz que isso se pode entender de Cristo Salvador nosso, no qual, por mais que
seus êmulos busquem pecado, nunca o poderão achar: Potest intelligi de
Christo Domino, in quo nullum est peccatum. E eu digo que, por conseguinte,
pode entender-se de MARIA Santíssima Senhora Nossa; porque Filho e Mãe
constituem moralmente uma pessoa, e nesta Senhora permitiu Deus que o pecado
original fosse buscado por muitos exploradores: não digo eu por três dias, mas
por muitos séculos; não para acharem o pecado, pois o não havia, senão para
acharem que o não podiam achar. Com que a certeza que hoje temos neste ponto
mais se deve à dúvida dos que não creram, do que à piedade dos que creram. Como
em semelhante caso disse S. Gregório: Plus enim nobis
Thomae (repare-se no nome Tomás) infidelitas ad fidem,
quam fides discipulorum credentium profuit; porque a dúvida fez que pecado
se buscasse, e o buscá-lo fez com que nos certificássemos de que não se podia
achar: Quare peccatum illius quoad non invenies.
2
Tanto deve a certeza deste ponto à dúvida que nele se levantou,
que a meu entender, um dos maiores fundamentos para se tirar a dúvida era o
mesmo levantar-se; porque há questões, que consigo trazem a resposta.
Perguntaram os Pontífices e Sacerdotes a Cristo, se era Filho de Deus: Tu
ergo es Filius Dei? Respondeu o Senhor: Vós mesmos o dizeis que eu o sou: Vos
dicitis, quia ego sum. Pois se estes homens o que propõe é uma pergunta,
como afirma o Senhor que eles mesmos se dão a resposta? Porque há questões que
pelo modo e circunstâncias em que se levantam, levam em si mesmas a resposta. E
tal era esta. Porque no livro da Sabedoria estava profetizado que lhe haviam de
perguntar injuriosamente e com mau tratamento, se era ele Filho de Deus: Gloriatur
Patrem se habere Deum, et Contumelia et tormento interrogemus eum. E como
nesta ocasião se cumpria à letra esta profecia, fazendo-se ao Senhor esta
pergunta entre mil injúrias e tormentos, bem se vê que na mesma pergunta ia
embebida a resposta. Vós que me perguntais diz o Senhor, nisso mesmo afirmais
que eu sou Filho de Deus: Vos dicitis, quia ego sum.
A
dúvida ou questão de se MARIA Santíssima foi concebida em graça também é deste
gênero; porque se o seu pecado se havia de buscar para não se achar, a mesma
dúvida que o buscava nos tira da dúvida de o haver, e nos põem na certeza de
que o não há. Deixai-os duvidar, Mittite: que esse
é o meio que a Providência Divina escolhe para tirar da dúvida: Quaeretur
peccatum illius, et non invenietur. Levantou-se a questão, porque sabia
Deus que se havia de decidir em favor da Virgem; logo, a mesma pergunta leva
consigo a resposta, e a mesma dúvida nos tira de toda a dúvida.
E,
senão, digam-me: Se alguém soubesse que um seu grande amigo queria habilitar-se
com sentença de genere, para subir a dignidades, e tivesse notícias certas e
ocultas que o tal amigo tinha vício ou infecção no sangue, e estivesse na sua
mão atalhar esta pertenção, para que o vício não se apareça, não o havia de
fazer assim? Claro está que sim. Logo se Deus soubesse que sua Mãe Santíssima
não tinha pureza por parte do sangue de Adão, para que havia de permitir que se
levantasse esta questão, e que se inquirisse este ponto não havendo de sair a
favor da Virgem? Por quanto a Igreja Católica havia de averiguar a verdade,
muito mais decoroso era não se falar em tal com empenho e estrondo. Logo, o
mesmo haver questão decide a questão, porque não havia Deus de consentir que se
movesse demanda contra sua Mãe Santíssima, senão para dar poe ela a sentença.
Sem e José, como bons filhos, cobriram com a capa a seu pai Noé, para que não
fosse vista sua indecência. Acaso Cristo é menos amoroso e revente Filho de sua
Mãe Santíssima? Não, por certo. Logo, se soubesse que havia aqui a indecência
da primeira mancha, havia de cobri-la com a capa do silêncio. E não foi assim,
antes quis que se ventilasse em público, porque a não havia. Logo, a dúvida nos
tira da mesma dúvida. Vós perguntais, se a Senhora foi sempre imaculada? Pelo
mesmo caso estais dizendo que sim, que sempre foi pura e cândida e imaculada: Vos
dicitis, quia ego sum.
3
Confirmo este pensamento, porque também de MARIA Santíssima estava
profetizado que havia de haver semelhantes questões, apra que constasse mais de
suas excelências. E em que texto se acha esta profecia? Eu tomo primeiro meu
resalvo para o que pretendo dizer; porque sei, pela mesma Escritura Sagrada,
que as Escrituras não se interpretam livremente pelo arbítrio, ou engenho de
cada um: Omnis prophetia Scripturae (diz
meu Padre S. Pedro) propria interpretatione non fit.Contudo,
o que direi é somente propondo, e com a devida sujeição aos Sagrados Doutores e
sentir da Igreja Católica. Isto suposto, diz um lugar dos Cantares: Revertere,
revertere, Sulamitis, revertere, revertere, ut intueamur te. Voltate, voltate
Sulamitis, voltate, voltate para que vejamos bem sua formosura. Os
Setenta: Convertere, convertere, vira-te para
nós. E o Escoliastes acrescenta: Intuebimur in te
quasi in spectaculum: Contemplaremos em ti como em um admirável espetáculo.
Quem é o que fala neste verso e com quem se fala? Os Expositores comumente
dizem que falam os ministros ou familiares da casa do Esposo, que é o mesmo que
se disséssemos, os fiéis e os santos da Igreja de Cristo. E que todo este livro
dos Cantares encerra as excelências e prerrogativas da Virgem e que esta é a
Sulamitis, que quer dizer pacífica, ou perfeita, escusa de se provar, por ser
coisa mui sabida.
Isto
assim suposto, pergunto agora: Que querem dizer os fiéis à Senhora, em lhe
dizerem que se volte para verem sua formosura? Voltar no sentido corpóreo e
material não pode ser, pelo indecoroso; há de ser logo no sentido espiritual.
Pois chamar-se-ão aqui voltas as vezes que a Senhora volta a nós seus olhos
para nos favorecer desde o Céu? Também não; porque isso seria voltar a Senhora
para nos ver a nós, e o texto diz que se volte para nós a vermos como é formosa:Ut
intueamur te. Venho pois a concluir, que estas voltas são as que a Senhora
dá intencionalmente enquanto considerada pelos nossos entendimentos, já a esta,
já àquela luz, já por uma, já por outra parte, para examinarmos e descobrirmos
como em tudo é perfeita: bem como uma imagem primorosa para ver se tem defeito
por alguma parte, a viramos de muitos modos, e a contemplamos à várias luzes. E
como o Espírito Santo sabia que destas voltas, ou questões, sempre havia
resultar maior clareza e conceito das perfeições de sua Esposa; por isso
introduz ali os fiéis dizendo: Volta-te, volta-te para vermos sua formosura. Convertere,
convertere Sulamitis convertere, ut intueamur te.
Nem
parece carecer de mistério repetir-se a palavra Convertere quatro
vezes; porque quatro vezes houve já na Igreja revoltas sobre vários pontos das
prerrogativas da Senhora, e sempre ficou aparecendo mais sua formosura.
Primeiramente, vieram os hereges Nestorianos negando ser a Senhora verdadeira
Mãe de Deus. Vieram duzentos Bispos no Concílio de Éfeso à este ponto, e
definiram que era verdadeiramente Mãe de Deus. Vieram os hereges Helvidianos e
os Antidicomarianitas, e puseram mancha na Virgindade da Senhora depois do
parto. Vieram a este ponto os Padres dos Sínodos V, VI e VII, e os do Concílio
do Latrão, e definiram que a Senhora sempre fora Virgem. Vieram Calvino,
Kemnitio, Brentio e outros ministros do diabo semelhantes, e atreveram-se a
dizer, blasfemamente, que a Senhora tivera pecado atual, ao menos venial.
Vieram a este ponto duzentos e setenta Bispos no Concílio de Trento, e
declararam que a Igreja tinha que a Senhora, por especial privilégio, fora
limpa de todo o pecado atual. Eis aqui já três voltas da Sulamitis. Faltava
ainda outra sobre se a Senhora teve, ou não, pecado original, ao menos no
primeiro instante de seu ser. Esta custou mais que as outras, por isso mesmo
que os que defendiam que sim, tivera pecado original, não eram hereges, senão
varões Católicos, pios e zelosos. Mas, enfim, resultou daqui que veio a confiar
como certo, que sempre fora imaculada. Com que todas estas voltas, ou exames,
que a Senhora padeceu intencionalmente no nosso discurso, foram ordenadas por
Deus, para que se visse melhor sua formosura perfeitíssima: Convertere,
convertere Sulamitis: convertere, convertere, ut inueamur te. Logo, se
estava profetizado que a Senhora havia ser assunto destas questões, com o fim
de constar melhor de suas prerrogativas: bem dizia eu, que pelo mesmo caso que
a dúvida se movo, não tem dúvida a questão; porque se a metade da profecia se
cumpriu já, que era levantar-se a dúvida: Convertere;
também se havia de cumprir a outra metade, que era sair em favor da Virgem: Ut
intueamur te.
4
Só
nos falta neste quarto Convertere outro Concílio, que o
defina de fé. Mas não tarda quem vem e se não temos o Concílio já de presente,
temo-lo também em profecia por testemunho de um Varão mui abonado em virtudes,
e dons celestiais. Quem é? O Ven. Padre Fr. Domingos Ruzola, Geral que foi dos
Carmelitas descalços, a quem o Sumo Pontífice chamou da Espanha à Roma para o
ter em sua companhia. Este, passando de Roma para Sicília, hospedou-se na
Cidade de Salermo, no Convento dos Padres Dominicanos, os quais, pelo conceito
que de suas virtudes tinham, e para o honrar mais, lhe deram a cela em que ali
vivera o glorioso Doutor da Igreja, Santo Tomás. Estimou o servo de Deus este
grande favor, gastou toda aquela noite em oração, encomendando-se ao S. Doutor,
o qual se dignou de o visitar aparecendo-lhe cheio de glória, e falando com ele
com amorosa lhaneza lhe disse, como e todo gênero de questões prováveis se
havia acomodado à doutrina comum que corria nas Escolas, e como em Paris, onde
se achava, corria a opinião menos pia, essa seguira; porém, que agora no Céu
via duas verdades no Verbo Divino. Primeira, que Omnipotens Deus
gloriosae Virginis Matris MARIAE corpus, et animam, ut dignum Filii sui
habitaculum effici mereretur, Spiritu Sancto cooperante, praeparavit. — que
o Onipotente, Eterno Deus, pela graça do Espírito Santo, preparou o corpo e
alma da gloriosa Virgem Mãe para ser digna morada de seu Filho, porque tão pura
criara sua alma, que ainda que o corpo tivesse mancha, seria incapaz de a
receber dele, e tão puro criara seu corpo, que nenhum defeito tivera, nem
moral, nem natural. Segunda verdade, que viria tempo, em que a Igreja faria um
Concílio, no qual se definiria este ponto em favor da Virgem para maior glória
sua. Isto disse Santo Tomás, e desapareceu. Eis aqui a quarta volta acabada de
dar. E que lhe dizer, para maior glória sua, senão o que tinha dito Salomão:Convertere,
ut intueamur te? Ou o que tinha dito Davi, que o pecado da Senhora se
buscria, para o efeito de se não achar: Quaeres peccatum
illius quoad non invenies?
Oh
puríssima MARIA, verdadeira Mãe do mesmo Deus, sempre Virgem, sempre Santa,
sempre intacta, e imaculada em corpo e alma: se vós toda estais vestida de Sol: Amicta
sole; porque parte poderíeis fazer sombra ou estar escura? Dêem-se os
entendimentos mais perspicazes quantas voltas quiserem, que quanto mais
examinarem, mais perfeições, mais excelências, mais prerrogativas hão de
descobrir. Bendito seja o Senhor que tal Criatura concebeu na sua idéia, e
produziu na natureza das coisas; pois só por vós unicamente adquire mais honra,
e glória, que pelo resto de todas as mais criaturas. Meu espírito se alegra com
vossas ditas, se consola e goza com vossas perfeições e, rendido ante vosso
soberano acatamento, vos ama, louva e magnifica: pedindo-nos juntamente, nos
façais com vossa poderosa intercessão dignos de que vos amemos, e sirvamos a
vós e a vosso benditíssimo Filho, para chegarmos a ver o espetáculo admirável
de vossa formosura, participação da sua infinita: Intuebimur in te
quasi in spectaculum.
5
Em
outro sentido podemos, para nossa doutrina, tomar as palavras do nosso tema: Quaere
peccatum illius quoad non invenies. Isto é, que busquemos pelo exame da
consciência nossos pecados até os não acharmos. Porque muitos se os não acham,
não é porque os não haja, senão porque os não buscam. Si dixerimus quonia
peccatum non habemus, ipsi nos seducimus: se dissermos (diz S. João) que
não temos pecados, enganamo-nos a nós mesmos. Pois, em que está aqui o engano?
Não pode uma pessoa algumas vezes não achar em si pecados? Não os achar bem
pode; porém, não os ter em quanto vive neste mundo, não pode ser. E S. João não
diz, se dissermos que não achamos em nós pecados, enganamo-nos; senão, se
dissermos que não temos pecados, enganamo-nos: Si dixerimus, quonia
peccatum non habemus. Aqui, pois, está o engano: em cuidarmos que o mesmo é
não vermos os nossos pecados, que não haver em nós pecados. Sendo que, para uma
coisa não aparecer, basta que se não busque, e para não a haver, às vezes não
basta que se não ache; porque em MARIA Santíssima não se achou o pecado, não
porque se não buscasse, senão porque o não havia; em nós, não se acha pecado,
não porque o não haja, senão porque se não busca. Davi pedia a Deus perdão dos
seus pecados ocultos (Sl 18, 13): Ab occultis meis
munda me. Se eram ocultos, não sabia que tinha tais pecados: pois pede
perdão a Deus dos pecados que não sabe se os tem, tão sobre o certo e seguro,
como se os tivera? Sim; porque por serem ocultos, não deixam de ser pecados, e
não é o mesmo não os ver, que não os haver. Logo, ainda que Davi para si seja
inocente, para com Deus porte-se como pecador: chore e peça perdão: Ab
occultis meis munda me.
Perguntará
alguém: E como se nos ocultam estes pecados? Respondo. A nossa mesma natureza
os encobre debaixo das suas inclinações. Queria Labão achar os seus ídolos e
não os pode descobrir, porque Raquel, sua filha, os tinha metido debaixo dos
aparelhos dos camelos, e sentou-se em cima, fingindo um achaque para se não
levantar: Abscondit idola subter stramenta cameli, et
sedit desuper, etc. A aplicação ao que queremos dizer é clara. Por ventura
os nosso pecados e apetites não são os nossos ídolos? Ainda mal que tanto
adoramos neles! Mais: E as nossas inclinações brutais não são os aparelhos do
camelo, e invenções com que se cobre, arma e defende a nossa natureza? Sim,
são. E Raquel não é o nosso amor próprio assentando-se em cima e fingindo
achaques? Tudo é verdade. Pois, quereis vós achar os ídolos? Dai com esses
aparelhos por terra. Se o fizerdes, haveis de achar muita altivez de coração,
que estava debaixo do que chamamos honra; muita malícia contra o próximo que
estava debaixo da prudência, muita cobiça das coisas terrenas, que estava
debaixo do cuidado da família; muito amor aos que nos lisonjeiam, que estava
debaixo da caridade; muita confiança do entendimento próprio, que estava
debaixo da ciência; muitas irrisões dos defeitos alheios, que estavam debaixo
do entretenimento; muitas relaxações do espírito, que estavam debaixo da
Eutrapélia, ou recreação honesta; muitas ingratidões com os benfeitores, que
estavam debaixo do desapego e retiro; muitas negligências no servir a Deus, que
estavam debaixo da falta de saúde; e para não ser mais prolixo, haveis de achar
muito de que pedir perdão a Deus, que vós cuidáveis que vos deviam pedir perdão
a vós, se tal se suspeitasse: porque como a formosa Raquel do nosso amor
próprio que é filha do mesmo espírito, que busca estes defeitos, estava
assentada em cima, e fingindo achaque de que se não podia levantar, todos esses
defeitos não se viam, mas uma coisa é não os ver, outra não os haver. Por isso,
enquanto não aparecem, sempre se há de pedir perdão dos ocultos: Ab
occultis meis munda me.
Mas
sempre o remédio para aparecerem é buscá-los: e não só remédio para aparecerem,
senão também remédio para se irem diminuindo; porque o exame da consciência, e
o conhecimento próprio de tal sorte descobre os nossos vícios, que também nos
purifica de grande parte deles. Moisés meteu uma vez a mão no peito, e saiu-lhe
leprosa, meteu-a outra vez, e saiu-lhe limpa. Meta cada um a mão no seio da
consciência muitas vezes, que alguma pode ser que saia limpa; e se não sai
limpa, ao menos conheça-se por leproso. Algumas pessoas metem a mão na
consciência todas as vezes que o relógio dá horas, e com isto andam muito mais
limpas; cada um faça como puder, e como lhe aconselhar quem o governa. Mas
tenha sempre por certo que uma as coisas que o demônio mais nos procura
impedir, é que a alma olhe para si mesma, e se conheça: Perpetua
daemonum in entio, et labor in eo consistit, ut non sinat nos cor nostrum
observare, disse S. Efício.
Senhor,
sem a vossa graça todas nossas diligências são inúteis, e todas nossas
doutrinas infecundas: Ajudai-nos, por vossa misericórdia, que sejamos Santos,
pois, nos mandais que o sejamos; ou, ao menos, já que não somos santos, a
conhecer que o não somos, senão miseráveis pecadores. Conheça-me eu a mim, e
conheça-vos a Vós: Noverim me, noverim te. A mim, para
humilhar-me, a vós para honrar-vos, e servir-vos; a mim para me aborrecer; a
vós para amar-vos e estimar-vos sobre todas as coisas; a mim para me desprezar
e abater; a vós para vos louvar eternamente, pelos séculos dos séculos. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Antes de postar seu comentário sobre a postagem, leia: Todo comentário é moderado e deverá ter o nome do comentador. Comentário que não tenha a identificação do autor (anônimo), ou sua origem via link e ainda que não tenha o nome do emitente no corpo do texto, bem como qualquer tipo de identificação, poderá ser publicado se julgar pertinente o assunto. Como também poderá não ser publicado, mesmo com as identificações acima tratadas, caso o assunto for julga impertinente ou irrelevante ao assunto. Todo e qualquer comentário só será publicado se não ferir nenhuma das diretrizes do blog, o qual reserva o direito de publicar ou não qualquer comentário, bem como de excluí-los futuramente. Comentários ofensivos contra a Santa Madre Igreja não serão aceitos. Comentários de hereges, de pessoas que se dizem ateus, infiéis, de comunistas só serão aceitos se estiverem buscando a conversão e a fuga do erro. De indivíduos que defendem doutrinas contra a Verdade revelada, contra a moral católica, de apoio a grupos ou ideias que contrários aos ensinamentos da Igreja, ao catecismo do Concílio de Trento, ferem, denigrem, agridem, cometem sacrilégios a Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, a Mãe de Deus, seus Anjos, Santos, ao Papa, ao clero, as instituições católicas, a Tradição da Igreja, também não serão aceitos. Apoio a indivíduos contrários a tudo isso, incluindo ao clero modernista, só será publicado se tiver uma coerência e não for qualificado como ofensivo, propagador do modernismo, do sedevacantismo, do protestantismo, das ideologias socialistas, comunistas e modernistas, da maçonaria e do maçonismo, bem como qualquer outro tópico julgado impróprio, inoportuno, imoral, etc. Alguns comentários podem ser respondidos via e-mail, postagem de resposta no blog, resposta do próprio comentário ou simplesmente não respondido. Reservo o direito de publicar, não publicar e excluir os comentários que julgar pertinente. Para mensagens particulares, dúvidas, sugestões, inclusive de publicações, elogios e reclamações, pode ser usado o quadro CONTATO no corpo superior do blog versão web. Obrigado! Adm do blog.