Uma
entrevista com Dra. Alice von Hildebrand.
Dra.
Alice von Hildebrand é esposa do falecido filósofo e teólogo católico Dietrich
von Hildebrand, que foi chamado por Pio XII de “Doutor do Século XX”.
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A
conversa a seguir com Dra. Alice Von Hildebrand abre nossa discussão para o
foco desta edição: A Crise na Igreja – Cenários para
uma Solução. Dra. Von Hildebrand, professora emérita de Filosofia de Hunter
College (City University of New York), acabara de completar The Soul of a Lion,
uma biografia de seu marido, Dietrich.
TLM: Dra. von Hildebrand, no
tempo em que o Papa João XXIII convocou o Concílio Vaticano Segundo, a senhora
percebeu qualquer necessidade de reforma dentro da Igreja?
AVH: A maior parte da intuição sobre
isso vem do meu marido. Ele sempre disse que os membros da Igreja, devido aos
efeitos do pecado original e do pecado atual, se encontram sempre com
necessidade de reforma. O ensinamento da Igreja, porém, vem de Deus.Nenhum
acento deve ser modificado ou necessita de reforma.
TLM: Em termos da crise
atual, quando a senhora percebeu que algo estava terrivelmente errado?
AVH: Era fevereiro de 1965, e estava
num ano sabático em Florença. Meu marido estava lendo um jornal teológico, e de
repente, ouvi-o desatar em lágrimas. Corri até ele, temerosa de que seu coração
houvesse lhe causado dores. Perguntei-lhe se estava bem. Ele me
disse que o artigo que lia lhe fez intuir que o demônio havia penetrado na
Igreja. Veja, meu marido foi o primeiro alemão proeminente a se
pronunciar publicamente contra Hitler e o Nazismo. As suas intuições eram
sempre prescientes.
TLM: Seu marido tinha falado
sobre seu temor pela Igreja antes desse incidente?
AVH: Relato na biografia do meu
marido, “The Soul of a Lion”, que poucos anos após sua conversão ao Catolicismo
nos anos vinte, ele começou a ensinar na Universidade de Munique. Munique era
uma cidade católica. A maioria dos Católicos da época ia às Missas, mas ele
sempre disse que foi ali que ele começou a se preocupar com a perda
do sentido do sobrenatural entre os Católicos. Um incidente em especial
lhe ofereceu suficiente prova e isso o entristecia imensamente.
Quando
passava por uma porta, meu marido sempre deixava passar primeiro seus alunos
que eram sacerdotes. Um dia, um dos seus colegas (um Católico) expressou sua
surpresa e desagrado: “Por que você deixa seus alunos entrar antes de você?” “Porque
são sacerdotes”, respondeu meu marido. “Mas eles não possuem PhD”. Meu
marido se sentiu arrasado. Valorizar PhD é uma reação natural; estar
ciente da sublimidade do sacerdócio é uma reação sobrenatural. A
atitude daquele professor provava que a sua reação para o sobrenatural havia
erodido. Isso foi muito antes do Vaticano II. Mas até o Concílio, a beleza e a
sacralidade da liturgia Tridentina mascarava esse fenômeno.
TLM: Seu marido achava que o
declínio do sentido do sobrenatural havia começado nessa época, e no caso
afirmativo, como ele o explicava?
AVH: Não, ele acreditava que após a condenação
da heresia do Modernismo pelo Papa Pio X, seus proponentes
simplesmente haviam se retirado para o subsolo. Ele diria que, então, eles
tomaram uma abordagem muito mais sutil e prática. Espalhavam dúvidas
simplesmente levantando questões sobre as grandes intervenções sobrenaturais
através da história da salvação, tais como o Nascimento Virginal e a Virgindade
Perpétua de Nossa Senhora, bem como a Ressurreição e a Sagrada Eucaristia. Eles
sabiam que uma vez abalada a Fé – a fundação – a liturgia e os ensinamentos
morais da Igreja também desmoronariam. Meu marido intitulou um dos seus livros
de The Devastated Vineyard (A Vinha Devastada). Após o Vaticano II parece que
um tornado havia atingido a Igreja.
O próprio
Modernismo era fruto de calamidade do Renascimento e da Revolta Protestante, e
levou um longo processo histórico para se revelar. Se fôssemos perguntar a um
Católico típico da Idade Média o nome de um herói ou heroína, ele certamente
citaria um santo. O Renascimento começou a mudar isso. Ao invés de um santo, as
pessoas pensariam num gênio como pessoa a imitar, e com a chegada da era
industrial, as pessoas citariam um grande cientista. Hoje elas responderiam com
o nome de um esportista ou personagens da mídia. Em outras palavras, a
perda do sentido do sobrenatural trouxe a inversão da hierarquia de valores.
Mesmo o
pagão Platão estava aberto para o sentido do sobrenatural. Ele falou da
fraqueza, fragilidade e covardia freqüentemente evidenciadas na natureza
humana. Ele foi indagado por um crítico do porquê de tal baixa estima sobre a
humanidade. Ele respondeu que não denegria o homem, apenas comparava-o a Deus.
Com a
perda do sentido de sobrenatural, há uma perda do sentido da necessidade para o
sacrifício, hoje. Quanto mais alguém se aproxima de Deus, maior é a sua consciência de ser
pecador. Quando mais alguém se afasta de Deus, como hoje, mais escutamos a
filosofia da nova era “Estou bem, Você está bem”. A perda da inclinação para o
sacrifício leva ao obscurecimento da missão redentora da Igreja. Onde a Cruz é
subestimada a nossa necessidade de redenção é igualmente ignorada. A
aversão ao sacrifício e à redenção ajudou a secularização da
Igreja no seu interior. Temos ouvido durante muitos anos dos sacerdotes e
bispos sobre a necessidade da Igreja se adaptar ao mundo. Grandes Papas como S.
Pio X disseram exatamente o oposto: o mundo deve se adaptar à
Igreja.
TLM: Da nossa conversa, devo
concluir que a senhora não acredita que a perda acelerada do sentido do
sobrenatural seja um acidente no percurso da história.
AVH: Não, não acredito. Houve dois
livros publicados na Itália nestes anos que confirmam o que meu marido
suspeitava há algum tempo: que tem havido uma infiltração sistemática na Igreja
pelos inimigos diabólicos por todo este século. Meu marido foi um homem muito
esperançoso e otimista por natureza. Durante os dez últimos anos de sua vida,
porém, testemunhei muitos momentos de grande tristeza, e freqüentemente o ouvi
repetir: “Eles dessacralizaram a Santa Esposa de Cristo”. Ele estava se
referindo à “abominação da desolação” da qual fala o
profeta Daniel.
TLM: Esta é uma admissão
crítica, Dra. von Hildebrand. Seu marido foi chamado Doutor da Igreja do Século
XX pelo Papa Pio XII. Ele não teria acesso ao Vaticano para falar dos seus
temores para o Papa Paulo VI?
AVH: Mas foi exatamente o que ele
fez! Nunca esquecerei a audiência privada que tivemos com Paulo VI logo antes
do fim do Vaticano II. Foi em 21 de junho de 1965. Assim que meu marido começou
a apelar para que ele condenasse as heresias que estavam se espalhando, o Papa
o interrompeu com as palavras, “Lo scriva, lo scriva”. (“Escreva-o”). Momentos
depois, pela segunda vez, meu marido expôs a gravidade da situação ao Papa. A
mesma resposta. Sua Santidade nos recebeu em pé. Estava claro que o Papa se
sentia muito desconfortável. A audiência durou apenas alguns minutos. Paulo VI
deu imediatamente um sinal ao seu secretário, Pe. Capovilla, para nos trazer
rosários e medalhas. Nós então retornamos a Florença onde meu marido escreveu
um longo documento (não publicado até hoje) que foi entregue a Paulo VI na
véspera da última sessão do Concílio. Era setembro de 1965. Após ler o
documento de meu marido, ele disse ao sobrinho do meu marido, Dieter Sattler,
que havia se tornado embaixador alemão da Santa Sé, que havia lido o documento
cuidadosamente, mas que “era um pouco áspero”. A razão era óbvia: o meu marido
havia humildemente solicitado uma clara condenação de afirmações heréticas.
TLM: A senhora percebe,
certamente, Doutora, que tão logo a senhora menciona essa idéia da infiltração,
haverá aqueles que levantam seus olhos em desdém e bradam, “ei, outra teoria de
conspiração!?”
AVH: Eu só posso dizer o que sei. É
uma questão de registro público, por exemplo, que Bella Dodd, uma ex-Comunista
que se re-converteu à Igreja, falou abertamente da deliberada infiltração dos
agentes do partido Comunista nos seminários. Ela contou ao meu marido e a mim
que quando era membro ativa do partido, se encontrou com não menos que quatro
cardeais dentro do Vaticano, “que trabalhavam para nós”.
Muitas
vezes ouvi os norte-americanos dizerem que os europeus “cheiram conspiração
onde quer que vão”. Mas desde o início, o Demônio tem conspirado contra a
Igreja – e sempre procurou em particular destruir a Missa e destruir a fé na
Real Presença de Cristo na Eucaristia. Que algumas pessoas estejam tentadas a
ignorar esse fato inegável não é razão para negar sua realidade. Por outro
lado, eu, nascida européia, estou tentada a afirmar que muitos americanos são
ingênuos; vivendo num país que tem sido abençoado pela paz, e conhecendo pouco
a história, são mais propensos que os europeus (cuja história é tumultuada) a
caírem vítimas de ilusões. Rousseau tem tido enorme influência nos Estados
Unidos. Quando Cristo disse aos Seus apóstolos na Última Ceia que “um
de vós Me trairá”, os apóstolos ficaram perplexos. Judas havia agido de
tal modo que ninguém suspeitava dele, pois um conspirador astuto sabe como
cobrir seus traços com uma demonstração de ortodoxia.
TLM: Os dois livros escritos
pelos sacerdotes italianos que a senhora mencionou contêm evidências dessa
infiltração?
AVH: Os dois livros que mencionei
foram publicados em 1998 e 2000 pelo sacerdote italiano Don Luigi Villa da
diocese de Brescia, que sob a solicitação do Padre Pio dedicou muitos anos de
sua vida na investigação da possível infiltração dos Franco-maçons e Comunistas
na Igreja. Meu marido e eu encontramos Don Villa nos anos sessenta. Ele alega
que não faz nenhuma afirmação que não possa comprovar. Quando Paulo
Sesto Beato? (1998) foi publicado, o livro foi enviado a cada bispo
italiano. Nenhum deles reconheceu o recebimento, nenhum deles desafiou as
alegações de Don Villa.
Neste
livro, ele relata algo que nenhuma autoridade eclesiástica refutou nem pediu
para ser retratado – embora ele nomeie personalidades particulares acerca do
incidente. Trata de atrito entre Papa Pio XII e o então Bispo Montini (o futuro
Paulo VI) que era seu Sub-secretário do Estado. Pio XII, ciente da ameaça do
Comunismo, que logo após a Segunda Guerra Mundial dominava quase a metade da
Europa, havia proibido os funcionários do Vaticano a manter qualquer relação
com Moscou. Para sua decepção ele foi informado um dia através do Bispo de
Upsala (Suécia) de que sua ordem estrita havia sido contrariada. O Papa se
negou a dar crédito a esse rumor até receber evidência inegável de que Montini
mantinha correspondência com várias agências Soviéticas. Durante todo esse
tempo, o Papa Pio XII (assim como Pio XI) havia enviado sacerdotes
clandestinamente à Rússia para consolar os Católicos que viviam atrás da
Cortina de Ferro. Cada um deles havia sido sistematicamente preso, torturado e
mesmo executado ou enviado ao Gulag. Finalmente um delator de Vaticano foi
descoberto: Alighiero Tondi, S.J., que era um conselheiro próximo de Montini.
Tondi era um agente trabalhando para Stalin cuja missão era manter Moscou
informada sobre as iniciativas tais como o envio de sacerdotes para a União
Soviética.
Acrescente-se
a isso o tratamento do Papa Paulo ao Cardeal Mindszenty. Contra sua vontade,
Mindszenty foi ordenado pelo Vaticano a deixar Budapeste. Como quase todos
sabem, ele havia escapado dos Comunistas e buscou refúgio na embaixada
norte-americana. O Papa havia lhe dado sua promessa solene de que ele
permaneceria no primado da Hungria enquanto vivesse. Quando o Cardeal (que foi
torturado pelos Comunistas) chegou em Roma, Paulo VI abraçou-o calorosamente,
mas depois o enviou em exílio para Viena. Logo depois, seu santo prelado foi
informado que havia sido destituído e que havia sido substituído por alguém
mais aceitável pelo governo Húngaro Comunista. Mais intrigante e tragicamente
triste é o fato de que quando morreu Mindszenty, nenhum representante da Igreja
esteve presente no seu enterro.
Outra das
alusões de infiltração de Don Villa é aquela relatada pelo Cardeal Gagnon.
Paulo VI havia solicitado ao Gagnon para encabeçar uma investigação acerca da
infiltração da Igreja pelos inimigos poderosos. Cardeal Gagnon (na época um
Arcebispo) aceitou essa tarefa desagradável e compeliu um longo dossiê, rico em
fatos preocupantes. Quando o trabalho foi completado, ele solicitou uma
audiência com o Papa Paulo a fim de deliberar pessoalmente o manuscrito para o
Pontífice. Essa solicitação para um encontro foi negada. O papa enviou ordem
para que o documento fosse colocado nos escritórios da Congregação para os
Clérigos, especificamente num cofre com dupla fechadura. Isso foi feito, mas no
dia seguinte a caixa foi arrombada e o manuscrito desapareceu misteriosamente.
A política usual do Vaticano é se assegurar que tais incidentes nunca vejam a
luz do dia. Entrementes, esse roubo foi noticiado até no L’Osservatore Romano
(talvez sob pressão porque isso não foi noticiado na imprensa secular). Cardeal
Gagnon, logicamente, possuíam uma cópia, e novamente solicitou ao papa uma
audiência privada. Novamente sua solicitação foi negada. Ele então decidiu
deixar Roma e retornar a sua terra natal, Canadá. Mais tarde, foi chamado de
volta a Roma pelo Papa João Paulo II e feito cardeal.
TLM: Por que Don Villa
escreveu essas obras tendo como alvo de suas críticas Paulo VI?
AVH: Don Villa se manteve relutante
para publicar os livros aos quais aludi. Mas quando vários bispos começaram a
se movimentar para a beatificação de Paulo VI, esse sacerdote percebeu que era
um momento de chamada para publicar as informações que havia coletado através
dos anos. Assim fazendo, estava seguindo as orientações de uma Congregação
Romana, informando aos fiéis que era dever deles como membros da Igreja confiar
à Congregação qualquer informação que possa obstruir as qualificações do
candidato para a beatificação.
Considerando
o pontificado tumultuoso de Paulo VI, e os sinais confusos que fornecia, por
exemplo, falando da “fumaça de Satanás que penetrou na Igreja”, e, entretanto,
se recusando a condenar oficialmente as heresias; a sua promulgação de Humanae
Vitae (a glória do seu pontificado), porém, sua cuidadosa recusa em proclamá-la
ex-cathedra; oferecendo seu Credo do Povo de Deus na Praça S. Pedro em 1968, e
novamente fracassando em declará-lo como unificador de todos os Católicos;
desobedecendo as ordens estritas de Pio XII em não manter contato com Moscou, e
agradando o governo Comunista Húngaro ao renegar a promessa solene que havia
feito ao Cardeal Mindszenty; seu tratamento com relação ao santo Cardeal
Slipyj, que passou dezessete anos num Gulag, simplesmente para se tornar um
prisioneiro virtual no Vaticano; e finalmente, solicitando ao Arcebispo Gagnon
para investigar possível infiltração no Vaticano, apenas para recusá-lo para
uma audiência quando o trabalho estava completo – tudo isso fala fortemente
contra a beatificação de Paulo VI, ecoando em Roma, “Paolo Sesto, Mesto” (Paul
VI, o triste).
Que o
dever de publicar essa informação deprimente foi oneroso e custou grande
sofrimento ao Don Vila é inegável. Qualquer Católico rejubila quando ele pode
levantar os olhos e contemplar com veneração irrestrita um Papa. Mas os
Católicos sabem também que embora Cristo não tenha prometido conceder líderes
perfeitos, prometeu que os portões do inferno nunca prevaleceriam. Não
esqueçamos que muito embora a Igreja tivesse alguns papas muito ruins, e
outros, medíocres, ela tem sido abençoada com muitos grandes Papas. Oitenta
deles foram canonizados e vários, beatificados. Esta é uma história de sucesso
sem paralelo no mundo secular.
Somente
Deus é juiz de Paulo VI. Mas não se deve negar que seu pontificado foi muito
complexo e trágico. Foi sob seu pontificado que, num curso de quinze anos, mais
mudanças foram introduzidas na Igreja que em todos os séculos precedentes
juntos. O que é preocupante é que quando lemos o testemunho de ex-Comunistas
como Bella Dodd, e estudamos documentos maçônicos (datados do século dezenove,
e geralmente escritos por sacerdotes dissidentes como Paul Rocca), podemos ver
que, em larga extensão, suas agendas foram realizadas: o êxodo de sacerdotes e
freiras após o Vaticano II, teólogos dissidentes não censurados, o feminismo, a
pressão sobre a Roma para abolir o celibato sacerdotal, imoralidade entre os
clérigos, liturgias blasfemas, as mudanças radicais que foram introduzidas na sagrada
liturgia (vide Milestones do Cardeal Ratzinger, pp. 126 e 148, Ignatius Press)
e um ecumenismo sem rumo. Apenas um cego poderia negar que muitos dos planos do
Inimigo têm sido perfeitamente realizados.
Não
devemos nos esquecer que o mundo foi abalado com o que fez Hitler. Pessoas como
meu marido, porém, perceberam o que estava de fato escrito em Mein Kampf. O
plano estava ali. O mundo simplesmente optou por não acreditar. Porém, quão
grave esteja a situação, nenhum Católico engajado deve esquecer que Cristo
prometeu que Ele estará com Sua Igreja até o fim do mundo. Devemos meditar
sobre a cena relatada no Evangelho quando o barco dos apóstolos foi ameaçado
por uma forte tempestade. Cristo estava dormindo! Seus seguidores assustados O
acordaram: Ele disse uma única palavra e, de repente, tudo se acalmou. “Ó
vós, que tendes pouca fé!”
TLM: Segundo suas
observações sobre o ecumenismo, a senhora não concorda com a política atual de
“convergência” ao invés de “conversão”?
AVH: Deixe-me relatar um incidente
que causou grande pesar ao meu marido. Era 1946, logo depois da guerra. Meu
marido lecionava em Fordham, e ali apareceu numa de suas aulas um estudante
Judeu que havia sido um oficial da Marinha durante a guerra. Ele eventualmente
contaria ao meu marido sobre um pôr-do-sol extraordinário no pacífico e como
isso fê-lo se aproximar da verdade sobre Deus. Primeiro ingressou na Columbia
para estudar filosofia, e ele descobriu que isso não era o que procurava. Um
amigo lhe sugeriu tentar a filosofia na Fordham e mencionou o nome de Dietrich
von Hildebrand. Depois de apenas uma aula com meu marido, descobriu o que
buscava. Um dia, após a aula, meu marido e seu aluno foram dar uma caminhada.
Ele disse ao meu marido na ocasião que estava surpreso com o fato de que vários
professores, após descobrir que ele era Judeu, asseguraram-lhe que não
tentariam convertê-lo ao Catolicismo. Meu marido, estupefato, parou, voltou-se
para ele e disse: “Eles disseram o quê?!” O aluno repetiu a história e meu
marido lhe disse: “Iria até o fim do mundo para transformá-lo num
Católico”. Para resumir a longa história, o jovem se tornou um
Católico, foi ordenado sacerdote Católico e ingressou na única Casa dos
Cartuchos nos Estados Unidos (em Vermont)!
TLM: A senhora passou muitos
anos lecionando em Hunter College.
AVH: Sim, e vários dos meus alunos
se tornaram Católicos. Oh, quantas e belas histórias de conversão poderia
relatar se tivesse tempo – jovens que foram arrebatados pela verdade! Eu
gostaria, entretanto, de deixar claro um ponto. Não converti meus alunos. O
máximo que podemos fazer é rezar para sermos instrumentos de Deus. Para sermos
instrumentos de Deus, devemos nos esforçar para viver diariamente o Evangelho
em todas as circunstâncias. Apenas a graça de Deus pode nos conceder o desejo e
capacidade para tanto.
Eis um
dos temores que tenho em relação aos Católicos tradicionais. Algum flerte com o
fanatismo. Um fanático é aquele que considera a verdade sua posse ao invés de
dom de Deus. Somos servos da verdade, e é como servos que devemos procurar
partilhá-la. Estou ciente de que há Católicos fanáticos que usam a Fé e a
Verdade que proclamam como um instrumento intelectual. Uma autêntica
apropriação da verdade sempre leva ao esforço para a santidade. A Fé, nesta
crise atual, não é um jogo de xadrez intelectual. Para aqueles que não se
esforçam para a santidade, a fé se reduzirá a isso. Tais pessoas fazem mais mal
à Fé, particularmente, se estes são defensores da Missa tradicional.
TLM: Então a senhora acha
que o único cenário para uma solução da crise atual é a renovação de um esforço
para a santidade?
AVH: Não devemos nos esquecer que
estamos lutando não apenas contra carne e sangue, mas contra “poderes
e principados”. Isso deveria nos provocar suficiente temor para esforçarmo-nos
mais que nunca para a santidade, e orar fervorosamente para que a Santa Esposa
de Cristo, que se encontra agora no Calvário, saia dessa terrível crise mais
radiante que nunca. A resposta Católica é sempre a mesma: absoluta
fidelidade aos santos ensinamentos da Igreja, fidelidade à Santa Sé, freqüente
recepção dos Sacramentos, Rosário, leitura espiritual diária, e gratidão por
termos recebido a plenitude da revelação de Deus: “Gaudete, iterum dico vobis,
Gaudete”.
TLM: Não posso terminar a
entrevista sem fazer à senhora uma pergunta já um tanto desgastada. Há críticos
da antiga Missa latina que indicam que a crise na Igreja se desenvolveu no
tempo em que a Missa era oferecida no mundo inteiro. Por que deveríamos achar
que o seu retorno é intrínseco para a solução da crise?
AVH: O demônio odeia a
antiga Missa. Ele a odeia porque ela é a mais perfeita reformulação de todos os
ensinamentos da Igreja. Foi meu marido que me deu essa intuição
sobre a Missa. O problema que provocou a crise atual não foi a Missa
Tradicional. O problema é que os sacerdotes que a ofereciam já
haviam perdido o sentido do sobrenatural e transcendente. Eles se
apressavam em fazer as orações, murmuravam e não as enunciavam. Eis um sinal
que introduziram à Missa com o seu crescente secularismo. A antiga
Missa não permitia espaço para irreverência, e é por isso que muitos sacerdotes
se sentiram felizes em se desvencilhar dela.
TLM: Obrigado, Dra. Von
Hildebrand por esta oportunidade de conversar com a senhora.
FONTE:
missatridentinaemportugal.blogspot.com
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