A aparição ocorreu a
uma noviça chamada Catarina Labouré. Catarina nasceu em maio de 1806, no lugarejo
de Fain-lesMoutiers, não longe de Dijon, dois anos depois de Napoleão se fazer
imperador. Embora seu pai, que estudara para ser sacerdote, e sua mãe, ex-professora,
tivessem instrução acima da média, parece que Catarina
não se interessava
pelo estudo nem pelo que se passava no mundo.
O pai acabara
preferindo ser lavrador em vez de sacerdote porque detestava as instituições
religiosas e o papismo.
Retratos de Pierre e Madeleine Labouré mostram que eram
cultos. Tiveram 15 ou 17 filhos (dependendo das fontes) e dez viveram além da
infância; dos dez, Catarina era a nona.
A capacidade
intelectual de Catarina era medíocre. Algumas fontes indicam que ela permaneceu
“estranhamente inculta”. Outras fontes mais objetivas, indicam que suas
aptidões para o estudo eram “realmente inescrutáveis” e que sua “estupidez” era
alvo de troça por parte dos mestres.
Por outro lado, embora
não aprendesse ‘nem interagisse com as colegas da maneira usual, Catarina assumiu
a responsabilidade de toda a família quando tinha 9 anos. Não está claro se
isso aconteceu antes ou depois da morte da mãe. Também não está claro porque o
nono de dez filhos vivos assumiria essa responsabilidade.
Algum tempo depois da
morte da mãe, parece que pelo menos parte da grande família se dissolveu e Catarina
foi entregue aos cuidados de parentes.
Em tenra idade, ela
pedira ao pai permissão para ser freira, mas ele recusou com aspereza, por
causa de seus sentimentos anticlericais. Algumas fontes indicam que,
posteriormente,
Catarina recusou três propostas de casamento, mas outras não fazem nenhuma
referência a isso.
Ela decidiu seguir sua
vocação religiosa, apesar das objeções paternas. Enquanto trabalhava em um restaurante, ela
pediu para ingressar no convento das Irmãs de Caridade em Chantilion. Mas a
superiora relutou muito em aceitar alguém com tão “pouca instrução” ou tão
“estúpida” e provavelmente relutasse ainda mais porque o pai obstinado e
anticlerical recusou-se a dar o dote que se costumava esperar das que
entravam na irmandade.
De algum modo, essas dificuldades foram superadas e, em 21 de abril de 1830,
Catarina, então com 24 anos, foi recebida como postulante e encaminhada ao convento
na rue du Bac, em Paris.
Catarina mal se
acostumara a seus deveres de, como postulante, esfregar o chão e lidar com a
água suja, quando foi chamada para participar da procissão que trasladaria os
restos mortais de são Vicente de Paulo, fundador da comunidade, da catedral de
Notre Dame para a sede dos lazaristas, ordem fundada pelo santo.
Ela não demorou a
alegar para algumas das outras irmãs ter visto, no convento, o “coração” de são
Vicente de Paulo brilhar intensamente acima da vitrina que continha algumas das
relíquias dele.
Por essa alegação, ela
deve ter recebido o que hoje chamaríamos de “conselho” dos superiores do
convento. Certo padre Aladel, “mentor” ou “confessor” dela (as duas palavras constam
dos registros), mencionou que ela estava no convento para aprender a “servir
aos pobres, não para sonhar”.
Se o padre Aladel era
seu confessor ou mentor é de interesse concreto para entender as tentativas de sigilo
que posteriormente cercaram a aparição. Se confessor, ele estaria proibido de
revelar a confissão dela a quem quer que fosse. Se mentor do convento, seria
obrigado a informar a superiora.
De qualquer modo, e
apesar das adverências do padre Aladel, parece que Catarina não fazia segredo
do fato de desejar com fervor ver a Virgem Maria e rezava abertamente por essa graça.
Esse comportamento é incomum para uma postulante que acabou de entrar para as
Irmãs de Caridade. A obediência, o comportamento submisso e a humildade
voluntária seriam mais comuns e, de fato, aconselhados com insistência.
Apenas três meses
depois de entrar para o convento como postulante, ela foi dormir na noite de 18
de julho de 1830, véspera da festa de são Vicente de Paulo, convencida — como
parece ter contado a todos que quisessem ouvi-la que o santo padroeiro a
ajudaria a satisfazer
esse grande desejo. Em 18 de julho faltavam apenas nove dias para a revolução
de julho de 1830 e fazia pouco tempo que haviam sido publicados os regulamentos
de julho para silenciar a imprensa.
Às onze e meia da
noite, Catarina acordou, e ouviu chamarem-na três vezes pelo nome. No quarto,
viu “um menino de uns 4 ou 5 anos, de brilhantes cabelos loiros, envolto em uma
luz dourada e vestido de branco”. Existem diversos relatos do que
aconteceu em seguida;
com base neles, reconstitui o seguinte:
— Levante-se —
disse o menino. — Minha irmã! Minha irmã! Venha depressa à capela. A Virgem Santíssima
a aguarda. [La Sainte Vierge vous attend!]
Mais tarde, Catarina
declarou ao padre Aladel ter ficado confusa e perturbada e perguntado ao menino
como poderia atravessar os escuros corredores do convento para chegar à capela,
sem despertar as outras irmãs.
— Não tema —
respondeu o menino. — Todas estão dormindo. Vou com você.
Catarina seguiu-o
pelos corredores. No caminho, “as luzes” (velas, com certeza) acenderam-se, o
que a deixou atônita. Todos os relatos concordam que o menino seguia à esquerda
dela, um pouco à frente, e estava cercado de raios de luz.
A porta da capela
abriu-se sozinha e o interior estava todo iluminado, “como se para a missa da
meia-noite”.
Catarina não viu a
Virgem Santíssima em nenhum lugar da capela, mas o menino conduziu-a ao
sacrário, ao lado da cadeira do diretor, onde aguardaram. (A cadeira
conserva-se no convento.) Catarina estava nervosa e apreensiva, temendo ser
descoberta e punida pelas sentinelas noturnas.
Catarina contou que, à
meia-noite, “ouviu um ruído como o frufru de um vestido ou o farfalhar de
muitas saias de seda. “Vi”, disse ela, “sentada na cadeira (do diretor) nos
degraus do altar, uma senhora” que parecia mais “uma dama de fino trato que uma
santa”.
— Eis a Virgem
Santíssima — disse o menino. — Ei-la!
Catarina declarou não
ter reconhecido esta senhora como a Virgem Santíssima. Mas parece que o menino “leu
seus pensamentos” e “com a voz mudada para a de um homem adulto” reafirmou que
a senhora era mesmo a Virgem Santíssima.
Catarina ainda estava
perplexa quando a Senhora começou a falar. Muitos dos registros são consistentes sobre o que a
Senhora disse, em grande parte porque, mais tarde, o principal historiador de
Catarina, Jules Chevalier, forneceu a versão aceita oficialmente. A Senhora
começou:
Minha filha, o bom Deus quer
encarregá-la de uma missão. Você terá que sofrer muito, mas superará os sofrimentos
ao refletir que tudo que faz é para a glória de Deus. Será atormentada até
dizer ao que está encarregado de orientá-la [padre Aladel ou o diretor, ou
ambos]. Será desmentida; mas não tema, pois terá graça. Conte com confiança
tudo que se passa aqui e em seu íntimo. Conte tudo com simplicidade. Não tema.
“Os tempos são
muito maus”, continuou a Senhora. “Calamidades
vão se precipitar sobre a França, o trono será [novamente] derrubado, logo o
mundo inteiro vai mergulhar em todos os tipos de infortúnio”. Apesar de
parecer muito aflita ao dizer isso, a Senhora prosseguiu: Mas agora venha ao
pé do altar. Aí graças serão derramadas sobre todos, grandes ou pequenos, que
as peçam com fervor. Graves
calamidades
estão para acontecer. Será grande o perigo para esta [o convento] e para outras
comunidades religiosas. Em dado momento, quando o perigo for crítico, todos vão
achar que tudo está perdido; você recordará minha visita e [este convento] terá
a proteção de Deus. Mas não será assim com outras comunidades.
Então lágrimas
apareceram nos olhos da Senhora.
Haverá vítimas
entre o clero de Paris — monsenhor, o arcebispo [as lágrimas voltam a marejar-lhe os olhos. Minha filha, a
cruz será tratada com desprezo, eles a derrubarão por terra e a calcarão aos pés.
O sangue correrá. As ruas ficarão cheias de sangue. Monsenhor, o arcebispo,
será despojado de suas vestes [aqui a Senhora se angustia e não consegue
falar por um tempo].
Durante esse
interlúdio, Catarina “imaginava quando tudo isso aconteceria” Descobriu que
“sabia”. Alguns acontecimentos seriam logo, outros “dali a quarenta anos
[1870]”.
A Senhora continuou “Meus olhos estarão sempre em você. Conceder-lhe-ei
graças. Graças especiais serão Concedidas a todos que as pedirem, mas é preciso
rezar”.
Nesse momento, a
aparição sumiu “como uma nuvem que tivesse evaporado” o menino levou-a de volta
ao quarto. O relógio bateu duas horas.
Na manhã seguinte (19
de julho), Catarina contou que tinha visto a Virgem Santíssima, embora as fontes não esclareçam a
quem. A discrepância é evidente no fato de algumas fontes dizerem que ela contou
ao padre Aladel, identificado como seu confessor mas, nesse caso, como
confessor, ele estaria obrigado a nunca dizer a ninguém — o que aparentemente
ele fez bem depressa. É bastante provável que ela
(ou o padre Aladel)
tenha Contado ao diretor do convento, como a senhora ordenara, mas as fontes
são inconsistentes.
É certo que ela contou
a alguém e que esse “alguém” proibiu-a de contar aos outros. Essa proibição
parece não ter dado muito certo, pois algumas pessoas do convento disseram a outras
que a Virgem aparecera a alguém dali, segredo que ninguém deveria saber, mas
que logo chegou aos ouvidos de todos.
Por outro lado, também
seria lógico que, no princípio, as moradoras do convento concluíssem que tinham
nas mãos uma postulante mentalmente perturbada.
De qualquer modo, os
registros (pelo menos os endossados oficialmente mais tarde) indicam que esse acontecimento
foi mantido “em segredo” e a vidente, “anônima”. Algumas fontes dizem que padre
Aladel voltou a condenar as “ilusões” dela e a afirmar: “Se quiser homenagear
Nossa Senhora, imite as virtudes dela e proteja-se da
imaginação”.
Mas a descrença, o
sigilo e o anonimato só prevaleceram no princípio e logo não tiveram mais razão
de ser. É certo que profecias que se cumprem ajudam a confirmar a autenticidade
de uma aparição. A Senhora predissera na noite de 18 para 19 de julho: “O trono
será derrubado”. O rei Carlos X foi destronado oito dias mais
tarde, entre 26 e 28
de julho, durante os “três dias gloriosos”, que ficaram conhecidos como a
revolução de julho de 1830.
As “graves
calamidades” profetizadas vieram à tona na forma de barricadas montadas nas
ruas de Paris, distúrbios em Paris e outros lugares e na matança de muita
gente. Saqueadores invadiram igrejas, crucifixos foram jogados por terra e
quebrados, e houve quem defecasse e urinasse sobre eles. Como a Senhora
predissera, “monsenhor, o arcebispo [o arcebispo de Quelen]” foi agredido,
despojado à força de suas vestes e duas vezes teve de fugir para salvar a vida.
Além disso, e mais uma
vez como profetizado, o convento das Irmãs de Caridade na rue du Bac foi cercado
por uma multidão zangada que deu tiros em sua direção, enquanto outros
edifícios religiosos foram incendiados e destruídos. Mas, como a Senhora
prometera, as aterrorizadas moradoras da rue du Bac não foram
Alguns críticos mais
tardios afirmaram que essas profecias foram convenientemente feitas em
retrospecto.
Mas a essa altura,
alguma coisa tem de explicar o fato de Catarina não ter sido simplesmente
mandada para o lugar onde a Igreja punha as postulantes mentalmente
desequilibradas e justificar também a mudança quase imediata das atitudes em
relação a ela.
Se as profecias
tivessem realmente sido feitas alguns dias antes de se cumprirem, então
causariam grande impressão nas autoridades do convento que, sem dúvida, as
teriam relatado ao arcebispo. As profecias estavam, com certeza, em exame desde
1831 e, em 1870, todas as predições feitas durante a primeira aparição, em 1830,
tinham se realizado.
Catarina “sabia” que
algumas das “graves calamidades” que se referiam a “monsenhor, o arcebispo” aconteceriam logo,
mas que outras previsões levariam “quarenta anos” para se cumprir. Durante as
“graves calamidades” de mais uma revolução, a de 1848, outro arcebispo,
monsenhor Affre, foi morto a tiros nas barricadas.
Em 1870, quarenta anos
mais tarde, a cruz foi outra vez “calcada aos pés” e monsenhor Darboy, então arcebispo
de Paris, foi assassinado no início da guerra franco-prussiana. Esses
acontecimentos confirmaram as profecias que Catarina disse ter recebido da
Senhora — exceto as pertinentes ao “mundo inteiro”.
De qualquer modo, não
despacharam Catarina em 1830. Em vez disso, fizeram-na jurar segredo, com o que,
é evidente, ela concordou. Esse procedimento não era incomum em conventos e
mosteiros, quando ocorriam fenômenos extraordinários. Entretanto, o
procedimento não se destinava a indicar a autenticidade de uma aparição, mas a
reforçar a humildade, extirpar o orgulho e impedir a veneração de fenômenos
raros que alguns poderiam interpretar como santos.
Porém o sigilo, em vez
de castigo ou hospitalização, é clara indicação que os superiores de Catarina aceitaram
o acontecimento sagrado como tal já em agosto de 1830.
No decorrer da
primeira aparição, Catarina ouviu que teria uma missão. Mas só quatro meses
depois, quando a Senhora voltou, ela descobriu qual seria essa missão.
Durante essa segunda
aparição, o aspecto e as vestes da Senhora eram muito diferentes da primeira.
Nas palavras de Catarina, ou nas palavras a ela atribuídas:
Em 27 de
novembro de 1830, que caiu no sábado antes do primeiro domingo do Advento, às
cinco e meia da tarde... ouvi um som semelhante ao farfalhar de um vestido de
seda, vindo do púlpito perto do quadro de são José. Virando-me naquela direção,
vi a Virgem Santíssima [flutuando] na altura do quadro. A Virgem estava de pé. Era
de estatura média e estava toda trajada de branco. Seu vestido era da brancura
da aurora, no estilo que se chama “a la Vierge” — isto é gola
alta e mangas lisas. Um véu branco cobria-lhe a cabeça e descia dos dois lados,
até os pés. Sob o véu, o cabelo cacheado estava preso com uma fita enfeitada de
renda... Tinha o rosto descoberto, na verdade bem descoberto e tão belo que me parecia
impossível descrever sua beleza arrebatadora. Tinha os pés apoiados em uma
esfera branca, quer dizer, meia esfera, ou, pelo menos, eu só via a metade.
Havia também uma serpente, verde com manchas amarelas. Em volta da Virgem
Santíssima havia uma moldura ligeiramente oval. Dentro da moldura, estava escrito
em letras de ouro: “Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós, que recorremos a
vós”. A inscrição, em
semicírculo, começava na altura da mão direita, passava por cima da cabeça e terminava
na altura da mão esquerda. As mãos [agora] elevavam-se à altura do estômago e seguravam,
de maneira muito natural, como se a oferecesse a Deus, uma esfera de ouro
encimada por uma cruzinha dourada, que representava o mundo. Tinha os olhos
baixos, não voltados para o céu. Seu rosto era de tal beleza que eu não saberia
descrevêlo. De repente, percebi anéis nos seus dedos, três anéis em cada dedo,
o maior perto da base do dedo, um de tamanho médio no meio, o menor na ponta.
Todos os anéis eram adornados de pedras preciosas, umas mais belas que as
outras; as pedras maiores emitiam raios maiores e as menores, raios menores;
partindo de todos os lados, os raios inundavam a base, de modo que eu não via
mais os pés da Virgem Santíssima. Nesse momento, enquanto eu a contemplava, a
Virgem Santíssima baixou os olhos e me fitou. Ouvi uma voz que disse estas
palavras: “Esta esfera que você vê representa o mundo inteiro, em especial a
França e cada pessoa em
particular”. Não sei exprimir o que senti ao ouvir isso, o que vi, a beleza e o
fulgor dos raios deslumbrantes. “Eles [os raios] são o símbolo das graças que
derramo sobre os que as pedem. As pedras que não emitem raios são as graças que
as almas se esquecem de pedir.” A esfera dourada desapareceu no brilho dos
feixes de luz que irrompiam de todo os lados; as mãos voltaram-se para fora e os braços
inclinaram-se sob o peso dos tesouros de graças obtidas. Então a voz disse:
“Mande cunhar uma medalha com este modelo. Todos os que a usarem receberão
grandes graças e devem trazê-la ao pescoço. As graças serão abundantes para os
que a usarem com
confiança “. Nesse instante, pareceu-me que o quadro se virava e vi o reverso da
medalha: um grande M encimado por uma barra e uma cruz; abaixo do M estavam os
corações de Jesus e Maria, um coroado de espinhos, o outro traspassado por uma
espada.
Nesse momento, a
aparição desapareceu “como uma vela que se apagasse”. Muitas
reproduções artísticas
posteriores desta aparição não incluem o véu branco, mas incluem um manto azul
ao redor dos ombros e dos braços, não mencionado na descrição feita por
Catarina.
A mesma aparição de
Maria Santíssima a Catarina repetiu-se quatro ou cinco vezes. A última foi em janeiro
de 1831 e nela a Senhora disse que Catarina não a veria mais, porém com frequência
ouviria “minha voz em suas orações”.
Os registros oficiais
declaram que padre Aladel não ficou sabendo da segunda nem das aparições subseqüentes
por não estar interessado — o que nos leva a perguntar a quem elas foram
relatadas, pois em nenhuma de minhas fontes isso é mencionado.
Mas em algum momento
entre a segunda aparição e fevereiro de 1832, padre Aladel envolveu-se novamente.
E, em maio, permitiu que um certo senhor Vachette cunhasse os primeiros dois
mil exemplares da medalha.
A atitude de padre
Aladel relaciona-se com o número de pessoas que conheciam os detalhes da
aparição “secreta”. É bastante compreensível que padre Aladel não assumisse a
responsabilidade de criar um artefato religioso antes de explicar os
motivos aos superiores. Para a fabricação da medalha deve ter sido preciso a
anuência
do diretor geral das
Irmãs de Caridade e a aprovação, pelo menos tácita, do arcebispo de Quelen. Mas
isso significava que o “sigilo” das aparições e da identidade de Catarina como
a vidente não seria mantido como segredo exclusivo do convento. Além do mais, a
medalha foi cunhada antes de se realizarem os inquéritos oficiais posteriores para estabelecer
as circunstâncias de sua origem, inquéritos que teriam envolvido o pessoal do
arcebispado.
As Irmãs de Caridade
começaram imediatamente a dar a medalha aos doentes e pobres de quem cuidavam.
Entendeu-se claramente que a origem da medalha era santa. Logo alguns pacientes
relataram conversões e curas milagrosas e a medalha passou a ser conhecida como
a Medalha Milagrosa. Curas e conversões semelhantes continuam
a ocorrer.
Alguns relatos afirmam
que a medalha só voltou a ser reproduzida vários anos após as aparições. Mas outros
documentos aceitos como oficiais mencionam que nos dois anos seguintes
(1832-1833), cinqüenta mil medalhas foram cunhadas e doadas ou vendidas. Na França,
no outono de 1834, tinham sido vendidas mais quinhentas mil, dois milhões em
1836, um milhão um ano depois e mais de um bilhão tinham sido vendidos
em todo o mundo quando Catarina morreu, em dezembro de 1876.
Registros oficialmente
aceitos mencionam que os primeiros inquéritos sobre a autenticidade da aparição
só se realizaram em 1836, mas a circulação da medalha foi aprovada em 1832 e,
em 1836, dois milhões de medalhas haviam sido vendidos.
Assim, apesar dos
planos de sigilo que cercaram a aparição e sua vidente, com cada uma das
Medalhas Milagrosas a história simplesmente tinha de ser contada. Durante os
anos seguintes, o único aspecto “secreto” da aparição parece ter sido o nome da
vidente. A postulante Catarina Labouré, que não escondera seu desejo de ver a
Virgem Santíssima,
tornou-se irmã Catarina em 30 de janeiro de 1831, pouco tempo depois da última
aparição de Maria. Foi imediatamente designada para ser cozinheira no asilo de
Enghien, na cidade de Reuilly.
Com essa ocupação, o
instrumento de Maria Santíssima viveu no asilo os 46 anos seguintes. Suas condições
eram humildes, mas é evidente que ela não se esforçou para melhorá-las. Guardou
Silêncio voluntário sobre a aparição.
Esse silêncio era tão
rigoroso que, em 1836, quando o arcebispo solicitou para que viesse a Paris
depor no primeiro inquérito oficial, repetidas vezes ela pediu para ser
dispensada, com o espantoso pretexto de não se lembrar dos detalhes da
aparição. Nunca depôs. Isso é, quase com certeza, prova positiva que, antes de
1836, Catarina já havia sido aceita como instrumento de Maria Santíssima, pois
o bispo poderia facilmente ter exigido sua presença, sob pena de castigo, até de
excomunhão. Não o fez e nem outra pessoa a pressionou.
Pouco antes de sua
morte tranqüila em 31 de dezembro de 1876, pediram a Catarina para confirmar
se, na verdade, foi ela quem viu “la Sainte Vierge”. E ela confirmou.
Em 1895, foram
concedidos à Medalha Milagrosa missa e ofício próprios dentro da liturgia
católica romana.
A casa onde Catarina
passou a infância transformou-se em museu. Em 1933, o corpo de Catarina, que
havia muito tempo sepultado, foi exumado e “o exame médico
considerou-o em
perfeito estado de conservação com os olhos ainda azuis” (depois da morte, os
olhos sempre escurecem e se decompõem depressa).
A conservação de seu
corpo bastante tempo após a morte é automaticamente aceita como prova tangível
de que o vidente foi escolhida especialmente por vontade divina.
O corpo de Catarina
foi trasladado para a capela do convento da rue de Bac onde, durante algum tempo,
pôde ser visto através de um vidro protetor. Hoje o corpo está sob o altar
construído no lugar da primeira aparição da Virgem Santissima na
capela do convento e,
em média, recebe mais de mil visitantes por dia, maravilhados e cheios de
veneração.
Em 1947, o papa Pio
XII canonizou santa Catarina Labouré. Uma das principais formas de veneração
desta santa é a novena perpétua (rezada semanalmente) em honra de Nossa Senhora
da Medalha Milagrosa. Iniciada em 1930, na Filadélfia, é rezada, desde então,
em mais de cinco mil igrejas espalhadas pelo mundo todo.
Fonte: As grandes aparições de Maria: relatos de vinte e duas aparições/Ingo
Swann, Paulinas, 2001
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