"Virá
um tempo onde os homens não suportarão mais a santa doutrina, mas carregados
por desejos insensatos e um prurido de escutar novidades, ajustarão mestres
para si, fugirão da verdade e se atirarão às fábulas."
(S. Paulo a Timóteo 4, 3-4)
A fé é rara, muito rara. Não nos iludamos, nos
aproximamos dos tempos infelizes do qual o divino Mestre falou: "Quando o
Filho do Homem voltar, credes que ele encontrará a fé sobre a terra?"
A atmosfera que respiramos nesta grande capital, que
se respira na maioria das cidades de nossas províncias, que começam,
infelizmente, a respirar nos campos de vários de nossos departamentos, é uma
atmosfera não somente de indiferença religiosa, mas de morte espiritual, de
incredulidade, senão ponderada, ao menos habitual, da qual todos nós sentimos
mais ou menos a influência fatal.
A fé prática é rara, raríssima, como o prova o
abandono quase universal dos Sacramentos, sobretudo pelos homens. Os homens!
Eles são, contudo, os irmãos primogênitos de Jesus Cristo; os primeiros a se
assentarem na mesa eucarística na pessoa dos Apóstolos. Teriam eles, como Esaú,
vendido seus direitos de primogenitura? Estariam decididos em deixar às suas
companheiras e aos seus filhos as bênçãos de Deus e o céu? Eles se resignariam
fatalmente à maldição e ao inferno?
A fé teórica é rara, muito rara, como o provam, entre
o maior número, uma maneira de pensar completamente oposta ao Evangelho, as
máximas absolutamente contrárias aos ensinos de Jesus Cristo. Onde encontrar
hoje a crença simples, a adesão franca às verdades que Deus nos revelou por
Jesus Cristo, e que a santa Igreja nos ensina?
A fé, em uma palavra, sob todas as formas, é rara, tão
rara que eu me pergunto involuntariamente se ela ainda existe fora do pequeno
grupo dos eleitos.
Excluam do número dos crentes aqueles que professam
abertamente a incredulidade e o ódio contra a Igreja de Jesus Cristo.
Excluam aqueles que ousam ainda se dizerem religiosos,
mas que se proíbem de serem cristãos!
Excluam aqueles que não creem mais nos mistérios, nos
dogmas, nos milagres do Evangelho; que bradam bem alto que a fé humilha por
demais sua razão; que ela é boa, talvez, para as mulheres, para as crianças,
para o povo, mas que eles não precisam de modo algum dela, pois as luzes de sua
inteligência e os instintos de sua alma lhes bastam plenamente para se bem
conduzir.
Excluam aqueles que só pertencem ao cristianismo por
seu batismo e uma primeira comunhão das quais eles não se recordam mais; que,
em sua vida inteira, vieram raramente ao templo, e sempre para demonstrar aí,
por uma tênue incredulidade, que eles não sabem mais que uma igreja é uma casa
de oração!
Excluam aqueles cuja alma é sensual e agitada pela
dúvida, que, como as nuvens vazias do qual fala o apóstolo São Judas, são
meneadas por todos os ventos dos erros e das paixões!
Excluam aqueles que creem maquinalmente, sem saber o
que eles creem e por que eles creem, cuja instrução religiosa se traduz por uma
ignorância profunda, e o zelo religioso por uma indiferença absoluta!
O que sobrará? Quando o Filho do Homem voltar sobre a
terra, credes que ele encontrará aqui a fé?
Os fieis crentes são como esses destroços que a
tempestade e o naufrágio lançaram dispersos sobre a imensa superfície dos
oceanos. Apparent rari nantes in gurgite vasto!
Interroguem, por acaso, sobre a fé, não um homem
ignorante e sem educação, mas um desses sábios, um desses sábios que produzem o
encanto e a glória de nossas sociedades modernas!
Ele conhece os primeiros elementos desta Religião
santa que seus pais honraram por tantas virtudes? Para se instruir dela, seria
preciso aí consagrar um tempo precioso que ele deve às ocupações
incomparavelmente mais importantes!
Mas qual é sua religião, qual é seu culto? Se vocês o
aguardarem, e que ele se digne em vos dá-la, sua resposta vos gelará de pavor.
Vocês se acreditarão no tempo de Atenas e de Roma. Eu adoro, ele vos dirá, o
Ser supremo, criador e conservador do universo, mas que, tranquilo na morada de
sua glória, fecha os olhos sobre as ações de suas criaturas, pouco dignas de
fixar seus olhares! Eis seus dogmas! Ele acredita no Deus ilusório que ousam
chamar o Deus das pessoas boas!
E, contudo, ele está perfeitamente contente consigo
mesmo, pois ele se crê e se diz homem honesto! Se ele entrasse no templo, ele
iria direito ao altar, de cabeça em pé, e exclamaria: "Eu vos agradeço, ó
meu Deus, porque eu não sou como o resto dos homens, ladrão, injusto, egoísta,
adúltero! mas bom esposo, bom pai, bom cidadão!" Ele riria com desdém do
publicano que, prosternado no chão, se bateria no peito e pediria que Deus lhe
perdoasse, pois ele é um grande pecador! Ele se inquietaria muito pouco ao sair
do templo abatido pelo ódio que Deus pesa sobre o pobre orgulhoso, enquanto que
o publicano retornaria justificado em sua humilde morada!
O fariseu homem honesto! Eis o tipo característico do
século dezenove.
A fé é rara, muito rara! Mas sua raridade é mais um
argumento em favor de sua divindade: pois é o cumprimento palpável das
pregações de Jesus Cristo e também dos Profetas e dos Apóstolos.
É a história eterna, relatada por Isaías, dos filhos,
que se alimentam, que se enriquecem, que se exaltam, e que acabam sempre por
trair, por desprezar sua mãe!
É esta a vinha de todas as épocas! Cercaram-na de um
ódio tutelar, a purificaram com cuidado das pedras que obstruem seu solo;
edificaram em seu seio uma torre para protegê-la e uma prensa para extrair o
sumo de sua razão; a cultivaram com amor, a descascaram com habilidade, e no
lugar da vindima que lhe solicitavam, ela produziu apenas silvas e espinhos.
São Paulo viu que viria um tempo onde os homens não
suportariam mais a sã doutrina; onde, empurrados por desejos insensatos, por um
prurido de escutar novidades, eles se ajustariam mestres de sua escolha,
fugiriam da verdade e se voltariam rumo às fábulas! Jesus Cristo disse:
"Quando eu voltar, credes que encontrarei ainda fé? Nos dias de
incredulidade geral que precederão o fim do mundo, se Deus, por amor por seus
eleitos, não abreviar o tempo da provação, toda a fé desaparecerá!
Abbé François-Marie-Joseph Moigno. Les splendeurs de
la foi. Blériot Frères, Paris, Tome I, 1879.
Tradução: Robson Carvalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Antes de postar seu comentário sobre a postagem, leia: Todo comentário é moderado e deverá ter o nome do comentador. Comentário que não tenha a identificação do autor (anônimo), ou sua origem via link e ainda que não tenha o nome do emitente no corpo do texto, bem como qualquer tipo de identificação, poderá ser publicado se julgar pertinente o assunto. Como também poderá não ser publicado, mesmo com as identificações acima tratadas, caso o assunto for julga impertinente ou irrelevante ao assunto. Todo e qualquer comentário só será publicado se não ferir nenhuma das diretrizes do blog, o qual reserva o direito de publicar ou não qualquer comentário, bem como de excluí-los futuramente. Comentários ofensivos contra a Santa Madre Igreja não serão aceitos. Comentários de hereges, de pessoas que se dizem ateus, infiéis, de comunistas só serão aceitos se estiverem buscando a conversão e a fuga do erro. De indivíduos que defendem doutrinas contra a Verdade revelada, contra a moral católica, de apoio a grupos ou ideias que contrários aos ensinamentos da Igreja, ao catecismo do Concílio de Trento, ferem, denigrem, agridem, cometem sacrilégios a Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, a Mãe de Deus, seus Anjos, Santos, ao Papa, ao clero, as instituições católicas, a Tradição da Igreja, também não serão aceitos. Apoio a indivíduos contrários a tudo isso, incluindo ao clero modernista, só será publicado se tiver uma coerência e não for qualificado como ofensivo, propagador do modernismo, do sedevacantismo, do protestantismo, das ideologias socialistas, comunistas e modernistas, da maçonaria e do maçonismo, bem como qualquer outro tópico julgado impróprio, inoportuno, imoral, etc. Alguns comentários podem ser respondidos via e-mail, postagem de resposta no blog, resposta do próprio comentário ou simplesmente não respondido. Reservo o direito de publicar, não publicar e excluir os comentários que julgar pertinente. Para mensagens particulares, dúvidas, sugestões, inclusive de publicações, elogios e reclamações, pode ser usado o quadro CONTATO no corpo superior do blog versão web. Obrigado! Adm do blog.