"O maior e mais terrível erro que se pode cometer na vida espiritual, é dizer de si para si mesmo: Já alcancei a perfeição moral suficiente para a salvação, já basta, agora vou parar."
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa Pio XII, numa passagem da solene alocução proferida na cerimónia de canonização de São Domingos Sávio – 13 de Junho de 1954:
«Enquanto que os três heróis que acabamos de comemorar, dispenderam todas as suas energias viris no duro combate contra as forças do mal, eis aparecer à nossa vista a imagem de Domingos Sávio, adolescente, débil de corpo, mas de alma elevada, numa pura oblação de si mesmo ao AMOR SOBRENATURALMENTE DELICADO E EXIGENTE DE CRISTO. Numa idade tão nova, talvez se esperasse encontrar apenas boas e amáveis disposições de espírito; e pelo contrário descobrem-se nele, com admiração, os caminhos maravilhosos das inspirações da Graça, UMA ADESÃO CONSTANTE E SEM RESERVAS ÀS COISAS DO CÉU, QUE A SUA FÉ COMPREENDIA COM RARA INTENSIDADE. Na escola do seu Mestre espiritual – o grande São João Bosco, ELE APRENDEU COMO A ALEGRIA DE SERVIR A DEUS, E DE O FAZER AMAR PELOS OUTROS, PODE TORNAR-SE UM PODEROSO MEIO DE APOSTOLADO.
O dia 8 de Dezembro de 1854 viu-o elevado num êxtase de amor para com a Virgem Maria, e depois ele reunia alguns dos seus amigos na “Companhia da Imaculada Conceição”para avançar a grandes passos no caminho da Santidade, e evitar até o mínimo pecado. Incitava os seus companheiros à piedade, ao bom comportamento, à frequência dos Sacramentos, à reza do santo Rosário, à fuga do mal e das tentações. Sem se deixar atemorizar pelo mau acolhimento, ou pelas respostas insolentes, intervinha com firmeza, mas com Caridade, para chamar ao dever os maus e os transviados. Favorecido já nesta vida com a familiaridade e os Dons do Doce Hóspede na alma, bem depressa deixou a Terra para receber, com a intercessão da Rainha dos Céus, o Prémio do seu amor filial.»
«São Domingos Sávio é um verdadeiro modelo para a juventude dos nossos tempos. Um adolescente que leva para a sepultura a inocência baptismal e que durante os breves anos da sua vida não manifesta defeito algum é verdadeiramente um santo… A vida que D.Bosco lhe escreveu, e que eu li, deu-me a ideia de um jovem exemplar, que merece ser apontado como modelo de perfeição…»
São Pio X
«O grande aluno de D.Bosco… o fruto mais excelente da sua obra educativa, da sua obra apostólica… Domingos Sávio pequeno grande santo É UM GIGANTE DO ESPÍRITO… Possuía de um modo especial, estas três características, que nos permitem apresentá-lo como modelo à juventude dos nossos dias: A pureza, a piedade e o zelo.»
Papa Pio XI
O maior e mais terrível erro que se pode cometer na vida espiritual, é dizer de si para si mesmo: Já alcancei a perfeição moral suficiente para a salvação, já basta, agora vou parar. Um raciocínio deste tipo enferma vários defeitos, aendo que o primeiro é considerar “que já temos perfeição suficiente para irmos para o Céu”. A salvação, depois do pecado original, é muito mais difícil do que antes desse pecado; a causa deste facto reside em que Adão e Eva, para pecarem, tiveram que exercer um esforço moral negativo de elevada magnitude. Para nos salvarmos, mesmo com atrição seguida da recepção do Sacramento da Penitência, é necessário amarmos SOBRENATURALMENTE a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor de Deus. Ora, nas actuais condições do mundo moderno – privados quase totalmente que estamos, da Santa Madre Igreja, do seu Magistério Eterno, do Santo Sacrifício da Missa, dos Sacramentos – POSSUIR A GRAÇA DE DEUS PODE CONSIDERAR-SE UM MILAGRE MORAL. Mas conquanto possuamos tal Graça, uma coisa é certa: SE CESSARMOS OU DIMINUIRMOS O NOSSO ESFORÇO MORAL, MUITO DEPRESSA A PERDEREMOS. Até porque uma cessação ou diminuição de esforço moral é absolutamente contrária à Lei número 1 do crescimento Sobrenatural para Deus: QUANTO MAIS A ALMA SE APROXIMA DE DEUS, MAIS O QUER AMAR, E POR ISSO COM MAIS CELERIDADE ESPIRITUAL PROGRIDE, E POR ISSO MESMO, MAIS FÁCIL SE LHE VAI TORNANDO A PRÁTICA DA VIRTUDE. A OPINIÃO COMUM, MESMO ENTRE PESSOAS PIEDOSAS, DE QUE A PERFEIÇÃO MORAL É INANTIGÍVEL PORQUE DIFICÍLIMA, DEMONSTRA O ATRASO NESSA MESMA PERFEIÇÃO.
Existe uma outra questão, bastante interessante, sobre o modo de compatibilizar na alma humana os sofrimentos próprios da mesma condição humana – acrescidos dos sofrimentos inerentes ao modo como o mundo persegue a virtude Sobrenatural – com a felicidade também Sobrenatural de que os santos constituem fiel testemunho. A alma humana, na sua transparência e fluidez espiritual, e ainda mais por constituir a forma do ente racional vivo, é susceptível de orientações e de posicionamentos nas quais se conhece a si mesma, se assimila a si mesma, permitindo nessa mesma mobilidade interna e espiritual, considerarem-se planos, ontològicamente, mais ou menos elevados; assim a alma pode mergulhar no plano inferior da sua vida mortal, experimentando as dores próprias dessa condição; mas pode igualmente elevar-se às zonas superiores do espírito gozando o lume da participação na Natureza Divina, pela Graça Santificante, e beneficiando igualmente dos Dons do Espírito Santo. Não existe pois contradição entre os sofrimentos e as alegrias Sobrenaturais da Graça, POIS PERMANECEM EM PLANOS ESPIRITUAIS DIFERENTES, QUE PODEM SER CONTEMPLADOS SEGUNDO ATITUDES PSICOLÓGICAS TAMBÉM DIFERENTES. Todavia, se pretendermos conceptualizar como que um “saldo” global e definitivo, então devemos considerar que nos grandes santos, sendo muito grandes os sofrimentos, sobretudo morais, É AINDA MUITO MAIOR A FELICIDADE SOBRENATURAL.
E em Nosso Senhor Jesus Cristo, modelo Hipostàticamente Incriado de toda a Santidade?
Sabemos que Nosso Senhor, antes de tudo o mais, gozava de uma impassibilidade e imortalidade intrínseca, isto é, não podia padecer ou mesmo morrer por causas puramente internas, mas apenas por causas externas, mais não fosse pela corruptibilidade física de um mundo ferido pelo pecado original. Por outro lado sabemos que Nosso Senhor, na Sua Alma humana, gozava da Visão Beatífica, mas durante a Vida mortal do Senhor, essa Visão era metafísica, e não física, ou seja, essa visão directa da Divindade não se repercutia quantitativamente, através da essência da alma, no ser mesmo do Senhor. Por isso a Visão Beatífica não anulava as dores da Paixão, nem mesmo a suprema dor moral da Agonia do Horto.
Durante a sua vida mortal, exceptuado o tempo da Paixão, havia preeminência da sublimidade da Visão Beatífica sobre as dores EXTRÍNSECAS do Senhor, oriundas da já citada corruptibilidade de um mundo ferido pelo pecado original, que foi o mundo onde Jesus nasceu. No tempo da Paixão, existia um predomínio das dores, físicas e morais, sobre a sublimidade da Visão Beatífica, a qual, contudo, não era anulada. Porque a União Hipostática foi querida por Deus COMO RESPEITANDO EM NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, QUER A QUALIDADE DE VIADOR, OU SEJA DE PEREGRINO DA VIDA MORTAL, QUER A DE COMPREENSOR, ISTO É, DE ALGUÉM QUE ULTRAPASSADAS AS FRONTEIRAS DO MUNDO MORTAL, JÁ VÊ A DEUS. Neste quadro conceptual, Nosso Senhor, enquanto Homem, se é certo que não possuía a Fé Teologal, porque já contemplava a Essência Divina; por outro lado possuía a ciência experimental, na qual reconhecia, especìficamente, porque era verdadeiro Homem, a obscuridade do conhecimento humano, e a dificuldade deste em penetrar e iluminar inteligìvelmente a opacidade da matéria.
Nossa Senhora, a nossa querida Mãe do Céu, também possuía uma impassibilidade e mesmo imortalidade essencialmente intrínseca – por isso não sofreu, nem podia sofrer, as dores do parto. Todavia, sujeita à corruptibilidade deste mundo pecador, sofreu as maiores dores morais que se podem sofrer neste mundo – ainda que inferiores à Agonia de Jesus no Horto – mas também foi beneficiada com uma felicidade Sobrenatural superior à de todos os outros santos.
Um dos grandes erros dos ímpios é pensarem que a Religião Católica é a Religião do sofrimento, e que quanto mais se sofre mais santo se é. Ambas as teses estão profundamente erradas, até porque mesmo filosóficamente, o sofrimento nunca pode constituir um objectivo último. O ser nunca pode ser sofrimento, mas Luz e Alegria, EM DEUS, COM DEUS, E POR DEUS, na Ordem Natural ou na Ordem Sobrenatural, mas só nesta última reside a Salvação Eterna. Os Santos não procuraram o sofrimento como um Fim, mas como um meio de expiação e purificação, para melhor e mais eficazmente se unirem a Deus na Caridade perfeita. SÒMENTE A CARIDADE SOBRENATURAL, NO PLANO OPERATIVO, E A GRAÇA SANTIFICANTE, NO PLANO ENTITATIVO, CONSTITUEM A MEDIDA DA SANTIDADE.
São Domingos Sávio é o mais jovem confessor da Cristandade; a sua vida constitui um maravilhoso exemplo que bem nos demonstra como TODA A SANTIDADE VEM DE DEUS E CONDUZ A DEUS, SEMPRE PARA MAIOR GLÓRIA DE DEUS. QUANTO MAIS SOBRENATURAL E SIMPLESMENTE A ALMA UNE O SEU PRINCÍPIO AO SEU FIM, MAIS SANTA É. DEVEMOS SER SOBRENATURALMENTE SIMPLES NA PARTICIPAÇÃO NA NATUREZA DIVINA, QUE É INFINITAMENTE SIMPLES.
Se São Domingos Sávio vivesse hoje, seria a própria seita anti-Cristo a propor o seu imediato internamento em clínica psiquiátrica. Efectivamente, os santos vivem neste mundo, mas não são deste mundo; E A SEITA CONCILIAR ENCONTRA-SE TOTALMENTE IMERSA NA CARNE DO MUNDO.
NO CÉU SÓ HÁ SANTOS, na exacta medida do que já foi afirmado- é necessário neste mundo amar Sobrenaturalmente a Deus sobre todas as coisas; não com um amor sensível, como é evidente, nem com um amor humano, nem mesmo com um amor natural, MAS COM UM AMOR SOBRENATURAL, e esse amor só pode promanar de Deus, porque participa acidentalmente no Amor Trinitário, na intimidade Trinitária. Não se trata aqui de santos em sentido canónico, mas no sentido celebrado, precisamente, pela Festa de Todos-os- Santos; aqueles homens, mulheres e crianças, que ao longo dos séculos, na obscuridade de um recanto anónimo e desprezado pelo mundo, mas profundamente unidos a Nosso Senhor Jesus Cristo e n’Ele infinitamente ricos, humanamente abandonados, mas cumulados de bençãos celestes, aristocratas da hierarquia do Corpo Místico, exactamente porque neste pobre e desgraçado mundo nos amaram tanto que tudo deram pela nossa Eterna Salvação.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 23 de Março de 2016
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