"Estão a nossa disposição sempre que o desejamos, sempre prontos a vir em nosso auxílio em cada necessidade interior. Sua voz nunca é corrosiva, seu conselho nunca é interessado, seu discurso nunca se baseia no medo ou na mentira."
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa São Pio X, na Exortação Apostólica “Haerent
Animo” dirigida ao clero Católico, no cinquentenário da sua Ordenação
Sacerdotal – 4 de Agosto de 1908:
É grande o proveito que os sacerdotes retiram da fidelidade à
leitura espiritual. Sua pregação tem o sabor de Cristo, NÃO TENDE A LISONJEAR
OS ÂNIMOS DOS OUVINTES, MAS OS ENCAMINHA EFICAZMENTE A PROPÓSITOS MELHORES E A
DESEJOS DO CÉU.
O preceito que dava São Jerónimo: “Que a Sagrada Escritura
esteja sempre ao alcance da tua mão”, será de grande utilidade, a vós
dilectos filhos, também sob outro aspecto. É sabido o quanto influencia no
amigo aquele que lealmente admoesta, aconselha, repreende, incita, corrige do
erro. “Feliz aquele que encontrou um amigo verdadeiro” (Eclo 25,12) … “Quem o
encontrou, encontrou um tesouro” (Eclo 6,14).
Pois bem, entre os nossos amigos mais fiéis devemos elencar
os livros espirituais. Esses nos confrontam com os nossos deveres e preceitos
disciplinares; despertam as inspirações celestes adormecidas na alma:
repreendem a preguiça em manter os propósitos; abalam-nos de uma tranquilidade
falaz; desmascaram as aspirações menos louváveis latentes em nós; indicam-nos
os perigos que frequentemente estão à espreita, se não estamos prevenidos. Esse
grande benefício, os livros espirituais nos fazem, sem que o percebamos.
Merecem verdadeiramente que os não chamemos apenas amigos, MAS OS MAIS
ESPECIAIS DE ENTRE OS NOSSOS AMIGOS. Estão a nossa disposição sempre que
o desejamos, sempre prontos a vir em nosso auxílio em cada necessidade
interior. Sua voz nunca é corrosiva, seu conselho nunca é interessado, seu
discurso nunca se baseia no medo ou na mentira.
Muitos exemplos famosos documentam a salutar eficácia dos
livros espirituais. Entre todos sobressai o de Santo Agostinho. Suas altíssimas
benemerências em relação à Igreja iniciaram desse tipo de leitura. “Toma e lê,
toma e lê… Peguei as Epístolas de São Paulo, abri e li em silêncio… uma Luz de
certeza difundiu-se em meu coraçãoe dissolveram-se as trevas de toda a dúvida”.
Actualmente, ao invés, infelizmente, com frequência, acontece
o contrário. Exitem eclesiásticos que insensìvelmente se deixam penetrar pelas
trevas da dúvida e se aventuram em seguir os caminhos tortuosos do mundo. O
motivo é este: Ao invés de lerem os livros espirituais e Divinos, preferem ler
livros de outro género, assim como grande quantidade de periódicos infectados
de erros, quer hàbilmente mascarados, quer pestíferos. Guardai-vos bem,
dilectos filhos, não confieis em vossa idade madura; não caiais na armadilha de
que desse modo podeis ser mais úteis aos outros. Existem limites que não de
podem transpor nunca; e que são os estabelecidos pelas leis da Igreja e os
assinalados pela prudência e pelo amor de si próprio. Uma vez que a alma foi
infectada por esses venenos, raramente poderá livrar-se dos danos mortíferos.»
Quase toda a psicologia e psiquiatria modernas convergem numa
concepção materialista, segundo a qual, qualquer orientação de vida em face do
Absoluto é constitutiva de uma perturbação mental, mais ou menos grave, mais ou
menos a requerer a intervenção dos profissionais de saúde adequados.
Poder-se-ia supor que os comunistas ortodoxos, ou mesmo os muçulmanos não
modernistas, necessàriamente tombariam sob tal classificação com todas as suas
consequências; mas na realidade assim não acontece pois só os verdadeiros
católicos são o alvo predilecto de psiquiatras e psicólogos – HÁ LUGAR PARA
TUDO, PARA TUDO, EXCEPTO PARA A VERDADE E O BEM.
É falso que o uso da psiquiatria para fins políticos ou
religiosos haja sido exclusivo da antiga União Soviética; no Ocidente tudo se
processa, actualmente, sem dúvida, com muito mais moderação, mas o princípio
freudiano fundamental permanece e não foi nunca renegado. É conhecido como em
Portugal, quando da proclamação da República em 5 de Outubro de 1910, muitos
sacerdotes foram levados ao hospital para se submeterem, à força, a exames
frenológicos orientados a provar uma sua tendência patológica para o crime.
Na Guerra Civil de Espanha, na zona vermelha, sacerdotes eram
conduzidos a casas de prostituição para serem violados; física e moralmente
violados. Na realidade, numa coisa os ímpios estão certos: O absoluto comunista
ou islâmico são falsos absolutos, são vazios infernais, são deste mundo, por
isso não despertam a mesma hostilidade do que a Fé Católica cuja identidade específica
é absolutamente única, E NÃO É DESTE MUNDO.
A consagração Sobrenatural de uma vida a Deus Nosso Senhor,
seja num convento, seja vivendo materialmente no meio do mundo, é considerada
uma alienação fundamental que prejudicaria os religiosos tanto como a própria
sociedade. Neste quadro conceptual, o protestantismo liquidou toda e qualquer
vida religiosa, bastando para isso invocar o seu próprio princípio anárquico de
livre exame, com correlativa eliminação da mediação da autoridade eclesiástica
nas relações dos fiéis com Deus. Com a Revolução de 1789, foi a vez dos
países de Tradição Católica, tomados de assalto pela maçonaria, decretarem a
extinção das Ordens Religiosas, sempre em obediência ao mesmo princípio
agnóstico ou ateu de que é absurda e socialmente condenável a consagração da
alma a Uma Suprema Entidade que objectivamente transcende este mundo.
Afirmam os ímpios que essa consagração constitui uma forma do
indivíduo conferir sentido à trivialidade da sua própria vida, ou ainda de
compensar carências sexuais ou afectivas.
É verdade que uma vida consagrada Sobrenaturalmente a Deus
Nosso Senhor NUNCA PODE SER UMA VIDA BANAL, pois participa acidentalmente da
própria Natureza Divina, da Inteligência Divina, da Caridade Divina. AQUELES
QUE NESTE MUNDO LEVAM VIDAS BANAIS CONDENAM-SE ETERNAMENTE. Nosso Senhor Jesus
Cristo foi extremamente claro quando nos estimulou para tentarmos entrar pela
Porta estreita, pois só esta conduz à Salvação Eterna, ao passo que a porta
larga, a porta banal, por onde entra a grande maioria dos homens, essa conduz à
condenação Eterna. E Nosso Senhor igualmente proclamou: Que interessa ao homem
ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma. Efectivamente, o santo, o
homem que não levou uma vida trivial, é precisamente aquele que procurou unir
com a maior simplicidade e sobrenaturalidade possível o seu Princípio ao seu
Fim; por exemplo, São José Bento Labre (1748-1783) viveu quase toda a vida como
um mendigo, viajando incansàvelmente pelos caminhos de Deus; a sua santidade
era reconhecida, mas não conseguiu ser aceite nos vários conventos por onde
passou, até porque após um certo tempo de permanência, algo de misterioso
impelia-o a partir coberto de andrajos e de piolhos. Não que esta miséria seja
necessária para a santidade, o que é necessário é o desapego decidido das
riquezas, a pobreza de espírito, o governo dos bens segundo a nossa própria
condição familiar e social objectiva, mesmo quando se é materialmente rico. O
mundo detesta a pobreza, quer de espírito, quer material, porque não sabe que
ser pobre com Nosso Senhor Jesus Cristo É SER INFINITAMENTE RICO.
Os desgostos deste pobre mundo devem constituir condição
extrínseca Providencial da Graça de Deus; Deus Nosso Senhor serve-se
frequentemente das tristezas desta vida para chamar eficazmente os Seus amigos
e os Seus santos. Santo Agostinho experimentou todas as misérias do erro e do
pecado carnal, até que Deus Nosso Senhor o elevou e ilustrou. Todavia, Santo
Agostinho não ascendeu tão alto como São Tomás, e nos seus escritos sente-se
por vezes alguns laivos de corporalismo.
A psicologia e psiquiatria modernas, no seu profundo
materialismo, troçam da Fé Católica e consideram os santos doentes mentais. Mas
aqui cumpre aduzir uma grave consequência: Ao considerarem pessoas
perfeitamente sãs e equilibradas como doentes verdadeiros, necessitando
tratamento, em vez de lealmente discordarem frontalmente delas, mostram que são
criminosos de delito comum. Uma coisa é afrontar galhardamente o adversário,
atacando-o, mesmo com violência, MAS CONSIDERANDO-O UMA PESSOA SÃ, PRECISAMENTE
PORQUE É SÃO; OUTRA É FALSIFICAR A REALIDADE, PORQUE EVIDENTEMENTE, UM DOENTE
MENTAL NÃO NECESSITA DE SER REFUTADO. De facto assim procedeu sempre a
Santa Inquisição que foi um tribunal imensamente mais justo e misericordioso
que todos os tribunais civis e militares que a História regista.
A ÚNICA OPERAÇÃO QUE CONFERE SENTIDO À NOSSA TRISTE VIDA
SOBRE A TERRA, É O ANÚNCIO DA GLÓRIA EXTRÍNSECA DE DEUS, AMANDO-O E SERVINDO-O,
E SÓ AÍ, ALIÁS, O HOMEM PODE ENCONTRAR E ENCONTRA CERTAMENTE A ÚNICA FELICIDADE
REAL E VERDADEIRA, QUE É A FELICIDADE SOBRENATURAL, QUE O MUNDO NÃO CONHECE,
NEM PODE CONHECER.
Porque o mundo concebe a felicidade como um fim em si mesmo,
e aqui reside o seu tremendo erro. Efectivamente, no plano filosófico, e ainda
mais no plano teológico, a felicidade só pode promanar de uma operação do ente
racional, enquanto racional, e segundo a Lei que OBJECTIVAMENTE o rege.
Neste ponto Aristóteles e mais tarde o Estoicismo verificaram
na Ordem Natural, aquela mesma Doutrina que o Magistério da Santa Madre Igreja
haveria de sòlidamente perfilhar na Ordem Sobrenatural. Considerada a elevação
ao estado Sobrenatural, a Lei objectiva que se há-de contemplar, não será
sómente a Lei Natural conhecida pela razão e pela natureza, MAS A DOUTRINA DA
FÉ ENSINADA POR NOSSO SENHOR JESUS CRISTO E PELO MAGISTÉRIO DA SANTA MADRE
IGREJA. Quem considera a felicidade como um fim em si mesmo e não como que uma
irradiação, uma auréola, da perfeição moral, INFRINGE GRAVÌSSIMAMENTE AS LEIS
DO SER, ABOLINDO A HIERARQUIA ORGÂNICA DA REALIDADE. O pecado consiste nisso
mesmo: Operar sem ter, positivamente, em conta as leis do ser; porque tais
leis, insiste-se, não resultam de um capricho de Deus Nosso Senhor, não, ELAS
SÃO INTRÌNSECAMENTE CONFORMES À VERDADE E AO BEM ABSOLUTO E INCRIADO.
Ora para Bergoglio a lei moral fundamental, o único sentido
para a vida é – VIVER E DEIXAR VIVER. Uma bela síntese do agnosticismo e do
ateísmo de todos os tempos, e objectivo último da constituição da Cidade sem
Deus, almejada pela maçonaria internacional e já universalmente conseguida com
o nunca suficientemente amaldiçoado Vaticano 2.
Nunca olvidar que o mérito Sobrenatural da nossa vida não
reside na GRANDEZA MATERIAL, HUMANA E TERRENA das nossas obras, mas
precisamente, como já se referiu, na SIMPLICIDADE E SOBRENATURALIDADE COM QUE A
ALMA UNE O SEU PRINCÍPIO AO SEU FIM. É ESSE O SENTIDO EMINENTÍSSIMO DA NOSSA
VIDA, UMA LINHA INTRÌNSECAMENTE RECTA, SEM DESVIOS, POIS QUE CRIADOS E REMIDOS
POR DEUS, PARA DEUS NOS DIRIGIMOS – POR ELE CHAMADOS, ATRAVÉS DA SUA LEI, QUE É
TAMBÉM A NOSSA LEI – COMO PARA O NOSSO BERÇO ORIGINAL. POIS QUE AQUELE ENTE QUE
NÃO É O SEU SER, SÓ PODE TER SIDO CRIADO POR AQUELE QUE É O SEU SER – E PARA
ELE VOLTAR.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 2 de Abril de 2016
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