"Música
ensina, por meio de metáforas, a respeito do nascimento do Divino Menino Jesus,
sua vida, paixão e morte."
Roger
Vargas
Aproxima-se o Natal. Há mais de dois mil anos
nascia o Salvador dos homens. Depois da Páscoa da Ressurreição, essa é a festa
mais importante para toda a Cristandade. Nesses mais de 2000 Natais da
História, quantos fatos e exemplos memoráveis se deram. Seria necessária uma
grande coletânea de livros para narrar tantos acontecimentos desde o primeiro
Natal — a Natividade por excelência —, passando pelos Natais durante a
perseguição romana e as abençoadas comemorações natalinas da Idade Média.
Avançando na História, por fim chegaríamos ao século XXI, reconhecendo (com
quanta dor!) que o verdadeiro significado do Natal foi sendo deformado e
dessacralizado.
Não é, porém, nosso objetivo analisar aqui todos os
ricos aspectos que apresenta o Natal, mas sim relembrar, mediante alguns poucos
exemplos, a grandeza dessa data, e quanto ela influenciou e quanta ascendência
ainda exerce na sociedade hodierna.
*
* *
É tocante lembrarmos o Natal Chouan, belo fato que se passou durante a Revolução
Francesa. O conto narra que um dos valorosos chouans — camponeses católicos do oeste da França, que se levantaram
contra a Revolução Francesa — era cativo das hordas revolucionárias. Apesar da
implacável ferocidade de seus algozes, ao toque do sino anunciando a Noite
Santa foram estes tocados tão fortemente pela graça, que o libertaram.
O que dizer sobre o interessante conto Natal na Trincheira? Em plena Segunda
Guerra Mundial, uma parte dos combatentes cessa as hostilidades e sai de suas
trincheiras cantando o Stille
Nacht; e o inimigo, tomado de espanto, percebe tudo: era a noite de
Natal!
Seria pouco, se ficássemos apenas no campo dos
fatos externos que marcaram o Natal em todas as épocas, pois esse magno
acontecimento inspira nas almas variados temas, e nos oferece também lições de
virtude e grandeza de alma.
Assim, merece destaque a despretensão de um Franz
Grüber, compositor do Stille
Nacht (Noite Feliz), que se tornou a canção natalina por
excelência. Ela poderia ser hoje atribuída a autor anônimo, caso o Imperador da
Prússia, Frederico Wilhelm IV, não tivesse ordenado que se localizasse o
compositor de tão sublime melodia.
É digno de nota quanto o Natal inspirou povos e
nações. Deus cumulou cada povo, quase cada região, de graças especiais, a cada
um propiciando uma compreensão única do Natal, diversa da intelecção de
qualquer outro povo. Isso é espelhado no modo de comemorar, nas músicas e nos
ambientes natalinos.
Através de músicas natalinas próprias, o espírito
espanhol manifesta sua particular vivacidade. Num ambiente festivo, esse povo
revela sua alegria esfuziante pelo nascimento do Redentor.
De outro lado, as músicas natalinas alemãs
ressaltam, de modo especial, toda a serenidade e inocência do clima próprio ao
Natal, visto pelos germânicos.
O italiano, o polonês, o austríaco, o inglês (este,
na medida em que conservou sua fidelidade à Santa Igreja), enfim, todos os
povos cristãos souberam expressar, cada um a seu modo, o que o Natal representa
para cada um deles.
A verdadeira glória
nasce da dor — escreveu
Plinio Corrêa de Oliveira. Quantos povos e quantas pessoas conheceram em seus
Natais o sofrimento e a perseguição! É ainda hoje o caso da China, de Cuba e
outros países. E essa circunstância, em tantos casos, só fez aumentar nesses
católicos sofridos a fé e o amor pela Santa Igreja.
* * *
Há uma bela música de Natal inglesa
intitulada Twelve Days of
Christmas (Os 12 dias do Natal), pouco conhecida entre nós, e que
surgiu durante a época da perseguição anglicana contra os católicos naquele
país, no século XVI.
Com a pseudo-reforma protestante, países como a
Inglaterra, ao abandonarem o regaço da Santa Igreja e caírem na heresia,
começaram a perseguir os católicos, tornando quase impossível a prática da
verdadeira Religião. Para comunicar aos fiéis a sã doutrina e poderem celebrar
sem medo de represálias o Natal do Salvador, segundo a tradição da Santa
Igreja, católicos ingleses compuseram tal música, que é um catecismo secreto, porquanto
expressa em símbolos a realidade de nossa fé. Ela foi também utilizada muitas
vezes durante a Revolução Francesa.
Ei-la:
“No primeiro dia de Natal o meu
verdadeiro amor deu-me: uma perdiz numa pereira.
No segundo dia de Natal o meu
verdadeiro amor deu-me: 2 pombas-rolas e uma perdiz numa pereira.
No terceiro dia de Natal o meu
verdadeiro amor deu-me: 3 galinhas francesas, 2 pombas-rolas e uma perdiz numa
pereira”. (Dia após dia, ela
vai narrando, em ordem decrescente, o que o “meu amor deu-me”).
No quarto dia de Natal o meu
verdadeiro amor deu-me: 4 pássaros cantando...
No quinto dia de Natal o meu
verdadeiro amor deu-me: 5 anéis dourados...
No sexto dia de Natal o meu
verdadeiro amor deu-me: 6 gansos chocando...
No sétimo dia de Natal o meu
verdadeiro amor deu-me: 7 cisnes nadando...
No oitavo dia de Natal o meu
verdadeiro amor deu-me: 8 servas ordenhando...
No nono dia de Natal o meu verdadeiro
amor deu-me: 9 senhoras dançando...
No décimo dia de Natal o meu
verdadeiro amor deu-me: 10 lordes saltando...
No décimo primeiro dia de Natal o meu
verdadeiro amor deu-me: 11 flautistas tocando...”
E termina dizendo:
“No décimo segundo dia de Natal o meu
verdadeiro amor deu-me: 12 tocadores de tambor, 11 flautistas tocando, 10
lordes saltando, 9 senhoras dançando, 8 servas ordenhando, 7 cisnes nadando, 6
gansos chocando, 5 anéis dourados, 4 pássaros cantando, 3 galinhas francesas, 2
pombas-rolas e uma perdiz numa pereira...”
Qual o significado da letra dessa música?
1º dia: O
meu verdadeiro amor é Deus Pai. E a perdiz na pereira simboliza Nosso Senhor Jesus Cristo. A
perdiz é um animal corajoso, capaz de lutar até a morte para defender seus
filhotes. E a pereira representa a Cruz.
2° dia: Duas
pombas-rolas representam o Antigo e o Novo Testamento. Durante
séculos, judeus ofereciam pombas a Deus. As duas pombas lembram o sacrifício de
Nossa Senhora e São José oferecido por Nosso Senhor.
3º dia: Três
galinhas francesas representam as três virtudes teologais: fé,
esperança e caridade. Essas galinhas eram muito caras durante o século XVI e só
os ricos tinham condições de comprá-las. Simbolizavam os três presentes
ofertados pelos Reis Magos a Nosso Senhor: ouro, o mais precioso dos metais;
incenso, usado nas cerimônias religiosas solenes; e a mirra, uma especiaria sem
igual.
4º dia: Quatro
pássaros cantando representam os quatro Evangelhos. Neles estão
contidos a vida de Nosso Senhor e seus ensinamentos. Como pássaros cantando de
modo claro e em alta voz, os quatro Evangelistas espalham por todo o mundo a
Boa-Nova da Vida, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
5º dia: Cinco
anéis dourados representam os cinco primeiros livros do Antigo
Testamento ou o Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio), que lembravam aos católicos suas raízes. Os judeus
consideravam esses livros mais valiosos que o ouro. E depois que a devoção do
Rosário tornou-se mais conhecida, lembravam as cinco dezenas do Rosário da
Bem-aventurada Virgem Maria.
6º dia: Seis
gansos chocando representam os seis dias que Deus empregou na
criação da Terra, do Universo e das criaturas. Os seis gansos chocando ovos
recordam como a Palavra deu vida à Terra.
7º dia: Sete
cisnes nadando representam os sete sacramentos e também os sete
dons do Espírito Santo. Com os sacramentos e os dons, os fiéis poderiam
sustentar-se através dos tempos de perseguição. Como os filhotes de cisnes
transformam-se de patinhos feios em
belos cisnes, assim a graça de Deus nos transforma de simples criaturas em
filhos de Deus.
8º dia: Oito
servas ordenhando representam as oito bem-aventuranças pregadas por
Nosso Senhor no Sermão da Montanha. As bem-aventuranças, como o leite,
alimentam e nutrem o católico.
9º dia: Nove
senhoras dançando são os nove frutos do Espírito Santo (Gal. 5,
22-23): caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade,
brandura e temperança. Da mesma forma como as senhoras que dançam alegres, os
cristãos podem alegrar-se com a vida transformada pelos frutos do Espírito
Santo.
10º dia: Dez Lordes pulando simbolizam os 10 Mandamentos da Lei de
Deus. Os Lordes eram homens com autoridade para governar e disciplinar o povo.
11º dia: Onze
flautistas tocando representam os 11 Apóstolos que permaneceram
fiéis a Nosso Senhor, após a infame traição de Judas. Como crianças que seguem
alegremente o flautista, esses discípulos acompanharam a Jesus. Eles também
chamaram outros a segui-Lo. E tocaram uma canção eterna: a mensagem de salvação
e da ressurreição após a morte.
12º dia: Doze tocadores de tambor representam os doze artigos do
Credo. Assim como eles tocam sonoramente para que os outros acompanhem o ritmo
da música, o Credo revela a fé daqueles que são chamados cristãos.
Muitas pessoas não imaginam quais são esses 12 Dias de Natal. Trata-se dos dias
entre o Natal e a Festa da Epifania, a qual é tradicionalmente celebrada no dia
6 de janeiro.
E-mail do autor: rogerluis@hotmail.com
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