Hoje,
graças a Francisco, essa tolerância à ambiguidade, tão generalizada nos
católicos mais fiéis, mas que resistem sempre em ser considerados
“tradicionalistas” e assumir esse custo, encabeçam uma resistência crítica
muito chamativa e crescente
Se revive a situação de Mons.
Lefebvre e Mons. de Castro Mayer
É
possível que em breve ocorra um cisma na Igreja. Mas os acusados de cismáticos,
como tem ocorrido antes, não serão quem o provoque mas quem o enfrente.
É
muito difícil dizer algo sobre a atual situação da Igreja, salvo que é
terrivelmente confusa. Uma confusão nascida há pouco mais de 50 anos à vida
pública por meio de documentos que em essência incubavam o mesmo problema que
agora tem estalado em função da Exortação Amoris Laetitia. Isto é, uns textos
que longe de aclarar pontos obscuros, ou reafirmar verdades sabidas, criaram
escuridão sobre o que se tinha por claro e definitivo.
Durante
muitos anos, décadas certamente, uma grande maioria de católicos amantes da
doutrina, mas talvez não suficientemente decididos ou conscientes da gravidade
da situação, puseram suas esperanças em duas questões: uma, que o próximo papa
corrigiria os abusos de interpretação. Outra, que essas
interpretações eram sempre abusos de textos cujo
espírito era outro.
A
história desses anos é rica em provas contrárias a estas esperanças: os papas
que seguiram ao Concílio não corrigiram a raiz dos problemas, ainda quando se
fizeram alguns esforços em tal ou qual matéria. Pelo contrário, decidiram
emendar o “espírito do Concílio”, ou seja, essas interpretações deliberadamente
errôneas, com mais aplicação das ambiguidades conciliares. E em alguns casos,
levando estas à prática na pior linha possível: o diálogo inter-religioso é
talvez a pior e mais extrema derivação. Hoje termina no escandaloso elogio de
Lutero, mas vem dos diversos Assis e pedidos de perdão…
Ainda
que Bento viu o problema litúrgico até certo ponto, e atuou com decisão, por um
lado seu modo errático e por outro a pressão que não soube resistir terminaram
com seu pontificado do modo mais estranho: agora há dois papas que se
reconhecem como tais, um passivo e outro ativo. Joseph Ratzinger deveria ser
hoje o Cardeal Ratzinger e não o “papa emérito”. Se pode conjeturar um “acordo”
para a renúncia nestas tão estranhas circunstâncias? Tudo se pode conjeturar, o
problema é prová-lo com certeza. Sem dúvida é um elemento que inquieta.
Hoje,
graças a Francisco, essa tolerância à ambiguidade, tão generalizada nos
católicos mais fiéis, mas que resistem sempre em ser considerados
“tradicionalistas” e assumir esse custo, encabeçam uma resistência crítica
muito chamativa e crescente. O feroz embate do papa Bergoglio a questões
fundamentais da moral católica, pontos de doutrina revelada, é demasiado. Temos
publicado, dos tantos e tantos atos de resistência ao documento mais
escandaloso em matéria moral que tenha saído da pluma de um papa, alguns que
são a ponta de um movimento subterrâneo que aflora.
As
“dubia” dos quatro cardeais são o elemento catalizador. Elas têm feito coalhar
outros documentos de crítica enfocados de modo diverso mas que resultam
extremadamente incômodos para Francisco. Ele tem decidido calar e seus
porta-vozes dão diversos motivos, alguns agravantes para com a hierarquia e os
fiéis, outros patéticos por sua falta de solidez. O certo é que um papa NÃO
pode negar-se a esclarecer um ponto de doutrina. E o que menos quer fazer
Francisco é esclarecer, já que todo seu sedizente “magistério” é uma sorte de
charlatanice de coisas misturadas. Um caudaloso rio de palavras que se afogam
umas às outras.
Os
cardeais tiveram a simples e evangélica ideia de pedir a aclaração de certos
pontos, gravíssimos, da doutrina promovida por Francisco de um modo tão
enredado. Simples perguntas de sim ou não. Isto desatou um terremoto que já se
começa a mostrar nas fraturas a flor da pele. Não são poucos os que falam de
cisma. É curioso: as mesmas circunstâncias, com diferenças evidentes, têm
produzido as mesmas reações que há 40 anos produziu o tradicionalismo, liderado
por Mons. Lefebvre. Os críticos apelam à Tradição, os oficialistas respondem
com palavras de agravo e ameaças. Acusam de “cisma”. Sustentando argumentos
insustentáveis: o “magistério” de Francisco não se aparta um ápice da doutrina…
A diferença, neste caso, é que a reação da hierarquia tem passado a ser a de
muitos mais que um punhado de bispos, como nos tempos de Mons. Lefebvre e Mons.
de Castro Mayer.
Esta
reação é quiçá o disparador de uma mais profunda, que revise não só estes
pontos doutrinais, senão muitos outros, assim como a terrível crise litúrgica,
que tem sido um componente essencial na perda de fé e a debilidade de costumes
dos católicos nas últimas décadas.
Para
alguns, mais que um cisma que se vai materializando, é um que permanecia
sufocado pela imposição de um clero em que a grande maioria de seus membros já
perdeu a fé ou apenas tem vagas ideais do que ela implica, que ignora o
catecismo básico e tem uma ideia absolutamente deformada do que é o culto
divino. E em consequência os fiéis estão sumidos na mais obscura confusão,
afastados dos sacramentos eficazes, sem sentido da Fé.
A
batalha se perfila e talvez se desate antes do que se espera. Espera-se um
documento de “correção fraterna” de parte de bispos e cardeais se Francisco
persiste em seu silêncio ou confirma suas doutrinas heterodoxas. Os teólogos e
canonistas mais clássicos, fundados na doutrina tradicional, sustentam que “a
Igreja” pode julgar um papa só em matéria de Fé. E esse juízo
pode concluir em uma deposição de seu cargo por heresia formal. Não há
deposição ipso fato, sem antes um juízo da Igreja.
É
muito difícil imaginar as consequências de um ato tão pouco frequente e não
obstante tão enraizado na Tradição da Igreja, já que a primeira “correção” que
sofreu um papa foi a que o Apóstolo São Paulo fez ao papa São Pedro quando quis
judaizar (com as melhores intenções) ou seja, tratou de impor aos gentios
costumes que não estavam já em vigência após a fundação da Igreja para não
escandalizar aos conversos de origem judia.
Tudo
isto à luz de Fátima.
Podemos
chamar-nos ditosas testemunhas de feitos terríveis e extraordinários. Muito
mais que o milagre do sol. Sob condição de não ceder às tentações de escândalo,
às instâncias da ansiedade ou a estima excessiva do juízo próprio. Isto o
lograremos somente se vivemos no espírito de Fátima: confiança, entrega,
sacrifício e oração, muito especialmente, o Santo Rosário.
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