"SEM OUTRO DESTINO FORA DA TERRA, SEM OUTRA FINALIDADE SENÃO O GOZO DOS BENS FINITOS, SEM MAIS NORMAS ALÉM DO FACTO CONSUMADO E DA SATISFAÇÃO INDISCIPLINADA DAS SUAS CÚPIDAS AMBIÇÕES."
Alberto
Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa
Pio XII, em passagens da sua Radiomensagem “Non Mai Forse”, acerca do Ano
Santo, pronunciada em 24 de Dezembro de 1949:
«Quantos
põem no lugar do verdadeiro Deus os seus ídolos, ou então, embora afirmem a sua
crença em Deus e a vontade de servi-l’O, fazem d’Ele uma ideia que é produto
dos próprios desejos, das próprias tendências e das próprias fraquezas! Deus,
na Sua imensa grandeza, na Sua Imaculada Santidade, Deus, Cuja Bondade
compreende tão bem os corações que Ele mesmo formou (cf. Sl 32,15) e cuja
benignidade está sempre pronta em vir em seu auxílio, NÃO É RECTAMENTE
CONHECIDO POR MUITOS. E daí, tantos cristãos de um CRISTIANISMO DE PURA ROTINA,
distraídos e desleixados; e por outra parte, tantas almas atormentadas e sem
esperança, como se o cristianismo não fosse, em si mesmo, A BOA NOVA. Falsas
ideias de Deus, vãs criações de espíritos demasiado humanos, que o Ano Santo
deve dissipar e expulsar dos corações. (…)
No campo
social, a alteração dos desígnios de Deus operou-se na própria raiz, deformando
a Divina Imagem no homem. A real fisionomia da criatura, de origem e destino
Divinos, foi substituída pelo falso retrato do homem autónomo na consciência,
legislador de si mesmo, sem que ninguém lhe possa exigir responsabilidades,
irresponsável perante os seus semelhantes e perante o agregado social, SEM
OUTRO DESTINO FORA DA TERRA, SEM OUTRA FINALIDADE SENÃO O GOZO DOS BENS
FINITOS, SEM MAIS NORMAS ALÉM DO FACTO CONSUMADO E DA SATISFAÇÃO INDISCIPLINADA
DAS SUAS CÚPIDAS AMBIÇÕES.
Daqui
brotou, e se consolidou, ao longo de muitos lustros, nas mais desvairadas
aplicações da vida pública e privada, aquela ordem excessivamente
individualista, caída hoje, em quase toda a parte, em grave crise. Mas nada de
melhor, também, trouxeram os sucessivos inovadores. PARTINDO DAS MESMAS
PREMISSAS FALSAS e declinando
por outros caminhos; conduziram a consequências não menos funestas, até
chegarem à total subversão da ordem Divina, ao desprezo da dignidade da pessoa
humana, à negação das mais sagradas liberdades fundamentais, ao predomínio de
uma só classe sobre as outras, à escravização de toda a pessoa ou coisa ao
estado totalitário, à legitimação da violência e ao ateísmo militante.
Aos
defensores de um e outro sistema social, ambos distantes e contrários aos
desígnios de Deus, chegue, persuasivo, o apelo para que tornem aos princípios
naturais e cristãos que fundamentam a justiça efectiva no respeito das
legítimas liberdades. E apague-se assim, com o reconhecimento da igualdade de
todos, na inviolabilidade dos próprios direitos, a luta inútil que exaspera os
ânimos em ódio entre irmãos.
Humildes e
oprimidos, por mais triste que seja a vossa condição… não queirais trocar os
bens celestes e Eternos pelos caducos e temporais.
Não
esqueçais que SEM DEUS, A PROSPERIDADE MATERIAL É, PARA QUEM A NÃO POSSUI, UMA
FERIDA ATORMENTADORA, MAS PARA QUEM A TEM É UMA SEDUÇÃO MORTAL.
Quando em
tempos recentes, tomando como pretexto uma guerra desafortunada ou culpas
políticas, se desencadeou uma vaga de represálias, desconhecida até agora na
História, ao menos no que respeita ao número de vítimas, sentimos invadir-nos o
coração uma acerba dor, não só pela desventura, lançando no luto milhares de
famílias, muitas vezes inocentes, mas também porque com grande mágoa, ali
víamos o trágico testemunho da apostasia do espírito cristão.»
A História da
Humanidade constitui, toda ela, no conjunto como no detalhe, uma enorme
tragédia; todavia, foi no século XX que se verificou um paroxismo, ao menos
quantitativo, da maldade humana.
A esmagadora
maioria dos historiadores e sociólogos definem a História como um combate
perpétuo entre a liberdade e a autoridade; e assim demonstram como ignoram
supinamente o verdadeiro significado de ambos os conceitos.
A Santa Madre
Igreja jamais opôs a liberdade e a autoridade; na exacta medida em que a
primeira sempre definiu como A FACULDADE DE SE MOVER NA VERDADE E NO BEM; e a
segunda, o Sagrado Magistério considerou sempre como um auxílio objectivo no
sentido de uma orientação eficaz, individual e social, para essa mesma Verdade
e Bem.
É certo que o
termo “Autoridade” não é sinónimo do termo “Poder”: O primeiro indica sobretudo
ascendência moral determinante da obediência; o segundo significa mais a força
física susceptível de compelir à obediência. Mas ambas tendem a exigir-se mùtuamente.
A grande
tragédia constitutiva da apostasia dos povos e das elites que os governam,
reside precisamente nessa oposição, que procuram estabelecer, entre a liberdade
e a autoridade.
No Paraíso
Terrestre não haveria, nem podia haver, a referida oposição, visto que todas as
inteligências estariam unidas na Verdade, e todos os corações na Caridade.
Todavia, no Paraíso Terrestre, existiria uma vincada ordem hierárquica, embora
não coactiva; tal sucedia porque a Lei Eterna irradiava por igual sobre
governantes e governados; quem mandava, circunscrevia-se integralmente, com
acrisolada virtude da Prudência, à Lei Eterna, dela explicitanto formal e
virtualmente os comandos necessários à vida religiosa, moral e política da
sociedade; quem obedecia, acolhia e resolvia, hieràrquicamente, prudentemente,
a função que lhe era distribuída pela sociedade.
A chave
objectiva, o núcleo operativo, do binómio autoridade-obediência, reside na Lei
Eterna e na Virtude Sobrenatural da Prudência. Frequentemente, ouve-se dizer de
alguém “que foi excessivamente prudente”; mas quem quer que estude a Teologia
de São Tomás, observará com nitidez QUE NUNCA SE É EXCESSIVAMENTE PRUDENTE, TAL
COMO NUNCA SE POSSUI DEMASIADA FÉ, ESPERANÇA OU CARIDADE. Na realidade, a
Prudência é uma Virtude intelectual em meio moral que determina o agível
concreto e individual da operação humana. O erro nestes casos é confundir o
extremo formal de uma virtude com o seu extremo material; o grande temperante
não é aquele que se abstém totalmente do afago do paladar polvilhando com terra
os alimentos, não, isso seria pecar por insensibilidade, pois devemos usufruir
recta e ordenadamente dos bens criados, cada um segundo o seu estado. A Santidade
também não consiste em beber a água com que se lavaram os leprosos, segundo o
procedimento inconsiderado de alguns santos. A Santidade não é isso. A
Santidade, a plenitude das Virtudes Teologais e Morais, reside num equilíbrio
material da operação moral, regulado pela Virtude da Prudência, a que
corresponde, formalmente, o maior mérito Sobrenatural, num determinado estado
de vida.
Teólogos e
canonistas, bem como cultores do Direito Civil, sempre se debateram com a
problemática da quase infinidade de contextos e acções que são possíveis no
fluir da nossa vida mortal, e consequente impossibilidade da sua previsão pelas
leis. Mas a Doutrina Católica resolve esse problema, em primeiro lugar com a
Teologia da Lei Eterna; Deus Nosso Senhor não constitui a Verdade, nem é
constituído por ela, simplesmente, DEUS É A VERDADE, consequentemente é a
Verdade de Deus que constitui a verdade das essências das coisas que SÃO
VIRTUALMENTE EM DEUS. Ora a Verdade é intrínseca à Natureza Incriada e Eterna,
mas por isso mesmo constitui também um Princípio Absoluto de Ordem de toda a
natureza, criada ou possível – que é a LEI ETERNA.
A alma em estado
de Graça participa acidental, mas realmente, da Lei Eterna, na sua inteligência
e na sua vontade, mediante a Graça Santificante que a ornamenta na sua
essência, os Dons do Espírito Santo, que sublimam a alma em Deus, e as Virtudes
Teologais e Morais, pelas quais conhece, Sobrenaturalmente, qual seja a Lei
Divina e Eterna, recebendo força para a cumprir. Como já se afirmou, a Virtude da
Prudência outorga a ciência dos meios, pelos quais a alma toda se compromete,
exercendo a incorporação da Verdade e do Bem Divino na acção concreta,
nobilitando o conjunto das Virtudes Morais, sem que para tentar ilustrar umas
obscureça as outras. Ora esta ciência Divina deve iluminar, comensuràvelmente,
tanto a alma que exerce a autoridade, como a alma que deve obedecer; E QUANTO
MAIS INTENSA FOR ESSA LUZ COMUM, TANTO MAIS PERFEITAMENTE A LIBERDADE E A
AUTORIDADE SE CONJUGARÃO, E RECÌPROCAMENTE SE EDIFICARÃO, SOBRENATURALMENTE, NA
VERDADE E NA SANTIDADE, PARA MAIOR GLÓRIA DE DEUS E SALVAÇÃO DAS ALMAS.
MAS ESTE MUNDO –
LOGO COMEÇANDO PELA SEITA CONCILIAR – DESCONHECE INTEIRAMENTE ESTA
DOUTRINA. EXACTAMENTE PORQUE IGNORA QUE TANTO A AUTORIDADE COMO A LIBERDADE
PROMANAM, E SÓ PODEM PROMANAR, EM PERFEITÍSSIMA UNIDADE, DE DEUS NOSSO SENHOR,
E A ELE DEVEM CONDUZIR.
Neste quadro
conceptual, poderemos melhor aquilatar toda a perversidade do liberalismo, todo
o liberalismo, religioso, político, económico, social e cultural.
A História da
Humanidade, História da Igreja e História profana, é constitutiva da grande
tragédia, na qual e pela qual, o Género Humano foi perdendo, inexoràvelmente,
todas as suas potencialidades Sobrenaturais, pela progressiva apostasia, e pela
gravìssima e consectária corrosão da sua própria integridade natural.
LOUVADO SEJA
NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 6 de
Dezembro de 2016
Alberto Carlos
Rosa Ferreira das Neves Cabral
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