"O Papai Noel comercializado não tem nada de cristão. Pelo contrário, é inteiramente pagão, tendo por isso se tornado tão popular numa época cada vez mais paganizada como a nossa."
Plinio Maria Solimeo
Aproxima-se o Natal. Desde os mais sofisticados
Shoppings Centers até as lojas mais humildes esmeram-se na decoração natalina.
Em praticamente todas elas ocupam lugar de realce o obeso Papai Noel, que nesta
nossa época tão materializada se tornou o símbolo do Natal.
Como surgiu esse
personagem, que tomou o lugar do próprio Menino Jesus nas comemorações
natalinas? Segundo fontes autorizadas, em 1821 foi publicado em Nova York um
livro de litografias para o público infantil intitulado Santa Claus, o
amigo das crianças, o qual alcançou muita popularidade. Pelo que tudo
indica, “Santa Claus” é uma deturpação fonética do “Sankt Niklaus”
alemão, ou seja, de São Nicolau de Bari.
Vindo do Norte, esse
personagem chegava num trenó puxado por uma rena voadora, e aparecia não mais
no dia 6 de dezembro, festa do Santo, mas na véspera de Natal.
“Segundo peritos do
St. Nicholas Center, foi uma elite de Nova York que conseguiu nacionalizar a
Natividade [de Jesus] através de Santa Claus, com o apoio de artistas e
literatos como Washington Irving, John Pintard e Clement Clarke Moore”.
Mas foi só em 1863,
durante a Guerra Civil dos EUA, que o caricaturista político Thomas Nast
começou a desenhar o Santa Claus — ou Papai Noel, para nós —, como aparece
agora, com o gorro vermelho, abundante barba branca e avantajado ventre.
Essa versão, no
entanto, foi popularizada pela indigesta Coca-Cola, que o representou pela
primeira vez num anúncio em 1920. E como essa rejeitável bebida difundiu-se por
todo o mundo como símbolo da modernidade e da mentalidade hollywoodiana,
também o Papai Noel se espalhou por toda a Terra[i].
Quem era São Nicolau
Nas épocas de fé, em
que o espírito religioso ainda impregnava as festas natalinas, o nascimento de
Cristo era precedido pela festa de São Nicolau de Mira, ou de Bari, no dia 6 de
dezembro. Era nesse dia que o santo bispo dava presentes às crianças.
Na vida desse santo
tão popular, é difícil saber o que é realidade e o que é legenda. Pois são
tantos os fatos tão extraordinários que se contam a seu respeito, que, em
alguns casos, se torna quase impossível separar o real do fantasioso.
Esse santo do século
IV foi um dos mais venerados do Oriente, antes de o ser do Ocidente. E as
legendas narrando maravilhas a seu respeito se difundiram por todo
o mundo.
Nicolau nasceu por
volta do ano 270 em Patara, opulenta capital da Lícia, na atual Turquia. Seus
pais eram nobres, ricos e, sobretudo, piedosos.
O menino recebeu
apurada educação religiosa e cívica. Na escola, evitava a companhia dos colegas
perniciosos, só travando amizade com os bons e virtuosos. Crescendo, evitava os
espetáculos perigosos, e domava seu corpo com vigílias, cilícios e jejuns.
Quando seus pais
faleceram, Nicolau herdou uma grande fortuna. Mas considerou-se apenas
administrador desses bens, cujos reais senhores se tornaram os pobres e os
necessitados.
Bispo de Mira
Faleceu então o
arcebispo de Mira. Os prelados da província e o clero elevavam fervorosas
preces aos Céus, pedindo luzes para encontrar um digno sucessor. Como não
chegavam a um acordo sobre a pessoa a escolher, por inspiração do alto,
combinaram então que elegeriam bispo o primeiro cristão que entrasse na igreja
no dia seguinte.
Ora, Nicolau tinha
então se mudado de Patara para essa cidade, a fim de viver mais obscuramente. E
pensou logo em visitar a igreja local. Assim, ignorando em absoluto o que fora
combinado, franqueou bem de manhãzinha o umbral do templo, e foi logo apanhado
e aclamado bispo. Embora resistisse, foi preciso ceder à vontade de Deus.
Desde então, “sua
solicitude pastoral estendeu-se geralmente a todas as necessidades de seu povo.
Cuidava dos pobres, dos doentes, dos prisioneiros, das viúvas e dos órfãos.
Quando não podia assisti-los pessoalmente, fazia-os visitar e assistir por
pessoas piedosas, a quem encarregava desses cuidados. Sua principal aplicação
era conhecer as necessidades espirituais de seus fiéis e levar-lhes os remédios
eficazes. [...] Pregava contra todos os vícios, e o fazia com uma eloqüência
divina que o tornava vitorioso sobre todos os corações”[ii].
“‘Graças aos
ensinamentos de Nicolau, a metrópole de Mira foi a única que não se contaminou
com a heresia ariana, a qual ele rechaçou firmemente como se fosse um veneno
mortal’, dizia São Metódio. O arianismo negava a divindade de Jesus Cristo. Do
mesmo modo, São Nicolau combateu incansavelmente o paganismo”[iii].
Um biógrafo do santo,
o arquimandrita (superior de um mosteiro na Igreja Oriental) Miguel, narra
assim sua morte: “Havendo regido a Igreja metropolitana de Mira e
embalsamado o país com o perfume de uma santíssima vida sacerdotal, trocou esta
vida perecedoura pelo repouso eterno” por volta do ano 341[iv].
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Túmulo de São Nicolau |
Suas relíquias são
preservadas na igreja de São Nicolau, em Bari, na Itália. E até hoje delas
emana uma substância oleosa, conhecida como Maná de São Nicolau,
que é altamente apreciada por seus poderes medicinais[v].
Com efeito, “em
Mira se dizia que o ‘venerável corpo do bispo, embalsamado no azeite da
virtude, transudava uma suave mirra que o preservava da corrupção, e curava os
enfermos, para glória daquele que havia glorificado a Jesus Cristo, nosso
verdadeiro Deus”[vi].
São Nicolau é muito
venerado na Grécia e na Rússia, sendo o patrono de Moscou. Seu culto chegou à
Itália quando mercadores italianos roubaram suas relíquias e as levaram para
Bari em 1087. Daí seu culto chegou à Alemanha durante o reinado de Oton II
(955-983), provavelmente porque sua esposa, Teófano, era grega. Nesse tempo, o
bispo Reginaldo de Eichstaedt (+ 991) escreveu sua vida, que se tornou muito
popular. São Nicolau tornou-se também o patrono de vários países da Europa,
como Grécia, Rússia, Reino de Nápoles, Sicília, Lorena, e também de várias
cidades da Itália, da Alemanha, da Áustria, da Bélgica, da Holanda e da Suíça.
Na Holanda ele é conhecido como Sinterklaas, sendo representado montado num cavalo branco, mitra
sobre a cabeça e empunhando um báculo dourado. Ele cavalga sobre os telhados,
acompanhado de seu escudeiro Pikkie, um mouro terrível que coloca num saco os meninos maus. São Nicolau
visita as casas, perguntando: “Há aqui algum menino mau?” Todos
respondem: “Não, Sinterklaas, aqui todos somos bons”. “Todos?”
pergunta o bispo. “Sim, Sinterklaas”.
Então o santo distribui bombons a todas as crianças. Quando há alguma que não
se comportou bem durante o ano, em vez de bombom o santo dá-lhe um pedaço de
carvão. O mesmo sucede no sul da Alemanha, onde ele é conhecido como Sankt
Nikolaus.
Reações contra o Papai Noel
O Papai Noel
comercializado não tem nada de cristão. Pelo contrário, é inteiramente pagão,
tendo por isso se tornado tão popular numa época cada vez mais paganizada como
a nossa.
Felizmente está
ocorrendo em vários países, principalmente na Alemanha, uma sadia reação contra
a intromissão do Papai Noel mercantilista nas festas natalinas, e um
ressurgimento da tradição do Sinterklaas, cheia de encanto e
inocência.
Esperemos que essa
tão necessária reação apague esse clima mercantilista das festas de Natal
contemporâneas e as transforme novamente na “noite feliz” em que nasceu o
Salvador do Mundo para resgatar o gênero humano.
Notas:
[i] https://www.aciprensa.com/noticias/san-nicolas-o-santa-claus-6-diferencias-entre-el-santo-y-el-personaje-de-ficcion-47672/
[ii] Les Petits Bollandistes, Vies des
Saints, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, vol. XIV, p. 87.
[iv] Edelvives, El Santo de Cada Dia,
Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1949, tomo VI, p. 369.
[v] Cfr. Michael T. Ott, Saint
Nicholas of Myra, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition.
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